segunda-feira, 31 de maio de 2010

Martin Gardner (1914 - 2010)


Na minha tenra idade (que já existiu) os meus Pais trouxeram-me dois livros editados no Brasil que, de certo modo, iriam moldar algumas das minhas opções: "A História do Mundo Contada às Crianças por Dona Benta", de Monteiro Lobato (Editorial Melhoramentos, não me esqueço!) e "O Homem Que Calculava", de Malba Tahan. Falarei um bocadinho só deste último por agora - para dizer que foi aquele que me mostrou que as coisas dos números não eram apenas o fastidioso recitar das tabuadas (quem recita tabuadas hoje?) e o resolver de contas de multiplicar ou de dividir enormes, completadas sempre pela prova dos noves e a prova real (quem conhece isto hoje?), mas que estavam ligadas a uma grande porta que se abria sobre um espaço vastíssimo e recheado de aspectos fascinantes e não sonhados.

Vieram os professores da primária e do Liceu - e nesse aspecto da Aritmética, passado a Matemática, nunca me fizeram desanimar - na medida em que, cada um com o seu método, nunca deixaram cair a dimensão lúdica e a visão imaginativa de tudo o que poderia estar para diante. Depois, na Faculdade (ou nas Faculdades), a aprendizagem prosseguia, mas não se esgotava jamais.

Há certamente muitas maneiras de ensinar Matemática e a pior é a de, apenas, ensinar matemática.

Vem isto a propósito de mais uma homenagem póstuma: a 22 deste Maio, sem ter tcolhido uma breve referência que fosse nos jornais diários, morreu Martin Gardner. A notícia recolhi-a na postagem
http://blog.wolframalpha.com/2010/05/27/remembering-martin-gardner/comment-page-1/
do blog "wolframalpha" e fez-me recordar os livros deste divulgador do lado curioso e alegre das matemáticas, colunista celebrado no Scientific American, inventor ou explicador de jogos, enigmas e paradoxos, nascido nos EUA em 1914. Comprei livros de Martin Gardner, aconselhei livros de Martin Gardner, ofereci livros de Martin Gardner - tudo dentro do mesmo "yellow brick road" que, comigo, começara em "O Homem Que Calculava", de Malba Taham.

Rendo-lhe homenagem, como a um Amigo perdido. De certa forma foi.

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Imagem: cortesia a http://www.maa.org/columns/colm/cardcolm200610.html, uma página da Mathematical Association of America, onde se encontra a transcrição de uma excelente entrevista com Gardner e mais informação sobre este Autor.Segundo esta fonte, as seis prateleiras do armário atrás do Autor contém toda a obra por este publicada desde os seus 17 anos!

domingo, 30 de maio de 2010

Lisboa: Praça do Comércio em domingo de sol

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sábado, 29 de maio de 2010

Minas e poesia: 6. Aljustrel

De há muito que se não colocam aqui poemas alusivos a minas, talvez porque as digressões neste campo tenham vindo a ser mais em prosa. A série, começada em 21/2/2006 com uma referência a Jalles, prosseguiu em 2 de Março de 2006 no Lousal, na mesma data atravessou o Atlântico e visitou um exemplo brasileiro, em 22 e 24 de Maio de 2007 esteve na Panasqueira e, pertinho desta, em S.Jorge da Beira, a anterior Cebola. Com a devida vénia ao Autor e Jornal, segue hoje para o Alentejo, com a transcrição dum soneto dedicado a Aljustrel, da autoria de José Nogueira Pardal, publicado no "Jornal do Barreiro" de 28 de Março de 1997 e dedicado ao Francisco Naia com a seguinte nota: "Este soneto nasceu ao ler a entrevista que publicaram, no “Jornal do Barreiro” [de 17/1/1997], com Francisco Naia, que não vejo há perto de vinte anos".

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Cinzenta e branca assim a conhecemos,
não era a cor de vida que lá estava,
era o pó do minério que tisnava
a velha-terra-fome em que crescemos

Mas foi lá nessa terra que aprendemos
a conhecer o tudo que faltava
a querer e ser mais um dos que lutava
pelo mundo melhor qu’inda não temos.

E lá nasceu o sonho a que se arrima
a força de sonhar qu’inda sentimos
de com o sonho o mundo transformarmos…

De lá parti, partiste e a terra-mina
não quis chorar por nós quando partimos…
Será que cantará se lá voltarmos?


