quinta-feira, 30 de abril de 2009

Memória de Indústria - 14: Vale de Cambra


Fábrica em ruínas, quase no centro urbano de Vale de Cambra. Repare-se no trabalhado do coroamento da chaminé. Cerâmica ou têxtil, quando terá deixado de o ser? Mais adiante, a caminho da saída para Oliveira, uma graciosa estátua da Indústria adorna um "chalet" da primeira metade do sec. XX - uma imagem adequada para a história da terra industrial arvorada em sede do concelho em 1926 e em cidade em 1993 e que, entre outras actividades (lacticínios, vitivinicultura, madeiras, p. ex.), continua a marcar, a nível internacional, no exigente campo da construção de equipamentos em aços especiais - a que as exigências da produção de derivados do leite e de vinhos deram origem.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Enraizadores - 1

.

Com a devida vénia ao Autor, Luís Carlos Elias (endereço em baixo) e ao portal e endereço de origem:Adicionar imagem
http://www.atelierdobonsai.com.br/enraizador.html

que sugiro visitem nas suas outras componentes, envio esta "receita" tal como fui informado, mas sem compromisso de sucesso ou insucesso. Chamo a atenção de todo e qualquer Leitor para o facto de ser brasileira a origem da mesma, pelo que será de ter em conta as necessárias adaptações a diferentes condições locais. A fonte é considerada fideligna, o produto é inócuo e o ensaio pouco caro. Vou ver se ainda salvo o meu botão de ouro (trepadeira) que trouxe de uma ridente vila beirã e que ia sendo comido a noite passada por um tenebroso helicídio gordo e manifestamente esfomeado, tipo caracoleta.O prognóstico é muito reservado, mas vai-se tentar. Vou colocar no blog.

"Luiz Carlos Elias
LUIZELIAS@aol.com
"Tiamina"
INTRODUÇÃO
Vários produtos são utilizados para enraizamento porém, nenhum tão formidável quanto a Tiamina - Vitamina B1. Quem já não fez um transplante de vaso e se deparou com aquela quantidade enorme de raízes. Sonho? Não, isto é a realidade graças a este enraizador combinado com um bom solo. Alguns Bonsaístas pensam que é um hormônio, adubo, etc.

  • 1. O que é a Tiamina?
Tiamina é a Vitamina B1, a mesma usada em seres homanos. Sua fórmula é:
3 - [(4 - Amino - 2 Metilpirimidina) Metil] - 5 - ( 2 - Hidroxietil) - 4 Metiltiazol Cloridrico Monocloridrato.
  • 2. Quais são suas indicações?
a) Alporquia e Estaquia
b) Recuperação de raízes após poda radicular (De raízes).
c) De uso eficiente quando usamos o escorredor de macarrão na recuperação das raízes.
  • 3. Em que formas ela (A Tiamina) se apresenta.
Para a Arte Bonsai o mais conhecido é o VitaFlor Raiz porém, existe na fórmula de alguns farmacos vendidos em drogarias, como o Benerva do Laboratório Roche, no Bequim, Berin, Betabion, Bivita, Benitex, etc. a presença da Tiamina. No Brasil encontramos a Benerva que vem em comprimidos de 300 mg.
Existe a possibilidade de mandarmos preparar em farmácias de manipulação o que sai bem em conta.
  • 4. Como usar o Benerva?
É simples, como já se sabe a concentração correta é de 0,04% na fórmula solúvel segundo o Institute American Vitamine. Sabendo que uma cápsula contém 300 mg fazemos a seguinte conta:
0,04% corresponde a 400 mg então,
para fazermos 1 litro teremos que ter 400 mg de Tiamina, assim:
400 mg - faz - 1 litro
300 mg - fará 750 ml
Para ficar mais compreensível, cada dois comprimidos podemos fazer 1,5 litro.
Para fazer a solução coloque o(s) comprimido(s) em um liquidificador com a quantidade de água necessária e bata até tornar-se uma solução homogênea (Igual).
Podemos pedir a um Laboratório que prepare esta solução:
Fazer 100 ml de solução de Vitamina B1 (Tiamina), a 40%, solúvel em água.

Como usar:

Cada "ml" da solução é diluída em 1 litro de água o que resulta em uma concentração de 0,04% considerada ideal.
Validade:
Pode ser estocada por 120 dias.
  • 5. Como utilizar?
Interessante, e mais econômico, é usá-lo 1 hora após a rega normal com água.
  • 6. Quais as vantagens?
São muitas, pois multiplicando a quantidade de raízes a árvore conseguirá fazer uma maior absorção de água e nutrientes o que implica em maior distribuição e mais rapidamente. Consequentemente nosso Bonsai terá como resultado um melhor desenvolvimento de toda a sua parte aérea.
  • 7. O quê devemos observar quando do seu uso?
Entendendo que a planta criará uma estrutura radicular maior, prestar atenção para a hora certa do transplante.
  • 8. Quais os cuidados na manipulação?
Nunca deixe a solução exposta a luz ou o frasco da mesma aberto. Respeite sempre a data de validade. Utilize sempre a solução preparada.
  • 9. Entre o comprimido e o produto preparado em Laboratório qual o mais barato?
O produto feito em Laboratório sai a R$0,33 o litro enquanto com comprimidos sai a R$0,44.
  • 10. Lembretes especiais.
a) Nunca usa a Tiamina em forma de xaropes, principalmente em alporquias.
b) Sempre guarde em lugares arejados e secos.
c) Faça a diluição correta pois, soluções mais concentradas não surtem mais efeitos.
d) Use no mínimo 3 vezes por semana.

