quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Será do mesmo?

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Da Revista de Chimica Pura e Applicada, 1º ano (1905), nº 2, pag. 49

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Resposta (em 4/12): É !


terça-feira, 28 de novembro de 2006

Hvad er det for noget?

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= Que é isso? (em danês)
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Pergunta: Por que se não transpõe também a língua? É tão parecida!
Ou um bom queijo azul?

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Uma página de Voltaire

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"Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado
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Depois do tremor de terra que destruiu três quartas partes de Lisboa, os sábios do país não encontraram meio mais eficaz para impedir a ruína total da cidade do que dar ao povo um auto-de-fé. Fora decidido pela Universidade de Coimbra que o espectáculo de algumas pessoas queimadas a fogo lento, em grande cerimonial, era um meio infalível de impedir a terra de tremer.
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Apoderaram-se, por consequência, de um biscainho acusado de ter casado com uma comadre e de dois portugueses que tinham comido um frango tirando-lhe primeiro a enxúndia. Depois do jantar, foram também prender o Dr. Pangloss e o seu discípulo Cândido, um por ter falado e o outro por tê-lo escutado com um ar de aprovação. Foram ambos levados separadamente para compartimentos de uma extrema frescura e onde a luz do Sol nunca chegava a incomodar. Oito dias depois vestiram-lhes um sambenito e enfeitaram-lhes as cabeças com mitras de papel. A mitra e o sambenito de Cândido eram pintados de chamas invertidas e de diabos que não tinham cauda nem garras, mas os diabos da mitra e sambenito de Pangloss tinham uma e outra coisa e as chamas eram direitas. Foram levados em procissão assim vestidos e ouviram um sermão patético, seguido de uma bela música em cantochão. Cândido foi açoitado em cadência, enquanto se cantava. O biscainho e os dois homens que se tinham recusado a comer a enxúndia foram queimados e Pangloss, contrariamente ao uso, foi enforcado. No mesmo dia, a terra tremeu de novo com um ruído espantoso.
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Cândido, aterrado, interdito, desvairado, todo coberto de sangue e a tremer, dizia para consigo: « Se este é o melhor dos mundos possíveis, como serão os outros? Vá lá que eu seja açoitado, pois já o tinha sido entre os Búlgaros, mas a vós, meu caro Pangloss, o maior dos filósofos, é que não compreendo porque é que vos haviam de enforcar! E vós, meu querido anabaptista, o melhor dos homens! Seria preciso que vos afogásseis no porto! E a menina Cunegundes, a pérola das donzelas, para quê rasgarem-vos o ventre?»
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Ia-se embora, mal se tendo em pé, sermoneado, açoitado, absolvido e abençoado, quando uma velha se abeirou dele e lhe disse:
- Meu filho, tende coragem e segui-me."
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Cap. VI de "Cândido ou O Optimismo", trad. de Maria Isabel Gonçalves Tomás, ed. Publicações Europa-América (col. Livros de Bolso nº 63), Mem Martins, s/ data, pp. 30 e 31

domingo, 26 de novembro de 2006

Cesariny (1923 - 2006)

ESTADO SEGUNDO
XX
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Não houve
nunca
acima do mundo
a alegre aventura
de um sol militar
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Mário Cesariny

sábado, 25 de novembro de 2006

52 anos dos Finalistas do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

Juntámo-nos no Novotel, em Vila Nova de Gaia! Excelente organização! Muita informação a digitalizar e a distribuir em CD. Nascimento de um blog em http://lah-1954.blogspot.com (e não http://lah1954.blogspot.com como inicialmente se pensou!). Reproduz-se seguidamente a plaqueta comemorativa do evento e...


... uma fotografia de alguns de nós do 6º Ano A em 1953 (ano pois anterior à nossa saída) para que se possa ver quão jovens nós éramos e quão jovens continuamos a ser.


A verdade é que, se essa fotografia não contém todos os que então faziam parte daquela turma, também já contém alguns que, como quando se desenfiavam das aulas do Curado para chutarem a bola nas Salésias, já não estão presentes nesta turma actual - constituída pelo grupo, buliçoso e alegre, que se reuniu, mais aqueles que por qualquer viva razão não puderam estar connosco. E a porra é que uma turma como esta, buliçosa e alegre, sempre conteve em si um último, a quem competirá apagar a luz, bater a porta e procurar os outros no caminho do "Eram...". E esse, quem quer que seja, se sempre esteve connosco desde início, está ainda longe de saber que o será!

Vinda ao Porto


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Debaixo de uma tempestade desfeita. A Boavista transformada em rio recebendo um afluente em Faria Guimarães! Nunca tinha visto tal coisa...
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Encontro com a imagem do "Che" em dois sítios diferentes e inesperados! Agradável bis-surpresa!
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quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Ao meu Compadre

Vim do teu velório sem jantar e propus-me fazer qualquer coisa que, na circunstância, tivesses aprovado. Comecei pelo único whisky que havia cá em casa: um whisky rasca, só para lembrar o gosto, mas a verdade é que bebemos juntos muitos tipos de whisky, desde o requintadão envelhecido ao infra-merda-a-martelo, passando pelo tipo-Sacavém, que até o da história não era mau de todo! Passava! E por isso eu passei a um tintol e a um "boursin au poivre", ambos de estalo. Era o que havia e estou certo que gostarias destes dois. Eu também. Pela curva de Gauss é só esperares um pouco. Festejaremos então, com whisky melhor, com tinto melhor, com o mesmo "boursin au poivre" em embalagem de origem ou com um excelente "serra" (porque esse não precisa de ser melhor) e, muito portuguêsmente, com umas febras bem passadas. E nem te vou dizer os nomes dos que traremos para a nossa mesa: tu sabes, andaram connosco pelas fábricas e pela vida! "Ciao", pois! E até breve, Compadre!

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Dia mundial em memória das vítimas da estrada (domingo, 19 de Novembro)

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Apesar das minhas reticências aos dias mundiais de qualquer-coisa (um dia de lembrança e 364 de esquecimento, fora os bissextos em que é de 365) e de algumas dúvidas, legitimadas pelo passado, a associações de prevenção rodoviária, que certamente nada terão a ver com os promotores desta iniciativa, não posso (nem certamente poderia) deixar de me manifestar sensibilizado relativamente aos objectivos subjacentes à promoção da jornada em título.
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Para além do reflexo crescente na imprensa escrita e falada, assinalo com interesse a distribuição do pequeno folheto de que reproduzo uma das faces e que me foi entregue nas portas do Centro Vasco da Gama no domingo passado, presumindo eu que terá sido também entregue noutros centros e "pontos de encontro" da população. Nesse folheto, afinal subscrito pela CML e a Liberty Seguros, assinalo um aspecto muito positivo e uma componente negativa.
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O aspecto muito positivo reside no símbolo encontrado, o laço preto (como o pavimento rodoviário) e a linha de marcação de limites de via. Temos encontrado diversos dias com diversos laços, todos manifestando campanhas de solidariedade e combate a males civilizacionais. Este é tão forte como os outros e certamente ganha espaço e imagem. É de manter.
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O aspecto negativo é a ausência da indicação completa dos promotores e a asusência de qualquer ponto de contacto destes, os quais apenas reproduzem as suas siglas. A quem se dirigir alguém que queira manifestar solidariedade com a iniciativa? Qual o endereço do remetente, elemento essencial em qualquer mensagem, mesmo electrónica?
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Tendo como certo que a´observação do período anterior não ofusca as vantagens da iniciativa e regressando, em análise, ao valor do símbolo, parece útil fazer uma sugestão: por que não produzir pequenos auto-colantes que o reproduzam e que, distribuídos também, os automobilistas possam pôr no vidro trazeiro, obviamente sem redução de visibilidade?
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Eu explico: havendo adesão aos propósitos da campanha, que aliás são os propósitos de todos nós automobilistas conscientes de direitos, deveres, limitações e erros (e nesta coisa da estrada, começando por mim, recorro ao discurso evangélico de que quem não cometeu qualquer falta que atire a primeira pedra!), a afixação desse autocolante é uma lembrança permanente, um "pendura moral", a acompanhar o condutor nos quilómetros que percorrer. E também para os outros, seja dito. Daí o efeito promotor que certamente permite. Tem é de ser bem concebida a campanha para que seja bem colocado o símbolo e assuma voluntariamente um significado de "afirmação de qualidade"!
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Uma outra medida interessante poderia ser a difusão anual da mais criativa publicidade da segurança rodoviária que vai sendo editada em todo o mundo. Poderá ser em salão, poderá ser em folheto, em revista, em livro pago, em CD, em DVD, como queiram - já que o certamente existente e frequente contacto entre os promotores e organizações congéneres trará o necessário material e isentará de complicações copywritescas para a sua reprodução com fins beneficientes e isentos de lucro. De facto essa publicidade existe (em separado mandar-vos-ei um exemplo) e merece ser mostrada, nomeadamente em escolas, escolas de condução, instituições públicas, clubes, certames e exposições ligadas ao tráfego, ao transporte e a veículos rodoviários. Se existem albuns ou certames anuais que reunem a publicidade criada com outros fins, por que não a publicidade criada para este?
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Transmiti estas posições a um dos promotores, de quem acabei por encontrar o endereço electrónico. E insisti para que se não perca o símbolo pois que, estando em si bem achado, deve de futuro ser mantido !
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terça-feira, 21 de novembro de 2006

