sábado, 31 de março de 2007

Leonhard Beck [Augsburg, 1480 - Augsburg, 1542]

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Ao tratar da referência deste artista da escola do Danúbio, que "começou" como colaborador de Holbein, o Jovem, mal pensava eu que iria abrir tantas "frentes" e abordar temas tão diversificados. Pintor e gravador do Renascimento alemão, é como pintor que se dá o exemplo acima, mostrando "A Luta de S.Jorge com o Dragão", que se exibe no Kunsthistorische Museum de Viena de Aústria. Observem-se os pormenores da representação do "dragão" que aqui se mostra bem mais "lagarto" que outra coisa. Aliás - pelo que se oberva no quadro - a luta terá envolvido mais que um lagarto, incluindo juvenis.

Mas é sobretudo na arte da gravura em madeira que existem mais (e bastantes) referências ao Autor. Reinando Maximiliano I de Áustria, imperador da Alemanha, a arte da gravura em madeira, na Alemanha, recebeu um grande impulso e apoio que, como se verá, não foi alheia ao seu emprego com objectivos políticos (e, a devido tempo, religiosos). Num comentário acrescido à representação de uma das gravuras de Leonhard Beck, "Santa Waudru (ou Waltrude, ou Waldetrude)", padroeira da cidade belga de Mons, dada em:
http://www.artoftheprint.com/artistpages/beck_leonhard_saint_waudru.htm ,
essa influência é comentada por Stanley Appelbaum, que também refere bibliografia quanto ao assunto.

É no primeiro contexto (significação política, por relação com factos históricos) que se deve incluir a seguinte gravura de Beck, denominada "O Rei Filipe é recebido em Castela com preito de lealdade":

que se encontra entre as 14 gravuras do Artista identificadas na base de dados do LACMA (Los Angeles County Museum of Art Database [1]) e que não está actualmente em exibição pública. Reporta-se esta a um dos importantes eventos ocorridos em Espanha, após a morte da rainha Isabel, a Católica.

A nossa habitual inabilidade para conhecermos a história dos nossos vizinhos, sejam eles primos algo mais afastados em continente (Marrocos) ou próximos no mesmo (Espanhas) ou mesmo que como irmãos (Galiza), leva-nos a saber pouco sobre a sucessão dos Reis Católicos e as questões que esta suscitou. Do Volume I, "Imperio y Absolutismo (1516-1598)" da obra de John Lynch, "España Bajo los Austrias", na sua quarta edição pelas Ediciones Península, de Barcelona (1982, com primeira edição inglesa em 1969), retiro, a pags. 51 e 52 o seguinte excerto, de que faço tradução com algumas (mas não muitas) pitadas de liberdade:

"A rainha [Isabel, a Católica] morreu a 26 de Novembro de 1504. Nunca reconhecera os direitos do seu marido [Fernando de Aragão] à coroa de Castela. Agora, com a obstinação que lhe era característica, excluía-o da sucessão. Embora a sua filha e herdeira [Joana, a Louca] já tivesse dado mostras da enfermidade mental que a iria para sempre incapacitar como governante, foi declarada herdeira juntamente com seu marido Filipe de Áustria [Filipe, o Belo, arquiduque de Austria [2], filho de Maximiliano I, que seria Filipe I de Espanha]. Porém nem a própria Isabel, apesar do seu castelhano respeito pela letra da lei, poderia ignorar que Fernando adquirira uma experiência de trinta anos na governação de Castela. Portanto [dispôs que], no caso de ausência ou de incapacidade para governar de Joana e até que o filho desta, Carlos [que viria a ser Carlos V da Alemanha e I de Espanha], fosse maior, Fernando seria governador e administrador de Castela. Desta forma Isabel procurou respeitar as leis castelhanas de sucessão, que excluíam Fernando, e, ao mesmo tempo, assegurar a Castela um governo que, caso Joana se mostrasse inábil para governar, não seria o do forasteiro Filipe. Os resultados deste disparate eram de esperar. Sem o título de rei, Fernando ficava desarmado. O ambicioso Filipe estava decidido a depô-lo e em Castela apareceu um forte partido hostil ao "velho catalão", que teve que retirar-se como um fugitivo enquanto o seu lugar era ocupado por um príncipe estrangeiro e a sua enlouquecida rainha. Assim, graças à atitude retrógrada de Isabel, às ambições dos Habsburgos e à atitude separatista de Castela, as duas coroas [de Castela e Aragão] voltaram a ficar separadas. Não restava a Fernando outra possibilidade que não fosse atender aos seus próprios interesses e salvar, para Aragão, o que mais pudesse. Pelo tratado de Blois (1505) aliou-se à França e negociou o seu casamento com Germana de Foix, sobrinha do rei de França - renunciando este aos seus direitos sobre Nápoles. Expulsou também os castelhanos, incluindo Fernández de Córdova, dos altos cargos no reino italiano. Um novo perigo era o de tornar-se completa a separação dos dois reinos, caso o novo casamento desse um herdeiro a Aragão. A causa da unidade, atacada por todos os lados, acabaria por triunfar devido a uma singular combinação de acontecimentos fortuitos: a morte de Filipe I - em Setembro de 1506 - pouco depois de começar a reinar, a inequívoca loucura de Joana e infecundidade do segundo casamento de Fernando. O jovem Carlos, herdeiro de Joana e fruto da aliança de Fernando com os Habsburgos, tornava-se herdeiro único de ambos os reinos. Entretanto, para resolver o problema de Castela, Fernando era de novo recebido por um Conselho de Regência presidido por Ximénez. Os nove anos (1507-1516) que Fernando governaria sózinho viriam provavelmente a mostrar-se mais úteis para a causa da unificação que os do governo conjunto com Isabel. [...]"

Um outro aspecto, já referido, da obra dos artistas-gravadores alemães é o uso panfletário da gravura em madeira para expor os fundamentos da Reforma, seja criticando o papado, seja apresentando a vida desregrada dos religiosos, seja explicitando as diversas formas de exploração nichadas no poder eclesiástico e seus agentes. Esta faceta "política" da gravura está documentada na obra clássica de Max Geisberg (ed), Der deutsche Einblatt-Holzschnitt in der ersten Hälfte des 16. Jahrhunderts (München: H. Schmidt, 1923), mas pode também ser mais facilmente apercebida na "net" e em língua inglesa ao aceder através de uma simples pesquisa no "Google" para os conceitos "Engraven Reformation".

Aí, seleccionando sob o título geral "The Protestant Reformation: religious change and the people of sixteenth-century Europe" [A Reforma protestante: a modificação religiosa e o povo da Europa no sec. XVI"], é especialmente de atender o texto, do Prof. Scott Dixon [3], "Case-study 2: the Engraven Reformation" [Estudo de caso nº 2: a Reforma em gravuras] e, deste, o título "02.01 Printing and Visual Propaganda in Germany" [02.01. A imprensa e a propaganda visual na Alemanha].

