segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Encerrado para balanço...

e, para fechar o ano em terras nortenhas, aí vai a charmosa mas arisca "New"...

(foto rapinada)

domingo, 30 de dezembro de 2007

Novamente António Gedeão

.
Hopper

Dos diversas mensagens de BF's recebidas respigo, com a devida vénia, mais outro excelente poema de António Gedeão:


"Amador sem coisa amada

Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.

Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional"


António Gedeão



sábado, 29 de dezembro de 2007

Uma grande editora portuguesa?


Entre os antecipados obituários do referido ano que dentro em pouco cessa, acrescidos de algumas notícias aterrorantes vindas do exterior, de novas e sortidas restrições ou onerações, dos expectáveis escândalos [1] que resultam de uma economia mediocremente produtiva (recordo-me do significativo título "Scarcity and Evil" de um livro que trouxe do Canadá e que tanto agrado deu a um determinado mutuário que dele se apossou e nunca procurou desfazer o mútuo...), do manifesto desconforto da população que ainda não entendeu que - se se não produz em quantidade, qualidade, prazo e preço e se muito do pouco que se produz só vai encher o bandulho de alguns - tudo irá de mal para pior mesmo que lhe prometam o paraíso na terra, os jornais de hoje noticiam, com adequado relevo, a iniciativa do grupo editorial liderado por Miguel Pais do Amaral, ao comprar a "Dom Quixote", juntando-a a 5 outras editoras já adquiridas ("Asa", "Caminho", "Texto Editora", "Nova Gaia" e "Gailivro") e mirando, com interesse, o mercado actual e potencial do livro junto dos que falam o Português.

Bem haja essa iniciativa e, para ela e para todos nós, os tais que insistimos em ler e falar Português, os melhores votos de sucesso.

Seja-me lícito referir quão, nesta notícia, estranhei referir-se a "Caminho" entre as já adquiridas. Imperdoável distracção minha, certamente, em não ter dado por isso - já que essa aquisição revela um indiscutível e inusitado pragmatismo por parte dos seus antigos detentores, numa nova e surpreendente versão de "a verdade a que temos direito". Parafraseando o Pai Natal dir-se-á "Ho! Ho! Ho!"

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Como vai já tão longe o tempo em que uma auto-denominada elite deste "western coast of Europe" (puro "western"?) se qualificava como "conta no BCP, telemóvel da Telecel, filho mais velho na Católica" (enquanto se aceitava que o filho mais novo, como salvaguarda dos ventos da História, fosse transitoriamente militando em quaisquer "pinta-paredes")!!!

.

2007, de´próxima abalada...

.

Um ano que, desde já se diga, não vai deixar saudades. Ou antes, deixa saudades dos amigos que partiram, do passado fatalmente irreversível em todas as suas componentes, dos capítulos que nele se fecharam. Marco a sua próxima partida, pela porta dos fundos que se vai abrir no corredor da História, recordando o amigo Artur David que recentemente nos deixou, fotografado há muitos, muitos anos atrás numa biblioteca de colectividade - que as havia, bibliotecas e colectividades, bem valiosas, nesta terra - "apanhado" pela objectiva rigorosa e magistral de uma outra saudade nossa - o inesquecível Augusto Cabrita.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A Exposição, em Lisboa, dos tesouros históricos do Hermitage

Os bilhetes não mentem. Quem foi à Galeria de D. Luís, no Palácio da Ajuda, Lisboa. à procura de tesouros artísticos do Hermitage no sentido de encontrar motivações mais variadas na arte russa que se encontra nesse museu de S.Peterburgo terá ficado um pouco desiludido ao encontrar exactamente o que nesses bilhetes se diz: "Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage; de Pedro o Grande [e até de anteriores] a Nicolau II." Porque a exposição é isso mesmo: uma excelente colecção da representação histórica e da muito embrulhada vida dos Romanoff e de dignitários da sua corte imperial, incluindo vestes, mobiliários, acessórios em toda a sua magnificência e, certamente, manifestações pictóricas de figuras e acontecimentos com estes relacionados. Fez-se uma concretização, grandiosa no visual, da obra de Michel de Saint Pierre, nos 3 volumes da Poche, de fácil leitura para quem (ainda) entenda Francês. Poder-se-ia discutir, certamente, a disposição expositiva e a adaptação desta ao espaço existente. Porém, se tal conteúdo chega para justificar plenamente a visita, não se procure mais que isso. O resto, que aliás os bilhetes e cartazes não prometem, também não estará lá.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

"Dia de Natal", de António Gedeão

.

