quinta-feira, 21 de março de 2019

OS "PENEDOS DE S.PEDRO E S.PAULO""

Desde que Chamberlain criou o conceito de "cimeira" e foi até Munique procurar a paz e ser aldrabado por um dos bigodes do século XX, menos farfalhudo que o outro [1], a palavra cimeira deve ser olhada de soslaio. Vieram agora dois "cimeiros" abordar parlapati, parlapatá estados de espírito comuns e neles incluíram a ideia peregrina de enfiar na NATO (north atlantic, I presume!) um país lusoparlante da América do Sul. Não desconfiemos do desajuste geográfico, desconfiemos da intenção. Se os penedos de S.Pedro e S.Paulo, porque no meio do Atlântico mas com saudades do hidroavião "Lusitânia", começassem a falar Português, estaria o "capachinho cimeirista" interessado neles? Ou noutros? Quem tem duas costas tem de saber em qual delas etc. etc.

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[1] Procurando manter a paz na Europa, mas à custa da então Checoslováquia, se é que bem se recordam - mas tudo isso num gesto então tão seraficamernte aceitável aos olhos europeus (que não checos) que até um também então novo arruamento do Barreiro, se também ainda bem se recordam, foi mesmo chamado de "Avenida Chamberlain". Aliás o bigodudo fininho esteve-se nas tintas para o britânico do guarda-chuva  e invadiu a Checoslováquia alguns meses depois e, de braço dado com o bigodudo farfalhudo, escavacou a Polónia logo ali ao lado.-  e mesmo,  anos e anos depois, até depois de uma guerra afinal não evitada, o bigodudo farfalhudo repetiu o mesmo  à que então ainda era Checoslováquia, mesmo que seraficamente invocando razões diversas. Apre, que, para estes, a figura de serem biinvadidos  já se tornara mesmo PRAGA!

quarta-feira, 20 de março de 2019

REQUIEN PELOS MM NA MINERIA ALENTEJANA (Exposição em Aljustrel, a 25 de Setembro de 2014)

Porque (creio) não a coloquei no "blogue" e porque um estudioso destas coisas me-lo pediu, aí vai o texto da intervenção proferida em 25 de setembro de 2014 em Aljustrel. Apesar do que foi aí dito continuamos sem MM. Já é sina…

[apenas faltam as imagens, que vão ser colocadas… mas a promessa do texto fica QUASE cumprida. O MM continua a tardar… e o "subsolo", devidamente "concentrado,  continua a sair. Foi o cobre, o estanho, agora o zinco...].

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Minhas Senhoras e meus Senhores,
[Cumprimentos protocolares aos presentes, destacando a Organização e o  co-palestrante e agradecimentos pelo convite e o tema]

Abordar a questão dos dois MM, isto é, da coexistência ou da coordenação mina-metalurgia remete para uma evocação de Jorge Agrícola e dos doze livros da “De ReMetallica” por este escritos na Saxónia de 1550. Agricola não tinha qualquer dúvida quanto a essa coexistência.

Remete ainda para o confronto entre  situações  específicas de processamento de minérios, que exigem abordagem própria, e a produção de commodities vendáveis em mercado, cumprindo especificações que permitem secundarizar a origem, mas, num e noutro caso, mesmo quando a passagem ao mercado descaracteriza a origem, a questão não pode ser afastada – a menos que se assista à venda commodities e, de volta, à compra dos bens  que resultam da sua transformação.

Na legislação mineira portuguesa dos secs XIX e XX a ligação das minas às oficinas transformadoras, é sempre discreta e, quando abordada, implica relações de vizinhança ou de propriedade comum. Mas nem sempre terá sido assim.

No primeiro dia de Fevereiro de 1893, e estamos entre a legislação de 1892 e o regulamento de 1894, algo de diferente era dado no Paço para publicação no Jornal Oficial sob o extenso título de “Regulamento para a condução de patentes e introdução de novas indústrias a que se refere  o decreto de 30 de setembro de 1892”.

Tratava da introdução de novidade na actividade mineira extensa à actividade metalúrgica e, por isso, no artigo 16º deste diploma constavam as duas  definições que vos mostro e leio e que bem marcam as etapes sucessivas do tratamento de minérios e da transformação metalúrgica:

“Entende-se por tratamento mecânico completo o conjunto de operações que, aplicadas aos minérios, permitam extrair deles os produtos próprios para passarem directamente ao tratamento metalúrgico
e
chama-se tratamento completo metalúrgico aquele no qual se obtém os metais em tal estado de pureza relativa que não careçam de novas operações ou ulteriores transformações, salvo a necessária e conveniente adaptação de forma, para serem utilizados como materias primas de outras industrias.