Casamento e descendência de D.Afonso Henriques

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De uma recentíssima discussão sobre a mobilidade na Idade Média e colhendo a informação da Wikipedia [1], que é a fonte que, através do computador, está aqui mais à mão e que se transcreve com a devida vénia na parte que interessa, deixando em aberto a possibilidade de proceder a uma oportuna revisão/complemento [2]:
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"Descendência
Pela sua mulher, Mafalda de Sabóia (1125-1157), que desposou c. 1146:
D. Henrique (1147-?)
D. Mafalda de Portugal (1149-1160), teve o seu casamento programado com o rei de Afonso II de Aragão, o que não se efectivou pela morte da infanta
D. Urraca (1151-1188), casou com o rei Fernando II de Leão
Sancho I de Portugal (1154-1212)
D. Teresa (1157-1218), depois do casamento chamada Matilde ou Mafalda, casou com Filipe I, Conde da Flandres e depois com Eudes III, Duque da Borgonha
D. João de Portugal (1160-?)
D. Sancha de Portugal (1160-?)
Filha de Elvira Gálter:
D. Urraca Afonso, senhora de Aveiro (c. 1130-?)
Outros filhos naturais:
D. Fernando Afonso, alferes-mor do Reino
D. Pedro Afonso (c. 1130-1169)
D. Afonso, 11º Mestre da Ordem de São João de Rodes (1135-1207)
D. Teresa Afonso (c. 1135-?) "
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Estes dados naturalmente carecem de revisão! De facto se é dada a morte de Mafalda de Saboia em 1157, como se pode referir o nascimento de dois infantes em 1160? Por outro lado, da mesma origem mas do artigo sobre D. Teresa de Leão, tira-se a indicação dos irmãos de D. Afonso Henriques, sendo certo que (vd. postagem de "pedroafonso" em [3] ) ainda se mantém a polémica sobre se o gigantesco D.Afonso Henriques foi mesmo o infante que nasceu deficiente e que foi entregue a Egas Moniz para ser por este cuidado:
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"D. Afonso Henriques (1094 - 1108) [ i.e. este "primeiro Afonso Henriques" morreu com 14 anos!]
D. Urraca Henriques, infanta de Portugal (c. 1095-?), casou-se com D. Bermudo Peres de Trava
D. Sancha Henriques, infanta de Portugal (c. 1097 - > 1163), casou-se com D. Sancho Nunes de Celanova e com D. Fernão Mendes, senhor de Bragança
D. Teresa Henriques, infanta de Portugal ( c. 1098 - ?)
D. Henrique ( 1106 -1110)
D. Afonso Henriques, rei de Portugal ( 25.07.1109 - 06.12.1185), casado com Mafalda, condessa de Sabóia ."
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De outra fonte, "O Portal da História" [4] as indicações sobre o casamento e descendência de D. Afonso Henriques são as seguintes:
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"Ficha genealógica:
D. Afonso Henriques, nasceu possivelmente em Coimbra, em 1109, e faleceu em Coimbra em 8 de Dezembro de 1185. Casou em 1145/1146 com D. Mafalda, que nasceu em data incerta, e morreu em Coimbra a 4 de Novembro de 1157, ficando sepultada no Convento de Santa Cruz; filha de Amadeu II, conde de Sabóia e Piemonte, e da condessa Mafalda de Albon. Tiveram os seguintes filhos:
1. D. Henrique, nasceu a 5 de Março de 1147 e morreu jovem;
2. D. Sancho, que herdou a coroa;
3. D. João, nasceu e morreu em data incerta;
4. D. Urraca, nasceu em Coimbra, por volta de 1150, e casou com D. Fernando II, rei de Leão, por 1165; sendo repudiada em 1179; faleceu em ano incerto;
5. D. Mafalda, nasceu em Coimbra, em ano incerto; noiva do conde D. Raimundo de Berenguer, filho do conde de Barcelona, em 1160; faleceu pouco depois;
6. D. Teresa, nasceu em ano incerto; casou com Filipe de Alsácia, conde de Flandres, por volta de 1177; faleceu depois de 1211, em Furnes;
7. D. Sancha, nasceu e faleceu em data incerta.
O monarca teve os seguintes filhos bastardos:
8. D. Fernando Afonso, referido em documentos de 1166 a 1172;
9. D. Pedro Afonso (n. e f. em data incerta), por muitos considerado também irmão do monarca, pois tomou parte na conquista de Santarém e esteve em Claraval antes de 1153.
10. D. Afonso, nasceu em ano incerto; mestre da Ordem de S. João de Rodes, de 1203 a 1206; faleceu em 1 de Março de 1207; 11. D. Urraca, que nasceu e faleceu em data incerta."

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Já próximo do fim da IV Dinastia (com D. Luís) vamos encontrar uma outra consorte vinda da casa de Saboia, mas aí já casa real italiana: D. Maria Pia.

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Considera-se que a actual participação italiana no capital da PETROGAL/GALP nada tem a ver com tais precedentes dinásticos.

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[2] nomeadamente, e entre outras fontes disponíveis, face ás actas do Congresso de Guimarães e à obra do Professor Diogo Freitas do Amaral sobre o noso primeiro rei; considera-se porém suficiente, de momento, o conjunto de informações colhidas para a finalidade pretendida (nacionalidade da nossa primeira rainha, ainda que D. Teresa tenha já usado esse título, e descendência de D.Afonso Henriques no quadro de uma presença europeia e não unicamente ibérica).

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Vida(s)!

De Merche Romero, em pés descalços e estranhos polainitos de lã branca com utilidade enigmática, à revista "Viva +", suplemento do JN da passada sexta-feira, 17: "Só se preocupa com a vida dos outros quem não tem vida". Num sentido certamente mais abrangente, filosofica e sinteticamente expresso, o meu compadre José Eduardo, já identificado nestes autos a 30 de Janeiro do ano corrente, resumiria todo um conjunto de estares-no-mundo numa expressão de simples palavra, que lhe é bem característica: "Vidas!".
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A tempo: apontamento acrescentado em 22/11: rectifica-se infelizmente a redacção da última linha supra para: ... que lhe era bem característica: "Vidas!"

domingo, 19 de novembro de 2006

Da "Cidade do Cinema"

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A minha cidade vive a aspiração de se tornar a "Cidade do Cinema" e o último "Jornal do Barreiro", reportando-se a uma reunião pública da Câmara, volta a referir esta aspiração com alusões à "velocidade lenta" com que o assunto parece estar a ser tratado. É um filme "au ralenti". Tivesse eu a certeza de que essa aparente calma corresponderia ao esconder necessário e útil de animadas negociações, não me viria aqui referir a isso. Mas não tenho... e a experiência de outros factos similares leva-me a escutar um pipilar de mau agouro nas mensagens que, de vários lados (inclusive através da imprensa local) me vão chegando. Por isso rompo a neutralidade deste "blogue". Não há neutralidades, quando se trata do futuro de uma terra que é a nossa - embora haja para aí quem se pretenda superior aos outros quase em termos de "arianos puros" do "onde é que eu já ouvi disto?". Que esses iluminados xenófobos, alguns deles pretendidos internacionalistas, escarcalhem a árvore dos antepassados para poderem constatar donde - e em quão breve no tempo - realmente lhes vieram os genes.
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A primeira vez que se falou da hipótese da indústria do cinema no Barreiro foi em meio restrito e em análise crítica das propostas então formuladas para o espaço industrial da Quimiparque. Havia a proximidade de um período eleitoral, existiam cartazes anunciando coisas sobre a Quimiparque e havia um estudo, ou pelo menos intervenções públicas, apoiadas no parecer de um conceituado Arquitecto que apontavam para a concretização, nesse espaço privilegiado, de actividades industriais seleccionadas, entre as quais se referiam, não sem coincidência com as conclusões de um congresso ou simpósio então recente, as indústrias ligadas às energias alternativas.Era uma linha industrial contida na palavra "reconversão" do cartaz que seguidamente se mostra.