Não tencionava, este ano, publicar aqui mais poemas de Natal - levando-me apenas a, talvez no dia de Reis, juntar uma composição poética de que gosto bastante e que celebra essas misteriosas mas possantes figuras que sempre me interessaram, pelo mistério do seu número, a estranheza da sua chegada ao presépio de Belém, o carácter pan-étnico do seu descritivo, o que está contado e o que não está. Porém "Denudado", numa sua visita a este blogue, que muito se agradece, trouxe um poema de António Gedeão, "Dia de Natal", que muito diz dos Natais que vivemos e que muito me veio advertir nesta precisa altura - evitando mesmo que eu avançasse com uma prosa já pronta mas de que, mais tarde, me poderia apesarar . Esboçando o frenesim da corrida ao consumo, tão distante do que o presépio queria significar, traz à reflexão a crescente alienação pelos objectos - e certamente provoca uma pergunta incómoda: haverá Natal nos Darfur's deste Mundo, lá ou aqui, nos exteriores e interiores que choram? Agradeço a "Denudado" este toque de realismo mágico ao trazer tal poema, numa pincelada verdadeiramente essencial: fazer regressar do dourado do estafe à realidade suja, húmida e fria (ou suja, desértica e quente) do solo em que vivemos - com os pés enregelados do poeta Pessoa ou os últimos quatro versos do "Ave-Maria" no "Sentimento de um Ocidental" do Cesário Verde, que os declamadores muitas vezes omitem... Publicá-los-ei um dia; mas, para já, apropriadamente...

"Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros, coitadinhos, nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra, louvado seja o Senhor!, o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas. "

António Gedeão

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Post-scriptum do bloguista (a correr o pano): Esgotaram-se ontem diversas consolas, em consolo para uns e desconsolo para outros. O crédito pessoal terá certamente aumentado: choveram convites, propostas, ofertas... E, em compensação, acabam de me dizer que já começaram já os saldos! Yupiiiiiiiiiiiiii! Porque...

.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Fernando Pessoa; "É Dia de Natal"


É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Natal e não Dezembro

.
Giotto di Bondone, "O Presépio" ou "Adoração dos Magos" (1301-1305) [1]

David Mourão-Ferreira (1927-1996) foi, como poeta, particularmente atento ao Natal e dele sãovários poemas de notável sensibilidade que a este tema se referem, dois dos quais já aqui se trouxeram. Seria interessante a sua análise, situados que são entre a fatalidade cósmica da "Ladainha dos Póstumos Natais" (transcrito na postagem de 24 de Dezembro de 2005), a constatação da irreversibilidade do tempos e a recordação pavesiana do "local em que se foi feliz" e que não mais volta (no "Na Tal", postagem de 21 de Dezembro corrente), e até à congregação de esperança na construção de um universo melhor porque magicamente sonhado/desejado como solidário e de mãos dadas sobre a realidade crua da terra que pisamos, como se proclama no "Natal e não Dezembro" que aqui hoje se traz e na "Litania para Este Natal", que se guarda para o ano que vem - enquanto vier:

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sitio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois : somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Fresco da capela Scrovegni, em Pádua - com a particularidade de Giotto, impressionado pela passagem do cometa Halley em 1301, de que foi testemunha, ter por este substituído a Estrela de Natal. Esta curiosa substituição é abordada no site www.lesia.obspm.fr/~provisionner/promenade/pro_comete_dessin.html sobre a representação dos cometas na Arte.

domingo, 23 de dezembro de 2007

O solstício de Inverno


Foi ontem, 22, pelas 6 horas e qualquer coisa da manhã. O Sol parou no seu sobe e desce nos céus, algures na noite mais longa do ano e anunciou que os dias vão começar a crescer... Vem aí o Verão, é o que é... o Sol de Junho, o S. João quente que será o termo da subida do Astro-Rei, muito para lá do Ano Novo que se aproxima. Agora, "midwinter", são as numerosas celebrações do solstício... as "festas dos loucos", os dias de transgressão, que, na tradição de tantos países, no andar dos caretos e máscaras do nosso interior Norte, nos lembram a transcendência da época e pagam tributo ancestral à Mãe Natureza, às sementes e bolbos que dormem no útero sombrio mas fértil da mãe-terra, prontos a brotar, na espera do começo...
Não é por acaso que o Solstício de Inverno acolhe também diversas celebrações formais ou informais, repartidas pelo Mundo e fundadas no calendário solar. Na Wikipedia, item
recolhem-se várias. Que não todas, claro... Falam de vida e de morte, dos que partiram e dormem, dos que venceram mais um ano, dos que esperam e dos que nascem, das celebrações que marcam o despertar de velhos Deuses adormecidos - e o que é o ciclo anual que não seja eternamente isso?

sábado, 22 de dezembro de 2007

"Hamlet" 1.1 i.e. Cena I do Acto I :

.
Spoken by Marcellus:

Some say that ever 'gainst that season comes
Wherein our Saviour's birth is celebrated,
The bird of dawning singeth all night long:
And then, they say, no spirit dares stir abroad;
The nights are wholesome; then no planets strike,
No fairy takes, nor witch hath power to charm,
So hallow'd and so gracious is the time

- - - - - - - - - - - -

Dizer de Marcelo:

Dizem que quando se acerca aquela época
Em que se celebra a natividade do nosso Salvador
Esse pássaro do amanhecer canta toda a noite,
E então, dizem, espírito nenhum se atreve ao ar,
As noites são como bálsamo, nenhum planeta é contrário,
Não há fada que encante, nem feiticeira que seduza,
De tão santificado e benévolo que é o tempo.