Se bem que os concessionários ou exploradores de minas retivessem o natural direito de adoptar os processos de tratamento que considerassem mais convenientes para os seus minérios, o diploma vai mais longe e, no relativo à introdução de novidade, divide o continente do reino  em zonas mineiras para minérios de cobre , ferro, manganês, chumbo, prata e estanho  dentro das quais poderia ser concedido o exclusivo para qualquer novidade, prevendo a possibilidade de instalações de enriquecimento mecânico ou de transformação metalúrgica assim montadas poderem servir todos os minérios da mesma natureza que fossem produzidos nas diversas minas da respetiva zona, sem requisito de propriedade comum. Consignava assim, sem impor, o princípio de recolha e de tratamento conjunto, como meio de viabilização de estabelecimento.

A legislação e a prática mineira subsequente não parecem reflectir estas ideias, que poderiam aproximar metalurgia e mina sob o mesmo chapéu. Na legislação mineira de 1917 encontra-se a racionalização horizontal por coutamento,  que não é o mesmo, pois implica proximidade e propriedade, e concedem-se benefícios fiscais à extração de  matérias primas minerais destinadas à indústria siderúrgica, e só a essa. Fora disso  a questão mina-metalurgia prosseguiu limitada e privativa – até ao ponto de permitir que, ressalvando o caso dos anexos mineiros (novamente implicando proximidade e propriedade), o tratamento administrativo de cada uma das componentes, extrativa e transformadora, pudesse continuar a  correr, durante largos anos, por guichets e entidades governamentais diferenciadas. Até na corrida ao volfrâmio e no licenciamento das “separadoras” isso ficou patente e impôs uma correcção legislativa.

Assim se compreende que quase 50 anos tenham passado entre a introdução, junto às minas de RioTinto, de convertidores Bessemer para a dessulfuração da mate de cobre e o primeiro convertidor de cobre que soprou no Barreiro já nos anos 50 do sec. XX, inclusive com mates de proveniência angolana, e que ficou sendo primeiro e único neste País para tal produção. Caberia perguntar porquê.




OS CONVERTIDORES



Casos concretos e situações exemplares poderiam ser aqui apontados sobre encontros e desencontros mineiros e metalúrgicos. Poderia começar com a extensão informativa que acompanha o ferro de Moncorvo ou com o caso, esse ao que eu saiba pouco estudado, do tratamento dos minérios de urânio e rádio na primeira metade do sec. XX. Mas aqui em Aljustrel, pisando a Faixa Piritosa, basta-me a pirite  para, em termos da relação entre  minas e metalurgias, falar no que se fez, no que se não  fez e no que se poderia ter feito. A isso me restrinjo.

Afastando excepções surpreendentes de enriquecimento e agradáveis surpresas, como foi a do estanho em Neves-Corvo, fica, para a pirite, um  problema original. Tal problema original é simples e reside na relativa diluição dos restantes constituintes, uns úteis, outros dispensáveis de todo, outros ainda que, mais discretos e insuspeitos à partida, vieram depois a revelar o seu interesse, mas tudo isso numa composição em que enxofre e ferro naturalmente predominam – ou não estivéssemos a falar de pirites. Sem preocupação de grande rigor, olhando dados históricos, bastaria – para compreender isso - olhar para a composição do que eu ouso chamar de “ uma pirite típica, de Aljustrel”[e que é a projectada]

S: 45-47%; Fe: 38-40%; Cu: 0,6 a 1,2%; Zn: 2,5-3,2%; Pb: 1,0-1,2%; As: 0,5-0,6%¸SiO2: 2,8-3,5%

Para além dos metais preciosos naturalmente concentrados nos “chapéus de ferro”, o princípio da pirite foi o cobre – e cobre continuou a ser durante séculos.  Face à desproporção entre constituintes principais e este mesoconstituinte,  cartagineses, e romanos viram-se perante uma questão imediata: “Algo está a mais para quem interessa o menos”, que tempos depois até daria lugar ao recíproco “Algo está a menos para quem interessa o mais”.

