quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O 3º concerto do Festival "Terras sem Sombra": Alvito, a 2 de Fevereiro

Tinha-se escrito que, caso entretanto aparecesse o convite para este concerto, o discurso que compensava a sua falta, dando sumária notícia do concerto, seria substituído por esse mesmo convite. Foi o caso: o correio ter-se-á atrazado e o convite não chegou. Mas existiu... e, por isso, vai ser reproduzido seguidamente, registando-se ainda que a imagem nele contida é uma reprodução da "Lamentação sobre Cristo Morto", uma obra do sec XVI, escola flamenga, patente no Museu de Arte Sacra de Alvito. Mas sobre o património artístico dessa terra falar-se-á um pouco na notícia do próprio concerto, a postar a 3 de Fevereiro.

Na mensagem original, pre-convite, abordavam-se ainda outros dois temas. 1º. Sobre uma (boa) recordação de Alvito, já afastada no irreversível do tempo e que agora se suprime por subjectividade lamechas. 2º. Da edição do programa geral do Festival, colocado à venda por preço simbólico, com a capa que seguidamente se mostra.


E agora, a termo, seguir-se-á o tal (faltoso) convite:






quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Depois da Orgia, de Ibn Suhayd

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Quando,

plena de sua embriaguês,

ela adormeceu

e também adormeceram

os olhos da ronda,

timidamente,

me acerquei dela,

como o amigo

que, dissimulado,

o contacto furtivo

buscasse.

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Até ela,

insensivelmente,

me arrastei,

como o sono;

docemente,

até ela

me elevei,

como o alento.

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Beijei do seu colo

o branco resplandecente

e apurei da sua boca

o vermelho vivo.

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E com ela,

deliciosamente,

passei a minha noite

até as trevas sorrirem

nos brancos dentes da aurora.

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Ibn Suhayd [1]


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[1] Abu Amir ibn Suhayd, poeta hispanoárabe, nasceu e morreu em Córdova, onde viveu de 992 até 1034. Atribui-se-lhe uma carta em que descreve uma viagem ao paraíso, onde vai encontrar vários poetas anteriores, comentando as obras respectivas. A presente poesia está incluída na colectânea "Ladrões de Prazer - Poemas Arábigo-andaluzes", em tradução de Fernando Couto sobre versão castelhana, publicada em Lisboa, em 1991, pela Editorial Estampa.


terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A virtuosa lei do não-fumar

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múltiplas chaminés sem lavagens de gases [1]

Que fique claramente expresso como sou a favor da lei limitativa dos efeitos do fumo do tabaco e manifestamente contrário a quaisquer tentativas de a contornar ou dulcificar. Faço-o como ex-fumador, ex-"heavy smoker" mesmo, operado que fui a dois cancros nas cordas vocais felizmente descobertos a tempo e ignorante, quando fumador, da frequência e gravidade dessas possíveis (e outras) consequências - a que não são imunes fumadores passivos.

Lamento que certas pessoas culturalmente responsáveis surjam nos meios de comunicação social a colocar a questão em termos de liberdade - argumento que, por extensão, poderia também travar muitas preocupações ecológicas que alguns deles, noutros foruns, manifestam - e a invocar apregoados "direitos do fumador" - em princípio protegidos, na lei, pela possibilidade de criação de espaços próprios. E se em alguns desses objectores vislumbro finalidades políticas que pressinto e que nada têm a ver com o tabaco, não deixo de encontrar uma certa graça no argumento do "não vão lá" que dirigem aos não-fumadores esquecendo o argumento do "não vão lá" que, como membros do grupo dos fumadores, lhes é agora legalmente dirigido. Para estes, a minimização dos argumentos científicos está na linha de rumo dos que habitualmente desprezam a técnica e minimizam comprovadas avaliações técnico-científicas (há, no nosso País, outros exemplos - e todos acabamos a pagar por isso).

Recordo uma exposição do artista João Dixo na "Quadrante", há muitos anos (em vésperas do 25A) em que, vislumbrando uma leitura futura de certos objectos do então actual (o que lhe valeu a censura da exposição pelo regime), apresentava um cinzeiro com cinzas e algumas pontas de cigarro ("beatas", "baronas" ou "piriscas", como queiram) com a designação precursora de "objecto de uso desconhecido".

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[1] gravura de
http://www.radio-canada.ca/nouvelles/ressources/images/2006/
/normales/c/ci/060613cigarette-fondnoir_n.jpg, com a devida vénia; legenda do
bloguista


segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Ilustradores famosos dos EUA: 14. Jessie Wilcox Smith

Entre papoilas
No jardim

Ilustradora da vida infantil e do amor maternal (ver imagens supra), Jessie Wilcox Smith (1863-1935) foi também a admirável intérprete gráfica (em 1910) de algumas obras de Charles Dickens e, posteriormente, de diversos contos e lendas, com uma presença assídua em revistas infantis norte-americanas - mantendo sempre uma visão poética e esteticamente sensível dos motivos que elegeu.

Em http://www.bpib.com/illustrat/jwsmith.htm , entre outras fontes, encontrar-se-á uma biografia sumária..

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domingo, 27 de janeiro de 2008

"Expiação" ("Atonement") ou... "I gave them their happiness"

Uma das pequenas coisas que as alterações da vida me oferecem é a possibilidade de reencontrar o cinema. Cinema que não é DVD entrecortado pelo ladrar do cão ou a buzina do carro do vizinho, com pausa para atender a chamada de um amigo distante e preparar o copo de bourbon-soda (embora nas salas o ruminar das pipocas e o canto dos telélés mal apagados também façam os seus estragos). Mas adiante… Assim fui eu, saído de uns exames médicos fastidiosos para um dos cinemas do para mim tão significativo Centro Vasco da Gama, ver a versão cinematográfica da obra “Atonement” de Ian McEwan. Galardoado já com dois Globos de Ouro e candidato ao Óscar, não esperava eu ver outra coisa que não fosse um bom filme.