William Shakespeare
com
tradução de António M. Feijó


sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Na Tal (um poema de David Mourão Ferreira)

.


Na Tal


Na tal habitação volto a falar-te
Na tal que já eu próprio não conheço
Na tal que mais que tálamo era berço
Na tal em que de noite nunca é tarde

Na tal de que por fim ninguém se evade
Na tal a que sei bem que não regresso
Na tal que umbilical cabe num verso
Na tal sem universo que a iguale

Na tal habitação te vou falando
Na tal como quem joga às escondidas
Na tal a ver se tu me dizes qual

Na tal de que eu herdei só este canto
Na tal que para sempre está perdida
Na tal em que o natal era Natal.

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Ilustradores famosos dos EUA; 11. Harvey Dunn

.
Discípulo de Howard Pyle, Harvey Dunn (1884-1952), natural do Dakota do Sul, notabilizou-se por uma série de impressionantes expressões gráficas da 1ª Guerra Mundial. Mais tarde, numa longa série de ilustrações e de óleos, nuitos dos quais se encontram no Museu do Dakota do Sul, o artista descreveu a epopeia e a natureza do seu estado natal, alternando imagens-recordações com descrições pictóricas de aspectos actuais. De entre os óleos referidos destaca-se, seguidamente, "A Planície é o Meu Jardim":

e, para fazer jus à quadra actual, "Noite de Inverno":

Ambos se encontram no referido Museu.
.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O início da história da Somincor: o "monte" do Lombador

.
Quem um dia se debruce sobre a história da Somincor que procure o muito de contar que há, desde os trabalhos de prospecção e pesquisa que levaram à descoberta dos jazigos pelo consórcio luso-francês em que, do lado português, foi inicial consorte a então Sociedade Mineira de Santiago - e sem esquecer o afirmado mas nunca concretizado propósito de integração com a actividade transformadora. Muitas coisas haverá a dizer e a concluir.

Recordei esses tempos ao passar pelo Lombador (povoação da freguesia de Santa Bárbara de Padrões, concelho de Castro Verde, 37.6°N, 8.0°W) ao procurar identificar o "monte" que foi a primeira base no terreno, onde existiu a primeira caroteca e se celebraram os primeiros contactos com a não muito distante descoberta. Teria sido o que aqui se mostra, hoje como arruinado testemunho?


terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Igreja de Santa Bárbara de Padrões





Exteriormente visitada, a 16 do corrente. Lamenta-se o carácter moderno do portão do cemitério (não visível na fotografia, mas à direita do corpo da igreja, na primeira foto), que abertamente contrasta com a estrutura do templo. Lamenta-se o abandono das habitações próximas, que ainda conhecemos povoadas e que hoje se mostram em evidente ruína. Lamenta-se a porta de chapa colocada do lado direito do templo, sob a torre sineira (ver 4ª foto). Lamenta-se a vedação das ruínas do anterior templo, à esquerda do corpo da igreja (a menos que essa vedação sirva como protecção desses mesmos vestígios arqueológicos). Regista-se com agrado a melhoria do acesso da povoação à igreja, actualmente em realização.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"Memórias de Morte" no Baixo Alentejo

Quando - já há bastantes anos - aprendi o caminho para Santa Bárbara de Padrões e região circundante até Brancanes, repartida esta entre Castro Verde e Almodovar, registei, perto de Namorados, entre as marcas de 7,9 e 8,0 km da estrada municipal de Castro Verde M508, um estranho padrão encimado por uma cruz, com legenda pintada "JP N1902 F1938", como abaixo se mostra. "É sinal que ali mataram um homem", assim me disseram então, dando-me a entender ter sido "morte matada", i.e. morte violenta, por acidente ou crime.


Se, infelizmente, evocações deste género se vão tornando frequentes á margem das nossas estradas, como placas, símbolos ou simples ramos de flores, peculiar se torna o costume destes "padrões de morte" na referida região, como outras memórias identicas a tempo registadas e agora fotografadas, como seguem:

Na EN267, entre Mértola e Almodôvar, a aprox. 5 km do cruzamento de Mértola

Na mesma EN267, à direita, logo após o cruzamento para Srª da Graça de Padrões no sentido para Almodôvar e já próximo desta vila


Este de natureza duvidosa, pela sua construção não ligada e porque não encimado por qualquer cruz, ainda na EM 508 de Castro Verde, ao km 6,4.