Cartaz da época (2001)

Considerava eu então com alguma reserva (que ainda parcialmente mantenho) o desenvolvimento exclusivo e preferencial dessas actividades "energéticas", uma vez que havia sido desmantelada uma parte mais que significativa do potencial metalomecânico do concelho (excepção aberta para as oficinas da CP, mas essas fora do espaço da Quimiparque) e que, para isso, seria necessário mobilizar investidores e tornar-lhes perceptíveis as vantagens de realização dessas mesmas obras. Se Alfredo da Silva, há 100 anos, "descobriu" o Barreiro como local ideal para as suas indústrias foi porque o Barreiro lhe oferecia e tornava visível, sem grande esforço ou iniciativa de sua parte, um conjunto de vantagens relativas para essa instalação. Mas como, desde aí, os tempos mudaram, mantem-se cada vez mais acesa a necessidade de ser o Barreiro, em novos moldes, em nova agressividade, sem dar tiros nos pés, a dever demonstrar as vantagens que possa oferecer para qualquer empreendimento. Sem o que o capital se não move. E não move mesmo!
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A coisa agrava-se com a extensão das esferas ou campos de acção. Há 100 anos, o campo de acção da concorrência era bastante limitado e implicava intervenções quase ao alcance do braço. Alfredo da Silva procura inicialmente o Barreiro para montar uma actividade de extracção que viesse proteger a Sul do Tejo uma eventual concorrência à fábrica de azeites de Alferrarede, que acabava de comprar. Âmbitos pois meramente regionais - sendo o seu mérito o de estabelecer, a partir daí, uma primeira unidade industrial de dimensão europeia. Hoje o Barreiro, como qualquer outro concelho do nosso País, não concorre apenas com outras possíveis localizações próximas. Concorre com todas as localizações possíveis, d'aquém e d'além fronteiras! Nesta era da globalização, ou correspondemos às necessidades procuradas, demonstrando a nossa excelência nisto ou naquilo, ou acabamos globalizados no vazio e mal-pagos ainda por cima.
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Ora a tal ideia do cinema surgiu então numa base que agora se não fala. Inspirada que foi na possível utilização da "área do gesso" bem como de outros pontos do concelho para tomada de imagens, havia que olhar com uma certa atenção para a "catedral de madeira" que correspondia às construções deixadas por Stinville na chamada "Zona Adubos" do lado sul da referida Quimiparque e que eram ideais para a realização de cenários e para todo o conjunto de improvisação de espaços que a indústria cinematográfica requer e que tínhamos visto na Califórnia. A inesperada e apressada destruição dessas construções (que na fábrica de Honfleur, em França, também projectada por Stinville, ainda prestam serviço útil!) veio apagar no imediato tal hipótese. Há, porém, quem se recorde ainda dela, como outro dia ouvi.
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Barreiro ou Honfleur?
Quem disser "Barreiro" vive da memória.
Quem disser "Honfleur hoje", acertou!
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A ideia actual da "Cidade do Cinema", que terá surgido independentemente da anterior, merece toda a consideração. Mas não se espere que venham ter connosco para que ela se concretize. Porque, se esperam, bem podem ficar permanentemente à espera. Um empreendimento daquela natureza e dimensão pressupõe uma atitude bem escalonada e bem conduzida de oferta, um permanente "bidding", que uma equipe profissional deverá realizar dia após dia, minuto após minuto. Não se pode ficar num "nada se pode fazer" se se quer ter isso aqui. Ressalvadas que sejam as respectivas proporções, a situação não pode deixar de me lembrar uma famosa "comissão de contacto" constituída para contactar as entidades oficiais, governamentais ou quejandras para promover as acções necessárias à então tão celebrada PDR ("passagem desnivelada da Recosta"): pois essa comissão de contacto limitou-se a avisar que existia e ficou-se à espera de ser contactada, valendo mesmo diversas intervenções orais e escritas, em reclamações e protestos, nas reuniões da Câmara (procurem nas actas, que lá encontram). O que significa que, como comissão de contacto, não desempenhou minimamente o seu papel que era contactar e que, portanto, se a PDR existe não foi dela que resultou. Não há pois que esperar ser contactado, nem dizer que se exige à entidade A ou B que assuma as nossas dores: há que contactar. Não há que passar para cima, para baixo ou para o lado, com espírito de Calimero, as responsabilidades das coisas e o desejo de obra: se de facto se reconhece que temos pernada para isso, se não é motivo de jactância balofa ou de sonhos de uma noite de verão, se existem circunstâncias que justifiquem a concretização da obra e um prosseguir na luta por ela, então o caminho é só um: fazê-lo. Nenhum investidor mexerá uma palha se não puder ver vantagens nisso. Os tempos mudaram: mostrem-se-lhe as vantagens e não se espere que ele, o investidor, as venha descobrir. Outros, entretanto, lhe levarão as suas!
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E há que lutar contra muita coisa que pode contrariar estes desígnios. Um exemplo: no mesmo JB, como noutros meios de comunicação social, até com âmbito nacional, faz-se referência a dúvidas levantadas quanto à segurança no Barreiro. Sublinha-se desde já a inteligente intervenção do comandante local da PSP que, não diminuindo a criticalidade dos assunto, fundamenta a sua análise numa perspectiva de eficácia e num suporte factual estatístico e afirma mesmo que "o Barreiro tem uma fama da qual não tem proveito", recusando a consideração como cidade insegura. Ora vamos a factos: se para um projecto como a "Cidade do Cinema" o Barreiro constituir para alguém a previsão de uma rivalidade potencialmente aguda, não se pense que essa notícia, como outras que possam pôr em causa a estabilidade e a potencialidade de suporte que o Barreiro ofereça, deixarão de ser levadas pressurosamente por esses nossos eventuais rivais ao conhecimento do tal potencial investidor. É a "publicidade negativa" no seu melhor (para eles) e pior (para nós), não tenham dúvidas! Levarão, sublinharão, enfatizarão essas notícias e outras, e tudo o que nos possa ser negativo. Quando se pensava no traçado do canal do Panamá (então província colombiana), a Nicarágua promoveu uma importante campanha internacional para que o canal Atlântico-Pacífico passasse por lá e não por onde veio a passar. Esqueceu-se foi de um pequeno pormenor: emitiu um selo que mostrava um vulcão activo. Os inimigos do projecto-Nicarágua só tiveram que comprar o selo e distribuí-lo a cada um dos figurões e/ou entidades com potencial capacidade decisória. Conclusão: o canal não passou (nem passa) pela Nicarágua. Daí o valor que dou à posição assumida pelo chefe da PSP local, reconduzindo os factos às suas reais proporções.
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Outra ilusão que pode existir é de que a "Cidade do Cinema" possa ser mais um projecto que venha subsituir os projectos que o Barreiro teve no seu período industrial. Vindo para nós, como se deseja, esse empreendimento seria "o projecto" (e não "um projecto" e muito menos "mais um projecto") e pela sua dimensão, pelo seu carácter modificador, seria necessariamente diferente, absorvente e afectaria as realidades actuais a nível regional. Pessoalmente, seja dito, só veria vantagens nisso. Essa verdadeira revolução, a existir, atingirá todos os aspectos, porá em causa diversas opções, exigirá um crescente dinamismo a nível autárquico, empresarial e social. A sua previsão imporá contactos e confrontos com modelos existentes, a realização em paralelo de instrumentos previsionais e alternativos de gestão autárquica, com projecções temporais a horizonte dilatado e em três bases, pelo menos: em termos de "momentum" isto é de desenvolvimento da realidade actual sem grande esforço dinâmico para além do expectável, em termos do projecto, como desejado e esperado, e em termos de Plano B, isto é, das alternativas de desenvolvimento pretendidas caso o projecto viesse a ter concretização menor ou faseada ou mesmo se, na sua tramitação, borregasse. Há matéria para uma actuação plural, a nível local, já que o projecto extravasará necessariamente as fronteiras concelhias - mas, em qualquer alargamento, a liderança do conjunto tem de existir. Importam-se soluções e não conflitos, procuram-se soluções que não conflitos que as impeçam. Reconhecem-se aliás múltiplos aspectos de âmbito mais vasto que não podem ser descurados: por exemplo, a ideia de que as questões do ambiente podem condicionar o desenvolvimento tem o retorno nas alterações que, no ambiente, a obra desejada pode provocar. Concretizo: a indústria cinematográfica exige determinadas condições ambientais e, ela própria, actua directa ou indirectamente sobre o ambiente. Os arredores de Los Angeles que se chamam Hollywood foram escolhidos pela luminosidade que ofereciam; hoje, mercê também dos efeitos directos e ambientais da indústria dos sonhos, Los Angeles passou a ser uma das mais poluídas cidades da América, depois de Houston - como recentemente foi recordado na "rádio".
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Conclui-se de tudo isto que "quem quer a bolota, atrepa". As coisas fazem-se, fazendo. Há já dossier que faça uma apresentação e, do Barreiro, uma análise SWOT (pontos fortes / pontos fracos / oportunidades /ameaças)? Há perspectivas do que se pode e do que se deve oferecer num processo de "bidding" concorrencial? Recusa-se esperar que seja o investidor a bater à porta ou que seja qualquer outra instituição, maxime o Governo, que diga "aqueles rapazes do Barreiro são mesmo porreiraços, vamos lá pôr a "Cidade do Cinema" e relegar, por exemplo, os de Amanhãs-de-Baixo que reclamam a mesma coisa"? Conhecem-se os nossos concorrentes (nacionais e/ou estrangeiros), os seus fortes e os seus fracos i.e. os seus próprios SWOT's? Conhecem-se os nossos potenciais aliados e a possibilidade da sua mobilização? Conhecem-se os orçamentos de um processo promocional e existe vontade de concretizar esse processo como investimento de risco? Existem cenários alternativos, do momentum ao sucesso e da gradação do sucesso ao Plano B? Conhece-se (ou apenas se pensa conhecer) o promotor e o que este deseja? Efectuou-se já uma análise de empreendimentos idênticos no estrangeiro para se poder aquilatar das necessidades impostas e dos efeitos tendenciais do projecto? Existe uma estrutura de trabalho organizada, definida e respondente para tratar especificamente do assunto, com mandato temporal limitado, com planificação detalhada e periodicamente revista e em dedicação exclusiva? Se as respostas a duas destas dez questões se mantiverem insistentemente negativas o melhor, quanto a cinema, é continuar a comprar o bilhete... ou a esperar que o DVD saia para o mercado de venda ou de aluguer!