Por isso os primeiros mineiros-metalurgistas, ao sentirem a necessidade processual de darem uma volta à arrastada cinética da lixiviação natural para chegarem ao cobre através de processos mais expeditos e em maior escala, procuraram libertar-se de um dos constituintes principais e, simultaneamente, acelerar a oxidação do sulfureto, alterando estrutura e composição, e obtendo com isso melhores condições para a lixiviação.

 Daí a queima das pirites, ao ar livre, seguida de lixiviação e de cementação do cobre das lixívias Os grandes escoriais que deixaram e a dimensão dos trabalhos que empreenderam, todos “in situ” ou quase, documentam a intensidade da comunhão mina / metalurgia nesse período remoto.

Que prosseguiu. E tanto que já na sua fase final, ainda no sec. XIX e primeiros anos do XX,  na transição dos séculos XIX a XX, as teleiras, que tal era o nome das pilhas de queima,  fumigaram populações próximas - com acontecimentos trágicos a marcar o desconforto por estas sentido. O sítio de Pedras Brancas, excelentemente reconstituído, é testemunho dessa prática.

Os cementos e  cáscaras obtidos e mesmo o sinter enriquecido em cobre que resultava da queima, quando não consumidos em fundições e arsenais locais, de dimensão relativamente limitada, eram exportados e, quem tal diria, pelo Barreiro “fin de siécle”– porta do Alentejo, porque aí terminava a viagem no Caminho de Ferro do Sul.

Tudo se passava então junto à mina, porque a pirite tal-qual ainda não viajava e porque a viabilidade local de um estabelecimento metalúrgico mais avançado dependia da quantidade de matéria prima local ou regionalmente disponível e do capital para tal necessário.

 Por razões que fazem parte da sua própria história RioTinto teve essa capacidade em matéria prima e em capital e optou cedo por produzir industrialmente o cobre-metal. Portugal ficara-se pela exportação de matéria prima cuprífera, proveniente de um processo químico-metalurgico de concentração do metal em produtos vendáveis, mas não de produção do metal. Daí RioTinto ter podido ir  mais longe, de haver lá um convertidor Bessemer que soprava mate. Enquanto cá tal tal só iria suceder meio século depois, longe das minas e até com mate angolano – já que o empreendedor tivera que investir em Angola para alcançar um lugar de acesso ao metal vermelho..

Ora a unicidade do produto nesta fase  – ou seja o cobre – tornava as minas da Faixa muito vulneráveis às flutuações do mercado. Novidades perturbadoras existiam mesmo, como a descoberta e exploração das ricas minas de cobre do Chile que, aqui mesmo, se fariam sentir levando ao afundamento da Transtagana e ao correr do pano negro da crise no teatro do cobre alentejano. Menos atingido seria certamente quem tivesse ido  mais adiante.

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Não muitos anos depois a cena vai reabrir com um dramático volte-face. Importantes  modificações a jusante tornaram o mundo carente de enxofre e o ácido sulfúrico tornou-se num dos indices de industrialização química de um país,  mormente pelo seu consumo no  fabricacão de adubos químicos fosfatados.

H2SO4 com o S bem visível…


Com uma oferta de  enxofre elementar insuficiente, cara e monopolizada, o até então repelido enxofre das pirites sobe à ribalta – e as pirites, feitas agora “commodities”, viajam a partir das minas, chegam de comboio aos portos piriteiros, como Huelva, ou já de barco descem o Guadiana, e daí navegam até  às instalações químico adubeiras onde são ustuladas, para que os processos químicos de produção do ácido  sulfúrico se alimentem  com o mesmo anidrido sulfuroso que até então empestava as áreas de queima a céu aberto.

Com o correr dos tempos os centros consumidores sucedem-se. Registem-se para Portugal os nomes da Póvoa de Santa Iria, do Barreiro, de Setúbal e de Estarreja, este já mais tardio.

Não obstante a utilização industrial das pirites envolvia novos problemas.. Além de  investimentos elevados que havia que remunerar, a queima das pirites determinava resíduos incómodos mas que, além do ferro, continuavam a guardar uma grande parte  dos valores metálicos presentes no minério e que, por isso e até porque penalizavam ou mesmo excluíam a utilização metalúrgica das cinzas, impunham uma purificação destas, que igualmente recuperasse o que pudesse ter valor.

Voando sobre os multiplos tipos de fornos que foram usados ,  apenas apontaremos os que mais generalizados foram, mercê de aperfeiçoamentos sucessivos, até à introdução da queima em leito turbulento: os fornos mecânicos de múltipla soleira, genericamente conhecidos como “fornos Herreschoff”.