Caracterizado um, e portanto potencialmente susceptível de identificação, anónimos os outros, que tragédias terão registado? E quantos outros existirão assim, na sua simples mas idêntica concepção de padrões de morte que se expõem como apelo aos viandantes?

domingo, 16 de dezembro de 2007

O concerto de 15 de Dezembro em Mértola

Um concerto excepcional, com uma interpretação magnífica do conjunto "Sete Lágrimas" com o coro "Voces Celestes" numa igreja apinhada e em que a emoção e a qualidade apagaram o frio exterior, é como se pode descrever em palavras breves o concerto inaugural do já aqui referido 4º Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo, "Terras Sem Sombra", que teve ontem lugar na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas, em Mértola. Precedendo o concerto, o responsável pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja traçou a história do local, antiga mesquita sobre prévia edificação sacra romana, logo igreja de Senhora de Entre as Águas (do Guadiana e da ribeira de Oeiras), finalmente matriz de Mértola, salientando o significado que lhe assiste de cruzar das culturas musicais nas tradições mediterrânicas e que é objectivo do Festival. Cabe uma palavra de apreço à Diocese de Beja por manter viva essa orientação e autorizar a realização destes eventos culturais em recintos religiosos, acolhendo fontes diversas mas irmanadas em expressões sinceras, superando assim as restrições a tal apontadas por outras dioceses portuguesas. O programa apresentado, que seguidamente se reproduz, é disso clara demonstração, em que o extraordinário hino "Je Chanterai Car Dieu Est Ma Lumiére" do huguenote francês Claude Goudimel, vítima da Matança de S.Bartolomeu (1572), em adaptação de "Sete Lágrimas", mereceu ser repetido no fim do programa, como tributo ao valor da obra, ao nível da execução e ao entusiasmo da assistência.
Para próximos concertos deste Festival, ver postagem de 12 de Dezembro (o seguinte será já a 12 de Janeiro, em Almodôvar).

sábado, 15 de dezembro de 2007

Um soneto de António Sardinha

Jacob e Raquel, por Palma il Vecchio (1480-1528)

VELHO MOTIVO


Soneto de Jacob, pastor antigo,
– soneto de Raquel, serrana bela...
Oh! quantas vezes o relembro e digo,
pensando em ti, como se foras Ela!

O que eu servira para viver contigo,
– tão doce, tão airosa e tão singela!
Assim, distante do teu rosto amigo,
em torturar-me a ausência se desvela!

E vou sofrendo a minha pena amarga,
– pena que não me deixa nem me larga,
bem mais cruel que a de Jacob pastor!

Raquel não era dele, e sempre a via,
enquanto que eu não vejo, noite e dia,
aquela que me tem por seu senhor!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

No olhar o espaço: onde começa a história do futuro...

Painel gigante no Kansas Cosmosphere and Space Center, Hutchinson, Kansas, EUA
(Autor: Robert McCall)

.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Na mina: a porta para um passado remoto...

.
Kansas Underground Salt Museum, Hutchinson, Reno County, Kansas, EUA

No fundo destes 200 metros (650 pés)
300 milhões de anos nos contemplam!

.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A ter em consideração: "Terras Sem Sombra" = 4º Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo


Atenção, que começa já no próximo sábado, 15 de Dezembro, pelas 21h00 horas na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas, em Mértola. Ver programa acima! Entrada livre em todos os concertos.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Ilustradores famosos dos EUA; 10. Al Parker

Repetiria textos já empregues para outras figuras da ilustração norte-americana, ao salientar a capacidade deste ilustrador, que se encontra representado em inúmeros exemplos de publicidade e de expressão gráfica de textos literários, em livros ou revistas - incluindo certamente a elaboração das gravuras de capa, prática muito utilizada nos Estados Unidos até, geralmente, ao predomínio fotográfico que se veio estabelecendo a partor do inicio da década de 70.

Nessa linha, recorri a três gravuras que ilustram a enorme versatilidade do Autor e a elegância da sua narração gráfica. O primeiro, adequado à época, é a propaganda a uma marca de camisas, realizada por um Pai Natal que leva o simbolismo do vermelho até à própria roupa interior:



O segundo, também apropriado à época natalícia (e não me perguntem porquê), é uma dama a tomar banho de uma forma que cada vez se usa menos. Como a maioria dos desenhadores americanos, Al Parker (1906-1947) mostrou-se sempre sensível à beleza feminina e os anúncios das linhas aéreas, com assistentes de voo glamorosas e não menos glamorosas passageiras transportadas para as praias do Caribe e com um picante muitas vezes apenas sugerido, mas com veemência adivinhado, poderiam ir um pouco mais longe.