Referências Bibliográficas:
* Jornal de Farmácia e Farmacologia 5,715,721 (1953)
* Index de Farmácia
* The Physicology of plant Growth and Development, M. Wilkins, Ed McGraw-Hill, New York, 1969, pp. 1-45
* Methods of Vitamin Assay, edited by the Assoc. of Vitamin Chemists (Interscience, New York, 2nd ed 1951)

Matéria do INFORMATIVO da Ribeirão Preto Bonsai Kai de MARÇO/2000"

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Imagem: agradecendo a http://www.baixaki.com.br/imagens/wpapers/BXK106277_raizes800.jpg

- - - « « « «» » » » - - -

ADENDA: ver postagem de 3 Maio sob a epígrafe "Enraizadores - 2 : Tiamina"

terça-feira, 28 de abril de 2009

Uma questão de Direito Constitucional

"The offside rule and offside trap in Soccer" [1]
.
Pode um qualquer Partido, em ano de eleições. apresentar um cartaz eleitoral que permita que um outro qualquer Partido, mas adversário político daquele, resulte - mesmo que indirectamente e contra-vontade - eleitoralmente favorecido?
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[1] Imagem: com agradecimento a www.offside-ref.co.uk

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Inversão de Valores: carta de uma Mãe para outra Mãe (assunto verídico)

"A Mulher de Lot"
Uma formação natural na costa jordana do Mar Morto [1]

Do sempre atento Colega e Amigo Carlos Gradiz recebi este chocante documento proveniente do Brasil e que se diz ser verdadeiro. Considero útil transcrevê-lo, sublinhando a mensagem que contém e salientando a confusão de valores que, por bem intencionados e necessários a uma vivência democrática que possam ter sidos na sua criação, podem levar a pasmosas situações de inversão dos mesmos.
O problema, numa sociedade evolutiva e cheia de contradições, tem sempre de se formular no confronto dos custos sociais/benefícios sociais em termos amplos e não economicisticamente restritos, ou seja no dilema de Lot: vale a pena correr n, ou n+1, ou n+2 ou etc más utilizações de valores (que o são as inversões dos mesmos) se pelo menos num só caso alguém meritório possa deles beneficiar, quando quantos outros deles abusam ou os maltratam. A questão é: onde está o "limite de n"?

"INVERSÃO DE VALORES - CARTA DE UMA MÃE

*Carta enviada de uma mãe para outra mãe em São Paulo, após um noticiário na TV:

De mãe para mãe...

'Vi o seu enérgico protesto diante das câmaras de televisão contra a transferência do seu filho, menor, infractor, das dependências da prisão em São Paulo para outra dependência prisional no interior do Estado de São Paulo.
Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter, para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela mesma transferência.
Vi também toda a cobertura que os média deram a este facto, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação que você, contam com o apoio de Comissões Pastorais, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, ONG's, etc...
Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto. Quero, com ele, fazer coro. No entanto, como verá, também é enorme a distância que me separa do meu filho.
Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo.
Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual.
Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou cruelmente num assalto a um vídeo-clube, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite.
No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e fazendo carícias ao seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores na sua humilde campa rasa, num cemitério da periferia...
Ah! Já me ia esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa, pode ficar tranquila, pois eu estarei pagando de novo, o colchão que seu querido filho queimou lá, na última rebelião de presidiários, onde ele se encontrava cumprindo pena por ser um criminoso.
No cemitério, ou na minha casa, NUNCA apareceu nenhum representante dessas 'Entidades' que tanto a confortam, para me dar uma só palavra de conforto, e talvez indicar quais "Os meus direitos".
Para terminar, ainda como mãe, peço "por favor":
Faça circular este manifesto! Talvez se consiga acabar com esta (falta de vergonha) inversão de valores que assola o Brasil e não só...
Direitos humanos só deveriam ser para "humanos direitos"!"

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Gravura com agradecimentos a
http://mw2.google.com/mw-panoramio/photos/medium/3389777.jpg
e a
http://www.istockphoto.com/file_thumbview_approve/3992534/2/istockphoto_3992534-the-wife-of-lot-jordan.jpg
[2] Com reserva quanto à última frase.

domingo, 26 de abril de 2009

De salão

Embora já bastante divulgada, há quem ainda a não conheça (eu, por exemplo, até ontem!) e quem não tenha chegado à conclusão. E a (im)pertinente questão é esta: se alguém dissesse a alguém que uma das oito moedas da emissão corrente da zona Euro (2 €, 1 €, 50 cents, 20 cents, 10 cents, 5 cents, 2 cents, 1 cent) é feminina, qual seria a apontada? Responder sem corar!
.

sábado, 25 de abril de 2009

C'est le temps des cerises...

.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ufff...

.
E tudo carimbadinho, para quem não saiba ou tenha já esquecido!
.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Proteladores...

.

.
Mercê dos "amadores da morte" ou das circunvoluções da própria crise, há sintomas de que a insegurança reinante (não se assobie para o ar! ela existe!) é acompanhada por um notável conjunto de medidas periféricas que invocam a protecção do cidadão em campos diversos mas que resultam por vezes em generalizada patetice, na vergonhosa desprotecção da vítima ou em demoras e decisões arbitrárias e unilaterais de entidades envolvidas - quando não em perfeitos convites para contornar a lei. E não me estou a referir à ASAE, cuja acção entendo.