José Nogueira Pardal

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Casos do dia (em 1943 e 1940)

De "O Século", de 20 de Março de 1940. pag 5, coluna 7

Quando se lêem os Autores que historiam os 100 anos das (hoje quase "evaporadas") fábricas da CUF no Barreiro constata-se que há um episódio que está presente, com maior ou menor desenvolvimento, numa grande parte dessas narrações: a história do homicídio do porteiro Tiago, morto a tiro por um seu colega legionário (o Capela) com quem já andaria de candeias às avessas e a quem, no desempenho das suas funções à moda da época, queria submeter à "revista" no acto da saída das Fábricas (vd. entre outras fontes, Ana Nunes de Almeida, "A Fábrica e a Família", 1ª edição - 1993, Câmara Municipal do Barreiro, pag.190, nota 122, que refere a citação em várias entrevistas realizadas). O caso passou-se "por volta também do ano de 1943", para reproduzir a referência temporal da citada fonte, e, mercê talvez de uma filiação política comum e das desencontradas opiniões locais sobre os dois protagonistas, teve de facto repercussão nacional. Era ainda contado sottovoce quando cheguei ao Barreiro, em 1961.

O curioso da transmissão (quer oral, quer, fora as notícias da época, por mais recente difusão escrita) deste acontecimento ocorrido nas fábricas da CUF é que um outro facto, muito parecido, ocorrera três anos antes no Depósito de Locomotivas da C.P. no Barreiro e, praticamente, fora as tais notícias de época, não veio a merecer idêntica atenção posterior por qualquer dos referidos canais. Este tratamento diferenciado não radica nos mais evidentes factores. Assim, a motivação poderá ser diversa, mas tem o seu quê de aproximado, como aproximadas eram também as filiações políticas dos protagonistas (aparentemente as mesmas, em ambos os casos). Será a diferença hierárquica ou curricular, em termos de funções e de competência, ou seja, será que um maior afastamento hierárquico ou curricular poderá dar lugar a um mais rápido e selectivo esquecimento, contra o que seria de esperar? Será o diferente destino do criminoso (detido e julgado, o Capela, cometendo suicídio no acto, o fogueiro da CP)? Será que a opinião de uma fracção significativa de colegas de trabalho sobre os protagonistas ou respectivos comportamentos relacionais era diferente num e noutro caso, mesmo face aos similares credos e identificações com instituições de um regime então impado de arrogância e poder? Terão distintos comportamentos sindicais, afectos e/ou clandestinos, formatado essas diferenças? Perante esta realidade esquecida e estas dificuldades de leitura, registam-se as olvidadas notícias de pag. 5 de "O Século" de 20 de Março de 1940 e pag. 6 do mesmo jornal, na edição de 21 de Março. A primeira, que se reproduz supra, dá novas do crime e traça um perfil sumário do homicida e da vítima e das possíveis motivações; a segunda (que, epigrafada "Realizou-se o funeral do ferroviário assassinado por um fogueiro, no Barreiro", pela sua extensão se não reproduz) avança em pormenores sobre os protagonistas e descreve detalhadamente o funeral, o respectivo protocolo para-militar e as figuras políticas, legionárias e ferroviárias (sindicais e empresariais) que no mesmo se juntaram. O morto tinha sido Combatente da I GG na Flandres, de presumir que integrado no Batalhão de Sapadores de Caminho de Ferro - recentemente aqui falado - e, também de acordo com o referido diário de 21 de Março de 1940, manifestara-se "um profissional tão distinto que foi escolhido para ir à Alemanha verificar as locomotivas que deviam ser entregues a Portugal, como reparação de guerra, e que era a pessoa indicada para ensaios de máquinas e de linhas".

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Nós... ou "Retrato do (Amigo do) Artista Quando Jovem (Gato)"

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Uma exposição de BD a não perder: Pedro Brito

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Com a devida vénia e porque a considero de grande interesse reproduz-se parte do cartaz da exposição do jovem artista barreirense, de BD, Pedro Brito, que pode (e deve) ser visitada no AMAC até 20 de Junho:
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terça-feira, 25 de maio de 2010

Um texto de Leonardo Boff, teólogo: "Duas cosmologias em conflito"

Duas cosmologias em conflito

O prémio Nobel em economia Joseph Stiglitz disse recentemente:"O legado da crise economico-financeira será um grande debate de idéias sobre o futuro da Terra". Concordo plenamente com ele. Vejo que o grande debate será em torno das duas cosmologias presentes e em conflito no cenário da história.

Por cosmologia entendemos a visão do mundo - cosmovisão - que subjaz às idéias, às práticas, aos hábitos e aos sonhos de uma sociedade. Cada cultura possui sua respectiva cosmologia. Por ela se procura explicar a origem, a evolução e o propósito do universo e definir o lugar do ser humano dentro dele.