Finalmente o terceiro, que foi capa do "Ladies Home's Journal" de Setembro de 1947, é um exemplo de candura em que igualmente se percebe o que mal se vê. Nesta elegância se sugestão, Al Parker era um mestre. Por isso figura entre os mestres da gravura norte-americana e deixou seguidores.


Espero que gostem. E, se de facto gostaram, recomendo uma visita à postagem:
do blog "Today's Inspiration, sob o título "A visit with Al Parker" e com gravuras a preto e branco do mesmo Autor.
.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Profunda recomendação metodológica

(de Corn Products Refining)


"Se queremos uma gaja boa como o milho temos de a namorar."

Ribau Esteves

(citado na revista "Notícias Sábado",
nº 100, de 8 de Dezembro 2007, pag81)

... e as outras?


domingo, 9 de dezembro de 2007

O marco jacente



Assinalava, naquele ponto, os limites das freguesias do Barreiro e do Lavradio, postado que estava num dos "triângulos" viários mais antigos do Barreiro: o que recebia a estrada do Lavradio, vinda do poente após atravessar os terrenos da CUF, e acolhia a estrada do apeadeiro, que descia do Sul, para que ambas se juntassem ali, junto à Quinta das Palmeiras, e, confundidas, se dirigissem ao Lavradio, pelas salinas. Há muitos anos que o marco caiu. E com a atenção de uma Câmara Municipal, com duas Freguesias importantes interessadas, com a proximidade actual das oficinas municipais, não há mesmo quem consiga pô-lo de pé? Ou quem o recolha para preservação do passado em guarda futura?
.

sábado, 8 de dezembro de 2007

... próxima paragem: Wichita!

Museu Histórico

no Museu Histórico (o "Cavalo de Ferro chega onde os Índios se chamavam "Wichitô")

no Museu Ferroviário (a SantaFe RailRoad em possante "pre-moderno")


sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Arrábida: do Alto das Necessidades aos Moinhos da Serra do Louro, pelos cimos...

.



Num so(a)lheiro fim deNovembro ...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Ilustradores famosos dos EUA: 9. A. B. Frost

Arthur Burdett Frost (1851-1928), que assinou os seus trabalhos como A. B. Frost, foi um dos primeiros ilustradores americanos a abordar a banda desenhada e, como ilustrador, caricaturista, pintor, esteve frequentemente presente em diversas revistas de grande divulgação, em que soube misturar ironia com comicidade. Sabendo captar aspectos da vida rural e da actividade desportiva, os seus trabalhos tornaram-no bastante popular e deram origem a uma linha de seguidores. A diversidade da sua arte está patente nos dois exemplos que seguidamente se apresentam.

No primeiro, "A Família George Washington Jones regressa de Paris", publicada numa revista semanal (Harper's Weekly) o caricaturista representa o "desembarque" numa terreola eminentemente rural de um abastado proprietário local [1] que, tendo ido em viagem de prazer (e ostentação) à desejada capital da França, regressa daí com todas as afectações dessa especial vida urbana europeia, incluindo trajes exageradamente ridículos, amas e preceptoras, para espanto das forças vivas (e não-vivas) masculinas [2] da terra que o foram esperar à estação.


No segundo, "Retrato da Tia Jemima", o Autor dá uma outra visão da sua arte, sem perda da "personalidade americana" bem expressa na beleza e até ternura com que é reconhecida e representada a candura do modelo.


A versatilidade precursora deste Autor merece bem a sua inclusão na lista de honra do género "comics", naquilo que este tem de retrato do social - colaborando numa das primeiras glosas americanas de um mote já assente na Europa [3] e divulgando-a assim a futuros e também talentosos cultores. [4]


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] O "Georges Washington Jones" traduz o posicionamento geográfico e o posicionamento social da família-alvo, "lastrando" o peso histórico do "Georges Washington" com a vulgaridade do "Jones". Ao olhar esta gravura não pude afastar a descrição queirosiana do regresso de Paris do Zé Fernandes, quando deita fora as revistas "frescotas" trazidas da capital da França e logo o Pimentinha, pressuroso chefe da estação de Tormes, corre a recolhê-las para seu privado gozo. Ou a cena final de abastança do "pilgrin's progress" do (inicialmente) pobre agricultor que enriqueceu as terras e se enriqueceu com "adubos CUF" na interessante série de calendários que na transição dos anos 20 esta Sociedade editou e que, mesmo constando já de um dos números relativamente recentes da sua revista, merece que um dia aqui dela se fale.
[2] Outra bicada na ruralidade da cena é que, com excepção de uma jovenzita que corre para a amiga chegada de Paris e que esta parece rejeitar..., toda a recepção é feita por homens, das mais variadas posições, mas sem que se vislumbre uma presença feminina, para além das que fazem parte da comitiva que chega.
[3] Recorda-se Daumier e os caricaturistas sociais ingleses (vg. escola do Punch), não sendo de estranhar a possível influência que estes terão exercido quando da visita de A. B. Frost em Inglaterra.
[4] Uma das vantagens desta excursão é. como creio já ter aqui referido, o muito de colateral valioso que com ela se vai aprendendo. Vem hoje, a propósito, o portal http://lambiek.net/ e particularmente a sua "the comiclopedia" que lista todos os muitos principais autores de banda desenhada ("comics") e "arte sequencial", com biografia, referências e exemplos. É muito, mas mesmo muito, de visitar.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Duas notas saídas de um jornal, deixado na alcatifa dum corredor