E malgrado alguma controvérsia existente na crítica, em meu entender - e o meu entender é que para mim ao caso conta - vi um bom filme que empenhadamente recomendo. Desde os movimentos marcantes – como a caminhada inicial de Briony a mostrar a sua primeira peça e, mais tarde, a marcha das enfermeiras no hospital de sangue – à sensualidade requintada da cena do tanque, à excelente música de Dario Marianelli (complementada com a utilização chocante mas sabiamente deslocada do “Clair de Lune” da “Bergamasque” quando da morte do soldado francês e com o matraquear já tão esquecido da máquina de escrever como “leit-motiv” sonoro em diversas outras cenas), até ao depoimento final expressivamente prestado pela inesquecível Vanessa (de quem já tinha saudades), tudo no filme atrai. Censura-se por vezes que as cenas de guerra de Dunquerque estejam demasiadamente extensas: poderá ser, mas há que verificar o seu efectivo peso no desenrolar da narrativa (e da meta-narrativa) e o valor simbólico que esse episódio alcançou na Nação Britânica e que as memórias ainda hoje registam como verdadeira gesta nacional. A narrativa torna-se intencionalmente tão simbólica que, num relato de guerra como aquele, se adivinha sem se ver o inimigo alemão, embora a sua presença se faça sentir – e a narrativa, mesmo num cenário de caos, prossegue assim meticulosamente centrada sobre o campo em que o drama se desenvolve e em que o verdadeiro inimigo é a falta à verdade e as suas dramáticas consequências.

Um outro aspecto a saudar é o do reaparecimento de um grande filme de tema europeu tratado com sensibilidade europeia – tão habituados estamos à referência, prevalente em cinema, das vivências de além Atlântico. Ainda aqui a película torna-se significativa: é um drama europeu, vivido na Europa, no meio dos diversos e profundos dramas europeus que marcaram o sec. XX. Como europeu, senti-me reconfortado.

Duas outras referências antagónicas mas congruentes merecem ser finalmente destacadas: uma ao papel do Autor como criador do discurso com que pode, mentindo, recuperar a mentira e transformar num melhor sentido a realidade conhecida (e daí uma certa capacidade divina de “traçar percursos”, como pelo menos um comentarista já assinalou – mas que também pode ser vista aqui como uma tentativa de fuga por “auto-absolvição” no fim dos tempos); outra ao papel do Autor quando se mantem conhecedor da efectiva verdade e nela participou negativamente, continuando a saber que a sua distorção intencional dessa realidade não pode atenuar os factos reais que causou – conduzindo assim a um processo de expiação que nem o fim dos tempos (do tempo dos que atingiu e do seu próprio tempo) nem o simbólico branco das arribas de Dover sobre a casa em que pensou poder descrever um amor que culposamente quebrou conseguem deixar esquecer.

"I gave them their happiness", mas alguém consegue dar a alguém a felicidade que consciente e definitivamente se lhe tirou?

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Vejam-se em http://www.atonementthemovie.co.uk/site/site.html (local oficial do filme) os videoclips e ouça-se parte da música de fundo.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Aires de Almeida Santos (1922-1991)

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Aires de Almeida Santos [1]

Aires de Almeida Santos, poeta e escritor angolano, nasceu no Bié em 1922 e repartiu a sua vida profissional entre Benguela e Luanda (primeiro como guarda-livro e posteriormente como colaborador literário em diversos jornais dessas duas cidades). Tendo participado na fundação da União dos Escritores Angolanos, morre em 1991 em Benguela [2]. A sua obra poética inclui o volume "Meu Amor da Rua Onze", editado em Lisboa pelas "Edições 70" em 1987, onde figura o homónimo poema, abundantemente reproduzido nas colectâneas de poesia angolana e que seguidamente se transcreve:

"Meu Amor da Rua Onze

Tantas juras nós trocámos,
Tantas promessas fizemos,
Tantos beijos nos roubámos
Tantos abraços nós demos.

Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
mais mentir.

Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
mais fingir.

Era tão grande e tão belo
Nosso romance de amor
Que ainda sinto o calor
Das juras que nós trocámos.

Era tão bela, tão doce
Nossa maneira de amar
Que ainda pairam no ar
As promessas que fizemos.

Nossa maneira de amar
Era tão doida tão louca
Qu'inda me queimam a boca
Os beijos que nós roubámos.

Tanta loucura e doidice
Tinha o nosso amor desfeito
Que ainda sinto no peito
Os abraços que nós demos.

E agora
Tudo acabou
Terminou
Nosso romance

Quando te vejo passar
Com o teu andar
Senhoril,
Sinto nascer
E crescer
Uma saudade infinita
Do teu corpo gentil
de escultura
Cor de bronze,
Meu amor da Rua Onze."

Aires de Almeida Santos

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[1] Fotografia do poeta do local www.sanzalangola.com/lit0217.php, com a devida vénia.

[2] Outras fontes, como a citada na nota anterior, referem 1921-1992. Usaram-se as datas mais frequentemente mencionadas e que constam, p.ex. da nota biográficaincluída em http://www.lusofoniapoetica.com/index.php/content/view/27/259/

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A actual crise financeira, ou como encarar a "sub-prime"



Oportuno comentário muma parede do Bairro Alto, em Lisboa. Só é pena que não esteja traduzida em Gringuês para envio aos inventores da dita "subprime".