Voltando agora a Leonhard Beck, apresenta-se a gravura "O Monge e a Moça", datada de 1523, em que todos os referidos aspectos de denúncia e propaganda estão bem patentes e que, inclusive pelos dizeres em "balões" ou "legendas", se aproxima da moderna expressão de "comics" i.e. de histórias em quadrinhos:
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Leonhard Beck, "O Monge e a Moça", 1523

O texto dos "balões" é o seguinte, da esquerda para a direita [4] :

Monge Velho (balão 1):
- Tenho de ficar eternamente mudo quanto a este negócio.
Ainda que isso seja contra a minha vontade!
Monge (balão 2):
- Campónio, alugarei a tua filha.
E pôr-te-ei os negócios em ordem.
Moça (balão 3):
- Pai, compreendi mal a situação.
Se assim não fosse, não teria ido procurar o monge.
Camponês (balão 4):
- Monge, como nos desiludiste
E levaste a minha filha a deixar-me.
Mãe (balão 5):
- Oh, que grande achincalho terei de sofrer,
Eu suplico a Deus pela minha filha.

Ficam assim demonstradas claramente as potencialidades então oferecidas pela gravura para a expressão e expansão) de ideias "a favor" (caso da recepção de Filipe I de Espanha) ou "contra (a Reforma em gravura) qualquer sistema".

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[1] Assinala-se o crescente interesse, nomeadamente aquisitivo, pelos museus e instituições de Arte americanas quanto a obras do Renascimento Nórdico.
[2] Não confundir com outro Filipe, o Belo, que foi Filipe IV, rei de França (1268-1314), o primeiro rei que, naquele país, enfrentou deliberadamente o feudalismo e o poder da Igreja e cujo reinado ficou ligado aos conflitos que originaram a guerra dos 100 anos, ao "cisma do Ocidente" (papado de Avinhão) e ao processo dos Templários.
[4] Não confundir com vários outros Scott Dixon referidos na "net".
[5] Traduzido do Inglês, exposto no supra referido "Case study 2"
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sexta-feira, 30 de março de 2007

Mestre I. K. (Seculo XVI)


Deste Mestre monogramista alemão ainda menos se sabe. Na pesquisa efectuada na "net" cai-se unica e sistematicamente no trabalho à pena e a tinta castanha "Os Quatro Evangelistas num «Scriptorium»" (a tradução óbvia por "escritório" parece diminuir o significado da sala, ao atrair interpretações correntes) que se encontra na National Gallery of Art, de Washington, E.U.A., após diversas aquisições que, de acordo com a pista contida na notícia da NGA, se iniciam em Paris em 1810 e se concluem pela ultima aquisição, para o referido Museu, em 1992 - através do Fundo Memorativo de Pepita Milmore. Os quatro Evangelistas são representados com os respectivos atributos, que os identificam (Águia = S. João, Leão = S.Marcos, Anjo = S. Mateus; Boi = S.Lucas) e, na obra, notam-se 3 inscrições: IK e a data (1539) no canto superior direito, iii Bazen na coluna, a meio e Jacques Krever, também a meio, mas já no bordo inferior da obra. Se esta ultima inscrição conduz a I através do J, seria importante saber por que razão esta se liga ao Renascimento Alemão. Talvez o assunto se esclareça com o conhecimento do itinerário da obra anterior à já referida localização em Paris, em 1810, e com a bibliografia também citada na página que lhe é dedicada no portal da NGA (U. Thieme and F. Becker, Allgemeines Lexikon der Bildenden Kunstler, Liepzig, 1950, xxxvii, p.420; Katalog 50: Handzeichnungen . L'Art Ancien S.A., Zurich, [1956]: no. 9.) e à qual, de momento, não tenho acesso.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Mestre A.G. [activ. 1475 - 1490]

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A partir de meados do sec. XV começam a surgir na Alemanha autores de gravuras ditos "monogramistas", pelas iniciais com que assinavam as suas obras. E são diversos, muitas vezes servindo de inspiração (ou de cópia) de uns para os outros. O desconhecimento da sua história leva a enfileirá-los no rol quase anónimo dos "Mestres" e temos assim os "Mestres Monogramistas". Mestre A.G. está nesse caso e a gravura acima, "Uma Virgem Prudente" ainda recentemente foi transaccionada no mercado de arte. O AG pode ver-se junto ao apoio do pé, na borda inferior da gravura. Onde e quando nasceu AG? Onde e quando morreu AG? As respostas a estas perguntas são uma parte dos mistérios de um entre muitos "Mestres Monogramistas" alemães. No caso dele, algumas fontes lançam as datas 1475 - 1490, que deverão ser entendidas como referidas a um "período fértil".

quarta-feira, 28 de março de 2007

Conrad Faber (von Creuznach) [Bad Kreuznach, ~1500 ; Frankfurt am Main, 1553]

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Também grafado "von Kreuznach", da sua cidade-natal, foi um notável retratista estabelecido em Frankfurt am Main (Franqueforte do Meno), activo na primeira metade do sec. XVI. A obra acima ("Retrato de Justinian e Anna von Holzhausen") está datada de 1536. Atribuem-se-lhe também gravuras e, em especial, cabe-lhe a elaboração de um dos primeiros planos de Franqueforte, o designado "Mapa do Cerco da Cidade", que data de 1552.
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(Retoma-se assim a série de apontamentos sobre a pintura no Renascimento Alemão, interrompida, salvo erro ou omissão, a 12 de Dezembro de 2006)
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terça-feira, 27 de março de 2007

Jogo cretino


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adaptado do "1984" de George Orwell pela UnitedStarvingArtistsLeague

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Cretino lhe chamei eu a 4 de Fevereiro

e obviamente provou-se.

Resta estar atento ao terceiro "moto" do Orwell

e a Nuremberga: antes e depois.

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segunda-feira, 26 de março de 2007

Um novo conto de Mauro Camargo: "Quem Matou Jô Soares ?"

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Mauro Camargo traz um terceiro conto seu a este blog. Algo distinto dos anteriores, nele a arte narrativa do Autor mantém um mesmo perfil e ritmo. Autorizando-me a publicá-lo, cabe-me agradecer a sua sempre bem recebida visita. Oportunamente falaremos aqui de duas das suas obras já em livro, que confirmam a sua capacidade de expressão noutras diversas formas - incluindo a narração para a infância. Mas agora sigam este conto. Concordarão em quanto dele vão gostar!

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QUEM MATOU JÔ SOARES?

Somos operários das letras

Somos construtores de idéias

palavra por palavra

Mas somos trabalhadores solitários

palavra por palavra

mestres-de-obras da ilusão

Construímos o edifício dos sonhos

sem ajudantes

como se assentássemos a palavra na linha de um verso

e tivéssemos que correr buscar outra

na pilha infindável da solidão

gênios invisíveis

almas esquecidas

antes mesmo de qualquer vagido

das suas vidas perdidas”.

A literatura é uma ocupação solitária.

Como não ter saudade das reuniões que precederam a semana de arte moderna? Ah! Bons tempos de 1922! Eu ainda estava muito longe de nascer, é claro, mas, um dos principais entretenimentos era ler. Complementando: ler livros, ou melhor, ler tudo o que os escritores escreviam. Como não ter saudade! Os bares e seus poetas declamadores (embora eu deteste ouvir poesias declamadas); as poesias rabiscadas em pedaços de papéis e os olhos ávidos dos que queriam logo ler. As crônicas, os romances... os grandes rádios chiadores, os folhetins e panfletos... as máquinas de escrever... as máquinas de escrever! Bem, vantagens e desvantagens; quem pode ter saudade delas?