Herreschoff  7,5 tpd (1909)n e 100 tpd (1966)
Ver para escala a figura humana



A recuperação dos elementos valiosos contidos nas cinzas de pirite obtendo as designadas cinzas de pirite purificadas ou “purple ore” foi, por isso,  a etape seguinte  da abordagem mineira e metalúrgica deste minério.

Passara-se ao tempo de dizer que ““Algo está a menos para quem interessa o mais”. Assim a necessidade de obter uma dimensão crítica que permitisse o tratamento levou a que, em espaços regionais ou mesmo nacionais, os produtores de ácido sulfúrico partindo de pirites optassem, em alguns casos,  pela cartelização das compras, utilizando o enxofre do minério e devolvendo as cinzas à entidade adquirente  para que as tratasse, recuperando os metais contidos e produzindo um “purpleore” aceitável.  Tal foi o caso na  Alemanha, em que a Duisburger Kupferhutte (DKH) assumiu esse papel e  desenvolveu tecnologia própria que  inclusive licenciou para duas instalações na Península: uma à CUF, no Barreiro; em 1958, que recolhia as cinzas dos produtores de ácido e vendia o purple-ore à Siderurgia Nacional; outra, em Bilbao, à Metalquímica del Nervion, em 1962.

Convem aqui referir, pelas suas consequências, que uma das impurezas rigidamente limitadas pelas Siderurgias é o arsénio e que, sendo este um dos mesoconstituintes das pirites ibéricas, haveria que atender cuidadosamente a tal limitação. Esse requisito levara ao desastre dos primeiros fornos de fluidização, com um só leito e em meio hematizante, donde oxidante, incapazes de evitar que o arsénio da pirite fosse quase integralmente transmitido às cinzas e delas ao “purple-ore”. O entendimento de como o arsénio se comportava durante  uma ustulação gradual, como nos Herreschoff, foi a chave de sucesso para dois desenvolvimentos tecnológicos que marcaram a ustulação de pirites, no Barreiro: a intensificação da capacidade de queima e dimensão nos fornos Herrreschoff por recirculação de gases e a possibilidade de fazer a ustulação desarsenificante das pirites com arsénio em leitos de turbulência quer fazendo a ustulação em duas etapes (processo BASF, adpotado no Barreiro) quer, em alternativa, por uma  ustulação magnetizante (processo Bolidens, como foi a opção escolhida pelos nossos confrades de Huelva). Um terceiro avanço marcante consistiu na introdução e aperfeiçoamento da recuperação do calor de queima das pirites (e da oxidação do anicrido sulfuroso), com melhoria do balanço energético do processo global.

Reestruturadas nos anos 50, as metalurgias de cobre, de chumbo e de metais preciosos do Barreiro – a que se juntaria, já nos anos 80 a produção de zinco metálico recuperado das lixívias - constituíam as peças finais de um núcleo metalúrgico integrado e flexível, apto igualmente a tratar cementos de mina e concentrados tão variados quanto os da  Borralha, de Jales, de Terramonte, da Panasqueira, de Miguel Vacas e de Aparis.

Barreiro, (Pereira, 1985)


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Porém, os anos 70 tinham já trazido graves ameaças para a utilização das pirites como fonte de enxofre, com declínio de consumos e redução de exportações, criando novas preocupações quanto ao futuro das minas alentejanas:

Seis  causas principais podem ser identificadas:

·         A concorrência do ENXOFRE ELEMENTAR,

·         A concorrência do ÁCIDO SULFÚRICO FATAL,

·         A rejeição do “purple ore” face a MINÉRIOS DE FERRO de melhor qualidade;

·         O aumento da PRESSÃO AMBIENTAL sobre efluentes e resíduos;

·         Os elevados encargos de capital e custos  relacionados com as instalações de USTULAÇÂO;

·         E a própia CONCORRÊNCIA AO ÁCIDO SULFÚRICO em algumas das suas utilizações,



Dando seguimento a trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro, do Gabinete da Área de Sines. e às  próprias actividades dos Grupos CUF e SAPEC, estudaram-se várias alternativas, algumas delas assaz optimistas, para a expansão da utilização de pirites, quer para exportação, quer para unidades que incorporariam a plataforma industrial de Sines.  

A própria CUF, preparava-se para finalmente entrar na mineração de pirite,  quer através da Sociedade Mineira de Santiago quer pela aquisição de uma participação confortavelmente maioritária em Pirites Alentejanas - intenção esta “in extremis” travada pelo Governo de então que fez avançar interesses públicos, representados pelo Gabinete da Área de Sines,  na repartição igualitária dessa maioria, que sugeria para a minoria estrangeira uma influência desproporcionada. Isto em 1973.