sábado, 18 de novembro de 2006

Os Erhart, Michael (pai) e Gregor (filho)

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O que me é a mim mesmo prometido é ainda mais devido que aos outros... e por isso falar-me-ei dos Erhart, escultores do Renascimento Nórdico e da denominada "escola do Danúbio".
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Começarei por me referir a um primeiro comentário recebido: no Renascimento Nórdico cabem também os flamengos todos e, por tabela, caberão também os nossos artistas e os daqui do lado (incluindo necessariamente a Catalunha) que ou criaram na mesma linha ou por ela foram de qualquer forma influenciados. Ora nem uns nem outros apareceram aqui. Têm razão o/a comentarista, quanto ao primeiro caso, i.e. quanto à ausência dos holandeses. Mas um blog não é necessariamente um tratado ou uma demonstração de erudição balofa. Um blog é do que se gosta. É um entretenimento partilhado, que até pode ser útil. A via não criativa e indagadora por que me meti resulta apenas do não ter tempo nem disposição para mais comentários - e de gostar de aprender coisas num determinado caminho. Abri esta abordagem, se bem me recordo, por Dürer. Também, se bem me recordo, iniciei este excurso por procurar ligar a figuração feminina e o renascimento alemão. Já não ando inteiramente por aí, mas como diria um político português actualmente em busca de ressurreição (aconselho uma voltinha por Jerusalém, que é um sítio indicado para essas coisas...), continuo a andar por aí. Verdade é que me tenho divertido e aprendido muito. Por esse facto e por ter enveredado pelo "Renascimento Nórdico de Expressão Alemã", que tanto desconhecia no pouco que conheço de uns e de outros, fugi aos flamengos! Sabe Deus a vontade de pegar em alguns deles, até porque, como aqui já foi referido, os renanos beberam muito do outro lado do rio da mesma forma que um hoteleiro alemão da zona de Uerdingen ainda hoje é capaz de, todas as manhãs, ir abastecer-se de legumes num mercado holandês! A arte, até mais que os legumes, não conhece fronteiras! Felizmente... Mas conhece leituras. Bom: uma outra razão é que os artistas holandeses são muitos... e eu nunca mais acabaria. Constato porém que os alemães, afinal, também são muitos e bem mais complicados do que eu ao princípio admitia. Mas daí não vem mal ao mundo! Já que saltei para o comboio ("jump to the bandwagon" é uma deliciosa expressão americana mesmo quando usada no sentido do nosso "Maria vai com as outras"), agora há que prosseguir...
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Quanto aos "nossos", que os temos e bons, trata-se apenas de um adiamento. A eles recorrerei em tempo oportuno. Não necessariamente amanhã ou depois, mas quando me der na bolha e me sentir capaz de me lançar a tal responsabilidade. Afinal um blog é um divertimento, não um trabalho de seminário...
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O segundo reparo que me fizeram, também certeiro, é o da preferência pelas representações a duas dimensões, i.e. no plano, deixando de lado outros tantos mestres escultores e mesmo ourives que marcaram o Renascimento Alemão. Aqui, mais uma vez, decididamente optei. E se afunilei na escolha, estou pronto a abrir uma excepção. É o que faço hoje, com a imagem em madeira de Maria Madalena, de notável esbelteza na sua mais que sumária vestimenta pelos próprios cabelos, da autoria de Gregor Ehrart para a Igreja dos Dominicanos de Augsburg e que está no Louvre desde 1902:

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Visitarei agora os Erhart, escultores e insignes membros da "escola do Danúbio", valendo-me, entre outras fontes, da sempre bem documentada http://www.artnet.com:
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Se, de facto, as fontes referem dois elementos principais da família Erhart, Michel, o pai, e Gregor, o filho, haveria que considerar um terceiro, também filho, também escultor, de nome Bernhard Erhart e cuja existência,documentada em 1515-1517, tem merecido mais escassa atenção.
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Michael Erhart (ou Michel Erhart) terá nascido em Ulm, entre 1440–45 e a sua actividade artística ter-se-á desenvolvido naquela cidade após um período de provável aprendizagem na Holanda, de onde terá regressado em 1469. A sua arte e o seu casamento com Margarethe Ensingen, filha do arquitecto Vincenz Ensinger levaram-no a uma posição cimeira na arte escultórica de Ulm, recebendo a sua oficina numerosas encomendas para igrejas da Alemanha do Sul, Austria e Suíça. Foi nessa oficina que "formou" e teve o apoio dos seus filhos ao ponto de, hoje em dia, permanecer vivo o debate entre o que terá sido a si devido ou a Gregor - como p.ex. sucede com o "Altar de Blaubeuren", executado em 1494-95. Terá morrido em Ulm, algures após o dia 8 de Dezembro de 1522. Muitas das suas obras foram destruídas nas diversas conflagrações que assolaram a Europa Central, pelo que se torna difícil reconstituir, mesmo que pictoricamente, o conjunto dos seus trabalhos.
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Gregor Erhart (Ulm?,1470? - Augsburg, 1540), tendo deixado a oficina de seu pai e sendo recebido como cidadão de Augsburg em 1494, como ‘sculptor Gregorius’, deve ter continuado a sua colaboração com aquela, recebendo e satisfazendo partes dos grandes conjuntos encomendados. . Torna-se difícil, por isso e pelas (também) vicissitudes que vieram a atingir a sua obra, dominar toda a extensão desta e separá-la dos trabalhos de seu pai. Um exemplo desta situação é dado pela destruição em Berlim, em 1945, de uma imagem da "Virgem da Misericórdia" que lhe era indubitavelmente atribuída e que faria parte de um grande retábulo realizado para a igreja da Abadia Cisterciense de Kaisheim (1502). Atribuída também a Gregor é a "Maria Madalena" acima representada. Seguindo as pegadas de seu pai, Gregor fez um "bom casamento", com a filha de um bem abonado empresário textil - o que terá contribuído para a prosperidade da sua oficina e a sua própria projecção na sociedade local.
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De Bernhard Ehrart menos se sabe.
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sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Max Reichlich (1460-1520)