A literatura é uma ocupação solitária e os computadores, quase de uma hora para outra, nos roubaram os últimos aduladores. A internet é um livro interativo constantemente aberto, perfilando romances velozes e diários, constantemente mutáveis. Está cada vez mais difícil encontrar quem nos leia e, na minha roda de amigos, meus assuntos literários conseguem parcos cinco minutos de discussão, logo dissolvidos pela devassidão virtual, muito mais real que meus delírios poéticos. Ou pior, instala-se um silêncio constrangedor, como se todos esperassem por um acidente na esquina, um atropelamento ou coisa assim, para ter como mudar de assunto sem constrangimento.

Nem se deve falar da televisão, inimiga mais antiga e aliciadora cavilosa das mentes incautas, que se deixam obsedar pela facilidade das imagens em movimento e dos sons em aturdimento. Pra que pensar? Pra que imaginar? A televisão já traz tudo pronto! Vá lá, ela tem alguns méritos, mas poucos são literários.

Devo declarar que nada tenho contra o cinema, ao contrário, sempre foi um solidário amigo de todos nós, poetrizes, contrizes, romantrizes, cronizes... que nos vendemos tão fácil por um pouco de atenção, um carinho, mesmo que falso.

“Ainda não tive tempo de ler... você sabe com é, muita correria...”

Sei como é.

Embora a cela que me colocaram ser especial para quem tem curso superior, o cheiro só inspira poemas hepáticos e faz as horas serem lentas e pegajosas. De onde eu tirei “horas pegajosas”? Quem sabe um dia renda um belo poema! Será que alguém ainda acredita que sou inocente?

“Nossa! Teu livro é maravilhoso! Por que você não manda ele para o Jô? Ele devia te entrevistar...”

“Confesso que li só porque você é meu amigo, mas... não imaginava que você escrevia tão bem... Por que você não manda teu livro para o Jô?”

“Você sabia que eu também escrevo...”

“Você poderia me dar o e-mail da tua editora, tenho certeza que vão gostar do meu livro...”

“Eu também faço poesias...”

Será que um dia vão entender que fazer poesia não é o mesmo que ser poeta? Até porque, a poesia já está toda feita, não é preciso que ninguém a faça, apenas a revele. Poetas são os que sabem revelar poesias.

Um dia um amigo me contou que estava numa balada em Porto Alegre, conversando com uma loira bem transada no balcão do bar, quando perguntou o que ela fazia, e ouviu a memorável resposta:

Di dia eu sou doméstica... di noite eu me didico à poesia...

Essas malditas horas pegajosas me fazem pensar tanto, relembrar, discutir, concluir, e não sair do lugar (é claro!). Como eu iria imaginar que alguém ia fazer isso? Por que fui escrever um livro com esse título? Como eu ia imaginar que logo no dia que fui ao programa...? Será que eu estava sendo seguido?

“nossa editora está com a linha editorial completa para este ano...”

“nossa editora está com a linha editorial completa para este ano e o próximo...”

“nossa editora está com a linha editorial completa para os próximos três anos...”

E ainda tem tanta gente que quer escrever seu livro, contando sua incrível vida, ou sua grande idéia de romance. E tantos vão conseguir e poluir um pouco mais as prateleiras das livrarias... Ah! Essas horas pegajosas estão me deixando cada vez mais amargo, ou azedo, ou os dois. Eu mesmo não fui um dos que poluíram estas prateleiras com uma edição comprada no primeiro livro?

QUEM MATOU JÔ SOARES? Que idéia brilhante! E agora espero minha advogada, que gostou muito dos meus livros anteriores, por sinal. Se ela já tivesse trazido meu note book escreveria um manifesto contra a televisão, a internet, os poetas... mas, quem iria ler? Só se fosse escrito por um conhecedor da Mona Lisa, por algum mago, ou uma socialite... quem sabe uma garota de programa? Quem sabe se eu escrevesse algum verso satânico? Ou então se eu escrevesse um manifesto na forma de auto-ajuda. Ou um manifesto porno-erótico...

Realmente, estou cada vez mais azedo!

O senhor está preso... tem o direito de permanecer calado... tudo o que disser poderá ser usado no tribunal...

O sonho americano! Nem isso ouvi. Não se faz assim por aqui. Dormi livre e acordei prisioneiro... me tiraram da cama sem explicações. Só fui começar a entender pela tv da delegacia: em meia hora, duas chamadas extraordinárias falando da tentativa de assassinato do apresentador Jô Soares e do seu estado de saúde.

O senhor é o autor do livro QUEM MATOU JÔ SOARES?

Sim, sou o autor...

O senhor esteve na gravação do programa do apresentador Jô Soares de ontem?

Sim, estive...

O senhor sabe que sua situação é bastante complicada?

Mostrei ao delegado as algemas do meu pulso. Tive até vontade de falar pra ele que a literatura é uma ocupação solitária, mas atrás dele eu vi os três livros do Jô e logo entendi que a minha situação era bem pior do que eu supunha.

O senhor gosta dos livros dele? perguntei, apontando os livros.

Ele ficou me olhando demoradamente antes de responder, como um bom investigador. Eu já havia lido sobre técnicas de investigação algumas vezes, quando escrevia um dos meus livros. Sabia o que ele estava pensando: eu respondera uma pergunta com outra e isso, na linguagem técnica, significava ganhar tempo pra procurar uma evasiva e podia começar a indicar um culpado.

O senhor está pensando que eu posso ser culpado?

Nossa! Outra pergunta; a essa altura o delegado já deveria ter certeza que era eu, não podia perguntar mais.

Normalmente eu não leio romances comentou, reclinando-se na cadeira e colocando os pés sobre o canto da mesa, como se demonstrasse que estava muito seguro da situação, e eu, provavelmente já condenado.

Prefiro os livros técnicos continuou principalmente os criminalistas. Vou ler estes, e os seus, inclusive, para me ajudar a resolver este caso.

Realmente, eu estava numa situação muito delicada. Senti que ele esperou que eu fizesse uma nova pergunta, ou que tentasse desviar o curso da conversa. Naquele momento valeu-me também ter lido alguns livros técnicos, por isso falei:

Respondendo a sua pergunta, gostaria de dizer que nem sei ao certo por que fui trazido aqui, mas não é difícil de perceber que estou numa situação delicada. Por isso, estou a disposição para fornecer todas as informações necessárias e poder ir embora logo.

Um ponto a meu favor, ou contra? O pensamento dele voava em alta velocidade. Investigava-me até a raiz dos cabelos; se pudesse, levantava e cheirava-me.

Pelo que entendi até agora, estou sendo acusado de atentar contra a vida do apresentador Jô Soares continuei, tentando melhorar minha situação na mente do meu inquisidor.

O senhor já disse que esteve na gravação do programa dele de ontem...

Isso mesmo...

E o senhor é o autor do livro QUEM MATOU JÔ SOARES, no qual relata a vida de um autor pouco conhecido, que resolve escrever um livro em que descreve a tentativa de homicídio deste mesmo apresentador, exclusivamente para promoção pessoal deste autor; ou seja, se aproveitar de uma situação provocada por ele próprio para ganhar notoriedade e... vender livros.

Fico feliz por saber que o senhor delegado já leu meu livro ¾ comentei sorrindo, o que o deixou bastante confuso. Havia desnorteado um pouco sua linha de raciocínio investigativo. O silêncio dele, enquanto me olhava, era barulhento. Havia levantado enquanto falava, mas agora se aproximava novamente da mesa, apoiava as duas mãos sobre elas, como se fosse um atleta pronto para os 100 metros rasos e me fuzilava com um olhar agudo. Depois de alguns segundos, perguntou, à queima roupa:

O senhor tentou matar o apresentador Jô Soares?