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Eu (1949) num óleo de Raúl Carneiro

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Como prometi, aqui me apresento como era em 1949, num retrato a óleo pintado por Raul Carneiro, Professor de Desenho do 1º ciclo liceal no Colégio Externato de Gaia, colégio que funcionava (e ainda funciona) na Rua Pádua Correia, anexo então ao seminário, num lugar que ao tempo ainda era designado pelo nome de Trancoso (por isso de dizia o "Colégio de Trancoso" e/ou o "Seminário de Trancoso"). O Senhor Raúl Carneiro morava perto, na rua que levava da Avenida à Igreja de S.Cristóvão de Mafamude, onde tinha o seu atelier. Lembro-me de diversos retratos, em maior ou menor avanço e também de diversas paisagens e algumas naturezas mortas. Entre os retratos que Raúl Carneiro pintou estava o do Dr. Joaquim Francisco Pedrosa Júnior, que era amigo do meu Avô, e o médico dedicado e pleno de bonomia que acompanhava os achaques da família e de muitas famílias na mais ampla gama gaiense ("da família" e não "de família"), hoje justamente recordado na toponímia local [1]. Não me consta que tivesse sido recentemente evocada, por alguma forma, a obra pictórica de Raúl Carneiro e por isso, para que possa ser relembrada e situada na Vila Nova de Gaia do seu tempo, aqui deixo a devida nota. Nesta idade que hoje tenho e longe como estou, também aqui deixo o testemunho da minha cara nesse já afastado momento, para evitar - ou tentar evitar ou mesmo não evitar - que um dia, passado de mão em mão no vento do futuro e comigo já a trilhar outras veredas, possa o mesmo aparecer algures sob a designação de "Rapaz desconhecido com boina".

Porque a boina aqui também tem história, que vai aos anos da Guerra 39-45. A proibição do uso de distintivos dos "Aliados", invocando a neutralidade portuguesa, tornou-se zelosamente activada depois da reviravolta de '43 na Frente Leste e na Itália [2] i.e. no ano em que comecei a trilhar o caminho da Escola [3]. Não havendo outras formas de manifestar apoios, usavam-se diversos subterfúgios e simbolismos. A boina (popularizada pelo Bernard Montgomery e pelos "maquisards" franceses) era - em meio urbano, uso sistemático e cor castanha - simplesmente um destes "sinais", que eu aliás trazia com bastante orgulho, "evidência escondida" e a recomendação expressa de "bico calado". [4]

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[1] Vide, a propósito, no local http://tvtel.pt/gaiserv/livro_cale/pagina14.htm#94 a composição das Câmaras de Vila Nova de Gaia desde a proclamação da República até Novembro de 1945.
[2] Este comportamento verificou-se num certo azedar do discurso situacionista, até então mais voltado para outras bandas. A um jornal regional que conheço e que publicava fotos da guerra provenientes da Inglaterra foi certamente assinalada a utilidade de publicar fotografias de outra origem e, bem assim, de artigos da mesma proveniência ou de ideologia próxima - o que o jornal pragmaticamente fez, mas publicando esses artigos com tipo manifestamente diferente.
[3] Numa precocidade que - como prémio negativo - me iria obrigar a marcar passo na primária durante um ano, por manifesta irredutibilidade do "sistema" em aceitar uma idade inferior à legal para acesso ao liceu.
[4] Outros sinais havia, com uso urbano por pessoas mais velhas: o charuto, mesmo não aceso (lembrando o Churchill), as gravatas ou os lenços tricolores, as insígnias sem insígnia (como as asas da RAF), as bandeiras de fantasia (com a bandeira da Libéria a significar os EUA), os "bigodes à Zé" e até, nos desfiles da vitória de 1945, os paus sem bandeira a significar que um dos vencedores não estava mas estava também ali na manif (embora os Polacos se pudessem sempre queixar da facada pelas costas de 1939... mas não havia ali polacos e as posições tinham entretanto mudado e de que forma!). Mais recentemente, tive dificuldade em fazer compreender a preocupação que sobrou mais ou menos da mesma época (ou de épocas próximas) quanto a certas cores a evitar em camisas. Outra das minhas opções da época (e falei disto aqui, a 17 de Julho de 2006, pelo menos) foi o meu "boicote de puto", de iniciativa puramente pessoal, às "Bolas de Berlim" que eram e hoje continuam a ser um dos meus bolos favoritos!


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O "Passeio das Freiras" revisitado...

"O Passeio das Freiras" - Versão Rui Abrunhosa

A 3 de Maio de 2007, sob o título "Ciprestes (2/2)" postei uma fotografia de que especialmente gosto, colhida que foi a 29 de Abril daquele ano no trajecto fluvial entre o Pocinho e Barca de Alva e a que chamei "O Passeio das Freiras". Dessa fotografia o meu colega de Liceu Rui Abrunhosa fez um interessante arranjo gráfico ("variações" lhe chama ele) com que me mimoseou, que muito lhe agradeço e que reproduzo acima. Vinha junto com umas fotografias cá do rapaz (oh Rui, vou-te mandar um e-mail pois preciso de mais cópias duma delas, tal é a procura...), igualmente (bem) trabalhadas e profundamente diferentes (em fuças e em sonhos) do menino e moço que eu era em 1949, quando o meu professor de Desenho (eu, que sempre fui péssimo em Desenho) no Colégio Externato de Gaia, o Senhor Carneiro - como a gente chamava a Raul Carneiro - me "registou" a óleo, com a boina que então sempre usava e que também tinha uma história... Mas disso falaremos amanhã, que a matéria para o blogue é escassa, a inspiração nula e as preocupações imediatas algumas. Para já ficamos com "O Passeio das Freiras", na versão (melhorada) pelo Rui Abrunhosa.

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Esta postagem será igualmente colocada "ipsis" no "blogue da malta" http:// www.lah-1954.blogspot.com, ultimamente por demais calado.



terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Bicentenário

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Chegada da Família Real portuguesa ao Rio ( 7/3/1808) [1]

Não sei se já repararam... mas faz hoje exactamente 200 anos que fundearam em terra brasileira (Salvador) os navios que transportaram para o Brasil a Corte Portuguesa, num gesto totalmente inédito (mas que tinha sido de há tempos pensado)! Desiludido ficou Andoche Junot que tinha sonhado com fácil vitória e que, conseguindo por curto tempo uma vitória militar, viu a vitória política praticamente a sair pela barra do Tejo fora, a 27 de Novembro de 1807! As consequências desse gesto - que pela primeira vez levou uma família real europeia ao Novo Mundoi - foram enormes: cá e lá - e até talvez mais lá que cá, se observarmos o mapa-mundi de hoje e reflectirmos em como essa iniciativa evitou a "fragmentação" do Brasil ao sabor de acesos fraccionismos regionais, numa fórmula que se mostrou impar na América do Sul.