A nossa atual é a cosmologia da conquista, da dominação e da exploração do mundo em vista do progresso e do crescimento ilimitado. Caracteriza-se por ser mecanicista, determinística, atomística e reducionista. Por força desta cosmovisão, criaram-se inegáveis benefícios para a vida humana mas também contradições perversas como o fato de que 20% da população mundial controlar e consumir 80% de todos os recursos naturais, gerando um fosso entre ricos e pobres como jamais havido na história. Metade das grandes florestas foram destruidas, 65% das terras agricultáveis, perdidas, cerca de 5 mil espécies de seres vivos anualmente desaparecidas e mais mil agentes químicos sintéticos, a maioria tóxicos, lançados no solo, no ar e nas águas. Construiram-se armas de destruição em massa, capazes de eliminar toda vida humana. O efeito final é o desequilíbrio do sistema-Terra que se expressa pelo aquecimento global. Com os gases já acumulados, até 2035 fatalmente se chegará a 2 graus Celsius, e se nada for feito, segundo certas previsões, serão no final do século 4 ou 5 graus, o que tornará a vida, assim como a conhecemos hoje, praticamente impossível.

A predominância dos interesses econômicos especialmente especulativos, capazes de reduzirem paises à mais brutal miséria e o consumismo trivializaram nossa percepção do risco sob o qual vivemos e conspiram contra qualquer mudança de rumo.

Em contraposição, está comparecendo cada vez mais forte, uma cosmologia alternativa e potencialmente salvadora. Ela já tem mais de um século de elaboração e ganhou sua melhor expressão na Carta da Terra. Deriva-se das ciências do universo, da Terra e da vida. Situa nossa realidade dentro da cosmogênese, aquele imenso processo de evolução que se iniciou a partir do big bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos. O universo está continuamente se expandindo, se auto-organizando e se autocriando. Seu estado natural é a evolução e não a estabilidade, a transformação e a adaptabilidade e não a imutabilidade e a permanência. Nele tudo é relação em redes e nada existe fora desta relação. Por isso todos os seres são interdependentes e colaboram entre si para coevoluirem e garantirem o equilíbrio de todos os fatores. Por detrás de todos os seres atua a Energia de fundo que deu origem e anima o universo e faz surgir emergências novas. A mais espetacular delas é a Terra viva e nós humanos como a porção consciente e inteligente dela e com a missão de cuidá-la.

Vivemos tempos de urgência. O conjunto das crises atuais está criando uma espiral de necessidades de mudanças que, não sendo implementadas, nos conduzirão fatalmente ao caos coletivo e que assumidas, nos poderão elevar a um patamar mais alto de civilização. É neste momento que a nova cosmologia se revela inspiradora. Ao invés de dominar a natureza, nos coloca no seio dela em profunda sintonia e sinergia. Ao invés de uma globalização niveladora das diferenças, nos sugere o bioregionalismo que valoriza as diferenças. Este modelo procura construir sociedades autosustentáveis dentro das potencialidades e dos limites das bioregiões, baseadas na ecologia, na cultura local e na participação das populações, respeitando a natureza e buscando o "bem viver" que é a harmonia entre todos e com a mãe Terra.

O que caracteriza esta nova cosmologia é o cuidado no lugar da dominação, o reconhecimento do valor intrínseco de cada ser e não sua mera utilização humana, o respeito por toda a vida e os direitos e a dignidade da natureza e não sua exploração.

A força desta cosmologia reside no fato de estar mais de acordo com as reais necessidades humanas e com a lógica do próprio universo. Se optarmos por ela, criar-se-á a oportunidade de uma civilização planetária na qual o cuidado, a cooperação, o amor, o respeito, a alegria e espiritualidade ganharão centralidade. Será a grande virada salvadora que urgementemente precisamos.

Leonardo Boff, Teólogo

Leonardo Boff junto com Mark Hathaway escreveu o livro The Tao of Liberation. Exploring the Ecology of Transformation, N.Y. 2009 (Texto amavelmente transmitido pela escritora catarinense Urda Alice Klueger)


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Social?

O "chá da raposa", gravura no original da narração das andanças da Alice

Se isto continuar assim (a fluxar continuamente para o insaciável bandulho de alguns sabe-se lá onde, ou pelo menos "adivinhe-se lá onde?"), qualquer dia a única coisa que subsista com o adjectivo de social poderá não passar do FaceBook e quejandros!

Nota: Eu também já escrevi muitas coisas sobre o desaparecimento da indústria e até disse e prantei várias vezes por aqui que não conhecia alternativas à produção, mesmo que noutro formato e com diverso espectro de destinatários. Mas, pelos vistos, muito melhor gente (e sobretudo com mais poder, que não fujam agora ao que foram) julgou que havia mesmo.