Eu sabia o quanto era importante a minha resposta e, principalmente, que não podia demorar a dá-la. Tive a impressão que, no mesmo instante que sua última sílaba perdeu-se na atmosfera pesada da sua sala fumarenta, minha resposta explodiu:

Claro que não!!!

Ele deixou cair a cabeça e ficou em silêncio. Parece que se escondeu de mim. Virou de costas e chamou um assistente para que me levasse ao meu destino fétido. Uma cama de ferro. Um banheiro com pia, chuveiro e patente, mas sem papel higiênico. Um sol se pondo. Uma frase escrita na parede, na cabeceira da cama: aqui ta muito melhor que lá fora!

Eu havia estado na gravação do programa na esperança de poder dar meu livro ao Jô. Pensava que o título poderia atraí-lo. Mas fiquei travado, o tempo todo. Ele chegou a vir perto, virei o livro pra ele, pensando que ele poderia ler e perguntar o que era. Seria tão mais fácil! Tenho certeza que ele olhou para o livro, mas não deve ter lido o título. É claro que não leu! Ficaria interessado, com certeza!

Naquele programa um Ministro da República, que ganhou dois blocos, falando de coisas que nunca aconteceram na política, como tráfico de influência e corrupção. Que chance o meu livro teria? Outro assunto novo na abertura: reinventaram o futebol... descobriram que o árbitro é ladrão! Que chance meu livro teria, diante de assuntos tão atuais e surpreendentes? Além do Ministro, uma modelo famosa. Que mais? O pior é que ela pensa em escrever um livro.

Minha advogada chegou quando começava a escurecer. Sentou na minha frente, esperou que o comissário saísse e perguntou, baixo:

Você fez isso?

Eu ainda nem sei direito do que estão me acusando...

Aconteceu exatamente como está no seu livro... e você estava lá...

Como eu poderia imaginar que algum maluco ia ler meu livro e fazer o que ta escrito?

Vai ser difícil convencer alguém disso.

Eu não fiz nada... ou melhor, estou descobrindo que fiz, escrevi um roteiro para um crime... por falar nisso, como está o Jô?

Como no livro... sobreviveu ao tranqüilizante... como você sabia quanto usar?

Ele disse o peso numa entrevista, faz algum tempo. Calculei a quantidade suficiente para dopar um mamífero de peso equivalente... hei! Não me olhe assim! Isso não é uma confissão... estou falando sobre o livro... isso tá bem descrito no livro!

Por que você levantou e saiu do programa antes de terminar?

Demorei a responder. Realmente não era uma resposta fácil e sabia que essa pergunta viria logo. Era perigoso tentar inventar, melhor falar a verdade:

Precisava ir ao banheiro... estava com dor de barriga.

O quê? E por que tinha que sair, não podia ir ao banheiro lá mesmo?

Olha aqui, você é minha advogada faz tempo, mas isso não quer dizer que me conheça na intimidade. Eu não consigo fazer nada em banheiros públicos... mal um xixizinho. O que posso fazer se me deu cólica? Além do mais, naquela situação iam ter que interditar o banheiro depois... ia ser um vexame... acho que foi de nervosismo...

Ela me olhou significativamente. Era pior que o delegado, que não fez mais perguntas por ainda não estar totalmente informado sobre os detalhes. Ela estava.

Se você não acredita em mim, melhor me indicar outra pessoa. Preciso de alguém que acredite na minha inocência. Preciso de alguém que me conte o que aconteceu de verdade. Invadiram minha casa e me carregaram; tive que passar por um batalhão de repórteres enlouquecidos; enfrentei um delegado metido a Sherlock; passei a tarde numa cama dura de uma cela fedida... e ainda não sei bem o que aconteceu. Você pode me contar?

As câmaras mostraram quase tudo. Passamos a tarde assistindo as gravações. Quase o tempo todo você olhava para as câmaras, não se importava com o apresentador, como se estivesse estudando seus movimentos e seqüências. De repente levantou e saiu. Quase no mesmo instante um encapuzado vestindo uma longa túnica preta, que escondia todo o corpo, aparece na frente do apresentador e dispara... no lugar onde você estava encontraram seu livro... seu livro que descreve o crime, exatamente como aconteceu. Está nítido que foi premeditado.

Mas, e a segurança? Como iam deixar passar um cara armado?

Você ensinou com perfeição como fazer isso...

A muleta de tubos de metal disfarçando uma arma?... mas isso prova minha inocência. Entrei lá andando sem muleta...

Também queremos saber como fez isso...

Eu não fiz isso!!

Sua casa já foi toda revirada... realmente, não encontraram nenhuma pista... estão pedindo quebra de sigilo telefônico... levaram também teu micro... e vão fazer uma devassa nos teus e-mails... Ainda estão estudando as gravações, invertendo ângulos, fazendo aumentos e filtrando, melhorando a qualidade pra tentar encontrar algum detalhe que possa identificar o culpado.

...exatamente como descrevi no livro. O que mais aconteceu? Qual outra semelhança?

Quatro editoras me ligaram hoje...

Como assim? Perguntei quando vi que ela não ia completar.

Querem os direitos de publicação, para as futuras edições.

Eu sabia que não podia fazer aquela pergunta, mas meus olhos me delatavam. Por isso ela completou:

Pagam bem mais do que você imagina. Bem mais do que você imaginou no livro. Emissoras de tv, revistas, jornais... querem comprar os direitos de uma entrevista exclusiva... tem um batalhão de repórteres lá fora... Seu plano tá dando certo.

Não repliquei, apenas a olhei com desaprovação, depois perguntei:

Você vai me defender?

Podemos alegar psicose...

Inocência... e nada mais!

Como no livro... exatamente como no livro...

E você quer que eu diga que sou culpado por causa disso? Só pra ser diferente do livro? Nunca!! E foram cinco editoras que procuram o personagem do livro – reclamei, como se estivesse magoado.

Ela levantou para sair, sorriu para mim e falou:

Seja como for, o caso é meu. Ou você acha que eu também não quero ficar famosa?...

Precisa acreditar em mim.

Você vai ter que me provar que está falando a verdade. Não esqueça que tudo, mas tudo mesmo, depõe contra você... e antes que você me pergunte, seu note book também está com a polícia.

Quanto tempo vou ter que ficar aqui?

Se eu me sair bem, uns cinco anos... como no livro, não lembra?

Pare de gracinhas! Estou perguntando agora, não vou ter um habeas-corpus?

Vou ver o que posso fazer, mas não espere muito.

Não aceitaram me entregar o note book, mas o delegado permitiu uma televisão. Sei o que ele pretendia: que eu assistisse os jornais. Eu era o principal assunto e na opinião geral eu era culpado. Numa chamada para um dos jornais noturnos a manchete era:

“HOMEM QUE TENTOU MATAR JÔ SOARES” AINDA NÃO DEU

DECLARAÇÕES À IMPRENSA

Já haviam me julgado, só faltava sair a condenação. A situação piorou muito perante a imprensa quando encontraram o capuz e a bengala num lixão perto da minha casa. Fui levado novamente ao delegado que, mais uma vez à queima roupa, falou:

Não acredito que você fosse tão imbecil de se livrar das provas perto da tua casa...

Isso apenas prova que alguém leu o meu livro e está fazendo como escrevi, pensando em me incriminar... eu seria um louco se fizesse isso. É claro que a culpa cairia em mim...