Curiosamente, para além de exageros que - paradoxalemente face aos anunciados propósitos - nos vão aproximando dum exercício de estado policial em campo errado, pelintra e europrovinciano (para não dizer euroboiardo), um dos meios usados para lesar o direito dos cidadãos é pura e simplesmente PROTELAR. Ou usar processos que a isso conduzem. Tendo criado situações indevidas, ou exageradas, ou incómodas - o poder, ou quem como tal se assume, enfrenta o cidadão comum, cada vez mais despido de meios de defesa mesmo em situações corriqueiras (a menos dos famosos livros de reclamações sempre entregues com má cara e que, até esses, já vão dado lugar num devagar-devagarinho a não-respostas ou a respostas PROTELADAS) e coloca-o perante uma realidade factual: ou recorre a meios policiais desmotivados, quando aplicáveis, ou recorre às lentas vias judiciais (e quem o pode fazer, com o aumento das correspondentes taxas e encargos?) ou então, silenciosamente, espera por nada, num ambiente de romance russo do século XIX.

E mesmo em situações gravíssimas, como o caso dos "despedidores" que usam a crise a seu bel-prazer para a agravarem e que até se gabam disso e do exercício discricionário do que assumem ser seus direitos (que a descarga do fluxómetro lhes volte a entrar pela pia), a impunidade e o PROTELAR andam de mãos dadas.

Procure-se compreender quem anda a sabotar isto tudo e o que, como reflexo de situações de crise, animadamente uns procuram pelo desânimo ou manipulação de outros [1][2]. Há certas classes e corporações que, pela sua motivação, ou pelo seu maquiavelismo, ou pela sua inércia, ou pela sua inépcia, ou por figuras sinuosas a que os termos jurídicos nos vão habituando (como seja a desastrada expressão de "participação económica em negócio") sistematicamente o fazem. Basta abrir o jornal ou olhar em volta.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Há pessoas que quando ouvem falar em Karl Marx se benzem e arrepelam. Há outros que - ignorando o valor indiscutível do seu contributo - dizem: "esse já é do passado" e caem exactamente no erro de lhe recusar qualquer leitura actualista. No entanto não ficaria mal recomendar-lhes um pequeno passeio e uma larga reflexão sobre as formas de alienação e manobrismo político que uma (re)leitura do famoso ensaio "O 18 de Brumário de Luís Bonaparte" permite reconhecer. Uma versão em em Português deste texto encontra-se em http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/brumario/index.htm(com a desvantagem de exigir algum conhecimento da história política da França no sec. XIX , mas que esta edição contorna com detalhadas explicações e índices de referência - e o essencial está lá) . E nunca esquecer que, como do mesmo consta (leia-se no singular ou no plural), "não se perdoa a uma nação ou a uma mulher o momento de descuido em que o primeiro aventureiro que se apresenta as pode violar". Já tivemos forrenta anos disso, para recusar tentações que, por vezes, se ouvem ou lêem por aí.
[2] Regista-se ainda a desgrenhada aparição de algumas carpideiras que, também por aí, soluçam e mandam bocas foleiras enquanto esquecem o papel que poderão ter tido na desmobilização produtiva do País e na perda flagrante de oportunidades de remate em frente a balizas. A noção de dependência e de independência tem de ser tida em conta desde a experiência da fábrica de relógios da Caparica e da produção escandinava de camisas nos concelhos ribeirinhos de sul do Tejo: numa noite desfez-se a feira e daquilo só ficou a memória (e algumas indemizações recordadas em pichagens como faltosas). Uma empresa que utilize tecnologias (mesmo de ponta) e recursos importados mas que não crie "escola" e não passe de uma mera utilização de mão-de-obra barata ou que se mostre como simples e localizado elo numa processo de transformação global que não controla é, em termos de dependência e vulnerabilidade, o que se vê em diversos exemplos correntes; mas o que sucedeu a recursos naturais portugueses que poderiam ter sido transformados e exportados em produtos com razoável valor acrescentado (e não expedidos em bruto como qualquer produtor terceiro-mundista de bananas antes da globalização)? E a nossa principal indústria pode manter-se como caliça e betão a preços especulativos? Brincamos!
.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Apresentação de um livro

Falávamos da apresentação recente de um livro: seca, fria, conduzida sem entusiasmo por alguém que teria folheado o livro que ia apresentar entre as estações de metro da Baixa-Chiado e do Campo Grande, em hora de afluência (sem pausa-café na Rotunda). Descoroçado autor...