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O Renascimento Alemão estende-se ao vale do Danúbio, através da "escola" que, naturalmente, recebeu o nome desse rio. Esta reune artistas do sul da Alemanha e da Austria (e mesmo da Hungria) e, na pintura e escultura, contém nomes relevantes, que incluem os Erhart (Michael e Gregor, pai e filho, escultores), Altdorfer, Jörg Breu, Lucas Cranach (estes três pintores já aqui falados), os Frueauf e Max Reichlich.
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Cabe hoje trazer aqui a reprodução de uma obra de Reichlich: o martírio de Santo Estevão. Note-se a violência evidente na expressão dos que se dedicam a lapidar o Santo - que assume uma figura monástica moderna ao tempo da obra!
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Quanto aos Erhart e Frueauf anotarei a seguir, pois que os primeiros constituem, aqui, uma excepção... graças ao corpo bonito denominado como de Santa Maria Madalena... e os segundos deram algum trabalho e divertimento nético!
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quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Ulrich Apt, o Velho (1460-1532)

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Fazendo parte de uma família de artistas, nasceu, pintou e morreu em Augsburg. O duplo retrato aqui figurado data de 1512.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Açúcares...

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Quando, de manhã, cortava o nevoeiro a caminho da Capital do ex-Império - um nevoeiro denso como soem ser os de Novembro e os de Fevereiro também - ouvi num dos inefáveis noticiários da Tê Sê Fê que havia uma crescente preocupação pela também crescente incidência da diabetes em cada vez pacientes mais novos, etc. etc. Atingido ainda de forma leve por esse mal, não posso deixar de reflectir na verdadeira conjura de situações que a isso conduz - e na verdadeira conjura de situações que disso se pode servir.
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Quanto ao primeiro aspecto, que é o causal, não vou alargar-me em considerações. Há quem saiba e quem claramente o diga. Quer por desmandos alimentares, tantas vezes produzidos por um mercado alheio a princípios dietéticos (veja-se p.ex. a composição dos "matinais" que se colocam na mesa apressada da miudagem antes desta sair de casa), quer por sedentarização da vida, quer por factores genéticos, temos aqui verdadeiros casos de "consumidor duplamente pagador" porque duplamente vai pagar o que come, seja a pronto, em moeda, seja a prazo, em termos de saúde.
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Quanto ao segundo aspecto limito-me a três apontamentos rápidos.
É verdade que os designados produtos sem açúcar (na realidade "sem sacarose" porque p.ex. chamar "produto sem açúcar" a um adoçado com frutose tem o seu quê de quimicamente errado!) vão começando lenta mas afirmativamente a aparecer nas prateleiras de mercearias e supermercados. Mas... e os rótulos? Nem sempre a rotulação é visível, sendo correcta, ou é correcta, sendo visível. Há frequentes confusões entre os produtos sem sacarose e os rotulados 0% quando a designação de 0% aí usada se referir a teor em gorduras, etc. etc. Esta questão seria facilmente resolvida se se impusesse um sinal convencional ou uma indicação precisa e inteligível por quem procura esses produtos sem necessidade de interpretar a lista de constituintes!
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Outro factor importante é o dos próprios locais de exposição e venda: se muitos destes produtos "sem açúcar" estão colocados em corredores próprios, nos chamados "dietéticos", outros - até pela necessidade de refrigeração - estão em situações de vizinhança potencialmente confusa com os normais, por vezes com rótulos similares, com os tais tais 0% e outros designativos lado a lado. Nos próprios ingredientes usam-se expressões também confusas. Vejam-se os diversos exemplos de ambos os casos que se podem recolher nos "balcões" dos iogurtes.
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Finalmente: os preços. Quem percorrer com os olhos a ala dos "dietéticos", faça confrontos entre o preço por quilo do produto normal açucarado (p.ex.cereais, bolachas, compotas, etc.) e o mesmo dito "sem adição de açúcar". Quem aguenta? A diferença é tão elevada e as cotas de preços tão homogeneamente diferidas que sugerem a realização duma indagação das margens de comercialização de uns e de outros por quem de direito, não vá a necessidade de uns ter-se transformado, para outros, em desproporcionada fonte de negócio. E verificar, ainda, como estamos em termos de concorrência, entre produtos formularmente similares! Há pois uma questão de "gestão do açúcar" para quem tem de o evitar - e sempre com um aspecto que sugere unilateral (des)vantagem. Aqui, como em muitas outras coisas, há que, sobre tudo, estar atento e sobretudo chamar a atenção.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Deambulando; Balthus

Um dos meus autores favoritos, Blaise Cendrars, suíço de nascimento, cidadão do mundo mas coração de parisiense, que dedicou um poema ao porto de Leixões e de quem aqui já falamos a propósito do Transsiberiano, o tal Transsiberiano que eu corria com o dedo no mapa fazendo viagens miríficas que talvez nunca farei, tem uma obra que dá essa noção do deambular: o "Bourlinguer" - noção menos asséptica que a que se retira das canções do Viandante (der Wanderer), ou menos absolutamente triste que a Viagem de Inverno (Winterreise), de Schubert, dramáticas ambas no seu romantismo. Bem... queria eu dizer que, levado o meu fiho Francisco ao autobus que o transporta para Lamego às 1400 prefixas de domingo, me deixei vaguear pela feira do livro de Natal que a Caminho-divulgação tem no grande espaço inferior entre a estação do Oriente e o Centro Vasco da Gama, em Lisboa.
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Tinha, numa passagem anterior, localizado um livro sobre o cerco de Lisboa (sem ser a saramáguiga obra sobre tal tema) e contava redescobri-lo facilmente, mesmo sem a ajuda (que seria relativamente normal e simples) de um computador que pudesse ali existir e que dissesse o que há e o que não há. Hélas!, como diria o Blaise! Não o descobri mesmo. E furioso mais comigo próprio que com a organização local pousei o monte de livros que já tinha seleccionado e remeti-me a dois, a apenas dois, no que, castigando-me na escolha, ganhei em "cacau": um ensaio sobre as relações luso-alemãs antes da I GG, nomeadamente sobre a questão da concessão dos sanatórios da Madeira, de Gisela Medina Guevara, e um daqueles interessantes e módicos em preço mini-albuns da Taschen sobre um autor que desconhecia totalmente: Balthus (1908-2001), nascido conde Balthasar Michel Klossowski de Rola, o "Rei dos Gatos". Curioso este provocador Balthus, curioso mesmo! De quem se escreve (afinal não seria só eu!): "A melhor maneira de começar é dizer: Balthus é um pintor de quem nada sabemos. E agora vamos ver os quadros".
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Aliás é de Balthus que recolho "A Saia Branca" (ou "Claude de Vestido Branco"), uma das suas obras mais compostinhas pintada em 1937, e que me lembra alguém conhecido. Mas donde? De 1937 não, certamente... Então?!
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Adiante...
Entretanto - fazendo das tripas coração para voltar à leitura - acabei de ler "Os Tabus da História", de Marc Ferro. Um livro algo desordenado, que não prima pela tradução mas que envolve assuntos e leituras que serão certamente de ter em conta. A tese, em si, é simples: quando um acontecimento histórico controverso se torna desconfortável para ambas as partes da controvérsia estas colaboram pragmaticamente em elidi-lo i.e. passa a não existir. Esta perspectiva é importante para a apreciação da realidade por detrás das descrições desta ou para graduar a apreciação da memória, que pode estar manipulada por gregos e troianos. Nesse sentido, a obra tem aspectos que surpreendem.
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Finalmente, ainda quanto a Balthus ver http://dossiers.publico.pt/balthus/. Boa visita!