Por que você escreveu esse livro?

Confesso que a pergunta foi inesperada. Ele estava mais solto, não me chamava mais de senhor e percebi que estava mesmo em dúvida. Apesar de saber que era perigoso, respondi com outra pergunta:

O senhor sabia que a literatura é uma profissão solitária?

Ele não me respondeu, como eu esperava. Ficou me olhando, demoradamente, como eu esperava. Um minuto depois (uma eternidade se condensa num minuto com esse) ele abaixou os olhos e abriu sua gaveta, tirou uma pasta e, de dentro dela, um maço de papéis, depois falou, como eu jamais esperava:

Esse é o meu terceiro livro. Ainda não publiquei nenhum...

Fiquei mudo. E se ele pedisse para eu ler e dar uma opinião? Fiquei totalmente mudo.

... mas jamais faria o que você fez para me promover.

O que ele queria dizer com aquilo? Estava falando sobre escrever um livro com segundas intenções, ou considerando que eu havia atirado no Jô? Precisava pensar na resposta, e rápido.

Antes mesmo de tudo isso já havia me arrependido de ter escrito esse livro... mas o senhor não imagina quantas pessoas falaram que eu deveria mandar meus livros anteriores para o Jô... mesmo assim eu não devia. Sinto-me um traidor dos meus próprios princípios...

Todos nós temos nossos vacilos... embora eu não concorde.

Ao menos quem leu gostou...

Sim, isso é bom, sempre é bom, apesar de tudo...

Ele estava solidário a mim. O que eu fazia agora: continuava no assunto do Jô, na ética literária, ou perguntava sobre seus livros? Era arriscado, mas era minha pele que estava em jogo e não podia deixar de contar com um aliado como esse. Arrisquei:

Sobre o que o senhor escreve em seus livros?

Não gosto muito de falar sobre o que escrevo... mas, como você vai ter tempo, vou deixar esses rascunhos com você... leia e me dê sua opinião.

Essas malditas horas pegajosas! O pior filme japonês da sessão da tarde era melhor, muito melhor, que o PENSAMENTOS SOBRE UM CRIME, do meu solitário companheiro das letras. E agora, em que encrenca fui me meter! Se eu falo a verdade, apodreço na cadeia. Se minto, vou ter que ler os outros dois. O que é pior?

Embora eu soubesse que vender a exclusividade da entrevista fosse uma ação perigosa, por ser como escrevi no livro, quando soube os valores que estavam oferecendo, não tive outra saída senão a que a cobiça me oferecia: aceitei a maior proposta.

Passei a tarde falando da minha vida, dos meus livros, das dificuldades de ser um autor não alcançado pela sorte. Falei muito sobre a dor que é saber que tem um bom trabalho escrito e ver tanta auto-ajuda nas prateleiras, tantos livros chatos vendendo, tantas celebridades turbinadas pela mídia fazendo sucesso literário, mesmo que por pouco tempo. Mas é claro que o que mais falei foi sobre QUEM MATOU JÔ SOARES, e respondi várias vezes, de diversas maneiras, que era inocente, que algum lunático havia lido o livro e resolveu fazer uma loucura. Fiquei com a sensação que não consegui convencer:

Depois que saíram, o delegado entrou. Sentou na minha frente e ficou me olhando. Eu sabia o que ele queria, era agora. Respirei fundo e apanhei o PENSAMENTOS SOBRE UM CRIME que estava na cabeceira do meu catre, depois sentei na frente dele, numa das cadeiras que foram colocadas para a entrevista. Foi impossível não pensar na inversão dos fatos: parecia que era ele que aguardava uma sentença de culpado ou inocente. Pensando nisso falei, olhando bem nos seus olhos:

Culpado.

Seus olhos ficaram ariscos e dava pra ver seu pensamento correndo por todas as salas da inteligência, buscando informações para decifrar minha sentença. Ele não era fraco, entendeu o que eu quis dizer, diante da situação. Levantou e foi até a grade, apoiando as mãos sobre ela. Parecia estar perdido em pensamentos profundos. Sem virar-se, falou:

Então... seria um crime publicar uma obra dessas?

Um crime contra a literatura, como tantos outros...

Ele voltou a sentar na minha frente, apanhou seus originais do meu colo e esticou-se para trás na cadeira. Achei estranho, não parecia estar ofendido, mas sim satisfeito. Arrumou a arma que trazia presa ao corpo pelas tiras, quase nas costas, acomodou-se melhor na cadeira e falou:

Não acredito que tenha sido você.

Eu tenho certeza que não fui eu, mas... não era sobre isso que estávamos falando.

Era sim. Mesmo sabendo que sua opinião poderia gerar uma antipatia comigo, não conseguiu mentir. O amor à arte foi mais forte. Você não seria capaz de executar o que escreveu em seu livro, apenas para se promover... seu livro é muito bom, por sinal...

... obrigado...

... se tentasse dizer que essa obra é boa, tentasse me enrolar... – falou, quase que para si mesmo. Depois ficou mais um tempo em silêncio, investigando mentalmente. Finalmente me olhou e completou: Esse livro não é meu, não fui eu que escrevi. Recebi de um amigo que escreve e me pediu para avaliar... é péssimo! Nem sei como falo isso pra ele. Tive a idéia de entregar a você para medir sua capacidade de mentir. Parabéns! Você não é capaz de passar por cima da literatura pelos seus interesses.

Eu estava aturdido. Ele não era fraco. Era observador, realmente perspicaz.

Você também é escritor? – perguntei.

Por que está perguntando isso?

Respondeu com outra pergunta... então é!

Ele riu da observação. Já éramos amigos, e o risco de eu ter que ler o que ele escrevia era óbvio. Na verdade eu estava até curioso. Não teve tempo de falar mais nada; um comissário apareceu e o chamou, parecendo ter pressa. Meia hora depois ele voltou, e com ele a minha advogada.

Consegui teu habeas-corpus... você vai responder o processo em liberdade.

Ora, ao menos uma boa notícia. Juro que pensei que não sairia mais daqui.

Os técnicos encontraram um álibi forte nas gravações... filtraram e melhoraram as imagens e aparece um detalhe que você não previu no seu livro completou com um sorriso. Num aumento de imagem, num rápido movimento da túnica que escorrega até mostrar dois dedos, aparece um anel com uma pedra vermelha no dedo anular da mão direita. Nas imagens que mostram você, sua mão está limpa, sem nenhum anel. É claro que não é o suficiente, mas é um forte argumento...

... você poderia estar levando o anel no bolso continuou o delegado e ter feito isso de propósito, para criar um álibi. No entanto, nas imagens ficou bem claro que o aparecimento do anel foi acidental... não seria possível fazer aquele movimento com tanta precisão.

Alguns dias depois, hospedado num ótimo hotel para tentar fugir do cerco dos repórteres, já perto da meia noite, o telefone tocou. Era da recepção:

Senhor... desculpe-me incomodá-lo, mas tenho uma encomenda urgente para o senhor. Posso mandar que entreguem?

Era um grande envelope e, dentro dele o ABSURDA MELODIA, do meu amigo delegado e, junto com ele, uma carta, ou um bilhete:

“ Espero que não interprete isso como uma tentativa de me aproveitar do seu atual sucesso. Afinal, você se transformou numa celebridade! Estou mandando esse original apenas por que gostei realmente do seu livro e, principalmente, por ter certeza que dirá a verdade sobre ele”.