Após as nacionalizações de 1975, de empresas mineiras e adubeiras, o Governo Português, face às ameaças referidas,  constituiu, em 1976, a Comissão para o Programa do Aproveitamento Integrado das Pirites que, até à entrega dos correspondentes relatórios, em 1982, analisou extensamente e de forma integrada as várias alternativas possíveis, estabelecendo para Aljustrel um plano a duas fases:

numa PRIMEIRA FASE incluía-se   o aumento da capacidade de extracção em Aljustrel e o processamento desse aumento em Sines, num “smelting” de pirite próprio, com obtenção quer de ácido sulfúrico quer de enxofre elementar e igualmente de cinzas de pirite que, devidamente tratadas, permitiriam um consumo siderúrgico local;

 uma SEGUNDA FASE – diferida no tempo - propunha um novo aumento da extração na mina  e a obtenção de concentrados por flutuação em Aljustrel, com tratamento metalúrgico destes.

A descoberta de Neves Corvo em 1977 e as primeiras perspectivas sobre o valor dessa descoberta fizeram com que o Plano tivesse de ser dotado de uma certa flexibilidade para poder acomodar, dentro das infraestruturas da unidade metalúrgica de Sines, uma instalação produtora de cobre através de uma capacidade de “smelting” de concentrados  que, atendendo ao que então se ia sabendo,  teria uma capacidade inicial posicionada na gama  das 50.000 toneladas de metal.

 Na concepção deste arranjo não se excluía a possibilidade de poder combinar as capacidades de smelting, para pirite e para cobre,

nem igualmente se excluía a possibilidade de introdução na unidade de cobre de  concentrados que fosse possível obter na 2ª fase,

mas defendia-se a preservação, tanto quanto possível, do resíduo essencialmente pirítico como “reserva futura” em eventual carência mundial de enxofre.

 Com esta configuração flexível as propostas do PAIP (Plano do Aproveitamento Integrado das Pirites), aliás descritas em bibliografia especializada, foram entregues ao Governo em 1982 sem delas resultar qualquer sequência metalúrgica.

Reencontrar-se-á na mina, e já nos anos 90, a ideia de prosseguir o PPC,  programa de produção de concentrados, como via da manutenção de extração, quando – a nível nacional – se extinguia o consumo da pirite para ácido sulfúrico.

PAIP




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Entretanto  uma forte machadada no consumo da pirite – e um forte abalo no edifício integrado do complexo industrial da CUF no Barreiro -- foi dada , desde 1970, pelo sucessivo aperto em especificações e exigências por parte da Siderurgia Nacional quanto ao “purple ore” colocado no Seixal – a ponto de  reduzir drasticamente e mesmo interromper a sua aquisição, pelo que o relatório da CUF relativo ao exercício de 1972  mencionava  não terem sido  ultrapassadas as dificuldades de colocação de cinzas de pirite purificadas na SN [Siderurgia Nacional], colocação que se considera “essencial para assegurar o necessário e desejado aproveitamento das pirites nacionais”.

Após um afincado estudo de alternativas, começou, em 1977 no Barreiro, já pela Quimigal, a construção  de uma instalação de  purificação de cinzas de pirite pelo processo da sociedade japonesa Kowa Seiko para que, articulada com a instalação DKH existente, se atingisse a produção de 342 000 toneladas [anuais] de peletes hematíticos autofundentes, de qualidade satisfatória. Quimigal e SN eram então Empresas Públicas. Ambas!

Concluída essa pesada unidade em 1980, a sua produção foi meramente esporádica até 1985 – ano em que suspendeu a sua atividade, nunca mais recomeçada por se ter entretanto gorado o Plano Siderurgico Nacional que permitiria absorver aquela produção.

Encerrava-se assim – e é triste dizê-lo - o ciclo de utilização integrada da pirite no complexo industrial do Barreiro, que durara cerca de 80 anos. Todas as instalações dele remanescentes foram leiloadas e desmanteladas em 1990.

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Paralisado o Plano de Aproveitamento Integrado das Pirites e dissolvida a Comissão respetiva, a presença imponente de Neves-Corvo na realidade nacional depressa comandaria uma outra questão igualmente polémica e igualmente mal sucedida: o Projeto Cobre.