segunda-feira, 13 de novembro de 2006

A transfiguração do 515


Todos se lembrarão do inesperado aparte de uma nossa figura política sobre um curioso múltiplo de 23, dando lugar, entre outras manifestações, ao também curioso poema de Luís Graça que se pode encontrar em http://www.truca.pt/ouro/obras/luis_graca.html.
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Ora, entrando outra vez no campo dos números com "pequena (ou grande) história", há um que certamente muitos portuenses do meu tempo e até de anteriores gerações qualificarão de também curioso. Mas, se lerem o livro "Porto do Gral", da autoria de Lima de Freitas e editado pela Ésquilo, e nele procurarem o seriíssimo capítulo epigrafado "O 515 reaparece em Portugal", com o subtítulo "A riqueza oculta da tradição mítico-espiritual portuguesa", verão como o mesmo número pode, também aqui, ir bem mais longe do etc. e tal com que ficou localmente conhecido. Vantagem, em qualquer caso, de ser abstracto!
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E se no princípio chocarrei, depressa concluí que algo de mais fundo existe e que deveria ser investigado na referência que o referido número mereceu a Lima de Freitas, cuja sem dúvida obra admiro mas de que concluo conhecer a parte visível do iceberg. Neste correr de ideias uma nova e interessante pista pode ser encontrada num texto de Raquel Gonçalves, de onde aliás, com a devida vénia, é retirada a gravura que acompanha este texto, em:

domingo, 12 de novembro de 2006

Natal (que se aproxima) ou Curtistória sem-senso 001!

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Eram 10:00 horas da manhã precisas quando ouviu a mamã dizer, lá fora:
"Que dia lindo! Um verdadeiro dia de morrer!"
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Desobediente como depois seria, esforçou-se por nascer às 15:30!

sábado, 11 de novembro de 2006

Konrad Witz (~1400 - 1446)... em dia de S. Martinho!

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Witz nasceu na Alemanha (em Rottweil, na Suábia, cerca de 1400) e morreu em Basileia em 1446, sendo muitas vezes classificado como membro da "escola suíça". Na escassa obra que deixou e está representada existem duas características figuras alegóricas, uma à Igreja e outra à Sinagoga - reproduzindo-se esta última, menos conhecida.
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Esta minha aproximação afectiva pelo S.Martinho vem também dos tempo de menino e moço e radica numa dedução quiçá simplista que então fiz: "ele" (S. Martinho) era romano e rico; o pobre (fingido, como se sabe da lenda) não era nem uma coisa nem outra; e ele, mesmo assim, dá-lhe da capa que levava". Esta noção de partilha (e de igualdade ainda mais meritória porque, não sendo original, tornou-se adquirida quando praticada) era por mim igualmente pressentida no caso, que então valorizava como paralelo (como ainda valorizo, aliás), do centurião que foi interceder pelo criado doente e que foi logo dizendo que não era digno de ter uma visita especial em sua casa, mas que nem isso - no seu entender - seria necessário para a desejada cura.
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Passando desta componente ao plano do dia, prosseguirei na água pé e nas castanhas. Este, solheiro que está como que também celebrando a partilha do manto pelo Santo de Tours e o vinho novo que se pode ir provar à adega (sinal evidente da renovação cíclica), só ficaria perfeito se eu, neste caso em igualdade exclusivamente original, tivesse podido partilhar qualquer coisa - como p.ex. uma boa e inteligente conversa, quando boas e inteligentes conversas começam a cair no meu rol dos acontecimentos raros - essencialmente por falta de pachorra do próprio! Não se diga porém que não tentei! Posto isto, pode ser que os flamingos digam qualquer coisa, já que vou de abalada para as bandas de Alcochete!

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Piaste a tempo!

Esta contaram-m'a na minha infância e continua a servir-me de modelo para aqueles casos e aquelas pessoas que a tempo se revelam. Outros há, mais perigosos ou menos percebidos, que correspondem ao modelo "bomba de relógio". Mas aí vai a história. tal como me foi contada, nem sabendo eu se existiu e se, tendo existido, os personagens foram mesmo aqueles ou outros quaisquer.
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Visitava D.Pedro V um manicómio no Porto quando dele se aproximou um sujeito jovem, bem vestido e cuidado, que se dirigiu ao Rei e que lhe disse, em tom perfeitamente urbano e em escorreita dicção, pretender expor a sua dramática situação, certo de que, com a sua conhecida bondade, dele se amercearia.
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Desfazendo a ligeira relutância dos acompanhantes, mas demonstrando compreensão face ao pedido, o Rei prontificou-se a ouvir o inesperado peticionário. E este foi breve e preciso: não estava atingido por qualquer doença mental, mas simplesmente internado por uma infernal conjura familiar que assim pretendia afastá-lo do convívio social e nomeadamente duma herança a que tinha direito e cuja administração e fruição lhe estavam a ser manifestamente usurpadas. Dispunha disso provas sobejas que poderia certamente apresentar, etc. etc. Tão directo, claro e preciso foi nestas breves alegações que comoveu o Rei - sabendo também este que, ao tempo, situações deste tipo não eram de todo inéditas. Assim, nada mais avançando, disse-lhe apenas um "Veremos isso..." e ordenou a um dos acompanhantes que do assunto tomasse nota, no interesse de um oportuno exame, prosseguindo então a sua visita.
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Acabada esta e voltando o Rei aos jardins para se despedir do corpo médico e administrativo que o tinha recebido, aproximou-se o mesmo personagem e manifestou interesse em igualmente se despedir do Rei e de lhe agradecer o tê-lo ouvido. Mas algo teria a acrescentar, pelo que, dirigindo-se ao Monarca, convictamente afirmou:
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- Saiba ainda Vossa Magestade que me esqueci de lhe referir outra coisa importante. É que, além de tudo o que contei, também sei cantar de galo!
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Consta que o Rei, despedindo-o, apenas comentou:
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- Ainda bem que piaste a tempo ...
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E o assunto terá morrido mesmo ali.

Martin Schongauer (1450-1491)


Gravador e pintor da escola alemã. Em 1492 Dürer foi propositadamente a Colmar (Alsácia), procurando agarrar a oportunidade de trabalhar na oficina de Schongauer, tal era a sua fama, mas já não encontrou o Mestre, entretanto falecido.
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Da sua obra pictórica destaca-se a muito conhecida "Madona do Roseiral". Dos seus trabalhos de gravura, em que foi exímio, provém numerosas obras que traduzem uma vasta capacidade imaginativa. Esta permite-lhe abordar temas religiosos de forma criativa - e uma muito famosa "Tentação de Santo Antão" representa o Santo arrebatado ao céu por monstros fantásticos e horrendos, que tais são os disfarces diabólicos (a procura do feio como símbolo do mal) - tudo ainda longe das carnações róseas dos corpos femininos que viriam atormentar o pobre Santo em obras de pintores de eras mais próximas.
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A realização de uma série de gravuras sobre as "virgens prudentes e as virgens atoleimadas", chamemos-lhe assim, permite reabordar a figura da Mulher - e é exactamente uma das virgens doidas que se seleccionou para trazer aqui.
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Inovou igualmente na técnica da gravura, permitindo obter gradações de tom e acabamentos de certa forma inéditos. Notam-lhe uma aproximação à escola flamenga, nomeadamente a van der Weiden - mas o seu "discurso" original dá-lhe um lugar definido e não contestado na escola alemã do Renascimento Nórdico.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Mair von Landshut (1430-1504)

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Tudo é problemático e muito pouco dele se sabe, até o nome tem variantes. Conhecem-se-lhe pinturas, de matriz religiosa (como duas tábuas do martírio de um Santo, presumivelmente S.Vicente), e gravuras (como a presente).

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Erasmus Grasser (1450-1526)

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Dado como pintor e escultor, não se lhe encontraram, na "net", representações de obra pictórica. Como escultor, foi criador de uma série de graciosos dançarinos mouriscos em posições acrobáticas (erótico-satíricas, lhes chama um jornal alemão) - que inspiraram, até aos tempos de hoje, na Alemanha e até na Inglaterra, grupos e festivais de dança („Morischgentanz" e "Moriskentanzer")) que recordam o seu nome e que se mostram particularmente activos nas celebrações do Carnaval. Trabalhou essencialmente em Munique e deixou obras de engenharia e de hidráulica.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

7 de Novembro de 2006: tempo de começarem a...