Do número do "U.S. Today" de 3 do corrente, delicadamente colocado à porta do quarto de hotel, retirei dois temas entre os muitos que, a meu ver, poderiam conduzir a alguma reflexão:

O primeiro é o anúncio, logo na 1ª página, do aumento de registo e guarda em base de dados de elementos biométricos de todos os estrangeiros que acedam aos Estados Unidos, passando a ser exigida a recolha de impressões digitais dos dez dedos das mãos [1,2], agravando assim em 500% a recolha e guarda actual limitada aos dois indicadores. Argumento principal para esta medida, que começará a ser gradualmente aplicada no próximo ano em diversos aeroportos e já neste ano num deles, a título de ensaio: aumento da luta contra o terrorismo. Curioso isto: num país em que, para os cidadãos nacionais, está interdita constitucionalmente a criação de um BI e em que já existiu (e pode subsistir) "terrorismo doméstico activo", é o reforço da recolha de impressões digitais de forasteiros que se considera essencial nesta fase de uma luta que levou já aos aspectos desviantes e gravosos que se conhecem. Dada a vertente coactiva do acto (Bertillon não faria melhor...) , penso que se deve prestar atenção ao comportamento recíproco (se algum) que, nas respectivas fronteiras, seja tomado pelos membros da UE+CH e os signatários da constituição do "Espaço Schengen" relativamente aos ingressantes estrangeiros, nomeadamente norte-americanos [3].

O segundo ponto é um oportuno [4] e desenvolvido artigo, assinado por David Domke e publicado na pag. 13A, sobre a utilização da religião como arma política. Extensamente voltado, como é natural, para a realidade norte-americana (uma segunda parte é constituída pelo exame das opções dos actuais "candidatos a candidatos"), dá conta do esforço de separação por parte dos "Fundadores" e da crescente intromissão de campos que se vem estabelecendo de há quase 30 anos a esta parte e que, segundo o articulista, terá sido iniciada com o sinal religioso ("religious signal") contido na famosa referência e no apelo à oração formulados por Ronald Reagan na convenção presidencial republicana de Julho de 1980. Apreciando os mecanismos estratégicos desenvolvidos pelos políticos em torno à religião, o Autor sublinha (a) os "sinais de simpatia" manifestados relativamente aos pontos de vista religiosos conservadores (como explorados por Bush na campanha de 1988), (b) o crescimento da frequência das referências e termos de conteúdo religioso inseridos em intervenções políticas gerais (analisado sob o ponto de vista estatístico que mostra um evidente "crescendo", que "pressiona" cada um dos actuais a não baixar o discurso perante os anteriores), (c) a técnica das chamadas "peregrinações" que leva as personagens políticas a falar a "audiências de fé". Mostrando como a prática actual está afastada da posição inicial dos Fundadores, muitos deles fervorosamente religiosos mas que sempre procuraram separar as águas nomeadamente pelo respeito às muitas religiões presentes na República, David Domke (professor de Comunicação na Universidade de Washington e co-autor do livro "The God Strategy: How Religion Became a Political Weapon in America") relembra o discurso do candidato presidencial John Kennedy (um católico romano) ao dirigir-se, numa dessas "peregrinações", ao clero conservador protestante em Setembro de 1960, e conclui o artigo da seguinte forma: "Ao contrário dos candidatos actuais, o católico Kennedy prometeu uma Casa Branca em que as decisões seriam tomadas "sem consideração de pressões ou determinações religiosas externas". Era essencial uma tal presidência porque - nas suas palavras - "hoje posso ser eu a vítima mas amanhã poderás ser tu - e assim [sucessivamente] até ao rasgar todo o tecido da nossa harmoniosa sociedade." Esta foi então uma mensagem vencedora. Hoje tornou-se uma [mensagem] desesperantemente necessária."
Segue-se, como já referido, o exame necessariamente breve da posição dos 8 "candidatos a candidatos". Choca verificar que as "definições religiosas" assinaladas se centram quase totalmente - e de uma forma que considero redutora - em temas como o comportamento sexual dos adolescentes, a IVG, os casamentos homossexuais, a utilização de embriões para investigação celular, com diversas piruetas discursivas e contradições relativamente a posições anteriormente assumidas por alguns figurantes. Arma selectiva, pois, ao ser invocada para uso e angariação de votos, esquece outros aspectos importantes (pobreza, solidariedade, etc.) que, a serem invocados valores religiosos (e o melhor era assumi-los sem isso) não poderiam passar despercebidos. [5]