Tive que recordar, em termos de bem-humorada compensação, uma outra originalidade margem-sul, já histórica mas surpreendentemente verídica: a apresentação de um livro sem livro. Melhor ainda!
.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Benfica-Real Madrid

.
Recordo uma conversa já há anos escutada à porta da Câmara local, entre dois insignopatentes benfiquistas funcionários da mesma, em noite de desafio F. C. Porto - Real Madrid. Dizia um deles, aparentemente (mas só aparentemente) penalizado: "Pois é! Hoje à noite lá teremos que ir torcer pelo Real Madrid!"
.
E se recordo isto, face a um cartaz que vi hoje, é para concluir que sapos também se engolem e que eu, que com excepção das que têm penas e bico e que nasceram de ovos, tenho um certo horror às águias simbólicas, sejam as romanas, as do Corso, as do Adolfo, sejam as carecas das Rochosas, seja todo o estilo de malfadadas bicéfalas, serei - sem dúvida alguma - um transitório mas dedicado torcedor por uma vitória benfiquista sempre que os "papoilas saltitantes" (piçarral gorjeio, bem mais simpático que o apodo de "lampiões") possam voltar a jogar (não se sabe bem quando, mas isso já não é problema meu) contra o Real Madrid ou qualquer outro similar, seja ele donde for desde que para lá da fronteira do Caia.
.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Outra imagem de Santa Bárbara

.

Local: Convento de Arouca, à esquerda de quem entra pela porta lateral.
Posted by Picasa

domingo, 19 de abril de 2009

O massacre da Arrifana (1809-04-17) - 3


(conclusão)

Na revista "Villa da Feira - Terra de Santa Maria", Ano VI, nº 18 (Fevereiro 2008), pag. 87 a 89, AUGUSTO TELMO publicou sobre assunto o artigo "Um Padrão Histórico em Arrifana de Santa Maria da Feira" em que, além de outras indicações bibliográficas, anunciava a intenção de, no ano de bicentenário (que é este), publicar um livro sobre este tema.

No mesmo número desta revista vem também publicado um artigo de Armando de Sousa e Silva, sobre um outro desmando sangrento perpetrado pelos franceses no seu (breve) incurso pela margem sul do Douro durante a 2ª Invasão. Disso se falará a 11 de Maio.
.

sábado, 18 de abril de 2009

O massacre da Arrifana (1809-04-17) - 2

(Continuação)

Convirá conhecer como, na pag. 54 das "Memórias do Marechal Soult - Sobre a Guerra em Portugal e Espanha", recentemente publicado pela Livros Horizonte (Lisboa, 2009), o Duque da Dalmácia descreve o acontecimento do seguinte modo que é, certamente, parcial e tendenciosamente justificativo, omitindo os pormenores mais sórdidos (no modelo "sujo" que os Desastres, de Goya não esconderam e que regressa sempre a qualquer guerra):

"Era certo que existiam dificuldades consideráveis a vencer. Mas não as olhava como inultrapassáveis. Tudo parecia possível com soldados como os meus, desde que pudesse contar com os apoios que me eram prometidos pelo Imperador.

O general Franceschi, encarregado de bater com a sua cavalaria o caminho para sul, não se deparou com nenhum obstáculo até ao vale do Vouga, onde encontrou as povoações desertas. Os habitantes armados, reunidos nos bosques e nas montanhas, desciam em grande número para atacar a nossa guarda avançada. Foi preciso desencadear várias operações para dispersar estes agrupamentos. A presença de alguns milhares de milicianos de um regimento de linha e de levantamentos consideráveis de camponeses, o todo comandado por oficiais ingleses e reunido na margem esquerda do Vouga, constituía uma ameaça permanente. O anúncio constante da chegada a Coimbra do exército inglês encorajava os insurrectos. Foram audazes a ponto de interceptarem momentaneamente as comunicações com o Porto, atacando 0 31.°, posicionado em escalões para manter esta ligação.

A 12 o chefe de esquadrão Lameth, ao passar com um destacamento em S. João da Madeira, foi surpreendido por um destes bandos e foi morto juntamente com dois dos seus dragões. O tenente Choiseul, ajudante de campo do general Franceschi, foi preso e despojado, mas conseguiu fugir depois. A perda de Lameth foi muito sentida pelo exército; este prometedor jovem oficial tinha-se coberto de glória em vinte acções diferentes durante a campanha e tinha merecido as graças do Imperador.

Assim que soube do infeliz acontecimento, dei ordens ao general Thomières para investir sobre Arrifana e S. João da Madeira, a exigir que os assassinos fossem entregues para serem fuzilados e os respectivos cadáveres expostos, mandar queimar as suas casas e fazer reféns. Esta operação foi perfeitamente conduzida. Franceschi, com quatro companhias carregou sobre um enorme grupo, dispersou-o e matou 150 homens. No dia seguinte, avançando sobre a sua direita ate à foz do Vouga, matou ao inimigo mais de 200 homens e restabeleceu a calma neste vale.

Desde então, a cavalaria ligeira postada sobre o Vouga com algumas companhias não tornou a ser perturbada por franco-atiradores. Apenas teve que se haver com o inimigo na margem esquerda, onde se concentravam entre 10 000 a 12 000 homens."