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[1] óleo de colecção particular apud, pelo menos, de http://ciencia.hoje.pt; http://caricult.blogspot.com (que noticia as emissões filatélicas que HOJE terão lugar, cá e lá, comemorando esse facto histórico); e www.casadehistoria.com.br, com a devida vénia.



segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Salamão e Mortadela [Mortadelo y Filémon]


A banda desenhada espanhola - que tem notáveis realizações, inclusive no campo político! - não está muito divulgada em Portugal. Existem casos e autores, mas para além dessa selecção "de mercado", há imensas salas e espaços que dela se desconhecem. Um dos casos de sucesso - e certamente alguns especialistas franzirão o nariz, mas é assim mesmo - respeita aos personagens Salamão e Mortadela, os desastrados agentes da TIA que Francisco Ibañez criou e que ontem, dia 20, completaram 50 anos por se terem estreado em 20/1/1958 na revista "Pulgarcito", da editorial Bruguera - como bem evoca o JN de ontem na sua pag. 62, permitindo interromper com um breve e tímido sorriso todas as desgraças e ameaças nacionais e internacionais que vão recheando as outras páginas. A história de Francisco Ibañez, nascido em 1936, passa naturalmente pela sua habilidade inata para o desenho, que - muito jovem - demonstrou nas paredes da casa paterna e que, mais tarde, o levou a abandonar uma carreira promissora no campo comercial e bancário, como perito contabilista, para se dedicar inteiramente ao desenho humorístico e à BD. Antes de ingressar na Bruguera, colaborou nas revistas "Chicolino", "La Risa" e "Paseo Infantil", que tiveram vida curta - ao contrário do que viria a suceder com estes dois hilariantes personagens baptizados em Espanha como "Mortadelo y Filemón", que foram traduzidos para diversas línguas e até já reproduzidos em cinema (anunciando o JN um novo filme e uma antologia "monumental" das suas aventuras, para comemorar o cinquentenário).
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Falar de "Salamão e Mortadela" "em rede privada" permite também lembrar a história duma menina que em 1978 queria nascer cedo demais e para quem a leitura de vários albuns de "Salamão e Mortadela" ajudou no necessário e paciente descanso (não só mas também dela, claro) para que permanecesse "in utero" - embora se viesse a temer que as desencadeadas gargalhadas (não dela, claro) tivessem efeito contraproducente. Tal foi o sucessso que outros albuns foram sucessivamente adquiridos - sendo a imagem aqui dada a reprodução de um deles, de lombada já esborcinada, precisamente o nº12 da série, editado (em 1981?) pela Paralelo Editora com (excelente) versão portuguesa de Viale Moutinho.
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Salamão é o "chefe" da dupla, o mesmo que - na imagem acima - heroicamente corre enquanto segura as mandíbulas do crocodilo; o seu ajudante Mortadela é o desastrado sujeitinho de fato escuro e que, fora disso, aparece com os mais extravagantes (e loucos) disfarces e argumentos!
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domingo, 20 de janeiro de 2008

As batatas fritas - Historieta

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Odeio que me peçam algo quando estou a comer. Mas o puto, este, aproximou-se devagar por entre as mesas e, com ar convincente, apontou para o pacote das batatas fritas: " Olhe que lhe fazem mal, com tanta gordura! Dê-mas!". E, perante isto, eu... dei-lhas!

sábado, 19 de janeiro de 2008

Do experimentador inexperiente

Mickey como aprendiz de feiticeiro em "Fantasia"

Se é certo que o experimentador inexperiente pode incorrer no risco de prolongar demais a experiência em busca do almejado resultado, como se pudesse "dobrar" os factos mercê da insistência, da duração aumentada e da repetição mesmo quando se torna suficientemente improvável que esse almejado resultado surja, igualmente se deve impedir que abandone a experiência aos primeiros insucessos, escapando-lhe assim uma maior certeza nas conclusões positivas ou negativas que dela possa tirar. Há um tempo para tudo - e para isso será bom relembrar-lhe o conhecido aforismo que diz ser geralmente em maduro que os frutos se comem.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O "surplus" de livros nuns... e a falta noutros!

Do escritor e editor brasileiro Luiz Carlos Amorim, de Florianopolis, Santa Catarina, que já connosco esteve presente neste blogue, transcrevo, com autorização, o seguinte artigo, mantendo a grafia original e salientando o interesse da sugestão nele contida:

DOAÇÃO DE LIVROS

Escrevi, já, sobre iniciativas interessantes para se conseguir acervo e iniciar uma biblioteca em uma entidade, associação, escola, bairro, comunidade. Uma delas era uma campanha de um grande supermercado pedindo doação de livros para criar uma biblioteca numa pequena escola de interior. O retorno foi bom, uma boa quantidade de bons livros – principalmente infanto-juvenis – foi arrecadada, uma nova biblioteca foi formada e muitos pequenos estudantes foram beneficiados. Estudantes que estão a uma grande distância de uma biblioteca municipal ou estadual – o que significa custo de passagens de ônibus para chegar até lá – e também não têm acesso à internet.

Eis que, na semana passada, participei de uma gincana no trabalho, para confraternização e comemoração do aniversário da empresa. E sabem qual era uma das tarefas? Além do leite em pó ou em pacote, para doação a comunidades carentes, marcava ponto quem trouxesse mais livros em bom estado ou novos, com bom conteúdo para constituir uma biblioteca em uma entidade de assistência à crianças carentes e escolas de primeiro grau mais distantes.

Fiquei feliz pela iniciativa e pela participação: centenas de livros – no geral bons livros, uma boa maioria deles livros infantis e infanto-juvenis, mas também romance, poesia, crônica, didáticos, auto-ajuda, técnicos. Fiquei surpreso com a qualidade e quantidade das obras.

É impressionante constar-se o fato de que guardamos, em nossas casas, muitos livros que já lemos, e que ficam lá, indefinidamente, enfileirados em estantes, sem que ninguém os abra. Então, quando há uma oportunidade, não é agradável dar sobrevida a uma coisa que estava morta, abandonada? Pois um livro numa biblioteca pode ser lido por inúmeros leitores, pode ser consultado por um número de pessoas que não podemos precisar.