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... pôr o lixo no lixo! Com arbustos daninhos e flora correlativa, claro!


A tempo: Ouvi uma entrevista à Nancy Pelosi, sem papas na língua: gostei. Ouvi excertos de uma intervenção do GWB a dizer da mesma cobras e lagartos: gostei mais ainda (dela).

Mestre da Paixão de Karlsruhe [Meister der Karlsruhe-Passion] (~1435-1465)

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Como igualmente se poderá discutir em Bosch, o hediondo das figuras que arrastam um Cristo sofrido para o Calvário evidencia uma repulsa pela imagem negativa do pecado e um reconhecimento da grandeza e desigualdade do sacrifício, ou - pelo contrário - poderá também significar um escondido mas intencional discurso de aviltamento da própria divindade ou recusa da sua sempre limitativa representação?
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Do Autor conhece-se um altar e tem sido discutida a sua relação com outras obras. Se todos os pintores tivessem assinado os seus trabalhos, quantos menos Mestres não poderia haver? E quantas menos dúvidas?

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Michael Wolgemut (1434-1519)

Nascido, criado e falecido em Nuremberg, Michael Wolgemut notabilizou-se como xilógrafo e como pintor. Em 1472, falecido Hans Pleydenwurf, Wolgemut torna-se duplamente seu herdeiro, quer casando com a viúva, quer tomando-lhe a oficina e a abundante clientela, para a qual produz arte durante mais cerca de 40 anos. Como pintor sacro, realiza diversos altares, seguindo a tradição da época; como retratista deixa também obra notável (ver abaixo); como xilogravador, produz ilustrações para diversas obras. Assinala-se-lhe já um certo gosto pelo clássico, exemplificado na gravura Ulisses e Circe.


A presença da morte também se verifica e adquire aspectos grotescamente humorísticos, que de certa forma lembram os exageros do carnaval alemão e as "festas da proibição", como se pode ver na famosa (e tantas vezes reproduzida) gravura da "Dansa Macabra" (ou da "Dansa da Morte", como se lhe quiser chamar):

Finalmente, para evidenciar a sua qualidade como pintor, bastaria mostrar um quadro em que o fundo religioso não tapa totalmente (como já se viu em anteriores artistas) o preito claro e evidente à beleza feminina, frequentemente trazido através da perturbadora imagem de Maria Madalena. No quadro "As três Marias" (de que se dá apenas uma parte) aí a temos, à esquerda, acompanhando a Virgem e presumivelmente Maria de Betânia, a irmã de Lázaro, com o cabelo solto que contrasta com o rigoroso toucado de Maria de Betãnia, o mesmo rigoroso toucado à moda da época que se voltará a encontrar no retrato de Ursula Tucher. Se de facto uma confusão entre Maria Madalena e Maria de Betânia vai surgir, a certa altura, aqui - em Wolgemut e no seu tempo - essa confusão poderá (ainda) não existir.


Além da sua Arte, que lhe rendeu nome e prosperidade, Wolgemut teve ainda um outro mérito: o de incluir Albrecht Dürer entre os seus pupilos e de o impelir a viajar, nomeadamente para a Itália. Dürer trabalhou com ele em 1486, antes dos "período de viandante" pelas cidades alemãs que precederam as suas viagens a Itália(1494 a 1507) e a sua reinstalação em Nuremberg (1507). Aliás, em 1516 Dürer pinta o retrato a óleo do que foi seu mestre. Concluindo: o retrato de Ursula Tucher completa "As 3 Marias" demonstrando a capacidade de Wolgemut como retratista - tendo-se o retrato como uma das expressões pictóricas mais representativas do Renascimento Alemão:
A tempo: o acaso e uma certa sequência cronológica fizeram com que esta postagem sobre Wolgemut sucedesse à postagem sobre Pleydenwurf. E assim, constatando a parecença das duas Madalenas, uma questão se poderá pôr: terão ambas tido como modelo a mesma Barbara, Frau Pleydenwurf para a primeira... ou Frau Wolgemut viúva-Pleydenwurf para a segunda, se pintada após 1472? Curioso!

domingo, 5 de novembro de 2006

Hans Pleydenwurff (1420 - 1472)

Hans Pleydenwurff situa-nos ainda no domínio das cenas de fundo religioso, nomeadamente dos retábulos para altares. O próprio e impressionante retrato de Jorge, conde de Lowenstein aqui reproduzido resulta do facto de este ser doador de um retábulo e de nele figurar em devoção a um "Ecce Homo" também impressionante de realismo.
Um outro (ou outros) retábulos, do altar de Hof (ou de outras origens), representa(m) as cenas da Paixão - motivo abundantemente explorado pelos artistas da época. Para nos reposicionarmos nos nossos propósitos iniciais, de uma "Descida da Cruz" destacamos um pequeno pormenor que, mesmo em tal cenário, rende clara homenagem à beleza e graciosidade feminina. Amparando a Virgem, encontramos aqui Maria Madalena, novamente?

sábado, 4 de novembro de 2006

Johann Koerbecke (~1420 - 1491)

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Abordou-se aqui, a propósito de Mestre Bertram de Minden (postado a 28 de Outubro p.p.) a forma sequencial de representação de factos sucessivos. Ali, como se mostrou, esta aparece , em visões sequenciais, por justaposição de quadros representando cada um uma cena isolada, i.e. cada um deles correspondendo a um determinado acontecimento/momento, como aliás sucede nos actuais "comics" ou histórias em quadrinhos (ou nos rolos fotográficos). Referiu-se então que essa representação pictórica da acção no tempo pode assumir uma modalidade diferente de, numa visão quase cinematográfica de sobreposições, mostrar num único quadro, segundo um itinerário, uma sucessão temporal de actos. Esse "desafio à simultaneidade" é dado pelo pintor hoje visitado, Johann Koerbecke, também do Renascimento Nórdico (Escola Alemã) nesta magnífica "Paixão e Ressurreição de Cristo". Sobre este interessante tema da representação do tempo, que poderia dar uma interessante abordagem quando analisado em diversas escolas pictóricas, ver, entre outros desenvolvimentos, a aproximação do actual dada por Susanne Jaschko no seu texto "Space-time Correlations Focused in Film Objects and Interactive Video", em http://www.sujaschko.de/en/research/pr1/spa.html. Na obra acima representada a trajectória é evidente: começando no quarto inferior esquerdo, sobe ao centro, com a Crucificação, e desce até ao quarto inferior direito, com a Ressurreição.
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Duas notas pessoais, aceitando que me acusem de vulgaridade. A primeira refere-se a Maria Madalena. Adquirindo ultimamente uma enorme notoriedade, que aliás nunca a abandonou, dir-se-á que, neste quadro - e como seria de esperar - "vai muito bem". Quer na porta de cidade medieval, que representa Jerusalém, quer de costas, frente à cruz, quer à direita da Virgem a velar Cristo morto, destaca-se-lhe a beleza que, naturalmente, todos os pintores lhe conferem e que aqui assume um "modelo bem alemão", com a sua longa cabeleira loira. A segunda nota reporta-se à graça que encontro na notoriedade conferida pelo berrante e até modernaço chapéu amarelo ao estranho dignitário que, na Crucificação, se encontra à direita de Cristo, entre este e um dos Ladrões (presumivelmente o Bom Ladrão, de barbas brancas, num tempo em que à representação da velhice se atribuía uma certa virtude e dignidade, mesmo quando ladrão!). Confrontando, pelo seu aspecto laico, com os toucados religiosos dos outros cavaleiros, será esta a ideia que o Autor quis dar de Pilatos (que aliás não consta que tivesse estado no Calvário) ou de um qualquer romano presente? De resto, não surpreende que a Paixão de Cristo decorra num cenário do sec. XV na Europa Central, como é também característico nas representações da época.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Mestre do Altar dos Berswordt [Meister des Berswordter Altar] (act.1400-1435)

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Este pintor alemão, da Vestfália, é conhecido através de um tríptico da Crucificação pintado em 1431 para a Igreja de Santa Maria [Marienkirche] em Dortmund. O nome Berswordt pertence a uma família aristocrática local que terá encomendado o tríptico para a sua igreja e que fez nele representar o seu brazão. Notando-se alguma influência de outros autores do tempo e do local, este pintor desconhecido mantém uma personalidade característica e diferenciadora na sua obra. A tábua mais reproduzida - por razões estritamente comerciais - é a da "Crucificação" e, por isso, escolhi a "Flagelação" - que volta a reproduzir trajos e costumes da época. Enquanto andar por "Mestres do Altar X ou Y" pouca esperança subsiste de encontrar as figuras femininas de que tenho andado à cata neste passeio pelo Renascimento Nórdico - verdade seja dita que com grande proveito em muita outra informação.