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

NOTA: Este general Thomières, feito barão pelo Corso, tinha como nome completo Jean Claude Barthelémy Thomiéres e fora - na 1ª Invasão - adjunto de Loison, o famigerado "Maneta", repartindo com este a merecida má-fama. Conta-se dele um episódio pícaro sucedido então em Peniche, ao confundir o "círio da Senhora dos Remédios" com forças inglesas vd.
Os seus descendentes são hoje vinhateiros em Albi (http://www.baron-thomieres.com)

(continua)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O massacre da Arrifana (1809-04-17) - 1

O obelisco aos mártires da Arrifana [2]

"O Massacre em Arrifana, Feira

MORTOS DE REPENTE PELOS FRANCESES

Texto de Suzana Faro e Joel Cleto [1]

Na madrugada de 17 de Abril de 1809 o exército francês cerca e toma de assalto a pacata povoação de Arrifana. Quem oferece resistência ou ensaia a fuga é morto a tiro, à coronhada ou trespassado pelos sabres e baionetas dos soldados de Napoleão. Grande parte da população procura refúgio no interior da igreja que, no entanto, acaba por se revelar uma verdadeira ratoeira: os franceses obrigarão todos os homens válidos a saírem do templo, seleccionando em seguida um em cada cinco. Os “quintados” (assim ficaram conhecidos) são de seguida fuzilados pelos invasores. Quando estes partem deixam atrás de si a povoação em chamas e, empilhados no local do massacre, dispersos por campos e caminhos de tentativa de fuga e pendurados de cabeça para baixo em várias árvores, cerca de 70 mortos.

A forte resistência popular ao exército francês invasor foi um dos factores mais característicos da Guerra Peninsular. As populações portuguesas e espanholas foram, com efeito, responsáveis por constantes e hostis acções em relação às tropas napoleónicas. E se essa oposição foi muitas das vezes “passiva” e materializada no abandono das povoações e propriedades e na destruição dos bens que, de algum modo, pudessem servir ao inimigo, não é menos verdade que esta resistência assumiu crescente e correntemente facetas bélicas. Multiplicavam-se, na realidade, as emboscadas e pequenas acções militares que, tanto ou mais do que fragilizar o ocupante pelas baixas que provocavam, o desmoralizavam dado o constante clima de medo pelo inesperado em que as tropas viviam. De resto, vários estudiosos têm defendido que foi com a Guerra Peninsular que a expressão “guerrilla” (pequena guerra) adquiriu o significado de resistência popular contra um invasor ou inimigo do povo pelo qual é hoje universalmente reconhecida.

Muitas vezes, contudo, as emboscadas sobre o exército francês acabaram por o motivar para duras acções punitivas de vingança sobre as populações. Foi o que aconteceu em Arrifana, durante a 2ª Invasão Francesa, em 17 de Abril de 1809.

Tudo começou poucos dias antes quando o tenente-coronel Lameth, ajudante de campo do General Soult que comandava esta invasão e desde 29 de Março ocupara o Porto, parte desta cidade, acompanhado por outros cavaleiros franceses, levando consigo ordens de Soult para as tropas estacionadas junto ao Vouga.

Não obstante a sua reconhecida competência, em Riba-Ul, Oliveira de Azemeis, este oficial francês e os seus companheiros caíram numa emboscada de paisanos encabeçada pelo chefe da guerrilha de Arrifana Bernardo António Barbosa da Cunha, um dos mais importantes morgados da região que, na sequência da invasão francesa, havia juntado os seus criados e os mancebos vizinhos, dera-lhes instrução militar, e organizara assim um grupo de guerrilheiros que repetidamente emboscava as tropas inimigas que aqui passavam para a frente do Vouga ou regressavam ao Porto.

Face à resistência oferecida por Lameth é o próprio Barbosa da Cunha que o mata a tiro de espingarda. Dois outros franceses morrem também na sequência deste embate, mas os restantes conseguem escapar e, com eles, segue a denúncia dos autores da emboscada.

A vingança do general Soult não se fará esperar. E assim, na madrugada de 12 de Abril, as tropas napoleónicas, comandadas pelo general Thomiers [3], escreverão mais uma página negra da história das invasões francesas. Cercada e tomada de assalto a pacata povoação de Arrifana, local de origem da maioria dos elementos da guerrilha de Barbosa da Cunha (que consegue, no entanto escapar, juntamente com a maioria dos seus homens), assistir-se-á em seguida a uma bárbara carnificina. Quem resiste ou procura fugir é morto a tiro, à coronhada ou trespassado pelos sabres e pelas baionetas dos invasores. São poucos, no entanto, estes mortos, se comparados com o número de homens que morreriam poucas horas depois. O cenário do que se passou é dantesco mas narra-se em poucas palavras: porque para aí foram empurrados pelas tropas ou porque aí procuraram refúgio, grande parte da população concentra-se no interior da igreja que, rapidamente, se transforma numa verdadeira prisão, de onde é impossível fugir. Os franceses obrigarão então todos os homens válidos a saírem do templo, seleccionando em seguida um em cada cinco. Os “quintados” (assim ficaram conhecidos) são levados para o campo da Buciqueira, entre a Arrifana e S. João da Madeira, e de seguida fuzilados. Lado a lado tombam pais e filhos, irmãos e, pelo menos, 32 homens casados e 12 viúvos. E porque cinco dos infelizes sobreviveram ao fuzilamento, foram mortos posteriormente no lugar onde a guerrilha havia abatido o oficial francês Lameth e deixados, durante vários dias, pendurados de cabeça para baixo em cinco carvalhos que aí existiam.

Foram pois, muito poucos, os que tiveram a sorte do chapeleiro Gaspar que, embora fizesse parte dos “quintados”, não foi atingido no fuzilamento deixando-se, no entanto, cair entre os mortos ensanguentados e, com as mãos atadas, esperar pacientemente pela noite para fugir.