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[1] Alegadamente, ficarão fora desta medida os Canadianos, os Mexicanos de vai-e-vem fronteira que disponham de autorização para tais movimentos pendulares (p.ex. os que a atravessem diariamente para prestar trabalho nos EUA) os maiores de 79 anos e os menores de 14,.
[2] Os dedos dos pés ainda ficarão isentos, mas como as pessoas já se descalçam para que os sapatos sejam radiografados, pouco poderia faltar para isso - a menos dos aspectos insalubres, tóxicos e perigosos que dessa medida pudessem resultar).
[3] Ou seja: se permanecem ou não de cócoras ou se assobiam para o ar, mesmo quando (conceptualmente) pudessem invocar idênticas razões.
[4] Com a aproximação das eleições US, que substituirão o actual Presidente, e avizinhando-se já os seus preliminares convencionais, o problema torna-se candente.
[5] Para fechar: uma janela no jornal considera o assunto como momentoso, e remete para uma série semanal de artigos, que se encontram disponíveis no portal religion.usatoday.com (assinalo, porém, que não consegui qualquer resposta directa deste portal, com ou sem http://, com ou sem www, mas não deixo por isso de assinalar a indicação dada e de sugerir uma "busca objectivada" no portal do USA Today).

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Dia de Santa Bárbara

Imagem da Santa (barroco brasileiro)

- - - - - - - - - -

Gostaria de conhecer algo mais sobre esta excelente peça: Autor, data, localização de origem, localização actual e outros dados pertinentes.

- - - - - « « « « « «» » » » » » - - - - -

Blaise Cendrars: "le Panama ou Les Aventures de Mes Sept Oncles" - 6/6

(conclusão)

Mon septième oncle

On n'a jamais su ce qu'il est devenu

On dit que je te ressemble

............................................................

Je vous dédie ce poème

Monsieur Bertrand

Vous m'avez offert des liqueurs fortes pour me prémunir contre les fièvres du canal

Vous vous êtes abonné à l'Argus de la Presse pour recevoir toutes les coupures qui me concernent.

Dernier Français de Panama (il n'y en a pas 20)

Je vous dédie ce poème

Barman du Matachine

Des milliers de Chinois sont morts où se dresse maintenant le Bar flamboyant

Vous distillez

Tous vous êtes enrichi en enterrant les cholériques

Envoyez-moi la photographie de la forêt de chênes-lièges qui pousse sur les 400 locomotives abandonnées par l'entreprise française

Cadavres-vivants

Le palmier greffé dans la banne d'une grue chargée d'orchidées

Les canon d'Aspinvall rongés par les toucans

La drague aux tortues

Les pumas qui nichent dans le gazomètre défoncé

Les écluses perforées par les poissons-scie

La tuyauterie des pompes bouchée par une colonie d'iguanes

Les trains arrêtés par l'invasion des chenilles

Et l'ancre gigantesque aux armoiries de Louis XV dont vous n'avez su m'exp!iquer la présence dans la forêt

Tous les ans vous changez les portes de votre établissement incrustées de signatures

Tous ceux qui passèrent chez vous

Ces 32 portes quel témoignage

Langues vivantes de ce sacré canal que vous chérissez tant

Ce matin est le premier jour du monde

lsthme

D'où l'on voit simultanément tous les astres du ciel

et toutes les formes de la végétation

Préexcellence des montagnes équatoriales

Zone unique

Il y a encore le vapeur de l'Amìdon Paterson

Les initiales en couleurs de l'Atlantic-Pacific Tea-Trust

Le Los Angeles limited qui part à 10 h 02 pour arriver

le troisième jour et qui est !e seul train au monde

avec wagon-coiffeur

Le Trunk les éclipses et les petites voitures d'enfants

Pour vous apprendre à épeler l’A B C de la vie sous la férule des sirénes en partance

Toyo Kisen Kaïsha

J’ai du pain et du fromage

Un col propre

La poésie date d'aujourd'hui

La voie lactée autour du cou

Les deux hémisphères sur les yeux

A toute vitesse

Il n'y a plus de pannes

Si j'avais ie temps de faire çuelques économies je prendrais part au rallye aérien

J’ai réservé ma place dans le premier train qui passera le tunnel sous la Manche

Je suis le premier aviateur qui traverse l'Atlantique en monocoque

900 millions

Terre Terre Eaux Océans Cieis

J'ai le mal du pays

Je suis tous les visages et j'ai peur des boîtes aux lettres

Les villes sont des ventres

Je ne suis plus les voies Lignes

Câbles

Canaux

Ni les ponts suspendus!