ABSURDA MELODIA! Jamais esperaria um título assim vindo de um delegado. Ora, que preconceito! Os delegados também amam... e escrevem livros, como todo ser humano normal.

Da sacada do apartamento do hotel dava pra ver boa parte do centro da cidade. O hotel era caro, mas só o dinheiro da entrevista exclusiva já bancava, além de eu estar sendo procurado por tudo que é tipo de mídia. Eu não me iludia quanto ao interesse: não era por eu ser escritor, era apenas por um lapso de sorte. Também não me iludia pensando que o esgotamento rápido dos meus primeiros livros era somente pela qualidade deles.

Minha advogada, que logo virou minha empresária, fechou contrato com uma grande editora, com uma margem de lucro por exemplar acima da média. Fui contratado para escrever para um jornal famoso e a minha nova editora me tratava como um rei, para quem a linha editorial estava definitivamente aberta, por muitos anos. A grana que me propuseram para escrever a continuação do QUEM MATOU JÔ SOARES superava todas as minhas expectativas, bem acima do que eu havia escrito no livro.

Lá embaixo, nas ruas, centenas de escritores sem chance, frustrados, sufocados pelo negro e pesado manto do desinteresse geral pela literatura. Entre eles meu querido amigo delegado, que escrevia muito bem, por sinal. Levei seu ótimo ABSURDA MELODIA para a editora e até me propus a fazer a introdução, ou aparecer na capa se fosse preciso, mas a resposta foi curta, e grossa:

Esse é o seu momento, não o dele!

Creio que o editor chefe não poderia ter resumido tão perfeitamente qual o interesse principal do mundo de negócios literários. Se as grandes editoras se prestassem a publicar um livro de um autor desconhecido de boa qualidade, a cada vinte de autores consagrados, as prateleiras das livrarias seriam muito mais ricas, muito menos poluídas. Mas, agora, ora... isso é problemas deles, os autores desconhecidos! Já não basta receber dezenas de pedidos semanais para avaliar originais?! Já não basta os montes de livros que chegam na minha casa, onde raramente apareço, vindos de todos os lados do Brasil?! Ora... será que querem que eu mande eles para o Jô?

Passado dois meses do incidente uma nova surpresa: a assessoria do Jô me ligou dizendo que me queriam no programa. Confesso que quase chorei. O passado se misturou com o presente de uma forma brusca e me causou estranheza: era como se fosse água e óleo tentando ter alguma afinidade.

Ganhei dois blocos no programa e, apesar das tantas brincadeiras, que eram inevitáveis (me fizeram até vestir uma túnica e um capuz), a minha maior felicidade foi quando me aplaudiram por criticar a situação da literatura no sistema de ensino regular: afinal, querer que um jovem adolescente se cative pela literatura lendo Machado de Assis, José Lins do Rego, Euclides da Cunha, Raul Pompéia, entre outros grandes escritores, por mais que sejam grandes, geniais, é matar a vontade enquanto ela ainda é broto.São autores de um outro tempo, que o leitor jovem tem que amadurecer, criar mais raízes, encorpar, pra poder gostar. Há uma vasta literatura moderna que seria a rega perfeita pra essas mentes incipientes, fartamente suscetíveis aos encantos da internet, do Ragnarok (um jogo baixado pela internet), dos modernos fliperamas... como querer que um jovem troque um orkut por um Machado de Assis?

Tenho certeza que a boa reação da platéia no fim da entrevista foi principalmente por causa disso. É claro que também me emocionei quando o Jô disse que gostou muito dos “meus” livros (até havia lido os outros). Disse que leu QUEM MATOU JÔ SOARES enquanto ainda estava de cama, depois do atentado.

Houve uma grande pressão da vontade pública sobre o meu julgamento. A minha inocência se transformara numa necessidade nacional, em prol dos ídolos e dos bons costumes, e isso tudo me fazia cada vez mais rico, obviamente.

Em pouco tempo eu já selecionava a mídia onde ia aparecer. Idos tempos de se agarrar à notinhas de rodapé. Mas o melhor mesmo da fama foi poder trazer a Luiza e o Lucas pra passar as férias comigo. Moravam com a mãe nos Estados Unidos e antes a grana não permitia isso. Agora é troco. A literatura não é mais uma profissão solitária... e o meu amigo delegado publicou seu livro. Por debaixo dos panos eu fiz contato com uma editora pequena e ele tá muito feliz, embora o ABSURDA MELODIA não esteja vendendo quase nada.

Você podia tentar matar o presidente... depois escrever um livro...

Senti que ele ficou preocupado com a minha idéia ao telefone, principalmente pelo comentário que fez:

... ou escrever um livro sobre isso antes... e depois tentar...

Meu amigo delegado tinha uma mente brilhante e um raciocínio rápido, mas eu era inocente, não havia porque me preocupar. Mesmo que nunca tivessem encontrado mais nenhuma pista do verdadeiro criminoso.

Descemos para o litoral no fim de semana, eu, Lucas de quatorze anos e Luiza, de dez. Íamos ficar uns dias em Ilha Bela e depois seguiríamos para Paraty, onde, no fim de semana seguinte, aconteceria a Festa Literária de Paraty e eu era um dos convidados.

Será que a literatura é mesmo uma profissão solitária?

***

Lucas, você não devia fazer isso! Papai não gosta nem que a gente use o note book e você vai desmontar ele...

Não se preocupe, monto igualzinho antes dele voltar... eu nunca desmontei um desses...

... se ele descobre vai ficar maluco com a gente...

Hei! Olha só o que achei aqui...

Nossa! Que pedra linda! Mas, como é que um anel desses foi parar aí dentro?

FIM

Parabéns a"OS LOBOS" e à FPR

E, já que estamos em maré de parabéns...

... num País em que dominantemente se fala de futebol, é bom que se exaltem as outras modalidades desportivas e feitos de que nos podemos orgulhar. O acesso ao MUNDIAL por uma equipe de amadores, num meio tão profissionalizado como é o RUGBY é um facto digno de nota!

Parabéns pois a"OS LOBOS".
Visite-se o portal da FPR http://www.fpr.pt/index.asp e, inscrevendo-se na respectiva "newsletter", conheça-se o real desenvolvimento da modalidade entre nós. Igualmente se recomenda o blog renascido.worldpress.com. Um jogo em que o "en avant" constitui falta e em que o esforço, dedicação e cooperação de toda uma equipe é a base do sucesso merece a maior consideração.

domingo, 25 de março de 2007

Parabéns, Europa!