For the party, plenteous pepper in the tea pot!
[Que o grupo do chá encontre exagerada pimenta no bule!]
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domingo, 23 de maio de 2010

Ultimo dia da World Press Photo 10

Capa de DVD do "documentário-choque" Mundo Cão (1962)

Consegui ir a esta impressionante exposição das fotos que correram mundo e que, ao mesmo tempo, demonstram o planeta em que vivemos e que, em tantas demonstrações REAIS, é bem diferente daquilo que pensamos - na realidade bem mais próximo do "Mundo Cão" que, na modalidade de "documentário choque" e sob a direcção de Paolo Cavara, Gualtiero Jacopetti e Franco Prosperi, abalou as plateias cinematográficas em 1962.

A dureza das cenas compreende-se a partir da motivação das suas tomas. Trata-se (com uma excepção inédita) de fotos tiradas por profissionais com o objectivo profissional (e artístico, quiçá em segundo plano, mas presente) de terem uma difusão pública. Creio que foi Papini que demonstrou, por absurdo, a impossibilidade de uma novela perfeitamente tranquila. Da mesma forma, qualquer das fotografias ali expostas, seja em que modalidade for, procura o excepcional, o não visto, o que possa constituir a razão da observação de imagens, donde o risco de as ter, tomado, donde a criatividade de as ver sob ângulos ou perspectivas de originalidade, denunciando exactamente com a força do valor de cem ou mil textos realidades e existências que se não sabiam existir, mas cabendo assim na análise crítica da Susan Sontag ao escrever o seu ensaio "Olhando o Sofrimento dos Outros", publicado entre nós em 2007. Não admira pois.

É evidente que, nesta perspectiva, o Homem, mesmo quando ausente da foto, é a personagem essencial dela. Mal ou bem, de acordo com escalas de valores nem sempre uniformes, as fotos falam-nos dele, das suas obras e dos seus actos e do seu "self", onde quer que viva, onde quer que conviva, onde quer que lute. A Natureza é o quadro de fundo em que o Homem se move, dentro das contradições que hoje persistem (vou publicar brevemente um texto do teólogo Leonardo Boff que aflora este assunto ainda que com uma dicotomia simplista, só acessível num processo demorado ou numa alternativa catastrófica, no conceito da teoria das catástrofes, ou seja, tanto albergando as situações cataclísmicas como as revolucionárias). A produção que se pretende já não é a mesma, mas não deixa de ser produção pelo aumento da utilidade das coisas que acarreta - ficando suspensa na pergunta crucial de Marcuse no "Homem Unidireccional": Produtividade para quê? Por isso também a Natureza está, como tal, presente e ausente, ou pouco presente e muito ausente em toda a exposição.

Gostei. Aprendi. Fez-me pensar. E voltando à imagem alegadamente papiniana, apreciei, naquele piquenique familiar em praia do Maputo, quase que poderia dizer onde, o pequeno pormenor isolado, normal, sem história ou drama, do diálogo gestual e ternurento do miúdo com o cão.


sábado, 22 de maio de 2010

Barreiro e CF's


A segunda realização expositiva da comemoração do 150º aniversário da chegada do caminho de ferro ao Barreiro - determinante contributo para que, abandonado o trajecto até Cacilhas, o Barreiro fosse a cabeça, a sul do Tejo, das linhas do Sul e Sueste e sede das importantes oficinas dos Caminhos de Ferro (hoje EMEF) - foi inaugurada a 18 de Maio corrente. Naquela discussão estéril, mas frequente no Barreiro, da precedência entre o ovo e a galinha não há que perder tempo: se o Barreiro foi sede de uma importante indústria isso deveu-se, certamente, a vários factores, um dos quais, relevante por natureza, foi a já existência do caminho de ferro. Antes da instalação do complexo industrial barreirense, no início do sec. XX (e refiro-me à CUF, como entidade dominante em termos de movimentação) o Barreiro, mercê do caminho de ferro, fora já porto mineraleiro: aqui desembarcava e embarcava o minério de ferro das minas dos Monges (e dai o nome da "ponte dos Ingleses", anexa à estação "avançada" que Miguel Pais realizou para substituir o sumptuoso edifício mais distante do cais de embarque de passageiros e que, com a fachada que ainda hoje se mantém, foi posteriormente adaptado às oficinas, mostrando assim que "elefantes brancos" existiram sempre!), aqui desembarcavam igualmente os cementos e os nódulos enriquecidos em cobre que saíam das "teleiras" em Aljustrel e viajavam daí até à estação da Figueirinha pelo caminho de ferro mineiro que passava pelas Pedras Brancas e que merecia ser tão estudado, até pelo seu traçado e obras de arte, quão estudados foram os caminhos de ferro mineiros da Andaluzia [1]. Disso tudo já se falou aqui. Mas não só para as minas, a cortiça, os cereais, as pirites e os adubos era o Barreiro importante: verdadeira porta do Sul, do Alentejo e Algarve, foi passagem de tanta gente e em condições tão diversas que se lamenta que a exposição, vocacionada para os intervenientes operadores da realidade ferroviária, não se tenha debruçado sobre a simbolização desse tráfego humano e sobre o Barreiro como portal enorme dessa permanente passagem (e por isso presente nos cancioneiros alentejanos... "foste pró Barreiro, gastaste o dinheiro, e o pobre sapateiro... etc etc").