Recebi notícias

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Menos mal...
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quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Lengalengas

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Veio hoje, a despropósito do exercício do discurso político por certos figurões, falarmos em lengalengas e, tendo em conta o mérito destas relativamente àquele (o discurso político de certos figurões), concluirmos (a) que cada vez se conhecem menos; (b) que muitas já estarão irremediavelmente perdidas; (c) que é um dever quase-cívico registar as poucas que ainda se conhecem; e (d) que por vezes se confunde a lengalenga com a cegarrega, que é, como que a dizer, uma "lengalenga musical". Por mor desta razão e mérito aí vai a seguinte lengalenga, que joga no "no-sense" e transforma este blogue num "Almanaque de Lembranças", recolheita que de facto já se não edita. Pedem-se mais a quem as tenha ou saiba! Com indicação de local, data e forma de recolha, claro, mas de todos os tipos, formas e feitios:
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"Estava o jovem ancião
Sentado de pé
Num banco de pau de pedra
Lendo um jornal sem letras
À luz de um candeeiro apagado
E, muito calado, dizia:
Caracol que vais acima
Por essa parede abaixo
Menina, põe-te à janela,
Sai-te do Sol que te molhas!"
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Há variantes, que também se agradecem! Bem como se solicitam e agradecem os trava-línguas (ou "tongue-twisters"), que foram já motivo de vários estudos (procurem-se na net!) e dos quais se apresentam, como exemplos, dois dos mais sobejamente conhecidos. Um é o clássico "dos três tigres" com que toda a gente tem brincado:
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"Um tigre,
Dois tigres,
Três tigres!"
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O outro, menos conhecido é o "Esta burra torta trota" e aí vai:
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"Esta burra torta trota
Trota, trota, a burra torta.
Trinca a murta, a murta brota
Brota a murta ao pé da porta".
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quarta-feira, 1 de novembro de 2006

"Fast food"

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Já aqui deixei transparecer, a 25 de Junho último, que não desgosto de "fast food" ou seja, daquilo a que detractores mais violentos se entretêm a chamar de "junk food". Sinto que isso conduz a justificações caridosas por parte de alguns dos meus amigos, que alegam como atenuante o contributo das minhas incursões pelos EUA e Canadá, como constitui argumento invocado contra a minha maneira de ser pelos meus desamigos, talqualmente seria destes esperar. Mas a verdade é que, gostando eu de "fast food" tanto como sou capaz de gostar (e de saber comer) desde as mais requintadas iguarias até uns enrolados de não-sei-quê-em-quê num estabelecimento local das margens do Níger, comprovada que tinha sido a boa aceitação dos mesmos produtos pelos cidadãos locais, a verdade é que, ia dizendo, estou-me rigorosamente "dans les incres" i.e. "nas tintas" para tais críticos e críticas! Verifiquei-o hoje mesmo no até agora mais americano McDonald's que por aqui encontrei e que é o situado no Pinhal Novo.
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"Pão por Deus"

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Apareceram por aqui dois mocinhos, de bicicleta (toque moderno), reavivando o costume. Foram fornecidos. Ainda bem que o fizeram, pois isso significa que ainda há quem se lembre do que este dia significava, em termos de tradição, com a abertura do Advento, i.e. entre nós do ciclo do Natal [1]. Creio que já recordei aqui que, na casa grande de Gaia, hoje inexistente, essa data pressupunha a vinda próxima de dois personagens sempre esperados por mim com curiosidade e algum receio: os limpa-chaminés. Vinham enfarruscados, como convinha ao ofício no tempo dos fogões de lenha ou de carvão de pedra (ou a queimar briquetes, como no tempo da Guerra e que já pouca gente sabe o que é!), com um escadote, cordas e ramos de carqueja - e as suas suspeitíssimas manobras eram cuidadosamente observadas pelo miúdo da casa, que era eu, quando a fuligem caía em cima dos jornais desdobrados sobre o fogão. Aliás provinham de uma empresa significativamente chamada "A Fuligem, Lda" que eu não sei se ainda existe!
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A profissão, essa não acabou. Em Alverca li um anúncio a publicitar a prestação de tais serviços "sem sujar a casa". Ecologias que afastam aqueles alcatrões cancerígenos que não sabíamos sequer que o eram, como também se afastou o mercúrio dos termómetros, ficando apenas na nossa memória quando, perante um termómetro partido, inconscentes ainda de que Minamata seria um dia conhecida, afastávamos, incautos, as bolinhas fugitivas com os dedos. "Quicksilver", como lhe chamam os anglosaxónicos! "Prata líquida", que tal significa o "hydragyrus" romano, perpetuado no símbolo químico Hg. [2][3].
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Pois em terras do Barreiro o "Pão por Deus" [4] também parece não ter acabado. Pelo menos para dois putos empreendedores, em bicicleta. Futuros empresários, certamente! Ao menos isso...
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[1] Daí o dito: "Dos Santos ao Natal é um pulinho de pardal!"

[2] Uma outra lembrança: o DTS (Dia de Todos-os-Santos e também aniversário da telúrica fúria que em 1755 arrasou Lisboa, a costa do Algarve e a grande mesquita de Rabat, suscitando, em nome da Razão, a nada religiosa ira voltairiana) era (e é) "dia de missa", que é como quem diz "dia santo de guarda". Isto leva-me a recordar, com uma certa nostalgia, a particularidade dos azulejos do lado esquerdo da capela-mor da igreja de S.Cristovão de Mafamude (singular ecumenismo toponomástico!), se é que ainda existem (espero que sim): representam esses azulejos os Reis Magos que se dirigem ao Presépio a pé, à frente dos respectivos camelos (se bem recordo)! Sempre questionei por que razão não era dada uma melhor utilização a tais cavalgaduras, já que estavam ali, à disposição dos Reis Magos e eles iam a pé, patriacalmente apoiados em bordões. Mas o mais interessante, desses azulejos, é que, na minha imaginação juvenil, os camelos pareciam ter olhos de gente... e os Reis Magos, salvo seja, olhos de camelo! Espero, não obstante, que continuem assim.

[3] De facto, o DTS pretende ser, para a leitura c.a.r. dos Céus, uma espécie de "monumento ao soldado desconhecido", onde cabe uma universalidade. Nunca pois se prometa, a alguém, qualquer coisa com o prazo do "dia de São Nunca à tarde": ele existe mesmo! Nem se confunda o 1º de Novembro (paramentos brancos) com o Dia dos Fieis Defuntos, que é o dia 2 (paramentos pretos) - ainda que o feriado de 1 de Novembro e o apagamento do sentido pio do dia 2 acabem hoje, na prática, por os confundir mesmo.

[4] Sobre o costume do "pão por Deus" (nada tem a ver com o ppD, descansem!) ver
e, se quiserem uma postagem ingenuamente delicada com uma referência à sua introdução no Brasil por imigrantes açorianos e uma música deliciosa, então visitem
para um estudo mais elaborado do costume no litoral catarinense. Aí, a feitura gráfica do "coração com versos" é essencial e não se deve perder o fundamental apontamento quanto à sua elaboração que se encontra na "Simetria em Poesia no Pão por Deus" em Malba Tahan Newsletter de Novembro de 2002 [a propósito: ainda havemos de falar de Malba Tahan, neste blogue!] em:
Quanto ao seu crescente desuso aqui - aliás como, em cenário urbano, sucede com muitos outros hábitos e celebrações populares (as "sestas", a "espiga" - este ainda muito vivo -, os "tronos" de Santo António e as "cascatas" de S.João, etc.) - vide
e, para a celebração do TDS nos Açores e na Madeira,
Leite de Vasconcellos abordou também esse costume na pag. 1313 da Miscelânia Etnográfica V.XXV dos Opúsculos, vol. 5. ed. da INL de 1938, que se pode encontrar digitalizada em

Novembro

Do "Missal antigo de Lorvão"