De maneira que às boas idéias que já fiz desfilar por essas mal traçadas linhas, para se criar ou renovar uma biblioteca, soma-se essa, que não é nova nem original, mas é ótima para incentivar as pessoas a fazerem um expurgo em suas estantes e ver o que pode levar descobertas, o mundo da imaginação, arte, cultura e conhecimento para outras tantas pessoas.

E já que estamos falando em livros e leitura, aproveito para falar de outro projeto que também pode não ser novo, em outras plagas – sei que no Amazonas ele existe parecido – mas que está fazendo efeito por aqui. Leio em “Leitores & Livros” que aqui, bem pertinho, na Ilha de Santa Catarina, na nossa Florianópolis, existe a biblioteca itinerante Barca dos Livros, “idealizada para ir ao encontro dos leitores de todas as idades, oferecendo três mil livros, com ênfase no público infanto-juvenil, nas comunidades às margens da Lagoa da Conceição”.

Não é fantástico? Se as pessoas não podem ir ao livro, o livro vai até as pessoas. Como o próprio artigo do jornal diz, nossa capital tem só uma biblioteca pública municipal, no continente e outra estadual, na ilha. De maneira que, se as escolas do interior não tiverem as suas bibliotecas, é difícil para os alunos se deslocarem até o centro para emprestar um livro.

E a Barca dos Livros ainda tem contadores de histórias, presença de escritores e exposições.

Existe também o projeto Troque Lixo Por Lixo, em Blumenau, outra espetacular iniciativa que arrecada material reciclável e entrega a escolas, que os vende. Os valores arrecadados são usados na compra de livros para as bibliotecas das escolas. O projeto é responsável, também, pela divulgação de autores locais.

É uma coisa inimaginável, transformar lixo em livros, mas é o está sendo feito. Quantas outras idéias espetaculares como estas estão sendo colocadas em prática para colocar livros na mão de leitores e estudantes?

Luiz Carlos Amorim
http://br.geocities.com/prosapoesiaecia



quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Ilustradores famosos dos EUA: 13. Neysa McMein

Entre as duas capas de revistas que se seguem ficam 17 anos, já que a primeira é de 1917 (a alusão à aeronáutica rec~ém adquirida pela guerra é aqui tão evidente como a inclusão do nome de Sinclair Lewis na lista de articulistas) e a segunda, que contém visões de outras capas, é de 1934. Em ambas, Neysa McMein (1888 - 1949) deixou a sua ideia da mulher americana: bela, jovem, certamente mais prática que sonhadora, ideia com que ilustrou muitas e variadas capas de revista e apreciáveis anúncios publicitários, inseridos em publicações e cartazes (como uma famosa série "Palmolive" que se lhe ficou a dever).





Apesar dos referidos critérios (ou por isso mesmo) - e embora se não conheça a totalidade da obra - nas mulheres desenhadas por McMein, mesmo quando procura representá-las na antiguidade clássica ou no Egipto, a mensagem erótica está geralmente diluída por uma beleza que se aparenta fria. Uma das ligeiras excepções poderá ser encontrada na publicidade feita às meias "Humming Bird" num dos números de 1925 da revista "Vogue" (embora a "perna isolada" à direita, a preto e branco, "arrefeça" a intimidade - ou cumplicidade, como agora se diz - da cena representada) :


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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Colecção Berardo


Do que vi [no CCB] há obras de que gosto, há obras de que não gosto e há obras que não entendo. Destas últimas distingo duas classes: a das que me esforçarei por compreender e a das que não me esforçarei por compreender.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

M. C. Escher (1898-1972)

... e para que se não diga que, também na expressão gráfica, evito trazer aqui aquilo que especialmente gosto, reproduzo seguidamente a gravura "Varanda" do holandês Maurits Cornelius Escher [1].


Proponho-me também trazer, na primeira oportunidade possível, um breve comentário adrede feito à obra de um matemático americano (Hofstadter) que abordou, conjuntamente, as vias conceptuais expressas por Kurt Gödel, M. C. Escher e J. S. Bach [2] - demonstrando quanto têm de comum - da mesma forma que Gödel e Kelsen igualmente se intersectam, como procurei demonstrar um dia [3], pelo que este positivista do Direito poderia bem, por adição, transformar aquele trio em quarteto.

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[1] Que quem passe por Haia vá aos Correios Centrais para poder ver, em toda a sua extensão, uma das mais impressionantes obras do mesmo Autor, com o título "Metamorfose". Dentro do bom espírito mercantil holandês vendem-se aí reproduções de fragmentos (sectores) desse extenso trabalho - um verdadeiro "cadavre exquis" a solo e com a curiosa técnica do "enchimento ou divisão regular de superfícies" que Escher desenvolveu e apresentou em muitas das suas obras. Ver também, nesta modalidade, "Noite e Dia", um dos meus favoritos já aqui trazido em postagem de 21/6/2006. Uma "taxonomia" dos trabalhos de Escher pode abranger as seguintes dez categorias (apud sistematização desenvolvida no album "M.C.Escher: Gravura e Desenhos", editado pela Taschen / Público em 2004): primeiras gravuras; enchimento ou divisão regular do espaço (como já referido, incluindo cinco subcategorias: reflexões com escorregamento; figura como fundo; desenvolvimentos de forma e contraste; infinidades; e narrativas em imagens); espaços ilimitados; conflitos entre superfícies e espaços i.e. volumes (que incluem a "Varanda" aqui representada); círculos e espirais no espaço; reflexões (com duas subcategorias: na água; e em superfícies geométricas vg. esferas); inversões; poliedros (incluindo formas cristalográficas); relatividades; e construções impossíveis (incluindo os bem conhecidos "Belvedere" e "Queda de Água").
[2] Ver Nota 1 à postagem de 4/10/2005.
[3] Com aceitáveis consequências, procurei concretizar em "A Pirâmide de Kelsen e o Teorema de Gödel" a parte expositiva de um exame. A história está contada na já referida postagem de 4/10/2005. Infelizmente penso poder confirmar que as notas então preparadas para essa exposição muito provávelmente estarão hoje perdidas. Mas fica o título e a ideia...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O concerto de 12 de Janeiro em Almodôvar