Mas mesmo no "in situ" há duas situações que se lamenta tenham sido esquecidas em qualquer das exposições. Num primeiro plano, o papel das gentes do Caminho de Ferro ("fervojistoj)") na representação do Barreiro como um centro esperantista, frizando o que isso significava em termos de identidade profissional e, inclusive, de símbolo de Resistência. já que a Resistência terá sido um dos valores temáticos considerados. Um segundo ponto diz respeito a uma outra afirmação histórica do Barreiro ferroviário: o "Sempre Fixe". Procure-se saber o que era o "Sempre Fixe"! [2] Procure-se saber por que motivo uma das artérias principais do Barreiro era a "Avenida da Bélgica". E, já agora, eu que sou barreirense de adopção e permanência, um dos tais que já uma vez, em plena Assembleia Municipal, foram mimoseados com a desvairada gritaria de "Vão-se embora! Vão-se embora!" soltos por um truculento cidadão (que certamente desprezava assim a parte forasteira do seu ADN, pois que raros são aqui - terra que foi industrial, donde centrípeta - os que os não tenham, desde a terceira ordem de ramos da respectiva árvore) deixo essas duas fáceis adivinhas para quem as quiser adivinhar. E mais não digo.

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[1] Excelente tema para um mestrado, se é que o seu estudo permanece inédito - dando-se informações e sugestões a quem possa interessar.
[2] Não, não era o jornal humorístico do mesmo nome, fechado pelo Estado Novo. Frio, pois!

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Parabéns, Pac-Man!
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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Chulice - 2

Creio que foi a 22 de Outubro do ano passado que comentei aqui a prática já difundida na néte da constituição de agências para a disposição e cobrança de valores consideráveis por artigos de índole científica e técnica, de longe avantajados relativamente ao preço de reproduções correntes e mesmo dos números das revistas em que foram publicados. Aliás, essa postagem recebeu um comentário que demonstra como os próprios autores, que deveriam ser, pelo menos, beneficiários de parte dessa "cobrança", podem também ser vítimas dela. Ou seja: onde vai o tempo em que um bom artigo era prezado - e não cobrado lucrativamente - por uma revista tida como séria e em que os direitos autorais tinham primazia sobre os direitos editoriais ou similares? Adiante!

Mas eis que, subitamente, deparo com outro antro de sanguessugas. Em tempos que já lá vão comprei um telecomando universal HAEGER e, azarito dos azaritos, perdi-lhe as instruções de fiuncionamento. Convencido de que a "néte dá mais do que promete" coloquei no buscador o nome e o modelo do dispositivo e a palavra "instruções". Recebi um número avantajado de propostas de entrega das ditas por dauneloude imediato mas, certamente, teria de pagar por isso. Outros havia que nem tinham ainda instruções desse modelo, mas prometiam-me arranjá-las... e eu teria que então desembolsar por isso. Desembolsar, desembolsar, claro...

E, como as instruções que eu procurava para o meu dispositivo, outras, muitas outras poderiam existir nesses ilustres saites para os mais arrevezados dispositivos, marcas e idiomas. Mas, curiosamente, o motor de busca que me atirou para os braços de pelo menos duas dezenas de saites em que esses solícitos sugadores estavam aninhados (alguns deles repetindo-se) economicamente não me proporcionou a mais pequena ligação para o respectivo fabricante.

Surpreendido com a situação tomei a iniciativa de procurar o construtor. Hesitante e tentativamente, não fosse receber uma resposta em mandarim, busquei um possível http://www.haeger.com e com tal pontaria ou sorte que logo ele surgiu - e de forma exemplar. A Haeger é uma marca da Philips para electrodomésticos, la localização exacta do acessório foi imediata e calmamente pude descarregar (gratuitamente e em Português) as instruções que, como seria de esperar de uma marca séria, estavam disponíveis no saite.