Soleils lunes étoiles

Mondes apocalyptiques

Vous avez encore tous un beau rôle à jouer

Un siphon éternue

Les cancans littéraires vont leur train

Tout bas

A la Rotonde

Comme tout au fond d'un verre

J'ATTENDS

Je voudrais être la cinquième roue du char

Orage

Midi à quatorze heures

Rien et partout

PARIS ET SA BANLIEUE

Saint-Claud, Sèvres, Montmorency, Courbevoie, Bougival, Rueil, Montrouge, Saint-
-Denis, Vincennes, Étampes, Melun, Saint-Martin, Méréville, Barbizon, Forges-en-Bière.

Juin 1913 - Juin 1914.

Blaise Cendrars

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Blaise Cendrars: "le Panama ou Les Aventures de Mes Sept Oncles" - 5/6

(continuação)

C'est rigolo

Il y a des heures qui sonnent

Quai-d’Orsay-Saint-Nazaire!

On passe sous la Tour Eiffel - boucler la boucle - pour retomber de l'autre côté du monde

Puis on continue

Les catapultes du soleil assiègent les tropiques irascibles

Riche Péruvien propriétaire de l’explotation du guano d'Angamos

On lance l'Acaraguan Bananan

A l'ombre

Les mulâtres hospitaliers

J'ai passé plus d'un hiver dans ces îles fortunées

L’oiseau-secrétaire est un éblouissement

Belles dames plantureuses

On boit des boissons glacées sur la terrasse

Un torpilleur brûle comme un cigare

Une partie de polo dans le champ d'ananas

Et les palétuviers éventent les jeunes filles studieuses

My gun

Coup de feu

Un observatoire au flanc du volcan

De gros serpents dans la rivière desséchée

Haie de cactus

Un âne claironne la queue en l'air

La petite Indienne qui louche veut se rendre à Buenos-Ayres

Le musicien allemand m'emprunte ma cravache à pommeau d'argent et une paire de gants de Suède

Ce gros Hollandais est géographe

On joue aux cartes en attendant le train

C'est l'aniversaire de la Malaise

Je reçois un paquet à mon nom, 200.000 pésétas et une lettre de mon sixième oncle:

Attends-moi à la factorerie jusqu'au printemps prochain

Amuse-toi bien bois sec et n'épargne pas les femmes

Le meilleur électuaire

Mon neveu...

Et il y avait encore quelque chose

La tristesse

Et le mal du pays.

Oh mon oncle, je t’ai attendu un an et tu n’est pas venu

Tu étais parti avec une compagnie d'astronomes qui allait inspecter le ciel sur la côte occidentale de la Patagonie

Tu leur servais d'interprète et de guide

Tes conseils

Ton expérience

Il n'y en avait pas deux comme toi pour viser l'horizon au sextant

Les instruments en équilibre

Electro-magnétiques

Dans les fjords de la Terre de Feu

Aux confins du monde

Vous pêchiez des mousses protozoaires en dérive entre deux eaux à la lueur des poissons électriques

Vous collectionniez des aérolithes de peroxyde de fer

Un dimanche matin:

Tu vis un évêque mitré sortir des eaux

II avait une queue de poisson et t'aspergeait de signes de croix

Tu t'es enfui dans la montagne en hurlant comme un vari blessé

La nuit même

Un ouragan détruisit le campement

Tes compagnons durent renoncer à l'espoir de te retrouver vivant

Ils emportèrent soigneusement les documents scientifiques

Et au bout de trois mois,

Les pauvres intellectuels,

Ils arrivèrent un soir à un feu de gauchos où l'on causait justement de toi

J'étais venu à ta rencontre

Tupa

La belle nature

Les étalons s'enculent

200 taureaux noirs mugissent

Tango-argentin

Bien quoi

II n'y a donc plus de belles histoires

La Vie des Saints

Das Nachtbüchlein von Schuman

Cymbalum mundi

La Tariffa delle Puttane di Venegia

Navigation de Jean Struys, Amsterdam, 1528

Shalom Aleïchem

Le Crocodile de Saint-Martin

Strindberg a démontré que la terre n'est pas ronde –

Déjà Gavarni avait aboli la Géométrie

Pampas

Disque

Les iroquoises du vent

Saupiquets

L'hélice des gemmes

Maggi

Byrrh

Daily Chronicle

La vague est une carrière où l'orage en sculpteur abat des blocs de taille

Quadriges d'écume qui prennent le mors aux dents

Éternellement

Depuis le commencement du monde

Je siffle

Un frissoulis de bris


(continua)