Eram 130-150 pessoas presentes na Igreja de Santo Ildefonso, em Almodôvar, no 2º concerto do "Terras Sem Sombra", 4º Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo, iniciativa que mereceu - como foi referido nas alocuções preambulares - a maior qualificação do Ministério da Cultura e que se integra numa perspectiva inter-cultural e inter-religiosa que tem como fulcro o Mediterrâneo e as três culturas / religiões do Livro que na margem desse alfobre de civilizações se situaram. O variado programa, que se dá acima, foi interpretado pelo "Ensemble Hispânia", um singular conjunto de 4 músicos com assinalável curricula e extraordinário a-vontade demonstrado em interpretações vocais masculina (vg. "O vos omnes"), feminina (vg. "Cantiga de Santa Maria nº 159", "Lamma bada") ou dialogada (vg. "Romance do cativo") ou ainda exclusivamente instrumentais (vg. "Santa Maria nº7". "Gran consejo de los Santos"). Realce muito especial para "Ayyu-ha s-saqi", tradicional andaluza, que, na voz extaordinária de Susana Dinis Oom, intercortada pelos seus companheiros em coro, traz das profundezas do sec. XII um doloroso e sentido lamento que reduz a ciscos a efemeridade de quaisquer agruras individuais presentes, bem como para as duas canções da Beira Baixa acompanhadas pelo bater inquietante (e inquieto) dos adufes.

Que se afastem também as reservas e dúvidas que algumas pessoas encontram na expressão "música sacra" no designativo do Festival: não só os programas já realizados e futuros o permitem claramente afirmar como, no caso concreto do presente concerto, as duas últimas peças, cantos medievais de peregrinos catalães, trazem uma alegria participada pre-tridentina que se poderá paralelizar com o júbilo das actuais celebrações eucarísticas dos continentes africano e sul-americano.

Finalmente duas notas: a primeira quanto à qualidade dos locais escolhidos, não apenas pelo seu conteúdo patrimonial e histórico (como relembrado nas prédicas iniciais) mas, sobretudo, pelas suas excelentes qualidades acústicas; a segunda relativamente à brochura que reune já os programas e textos explicativos para a totalidade das sessões previstas e que é disponibilizada a um preço simbólico. Nesta, apenas um senão: a não tradução de textos inacessíveis, apresentados apenas numa tentativa de formulação fonética, como sucede com as peças "Lamma badda" e "Ayyu-ha s-saqi" do presente programa.
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domingo, 13 de janeiro de 2008

Luís Pacheco (1925-2008)


Luís Pacheco na capa de uma das suas obras [Ed.Estampa, Lisboa, 1972]

Morreu aqui perto, num lar do Montijo. Inexplicavelmente, por manifesta distracção minha, a notícia "passou-me. E assim eu, que há muitos anos não leio "periódicos FdS" ou, se quizerem por mais extenso, "de fim de semana", não pude, desta vez, resistir ao rectângulo da primeira página do "SOL" nº 70. de ontem, 12 : "A última entrevista de Luís Pacheco". A referência era clara e transcreve-se, com a devida vénia: "Deu uma entrevista ao SOL, em finais de 2007, e no princípio deste ano [precisamente no dia 5, véspera de Reis] morreu. Publicamos assim [diz o referido "SOL", remetendo para uma versão dulcificada na sua revista destacável, "Tabu", pp.36 a 47, e guardando para o seu "portal" electrónico a "versão original, incluindo expressões obscenas e insultuosas"] o último testemunho público de um escritor maldito que assume simbolicamente o valor de um "testamento". Pacheco viveu em situações degradantes, bem espelhadas na entrevista que contém relatos chocantes e linguagem insultuosa, mas tornou-se um autor de culto." Comprei o jornal numa Área de Serviço da A2, a caminho da madrugada alentejana na noite fria e sem estrelas que passou, e li a entrevista, entre dois cafés. Na ainda freirática e pretensamente aséptica sociedade portuguesa, Luís Pacheco teria necessariamente que ser olhado de soslaio, lido por muitos quase às escondidas, com o seu mérito de dizer o que queria e sentia no momento, com a língua viperina que fustigava inimigos e amigos, com páginas que um dia serão relembradas e que marcam verdadeiramente uma pedrada. Eu li-o - primeiramente surpreso com o estilo e o teor, depois interessado. E não posso deixar de lamentar que, após uma vida muito sua, mas que nunca negou (e a entrevista do "SOL" prova-o, tanto como o abanar da cabeça das "pessoas respeitáveis"[1], muitas delas com vislumbres de condescendência desdenhosa o prova também), o Libertino tenha deixado de passear pela Braga que descreveu como viu e que, no fundo, como ele viu e descreveu, nós muito continuamos - acima e abaixo - manifestamente a percorrer.

Ver http://youtube.com/watch?v=pKtNLnVpZ1g

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[1] Quanto a "pessoas respeitáveis", conceito agora suficientemente abalado por diversos comportamentos públicos e privados de pesonagens ditos e vistos até há muito pouco como acima de quaisquer suspeitas, não resisto a contar a história que me foi narrada por um excelente Amigo e que tem nomes que naturalmente se omitem. Algures na noite lisboeta, dois conhecidos "habitués" chegam à portaria de uma "boîte", hoje inexistente mas então na berra, com os pés relativamente molhados e evidentemente mal (ou bem) acompanhados. O zeloso porteiro, puxando ao lado o cidadão mais notório, disse-lhe em voz discreta: "Senhor ... (e coloque-se aqui o título profissional ou nobiliário que se desejar), o senhor desculpe, mas deveria evitar chegar aqui com essas companhias duvidosas...". "Duvidosas? - retorquiu o interpelado - Duvidosos poderão ser muitas e muitos dos que estão lá em cima. Mas quanto a estas não há quaisquer dúvidas: são mesmo pegas!"