Não protesto pois contra a marca, que cumpriu e bem o que devia, nem contra as multiplas agências que me ofereciam o procurado mediante um certo pagamento. Estas estão na néte e oferecem um produto num mercado e quem quer compra, quem não quer não compra. Mas a questão está no motor de busca: este dirigiu-me para aquelas, através da marca e tipo, mas ignorou a direcção do fabricante. Porquê? Aqui é que a prática não está certamente correcta - sendo certo que uma situação destas foi para mim inédita - mas como nesta vida de mercados não há mesmo "por acasos", registe-se pois a anomalia.

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A tempo (adenda a 22 de Maio): Para além do enxerto de um núcleo programado e comandante no protoplasma de uma célula e da reprodução desta, o que é um avanço notável com repercussões de momento impensáveis em termos de extensão, e que, ontem noticiado, o "i" de hoje desenvolve, noticia-se nesse jornal mais uma dentada das famosas "ratinzanas", agora sobre o queijo (esburacado?) da banca portuguesa Mas, voltando às coincidências, o "caderno comercial" do JN de hoje dá mais uma dica sobre as mesmas "ratinzanas", apelidadas de "os anjos da guarda das casas de penhores". Transcreve-se a parte que interessa, com a devida vénia : "No deve e haver da acção destes anjinhos da guarda de quem empresta, é curioso registar a oportunidade de certas vigilâncias , como por exemplo o recente anúncio da agência Standard & Poor's sobre a dívida da Portugal Telecom, divulgado na hora em que a PT é alvo de uma OPA da Telefónica sobre a Vivo." Num universo muito mais importante que um mero comando remoto, ele há de facto cada coincidência! É urgente pois uma resposta, na arena financeira, à conhecida e velha questão de "quem policia a polícia?" Sem isso o estuário do Tejo - como todos os estuários e Tejos deste mundo - ficará coalhado de "patinhos" tão de síntese quanto as células trazidas ao mundo vivo por Craig Venter num oitavo dia da Criação. E esses "patinhos" seremos todos nós.
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A tempo II (29 de Maio): É sempre bom aprender, e devo-o à amabilidade do leitor que (ver comentário 1) explicou alguns critérios que norteiam os buscadores e que permitem o facto assinalado, ou seja, que por manobrismos de endereços "sugadores" monopolizem estes as listas de busca! Agradecendo, corrijo o tiro, absolvo e penitencio-me perante o motor de busca e , para o conhecimento de todos de como a néte pode trazer muita "potreia" (para usar um termo mineiro), recomendo a leitura do referido comentário.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Outras visões das minas de Regoufe (Arouca)





quarta-feira, 19 de maio de 2010

A explicação plausível (historieta)

Página da "L'Encyclopédie" de Diderot et D'Alembert, Sec. XVIII (1751-1772)

Numa unidade industrial de longa vida mas em curso de desmantelamento, como sucedeu a muitas unidades industriais no país de Perlimpimpocas, havia uma máquina fixa que quase tinha 100 anos. Máquinas que quase tivessem 100 anos, que tivessem assistido ao nascer aí da indústria, eram consideradas venerandas, mesmo no país de Perlimpimpocas. E aquela, era-o especialmente. Por isso foi decidido, a preto no branco ou a azul de tinta de caneta mal caligrafado na linha azul de um livro de actas em eras pre-informáticas, preservá-la pro bono publico. Por isso, no momento preciso, pós-decisão, todos correram para a oficina onde se acreditava que a dita a máquina habitasse, para lhe dar cumprimentos! Mas surpresa das surpresas, a gaja, razoável que fosse em tamanho, já lá não estava. Procurou-se saber onde, porque as máquinas fixas são por definição fixas. Népias, aquela tinha mesmo saído, como se fosse laurear a pavana na naite, sabe-se lá onde! Perguntou-se porquê a quem pudera zelar pela igualmente veneranda manutenção das suas avantajadas partes em ferro fundido. E a resposta veio, surreal, terrível, determinante: "Para evitar que fosse vandalizada, vendeu-se como sucata já há tempo!" Era assim mesmo no reino de Perlimpimpocas. Pum (sem se escrever "morra o Dantas")! & pano rápido!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Bilros

Não deixa de ser curioso que, hoje mesmo, tanto se fale em bilros - uma arte que floresceu e se renova especialmente na orla marítima, com destaque para Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Peniche. Para além do artigo geral que se encontra na Wikipedia, realça-se a desenvolvida referência a bilros no saite da Câmara Municipal de Peniche (www.cm-peniche.pt), em que se faz uma resenha histórica desta actividade, se mostra o monumento à bordadeira, se descrevem as iniciativas museológicas e formativas destinadas a preservar a memória e a manter a actualidade desta arte de bordar. Ora é precisamente hoje, e nesse saite, que se desvenda uma nova edição de um acontecimento duplo a tal ligado: a mostra internacional 2010 e os jogos florais, em 8ª edição - divulgando-se ainda o respectivo cartaz que, com a devida vénia, aqui se reproduz.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Hai-kai (mesmo manco) ao "Tamiflu"


Fugindo às regras rígidas (e por isso "manco")...