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sábado, 24 de março de 2007

Variações sobre um rótulo de vodka (2)

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(Prossegando e continuindo)

Pois esta postagem parece mal-fadada! Curioso, não é? E tudo se passa (ou se parece passar com a introdução de imagens, em especial com o Nanni Moretti no "Il Caimano", estreado em Lisboa no dia em que a iniciei e que era um dos alvos da minha alternativa cinematográfica, até pelas cócegas políticas que criou ao "Cavaliere" e que o levaram a interromper o jogo para coçar a cabeça (como no "sketch" publicitário na rádio).
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A propósito disto, discorria eu sobre um facto que ficou devidamente assinalado na imprensa diária: como é que num País habituado a servir á pressa todo o "fast food" cinematográfico que nos chega da Califórnia, um filme como "O Caimão" demorou um ano a chegar aqui? Por que será? Mas... outros sintomas preocupantes existem quanto ao cinema que nos é servido: um deles é, certamente, o conteúdo dos filmes filmados, o conteúdo dos filmes postos no mercado em DVD e o conteúdo dos filmes vistos nos circuitos comerciais. A aquisição de filmes (DVD's) noutros países e mercados levanta-me dúvidas - e certamente que me não refiro à melhor ou à pior tradução de legendas (actividade que, diga-se, tem melhorado muito). E depois há a questão das selecções e dos números de cópias. Quanto ás primeiras, é surpreendente a subposição dos filmes europeus. Seria interessante fazer um exercício e listar os filmes europeus ou até não-americanos, a classificação ("rating") em avaliações que deles tenham sido feitas e marcar com cruzinhas os que vieram e os que não vieram cá, em termos de sessões e da sua localização. Por vezes surgem surpresas que têm um tratamento evidentemente especial, porque se mostram de facto sucessos de vendas e não podem, por isso, ser deixados ao abandono. Mas há fenómenos que não entendo e que até acabam por atingir certos filmes americanos: quantas sessões das "Cartas de Iwo Jima" (o segundo alvo da minha adiada digresão) passaram em salas de cinema do sul do Tejo, seja da península de Setúbal, seja do estuário até à costa do Algarve? Vá, digam lá!

Curiosamente, detinha-me depois num programa de eventos culturais que também havia seleccionado para orientar as minhas visitas. Começaria (e aliás já comecei) pela exposição temporária "O Brilho das Imagens" que se encontra patente, no MNAA, até 17 de Junho :
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Trata-se de um conjunto seleccionado de obras de pintura e escultura de exposição permanente no Museu Nacional de Varsóvia e que, cobrindo os secs. XII a XVI, assinala uma coerência artística europeia, em que as influências flamengas, italianas e do renascimento nórdico se dão as mãos. Proponho-me abordar brevemente as representações de Santa Bárbara nas obras expostas e da evidente afirmação que constituem, aqui também, quanto ao relevo do seu culto.

A segunda visita, ainda a realizar, tem a ver com o meu interesse pela fotografia e com uma motivação profissional bem clara. Trata-se da exposição "INGenuidades - Fotografia e Engenharia 1848-2006" que se encontrará até 29 de Abril na Galeria de Exposições Temporárias na sede da Fundação Calouste Gulbenkian (das 10:00 às 18:00 horas). Bastaria o motivo, o período abrangido e o facto de dela figurar como curador o Professor Jorge Calado para garantir o interesse e o tratamento cuidado desta "homenagem à liberdade e génio criativo dos cientistas e engenheiros”, como no descritivo o próprio curador se lhe refere. Motiva assim a minha visita e a presente referência e recomendação a todos os interessados pelos temas que ao engenho e ao progresso dos homens, incluindo o valor e a arte do próprio registo fotográfico, têm interesse. A organização da exposição (que em Outubro estará em Bruxelas), repartindo as 340 fotos pelas quatro forças da natureza: terra, ar, água e fogo, desperta-me igual admiração e curiosidade.

Uma terceira visita, que talvez hoje ainda faça, terá lugar não em Lisboa, como as duas anteriores, mas no Barreiro e, mais concretamente, no AMAC - Auditório Municipal Augusto Cabrita, e relaciona-se com a exposição "Retratos de Animais", do ilustrador croata Svjetlan Junakovic e que tem como comissários Ju Godinho e Eduardo Filipe. A exposição está patente até 6 de Maio, de terça-feira a domingo e das 17.00 às 22.00 horas. Não se pense que, ao visitar esta exposição, se vai encontrar uma exibição zoológica "tout court"! Como diz o descritivo colocado no "portal" informático da Câmara Municipal do Barreiro "na obra, Svjetlan Junakovic propõe uma mistura entre realidade e fantasia, onde, numa galeria de arte muito particular, os animais assumem o protagonismo. Cerca de 30 retratos de grandes mestres do passado (Vermeer, Leonardo da Vinci, Piero de la Francesca, Dürer, Rembrandt, etc.) são recriados por Svjetlan Junakovic com humor e inteligência, resultando num jogo fascinante para pequenos e grandes, que incentiva o gosto pela pintura e pela arte em geral".O exemplo seguinte, retirado (com a devida vénia) do convite recebido, reproduz uma dessas representações, referente à conhecida "Lição de Anatomia do Dr. Tulp", de Rembrandt, cujo original se encontra naquela preciosidade de Museu que é a Mauritshuis, em Haia.


Uma palavra de admiração é também devida aos dois comissários desta exposição, que têm sabido puxar o Barreiro a um pódio internacional no que toca à gravura para obras destinadas à infância e que, a 31 deste mês, pelas 17:00 horas, nesse mesmo objectivo, apresentarão - também no AMAC - a exposição 'A Boneca Palmira'.

Tenho de concordar que a decisão serôdia de proceder a estas visitas nada abona quanto á minha prontidão cultural: de facto, tomando nota da data das respectivas inaugurações, apresento-me nelas "tarde e a más horas" como soe dizer-se. E mesmo que as horas não sejam más, tarde é. Mas, como também se diz que "vale mais tarde do que nunca", aqui também é preciso mudar de vida, dobrar o cabo e desafiar, nisso, o estupor do tempo - enquanto fôlego para tal sobejar.

Terminava a postagem perdida com um assunto palpitante, para os bloguistas, e que versava sobre o "backup" dos blogues. Parece haver notícias quanto a isto! Mas isso ficará para mais tarde... e para uma postagem de título diferente.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Variações sobre um rótulo de vodka (1)

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A ultima postagem, com um gosto a "Zubrowka", poderá ter parecido algo estranha. De facto não foi uma postagem: foi o fragmento que restou de uma postagem que, por deficiente manobra e muito sono do signatário, totalmente se perdeu quando pronta estava. Coisas que sucedem... e que deixam certamente uma má disposição em quem escreve porque, do que se perde, nada fica igual ou oportuno. Revistas bem as coisas, o que se perdeu não teria sido um grande contributo para este "blog", mas...
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Em tom de enganar a sensação de perda e aproveitando uma inesperada e fastidiosa pausa, reconstituiu-se assim o (pouco) que de interessante pudesse ter essa postagem perdida, recorrendo a um estilo telegráfico, tipo guião ou ficha de leitura. Até o "Zubrowka" se justificará melhor, nesse contexto. E deixam-se alguns avisos que poderão ser úteis. Vejamos:
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Antecipava-se uma próxima e radical, mas assaz preavisada, mudança no próprio estilo de vida e punha-se filosoficamente o tema de quanto tempo poderia para isso sobrar. Com uma reprodução de mostradores de relógios, abordava-se a questão de "roubo do tempo", certamente o roubo mais imperdoável porque também o mais irrecuperável de todos os possíveis. Se o dinheiro pode ser olhado como uma expresão do fungível,