sábado, 12 de janeiro de 2008

Ilustradores famosos dos EUA: 12. Jon Whitcomb

De acordo com um resumo da sua actividade, Jon Witcomb (1906-1988) [1] foi um prolífico desenhador que, como outros já aqui referidos, se dedicou à representação da figura feminina. A sua passagem pelo teatro de guerra do Pacífico também o marcou e, combinando ambos os aspectos, retratou frequentemente o regresso a casa dos militares e o amor dos reencontros, uma vez acabada a guerra e aberto o relativamente breve "tempo de esperança" que se lhe seguiu. Poder-se-iam dar diversos exemplos da sua devoção a caras bonitas, como na série de anúncios dedicados a um cosmético representando artistas de Hollywood ou mesmo, ainda que miniaturizadas, na série de anúncios que fez para a Cadillac [2]. Tal dedicação levou-o, inclusive, a publicar, na Cosmopolitan, um breve curso prático para o desenho de rostos atractivos. Penso, no entanto, que - sem necessidade de mais provas - o seu estilo fica bem definido pelo simples exemplo que se segue e a que se não pode negar a elegante insinuação do seu quê de "piquant".


Que tal?

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[1] Há vários John Whitcomb, nomeadamente ligados à interpretação bíblica. Aparentemente este tinha a sua forma própria de representar as belezas da criação.
[2] http://www.americanartarchives.com/whitcomb,j.htm

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O 2º Concerto da Série "Terras Sem Sombra"

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i.e. do 4º Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo. Reproduz-se acima o convite e recorda-se que será já amanhã, sábado, 12 de Janeiro, pelas 21:00 horas em Almodôvar. Note-se a preocupação expressa de proporcionar um encontro de culturas.
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quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Aponte para o Barreiro...

e o "Aerolisboa" na Margem Sul também! [1]

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[1] Horn! Há já mais de 10 anos (1997) tínhamos apontado isto... e levamos "porrada política" por o ter escrito!

(gravura do "Manual de Segurança na Operação de Guindastes", da Nova Zelândia)



"O Baú de Vime" - Historieta [1]

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"De dentro do baú de vime que deixou ficar na poeira do sótão retirei dois livros ao acaso. O primeiro era o "Quem Me Chama? - Guia do Catequista", datado de Lisboa e do ano da Graça de 1983, facto que me deixou algo perplexo mas que se pode enquadrar num já esquecido arroubo místico. O segundo era uma 2ª Edição da "Iniciação à Pesca", de Juan Nadal, editada pela Presença em 1980 e que, numa interpretação actualista e pragmática, já me foi dado entender melhor."
zm
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[1] Já publiquei aqui várias "short stories", denominadas "histórias curtas" ou "histórias breves", nem sempre muito recomendáveis mas que são verdadeiros esboços que se pretendem rápidos, "de duas pinceladas", ainda que possam servir para maior desenvolvimento oportuno. Esta é uma delas. Há, no entanto, algo a referir: nenhuma das traduções até agora usadas para "short story" me convenceu, pelo que tentei progredir algo na qualificação das mesmas peças sucintas. E esse algo é óbvio: "historieta". É o que eu uso aqui e é o que vou passar a usar...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Uma breve referência à comunidade "Amish"

... como visitada em Yoder, perto de Huntchinson, Kansas
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"We watch the past create the now
And wish to plant before we plow
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We hear "goodbye" in each hello
And wish to stay when we must go
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We seek for peace in time of war
And watch the rich receive the poor
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As day makes night a fugitive
The living dream, the dreaming live."
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versos da obra "An Amish Portait - Song of a People" com texto de Merle Good e fotografias (não incluindo a aqui representada) de Jerry Irwin
Posted by Picasa

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Alda Lara: : "Testamento"

Alda Lara

Uma das queixas que se me pode fazer e uma das queixas que eu me faço é que falo pouco daquilo de que de facto gosto. Há quem disso tenha feito estranho uso, em planos bem diferentes do que agora me traz aqui. Mas, de facto, examinando criticamente o conteúdo deste blogue, eu verifico que, por vezes, sou parco naquilo que mais gostaria de referir. Entre os autores de poesia, citarei Alda Lara. Dela falei em 2005, a 25 de Setembro, estava o blogue ainda verde-verde e nele postei o poema "Prelúdio" e dela, ou melhor, da sua poesia nunca mais falei. Recordou-me isso José Carreiro, a 11 de Dezembro do ano que recentemente passou,comentando aquela remota postagem, remetendo-me para
e referindo-me algumas das mais fortes vertentes que podem ser tidas em consideração num estudo da obra latejante de uma vida que acabaria por lhe ser tão curta, após o regresso à terra das suas acácias rubras que numa outra poesia, de 1948, saudava como desejo de nela fazer ouvir o grito de voltar. Agradeço o avivamento implícito dessa minha demora, que não é ingrato esquecimento de uma obra a todos os títulos notável. E oscilo na escolha. Selecciono o "Testamento", talvez dos poemas mais conhecidos; proximamente trarei outro e outro, que tantos bem merecem ser aqui recordados.


TESTAMENTO

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhamdo algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...

Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,

Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

Alda Lara

Benguela,1930 - Cambambe, 1962



segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Música na Poesia de Pessoa, um texto de Luiz Carlos Amorim

De Luiz Carlos Amorim, escritor e editor catarinense, recebi com autorização de publicar, um texto que muito agradeço e que me parece do maior interesse reproduzir aqui, para mais uma referência ou confirmação no rico universo pessoano (manteve-se, no texto, a grafia original):

"Garimpando pelos meus guardados, mais exatamente meus aposentados discos de vinil – não há lugar em apartamentos para se guardar qualquer coisa – achei mais uma relíquia. Primeiro foi "O Menino Poeta", vocês se lembram? Poesia de grandes poetas cantada e declamada para crianças desde a mais tenra idade.