Não se sabe correctamente quantas pessoas morreram nesse dia. Um estudo recente (GUIMARÃES e outros 1997) indica de uma forma clara que só na freguesia da Arrifana os Registos Paroquiais referem 67 óbitos na sequência da intervenção francesa. A estes haverá, no entanto, que acrescentar outros que, feridos de morte, acabam por se refugiar e falecer noutras paróquias ou o caso de algumas vítimas que, por serem de outras povoações vizinhas, foram transportadas pelos seus familiares para as suas terras onde foram sepultadas e registado o seu óbito. Embora reconheça que, em resultado do desnorte que terá atingido as populações e os seus párocos durante os dias seguintes, se detectem alguns registos de óbito repetidos, Saúl Valente havia salientado já em 1937 que entre as vítimas do fuzilamento se encontram, além dos homens da Arrifana, 2 de Mosteirô, 1 da Vila da Feira e 4 de S. João da Madeira. De resto, sabe-se que oito das vítimas foram enterradas nesta última localidade.

Curiosa é a expressão utilizada pelo pároco de Arrifana nos seus registos. Querendo deixar bem marcada a memória da matança substituiu, nos já referidos 67 óbitos desse dia, o corrente “faleceu da vida presente” por um repetido “morto de repente pelos franceses”, que o mesmo é dizer fuzilados ou, como poucos anos depois (1822) lembraria umas alminhas ainda existentes no centro da Arrifana: “arcabusados pelos franceses”.

Como chegar

O melhor acesso ao centro da Arrifana, onde encontraremos os monumentos evocativos dos acontecimentos de Abril de 1809, é a partir da Estrada Nacional nº1 que, de resto, atravessa esta vila do concelho de Santa Maria da Feira. O leitor encontrará placas indicando o centro assim que entrar na povoação. Esta localiza-se logo a seguir a S. João da Madeira, se viaja de sul, ou de Escapães, se vier no sentido contrário. Não há dificuldades de aparcamento automóvel junto dos monumentos que seguidamente lhe sugerimos que visite.

Como ver

Os mártires da Arrifana são, ainda hoje, uma referência bem viva na localidade. São três, no entanto, os monumentos que sugerimos ao leitor que deseje contactar mais de perto com a memória deste episódio sangrento. Desde logo a igreja paroquial, no centro da vila, que através de uma já antiga inscrição colocada na sua fachada lembra que “(...) refugiando-se o povo n’esta egreja aqui foi morto em grande numero.”

Saindo pelas traseiras da igreja e subindo o leitor até ao Largo da Guerra Peninsular, aí encontrará o Monumento aos Mártires de Arrifana: um obelisco granítico, com mais de oito metros de altura, inaugurado em 1914 e da autoria de Domingos Maia, um artista local. O escultor José de Oliveira Ferreira, autor do famoso monumento dedicado à Guerra Peninsular no Campo Grande, em Lisboa, é o autor do painel em bronze que representa o fuzilamento de 17 de Abril de 1809, visível numa das faces do monumento, e aí colocado em 1935.

A poucas dezenas de metros do obelisco, classificado como “Monumento Militar” poucos meses depois da sua inauguração, o leitor poderá contemplar aquela que é a mais antiga referência evocativa e monumental dos acontecimentos que narramos, mas também a mais popular e, ainda hoje, a mais acarinhada: as alminhas da Arrifana, datadas de 1822. No seu interior um retábulo naif retrata a cena do fuzilamento e ostenta a seguinte legenda: “PELAS ALMAS DOS NOSSOS IRMÃOS PATRICIOS/ QUE MORRERAM NESTE SITIO ARCABUSADOS PELOS FRAN/ CESES NO ANO DE 1809 P.N.A. M.”. Trata-se de um segundo retábulo, feito já no século XX, que substituiu e procurou copiar o original que, bastante degradado pelo passar dos anos, se encontra na Biblioteca dos Bombeiros Voluntários da Arrifana.

Para saber mais

Gonçalves GUIMARÃES, Sérgio COELHO, Felicidade FERREIRA - “Os Mártires de Arrifana. Memória da Guerra Peninsular”. Arrifana: Junta de Freguesia, 1997, 127 p.

Saúl VALENTE – “Terras da Feira. Notícias e Memórias da Freguesia de Arrifana de Santa Maria”. Coimbra: Coimbra Editorial, 1937."

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Imagem: em http://arrifana.blogspot.com/2009/03/historia-das-invasoes-francesas-em.html

[2] Texto: com vénia a Joel CLETO e Suzana FARO- "Massacre em Arrifana, Feira. Mortos de repente pelos franceses" in O Comércio do Porto. Revista Domingo, Porto, 23 de Janeiro 2000, p.21-22 ; vd. http://joelcleto.no.sapo.pt/textos/Comercio/MassacreemArrifana.htm

[3] De facto: Thomières

(continua)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Um ensaio de Susan Sontag

.

Não sou o dominical Prof. mas vou citar um livro que actualmente leio e que é de uma das minhas Autoras favoritas (pena ter morrido). Trata do horror da guerra e do valor e sentido da imagem, levada como espectáculo à contemplação no écran de cada um e do seu papel na narração (e valoração) dos acontecimentos de hoje. Lê-se depressa e supera em valor o tempo da leitura. Editado em Lisboa pela "Gótica" em 2007 já vai, no meu exemplar, em 3ª edição. Tenho outro livro para citar, muito curioso aliás, mas isso fica para mais tarde. "Até já!", como dizem os "vozeiros" de uma conhecida rede sem fios.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Michel et copains: allez vous faire cuire des oeufs!