Há muitas maneiras
de fazer asneiras.

Gato novo todas sabe!


domingo, 16 de maio de 2010

Resquícios & hesitações

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Luvas e sapatos, nada mais daquela cor !
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sábado, 15 de maio de 2010

Requiem por uma Indústria


Numa colaboração entre a Câmara Municipal do Barreiro e a APAF - Associação Portuguesa de Arte Fotográfica foi hoje inaugurada a muito recomendável exposição que corresponde ao levantamento fotográfico da "Rota da Indústria do Barreiro" - com edição simultânea de um catálogo que refere os antecedentes da iniciativa e que reproduz as tomas de vista essenciais para fazer o inventário-hoje das despidas áreas industriais da actual Cidade.

Com honrosas excepções é um recolher de imagens post-mortem que abrem uma janela de saudade sobre o que fomos e que identifica o que na realidade somos - e estamos certamente a pagar por isso. Nesta perspectiva pessimista, a exposição - excelente em si - é uma romagem ao Alto de S.João da indústria que deixou espaços livres por aqui, embora com uma pequena mas importante diferença. É que, no outro lado do paralelo que aqui se insinua, os que sejam crentes ainda podem contar com a ressurreição dos mortos.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Poceirão (ou TêGuêBê-e = 0,5xTGV)


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Que as cegonhas substituam os corvos! Poceirão a capital, já!
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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Tunnelling (Tunelamento)

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Esta definição consta de http://pt.wikipedia.org/wiki/Tunelamento, artigo que deve ser consultado para mais detalhes.
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domingo, 9 de maio de 2010

65º aniversário do V-E ( fim da II Guerra Mundial na Europa)

Tem-se estabelecido uma relativa confusão entre a parada do último 1º de Maio, em Moscovo, com o histórico (e inédito) facto da presença de contingentes militares provenientes das outras nações aliadas, e o 65º aniversário do fim da 2ª Grande Guerra na Europa (o V-E, como ficou conhecido). Convirá esclarecer essas efemérides distintas, até porque alguns meios de comunicação social não souberam destacá-los e explicar o que se passou nas e entre essas duas datas.

O 1º de Maio, para além dos seus conhecidos conteúdos, representa de facto a tomada de Berlim pelo exército da URSS, tal como havia sido incentivada por José Staline para que coincidisse com essa data festiva do calendário obreiro mundial. Sabe-se até que ponto Koniev e Jukov foram pressionados para acrescentar tal efeméride à agenda soviética e aponta-se a extensão de perdas humanas que foi o preço dessa motivada coincidência. Facto é que foi simbolicamente conseguida e que a fotografia do içar da bandeira vermelha no topo do Reichstag, ainda que em "remake", reproduz uma situação real desse dia - mas a rendição de Berlim só foi aceite por Jukov às 6 horas e 45 minutos já de 2 de Maio, com cessar-fogo fixado para as 15 horas.

Não obstante, o combate prosseguiu em várias frentes, ponteado por diversos embates e rendições incondicionais, quer de cidades, quer de grupos de combatentes, quer em território alemão, quer no que restava de países ocupados, com especial destaque para a resistência alemã em território checo e para o nascimento de situações premonitórias da "guerra fria", em torno das exigências territoriais soviéticas e, em especial, do restabelecimento da soberania polaca. Cerca de 40 minutos depois da uma hora da manhã do dia 7 de Maio, em Reims, recusada que tinha sido por Eisenhower uma rendição "parcial" das forças alemãs que combatiam a ocidente (mas não das que combatiam as forças soviéticas, o general Jodl, recebendo instruções do almirante Doenitz, "sucessor" do Fuherer, assinou a rendição completa e incondicional de todas as frentes. Não obstante, combates e rendições prosseguiram em várias frentes e só em 8 de Maio se concretizaram, em Berlim, as cerimónias da rendição alemã - formalizando a assinatura de Reims. Se o dia 8 de Maio é considerado o dia da vitória para a Inglaterra, Estados Unidos e França, em Moscovo o dia da vitória só seria declarado a 9 de Maio.