Agora foi a vez um LP (que coisa antiga, não é?) com músicas cujas letras são poemas de Fernando Pessoa e seus heterônimos. O disco tem o título de "A música em Pessoa" e traz quatorze poemas musicados por Tom Jobim, Sueli Costa, Francis Hime, Ritchie, Milton Nascimento, Edu Lobo, Olívia Byington, Arrigo Barnabé, Dori Caymmi e Nando Carneiro.

Os poemas do grande poeta português são "O rio da minha aldeia", assinado por Alberto Caieiro, "Segue o seu destino", assinado por Ricardo Reis, "Glosa", "Meantime", "Emissário de um rei desconhecido", "Meus pensamentos de mágoa", "Saudade dada", "Na ribeira deste rio", "Cavaleiro Monge", "O menino de sua mãe", "Quem bate a minha porta", assinados por Fernando Pessoa, "Passagem das horas", "Cruzou por mim, veio ter comigo numa rua baixa", assinados Álvaro de Campos, ""Livro do desassossego", assinado por Bernardo Soares e interpretados por Tom Jobem, Nana Caymmy, Francis e Olívia Hime, Ritchie, Eugênia Melo e Castro, Marco Nanini, Edu Lobo, Olívia Byington, Arrigo Barnabé, Dori Caymmi, Vânia Bastos e Jô Soares.

É poesia cantada e declamada, uma seleção de grandes poemas do grande Fernando Pessoa e interpretações deliciosas de grandes cantores da Música Popular Brasileira e grandes atores, também.

Um disco eterno, para se ouvir e sentir. Sempre. Poder-se-ia dizer que é um livro sonoro, que nos possibilita apreciar a poesia universal de Pessoa e ao mesmo tempo a boa música de bons compositores. Um casamento perfeito.

O disco é de 1985, mas será sempre um disco novo, uma obra-prima que mais amantes da poesia e apreciadores da boa música devem ter a oportunidade de conhecer."

Luiz Carlos Amorim
http://br.geocities.com/prosapoesiaecia [1]

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[1] Nota do bloguista: Do maior interesse, conhecer e visitar o local aqui indicado. Volto à minha: temos uma língua riquíssima, falamos muito mas, sobretudo, lemos ainda muito pouco uns dos outros! Há tanto e tanto trabalho ainda a fazer, neste património comum. Obrigado pois por esta informação e referência. LdS


domingo, 6 de janeiro de 2008

Dia de Reis

De Filippino Lippi (1457 - 1504) "A adoração dos Magos" [1]:


De W. B. Yeats (1865 - 1939) "The Magi":

Now as at all times I can see in the mind's eye,
In their stiff, painted clothes, the pale unsatisfied ones
Appear and disappear in the blue depth of the sky
With all their ancient faces like rain-beaten stones,
And all their helms of silver hovering side by side,
And all their eyes still fixed, hoping to find once more,
Being by Calvary's turbulence unsatisfied,
The uncontrollable mystery on the bestial floor.

William Butler Yeats

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[1] Para uma visão iconoclasta, irónica e crítica da "Adoração dos Magos", apresentada com esse mesmo título nos nossos conturbados tempos, vide o trabalho altamente polémico do artista austríaco Gottfried Elnwein (n.1948), datado de 1996, publicado em diversos portais e blogues na "net" entre os quais eu destaco, inclusive por outras razões de manifesto interesse (como a maquiavélica axiomática de gestão, colocada a 28/9/2006...), a postagem de 2/9/2006 do blogue de Jose Sandoval que precisa e explicitamente o contrapõe à "Adoração" de Filippino Lippi, pintada 500 anos antes e acima mostrada:
(dando, na postagem imediatamente anterior, de 5/9/2006, mais do mesmo, com a Adoração dos Pastores). Sandoval assumiu a frontalidade de publicar ambos; eu - sem deixar de os referir - por manifesta opção própria não os mostro neste meu blogue. Para mais informações sobre Helnwein e o restante da sua extensa e muito comentada obra consulte-se o directório privativo:
seguindo as ligações nele referidas, e a desenvolvida entrada sobre este Autor em

sábado, 5 de janeiro de 2008

Três comentários breves


Petróleo acima dos 100 USD/barril

Não deêm convencimento imerecido ao Governo fazendo-o crer que teve alguma responsabilidade nisso...

Suspensão do Paris-Dakar 2008

Um tenebroso precedente. Teria sucedido assim se a partida fosse mesmo de Paris?

BcP

Berardo contra-Poder


sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Barreiro: vestígios do "canal" do antigo ramal ferroviário Barreiro-Seixal, junto à Recosta

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Vista para Nascente, da Avenida da Liberdade

Vista para nascente, de cima da ponte para peões da foto anterior
(ainda se vêem chaminés e fumos de fábrica; qualquer dia nem isso...)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O leão ensonado...

Estátua de Sá da Bandeira - Largo de D. Luís I - Lisboa

Um leão ensonado é bem diferente de um leão adormecido


quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Michael Caine (n.1933): uma reflexão para o Ano Novo transcrita no JN de hoje;

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"Vive a tua vida cada dia e não te preocupes com o amanhã nem, sobretudo, com o ontem. E o mais importante de tudo é nunca te preocupares com as coisas pelas quais nada podes fazer."


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Notícia, no mesmo Jornal, sobre o arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira e a sua obra:

Outra referência de hoje, no mesmo jornal (edição do Norte): a notícia sobre a inauguração da mostra e o lançamento do livro sobre a obra de Francisco de Oliveira Ferreira (1884-1957), que amanhã (dia 3) decorrerão na "Casa Barbot", Avenida da República, Vila Nova de Gaia - casa essa que, aliás, é uma das obras marcantes desse arquitecto que, nascido no Porto, se veio a fixar em Vila Nova de Gaia. Entre outras: o edifício da Câmara Municipal de Gaia, a Clínica Heliântia, em Francelos, "A Brasileira" no Porto, e o monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, em Entrecampos, Lisboa.

Vila Nova de Gaia, Pormenor da "Casa Barbot"
(Note-se o chocante confronto com o edifício ao lado...)
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terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Janeiro, nas "Les Très Riches Heures du Duc de Berry"

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Novo ano, novo mês...tudo retoma outra vez!