.

Fonte: Pública 2007.12.30 apud obnoxio.weblog.com.pt
.

terça-feira, 14 de abril de 2009

"O Príncipe" revisitado

.

Circunstâncias de itinerário levaram-me, em pouco tempo, a consultar a correspondência de uma Câmara Municipal, idem de um Governador Civil e, por acréscimo, diversas pastas do Máximo Decisor daquela era, todos referentes ao período 1940-1950 - incluindo, a propósito duma remodelação governamental (1949), a vasta correspondência a este (espontaneamente?) dirigida, qual núcleo atómico, pelos mais predilectos (ou não) e conhecidos (ou sim) electrões que faziam nuvem à sua volta. E se no primeiro e segundo casos ressalta o apertado controle político que era exercido e feito exercer dia-a-dia, acto-a-acto, quase milimetricamente, nos mais variados níveis da escala dos poderes investidos (ou a investir, ou a não investir, ou a retirar) em sujeitos ou instituições afinal passivos, no terceiro caso encontram-se os mais surpreendentes comportamentos, que vão desde o rastejar qual carpete de cairo ao emproar do cadeirão estofado - todos escrevendo, todos sugerindo e citando para o "boss" (que parece manter um grave silêncio enquanto sublinha frases, a lápis grosso, aqui e além) as incapacidades (mais frequentemente) ou capacidades (menos frequentemente) que atribuíam a este ou aquele presuntivo "designável" para este ou aquele disponível posto (formando até elencos e não deixando alguns de, habilmente, arguir em causa própria!). Surpreendente! "O Príncipe" feito "reality show"! E não há quem publique aquilo? [1]

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[1] Jenner não perderia pitada! Para quem queira fazer uma "visitinha" TT in AOS/CO/PC-3K.
.
Imagem: http://thevespiary.com

segunda-feira, 13 de abril de 2009

E por falar em ovos...

.

A "dança dos ovos", por Pieter Aertsen (1509-1575)
[que se mostra no Rijksmuseum, em Amsterdam]

.

domingo, 12 de abril de 2009

Outro dos ovos de Páscoa de Fabergé

Criados para a corte russa

(para uma referência anterior, ver neste blogue a postagem de 16 de Abril de 2006 )

sábado, 11 de abril de 2009

Sugestão perfeita para um Sábado de Páscoa

.

.

Se já a referi antes, não me arrependo de repetir a proposta.
.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

6ª Feira Santa


Como tem sido frequentemente assinalado, a principal intenção do autor deste quadro, saído do pincel extraordinário de Jerónimo Bosch, reside menos na sofredora imagem de Cristo, partilhada em normalidade com Dimas, o Bom Ladrão, e com a própria Verónica, e mais na brutalidade expressa nos que os rodeiam e insultam.
.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Outras blogaláxias - 1: os trabalhos de "Mnemonix"

.
O "74" entra nisto!

Na mensagem de 5 do corrente tive o prazer de ter a visita e o comentário de "Mnemonix" que, como eu (e por isso o postei), achou beleza no trabalho de Capuletti. E, como faço sempre nestes casos, fui visitar o visitante - tendo encontrado uma pessoa ligada à Química, alegadamente localizada na Califórnia e com uma extraordinária - digo, extraordinária - representação da tabela periódica, que Mendlejeff certamente gostaria de ter visto. Consegue "Mnemonix" tornar palatável uma apresentação química que muitos diriam fastidiosa e encontra mesmo uma "personalidade" para cada elemento da tabela. De visitar, pois: http://atomfamilies.blogspot.com e inclusive de ver os "science links" que esse blogue por sua vez sugere.

Eu, por agora, continuo às voltas com os malefícios do 74, o tal "escuma de lobo" (em Alemão) ou o "pedra pesada" (em Sueco). Coisas da vida...

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Imagem de: www.surplusequipment.com.au/specials.htm
.


quarta-feira, 8 de abril de 2009

Uma visita a uma canção de Georges Moustaki


... que Serge Regianni também cantou: "Ma solitude". A 23 de Dezembro de 2006 postava eu, neste blogue, uma canção de Bécaud: "La solitude ça n'existe pas". Vieram agora lembrar-me, por referência ao YouTube [1], que o mesmo processo (ou sentimento) poderia ser olhado numa diferente perspectiva que, porque resignada, afastava liminarmente a afirmação frontal da sua inexistência. Que se confrontem as canções e as letras - e que se constate sobretudo como, para podermos admitir a afirmação de Moustaki (contraposta à de Bécaud), teremos também de admitir que muito desse processo dramático e tão difundido no mundo de hoje pode ser construído (ou destruído) pelas nossas próprias mãos. Estas, comandadas pela nossa também própria cabeça, é que fazem (ou desfazem) o que somos. Mas tudo isto não passa de palavras de canções, ou de palavras entre canções que já valeram bem mais que um tostão - e "palavras leva-as o vento"... (e tanto é assim que há ainda Léo Ferré [2] numa outra glosa do mesmo mote, que também vale a pena ouvir).