Por esta razão não se colocou qualquer referência a esta efeméride, a 1 de Maio. Coloca-se hoje, 8/9 de Maio, na transição de datas mais frequentemente invocada para celebrar o fim da 2ª Grande Guerra na Europa. Foi há 65 anos.
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sábado, 8 de maio de 2010

Jovens sempre !

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Teoria e prática

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Minimizar a conspiração como teoria é a natural atitude dos que a praticam ou querem praticar ou dos que, ingenuamente, a ignoram.
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Por isso, em muitas situações sensíveis, esquece-se a consideração do "pior caso possível" ( "worst case" ou, mais vernaculamente, do "shit happens!") e, depois, vê-se!

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Totalmente a despropósito: Não estará o presente ataque ao Euro, num jogo do atira a pedra e esconde a mão, a ser conduzido através dos mercados financeiros asiáticos?
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domingo, 2 de maio de 2010

Pyotr Leshchenko (1898-1954)

Pyotr Leshchenko

A procura de algumas referências sobre música cigana nos países do levante europeu levou-me a inesperados encontros e memórias.

Era eu muito miúdo, a rádio (que aqui no Sul insistiam em chamar telefonia) assumia-se como o expoente da transmissão noticiosa e musical (e havia quem a usasse como arma), e ouviam-se (eu ouvia) os tangos interpretados pela orquestra de um tal Peter Leshchenko. Desde aí, silêncio. E eis que me aparece agora o mesmo Pyotr Leshchenko abundantemente referido na "net" e em especial no "youTube" com os mesmos dolentes tangos cantados em russo e gravados nos anos 30, antes da segunda hecatombe europeia. As modificações no mapa europeu a Leste e um itinerário complexo deram-lhe uma existência alternada de sucessos e riscos entre o seu nascimento em 1898 e a sua morte em 1954, fazendo com que a memória de Leshchenko seja hoje reclamada pela Rússia, Ucrânia, Roménia e Moldova. Mas o mais entusiasmante disto tudo foi constatar que nos anos 30 existiu uma verdadeira e pródiga escola musical de tango e foxtrot de origem russa e, embora considerada contra-revolucionária e banida do território soviético, Leshchenko manteve nela uma prolongada fidelidade por parte de muitos radio-ouvintes russos (que o escutavam através das rádios romena e persa) e os seus discos tornaram-se mesmo objecto de contrabando [1]. Mas mais curioso ainda foi verificar que essa escola teve ampla resposta na Polónia, existindo também um "tango polaco" nesses anos 30, com intérpretes próprios que, numa linha de evolução, deram lugar a sentidas interpretações musicais como as da actual Natasza Urbanska.

Era de mim conhecido como, no pós guerra, o tango também reconquistou adeptos na Alemanha, especialmente através duma famosa orquestra de tangos da Radio Hamburgo, (ah! os meus "vinil" de 45 rpm da Deutsche Gramophon!) que lançou, entre outros, o inesquecível "Tango Azul" - mas de todo também ignorava que um "tango finlandês" marcou posição própria no mesmo pós-guerra e que, ainda hoje, se realizam encontros de tango naquele país nórdico. [2]

Resultado: ouvi muita música e quase fiz gostosamente uma directa. "Memories are made of this!"

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A TEMPO: O estimado leitor Fernando Ribeiro fez o favor de comentar esta "postagem" com informações que considero do maior interesse para quem queira recordar a música do "tempo do swing", em tudo bem anterior à "geração do jacto" a que, de facto, hoje pertencemos (a expressão não é minha, mas ouvi-a agora mesmo na "rádio", numa entrevista breve a Henrique Monteiro, e certamente que a adopto). Como por vezes os leitores interessados em alguns assuntos que aqui se abordam (tal como sucede noutros blogues) vêem o corpo da "postagem" mas omitem a visita aos comentários, chama-se a atenção para este importante contributo que muito valoriza e completa o texto original e que muito se agradece. Não percam! Por isso se faz esta "adenda", aos 20 de Maio de 2010.

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[1] Para história e imagem supra vd. http://en.wikipedia.org/wiki/File:Leschenko.jpg
[2] O reencontro com Leshchenko fez-me ainda descobrir com um ah! de pasmo um pintor russo de antes da I GG, Ilya Repin - mas disso falaremos qualquer dia.

sábado, 1 de maio de 2010

2010 Maio 1

Maio, 2010

Halifax, Nova Escócia, Canadá
Cartaz da Manifestação do 1º de Maio de 2009

O "Penny Black", 1 de Maio de 1840
170 anos do primeiro selo postal adesivo
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