o tempo é o bem menos fungível de todos. Referia-se brevemente o "já não tenho tempo" dos escritos de Evaristo Galois, que aqui fora citado a 23 de Julho de 2006, e fazia-se uma irmanação in mente de Galois com Pushkin, ambos como exemplos de "tempo injusta mas conscientemente alienado". Recuperou-se aqui em cima, e para que a prosa não ficasse a seco, a referida imagem alusiva ao tempo.
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Era na sequência disto, i.e. num segundo período de reflexão, que surgiria a final a reprodução do rótulo de vodka i.e. da única imagem que sobreviveu à postagem perdida. Mas, obviamente, sem ligação a Pushkin ou a Galois: um era russo, o outro francês... ao passo que a deliciosa "vodka" da erva do bisonte era e é polaca. A coisa tinha mais a ver com as "formas de enganar o tempo", ou seja, como esquecer o tempo que a si mesmo se rouba ou que é roubado. O discurso levava, de forma algo calimeresca, a uma redução expositiva que desaguava em Bolonha e de como acontecimentos diversos podem frustar desafios - mas porque, nesta terra, calimerices são vulgaridade ... passemos à frente. Bem à frente!
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Relatava-se depois como, naquele mesmo dia, o autor - chamado à "baixa" lisboeta para desempenhar (impecavelmente...) o seu mester (antes fosse pecavelmente e fora de obrigações profissionais!) - se tinha encontrado perante uma dupla opção: ou acabar o dia indo ao cinema, ou entrar na "Suíça", coisa que não fazia há mais de 15 anos, mandar vir uma omoleta de cogumelos, acompanhada de uma "loira" bem tirada e "mirar el tendido". Face a tal dilema, o estomago falou mais alto. Sentiu-se então o narrador como quando o Zé Fernandes regressa a Paris e revê a fauna local subindo e descendo os Campos Elíseos, com o Jacinto já bem assente em Tormes e o Pimentinha (ainda sem o saber) à espera do pudibundo descartar das revistas "picantes". Pondo-se a locubrar em si mesmo na 3ª pessoa, como o D.João VI a si se referia, confirmou, entre outras coisas, quão voluntariamente tinha renunciado a caminhos que já calcorreara mas colocara há tanto tempo no balde dos esquecidos e como o bucolismo entre-melgas de Alverca o afastava disso tudo mais ainda. Nunca o tinha lamentado (nem o iria lamentar), diga-se. Ou de outra forma: o trabalho fora sempre encarado com gosto e, talqualmente um encontro, com "Zubrowka" no chupito e utopia ao lado, não lhe deixara sentir o fluir do tempo. Que, no entanto, nunca para.
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(continua, pois)

quinta-feira, 22 de março de 2007

Sem palavras (apenas minicopo de "shot" )



A TEMPO: não sabia que um minicopo de "shot" i.e. idêntico ao que se usa para vodka ou qualquer bebida forte (seja "branquinha" do estilo "grappa" ou "himbergeist", "slivovitz" ou o nosso democrático "bagaço",passando por uma deliciosa "pomada" húngara que se diz, mas certamente se não escreve, "barash palinka", ou seja mesmo "coradinha" ...como a ginginha lisboetamente castiça, "com elas" ou "sem elas") se chama actualmente "chupito". Ou será esta inovação, encontrada em supermercado, uma disfarçada intrusão de castelhano?

Sofre-Brr...(ou a cidade "a-grevada", erodida e encalhada)

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Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?
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A viagem adiada

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1888.Julho

- Aguenta lá isso, Gustavo Alexandre (ou não fosses tu engenheiro químico!), que afinal só depois da Páscoa é que posso mesmo dar aí um salto... e a gente logo acaba essa coisa! [1]
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[1] Consta-me que há por aí gente muito preocupada com o número de hospitaizinhos ou de escolinhas que se deixaram de fazer com o dinheiro que estás a gastar. Não te rales: não é por isso que se fazem ou que se deixam de fazer e, quanto a essa tua obra, ainda acabarão por gostar dela! Tem cuidado é com os canais e os istmos, sobretudo se do outro lado, 'stá bem?

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quarta-feira, 21 de março de 2007

Dia = Noite = Equinócio

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Monet, "Primavera em Giverny" (1890)

Dos postais e da poesia nos blogs; a muleta do Barreiro


No período de antes da ordem da noite:

Para os blogs a vantagem da poesia está em poder escrever-se pouco dizendo muito e de privilegiar uma escolha económica (em espaço e ideias) repescando de entre o tudo o que por outrem foi escrito. É, pois, o reencontro do album comum ou a vantagem do achamento sobre a descoberta ou a morte do alfaiate frente ao pronto-a-vestir. No mesmo sentido as fotos e os postais. Quem tem aí uma gárgula que me empreste? É que estou azedo, logo de manhã; deve ser do regresso do frio.

Dentro já da agenda:

A muleta do Barreiro e os moinhos de Alburrica
óleo de João Vaz
"apud" Museu da Marinha, Lisboa


Pergunta (nada) inocente:
Qual é o concelho cujo brasão mostra este barco de pesca do Tejo, de há muito desaparecido?

terça-feira, 20 de março de 2007

Flor desconhecida

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A uma flor azul desconhecida, num espaço abandonado entre prédios
da Avenida 24 de Julho (Lisboa, 3 Agosto 2005)

Mofando de longe, disse o Sol:
Como podes esperar que, de um saibro como tu,
inútil entre prédios,
carregado de caliça e de velhos andaimes
à espera que algo mate em ti o vão desguarnecido,
possa mesmo olhar-me uma flor?
Para logo lhe responder o saibro ressequido:
Azul! Quanto baste de azul, s.f.f.!

© zm

segunda-feira, 19 de março de 2007

Um convite recebido e um evento relevante a celebrar

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Com grafia excelente mas que não é fácil reproduzir aqui, acabo de receber por e-grama o seguinte ...
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CONVITE


A Editora Hemisfério Sul Ltda. vem lhe convidar, bem como à sua família e amigos, para uma agradável noite de convivência no lançamento do 17º livro da escritora Urda Alice Klueger, intitulado “Encontro com a Infância”, uma coletânea de crônicas memorialistas que enfocam, sobretudo, o tempo em que a autora foi criança e adolescente, numa Blumenau de outros tempos.


O evento se dará conforme abaixo:

- Quando: no dia 21 de março de 2007, quarta-feira

- A que horas: a partir das 20:00 horas

- Onde: no Bar e Restaurante
Farol, situado à Praça do Estudante, no final da Rua Antônio da Veiga (Rua da FURB), em Blumenau – SC.

Sua presença é muito importante!

Contatos com a autora e a Editora:
urda@flynet.com.br
hemisferiosul@san.psi.br
Fones: 47-3322 8149 (com secretária eletrônica)
3035 3181 (à tarde)

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Desde que trocamos correspondência e amizade a partir da descoberta da infantil conexão de ambos com a conhecida "bolacha maria" [1], não é já a primeira vez que a Urda me honra com um convite para o lançamento de um dos seus livros. Infelizmente, então como agora, a "Cidade das Flores" de Santa Catarina, que tal é o que Blumenau também significa, não fica ainda tão perto que eu possa corresponder com a minha presença, como muito gostaria. Um dia poderá ser... Resta-me pois afirmar duas coisas: a primeira é que um 17º livro "é obra", como costumamos dizer por aqui em tom manifestamente admirativo. A segunda é estar certo que a apresentação tvai ter a audiência e o sucesso esperados. E merecidos. Parabéns, Urda, daqui do outro lado do "rio Atlântico", do peitoril sul da primeira janela grande de água doce a seguir à primeira porta de água salgada, à direita de quem daí sobe. E se esse seu livro falar na "bolacha maria", de cujo nome não encontro quem me explique a origem, tanto melhor!

@zm
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[1] ver postagem de 16 de Julho de 2006, neste blog.