MA SOLITUDE


Pour avoir si souvent dormi
Avec ma solitude
Je m'en suis fait presqu'une amie
Une douce habitude
Ell' ne me quitte pas d'un pas
Fidèle comme une ombre
Elle m'a suivi ça et là
Aux quatre coins du monde

Non, je ne suis jamais seul
Avec ma solitude

Quand elle est au creux de mon lit
Elle prend toute la place
Et nous passons de longues nuits
Tous les deux face à face
Je ne sais vraiment pas jusqu'où
Ira cette complice
Faudra-t-il que j'y prenne goût
Ou que je réagisse?

Non, je ne suis jamais seul
Avec ma solitude

Par elle, j'ai autant appris
Que j'ai versé de larmes
Si parfois je la répudie
Jamais elle ne désarme
Et si je préfère l'amour
D'une autre courtisane
Elle sera à mon dernier jour
Ma dernière compagne

Non, je ne suis jamais seul
Avec ma solitude
Non, je ne suis jamais seul
Avec ma solitude



- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] http://www.youtube.com/watch?v=QvFLBs9S8FY
[2] http://www.youtube.com/watch?v=UuHDceDUSyU

(redigido em Janeiro de 2008)


terça-feira, 7 de abril de 2009

Subir n(est)a vida...

... e, se há distracção, descer na outra!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Montanha

.

Subir uma montanha é ver que outra montanha mais à frente espera ser vencida; só no mar ou na planura imensa o horizonte se acalma... até que, mesmo aí, desponte o outro lado.

Karl Meulens, "L'Office de la Distance" (em tradução algo livre)

domingo, 5 de abril de 2009

José Manuel Capuletti (1925-1978)

José Manuel Capuletti, "O Canal"

Espanhol, surpreendentemente pouco conhecido e pouco falado.
.

sábado, 4 de abril de 2009

Justiça e Força, apud Blaise Pascal

Blaise Pascal, por Philippe de Champaigne
.
Justice, force.—Il est juste que ce qui est juste soit suivi, il est nécessaire que ce qui est le plus fort soit suivi. La justice sans la force est impuissante; la force sans la justice est tyrannique. La justice sans force est contredite, parce qu’il y a toujours des méchants; la force sans la justice est accusée. Il faut donc mettre ensemble la justice et la force, et, pour cela, faire que ce qui est juste soit fort, ou que ce qui est fort soit juste.
.

Justiça e Força– É justo que o que é justo seja seguido, é necessário que o que é mais forte receba obediência. A justiça sem força é impotente; a força sem justiça é tirânica. A justiça sem força é contrariada, porque existem sempre malfeitores; a força sem justiça torna-se condenável. Há pois que juntar a força com a justiça e, para isso, fazer que o que é justo seja forte ou que o que é forte seja justo.

Blaise Pascal, Pensées ch. iii, sec. 285 (1660) em: Œuvres complètes p. 1160 (ed. Pléiade, Paris, 1969)

(Respigado, incluindo o retrato do Blaise, por Philippe de Champaigne, mas salvo a tradução - claro! - do Harper's Magazine de Setembro de 2007, visitável em http://www.harpers.org/archive/2007/09/hbc-90001270)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Vítor Direito (1931-2009)

.
Como leitor pagante de jornais acompanhei com muito interesse o seu valioso trabalho jornalístico. Só que, a certa altura, desencontrámo-nos e assim nos mantivemos. Pelo seu passado e pela sua iniciativa criadora, o seu nome e memória perdurarão na história do jornalismo português. E se, na morte que caberá a todos, pode haver uma desigualdade, ela aí está e a favor da sua obra: dos leitores de jornais, mesmo que pagantes sejam e por muito que desencontrados se achem em vida e em leitura, nada ficará mesmo - quando a cortina descer.
.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Animais e plantas na heráldica dos municípios portugueses: 40 - Boticas


Armas -Escudo de prata, com uma abelha de negro realçada de ouro, acompanhada de quatro espigas de trigo verde cruzadas em ponta e atadas de vermelho. Em chefe e contra-chefe, quatro faixas ondadas de azul. […] [do descritivo oficial de Abril de 1949]

Situação: Dois motivos: abelha e trigo.

Fica pois, com a "entrada" de BOTICAS:

Concelhos: 50 = Sem Brasão: 1; Com brasão: 49
Sem motivos - 9; com motivos - 40 (24; com dois - 13; com três - 2; com quatro - 1)
Motivos (incluindo repetições): 60 (Animais: 19; Plantas: 41)
Motivos (excluindo repetições): 25 (Animais: 11; Plantas: 14)

Abelha - 4; Águia - 6; Açor- 1; Barbo - 1; Cão -1; Corvo -1; Javali – 1;
Leão - 1; Peixe n.e. - 1; Touro - 1; Vieira - 1

Árvore n.e. – 2; Azinheira - 2 ; Castanheiro - 1; Laranjeira- 1; Milho - 3;
Oliveira - 6; Pinheiro - 3; Romãzeira - 2; Roseira (rosas) - 2;
Sobreiro - 4; Trevo - 1; Trigo: 1; Videira (planta e/ou cachos) – 12; Zambujeiro - 1

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Imagem:Sérgio Horta em http://www.fisicohomepage.hpg.ig.br

quarta-feira, 1 de abril de 2009

2009: Um mineral por mês: Abril / Berilo


Silicato de alumínio e berílio, chama-se "berilo" e não "barilo", como já lhe ouvi chamar! Contém a esmeralda (se verde e transparente) e a aqua-marina (se azul). Pode também ser rosa. Existe cá.