Num texto que escrevi para fechar o primeiro volume da obra “Mineração no Baixo Alentejo”, com coordenação de Miguel Rego, editado em 1996 pela Câmara Municipal de Castro Verde referi alguns aspectos relativos a esse projecto metalúrgico, que mereceria o título de uma das mais marcantes obras de Gabriel Garcia Marquez: a “Crónica de uma Morte Anunciada”.

Recordar-se-á aqui que a primeira negociação contratual para o estabelecimento da SOMINCOR e seu seguimento, incluindo a previsão de uma unidade metalúrgica,de produção de cobre  foi realizado por uma empresa pública de nome mal querido que se chamava EMMA - Empresa Mineira e Metalúrgica do Alentejo. Mal querido porque, a muito breve trecho, cumprida essa primeira missão e enfrentando já um outro governo, gregos e troianos procuraram contribuir para que rapidamente fosse substituído o  M metalúrgico por um D, significando Desenvolvimento - mas mantendo pudica e transitoriamente o A do Alentejo, que pouco mais tarde viria também a cair, o que até se compreende pela limitação de objetivo que impunha ao que é a actual EDM, que nada tem a ver com os amores e desamores técnico-políticos de uma avó EMMA algo ousada porque, aqui e então, queria ver-se simultaneamente  mineira e metalúrgica.

Á laia de nota de rodapé, daquelas que se devem ler como nos livros de Direito, seja dito que a avó EMMA deixou um filho que me dizem também já ter morrido  e ter morrido moço, mas com obra e escola feitas: estou a referir-me à instalação piloto de flutuação  de Valdoca, Aljustrel, que tanto contribuiu para os desenvolvimentos mineralúrgicos dos projetos do Alentejo e que, por isso, deveria ter permanecido fora dos domínios, sucessões e partilhas empresariais.

Facto é que,  ao criar a EDMA, o poder de príncipe que a tal se dedicou rematou para a QUIMIGAL, então também [mas ainda] empresa pública, o conjunto das actividades transformadoras que a EMMA se propunha prosseguir. Estas, “naftalinado”  o  Programa do Aproveitamento Integrado das Pirites”, reduziam-se na prática, ao “Projecto Cobre”.

No desenvolvimento desse projecto  a QUIMIGAL terá procurado dar o seu melhor. O “Projeto Cobre” avançou até ao arranjo e desobstrução dos terrenos em Sines (Fervença), ao anúncio público para prequalificação de “contractor” [enchendo uma página inteira do DN] e a negociações com potenciais interessados em participar

Sempre reticente a mina no quantitativo das reservas para suporte da capacidade de transformação proposta (450.000 toneladas anuais de concentrados e cementos de cobre para a produção anual de 100.000 toneladas de cobre catódico) e acesa a discussão em torno do Projeto, a QUIMIGAL entregou ao Governo, em Março de 1988, um circunstanciado relatório para prosseguimento de obra, que – esse também, iria  embater num dos costumeiros cenários de crise que, em Portugal, sempre ditam outras prioridades.

Um reacendimento do fogo metalúrgico, em 1990, sob a epígrafe de METCOB, já por via independente da condução anterior,viria igualmente a extinguir-se em 1993.

Existe suficiente documentação sobre a matéria e será certamente algo a abordar numa perspectiva histórica interessante que passa por uma questão pertinente: porque é que Portugal não teve uma metalurgia de cobre quando outros centros europeus aumentavam a sua capacidade produtiva. Talvez que a resposta esteja, mais uma vez, nisso mesmo, ou seja, talvez que a fragilidade das relações MM tenha, mais uma vez também, marcado a nossa existência – tanto mineira como metalúrgica.

E com esta questão me ficaria, se não fossem três conclusões que  podem e devem ser tiradas destes e doutros passados:

A primeira é que, como se pressente dos exemplos citados, a aliança mineira e metalúrgica, fora casos excepcionais e limitados, não vingou mesmo em Portugal – e que, face às vantagens que muitos encontram nessas soluções, suprindo intermediações não rigorosamente produtivas,  e às desvantagens que se encontram por não existirem, seria interessante persistir no modelo.

A segunda diz respeito às situações pouco convergentes por parte de entidades protagonistas ou a bruscas modificações de programas que determinam incerteza e levam a bloqueios intempestivos de que resultam indefinições, dúvidas e, sobretudo, perdas de oportunidades.

A terceira diz respeito a uma realidade que se louva e que é o Roteiro de Minas e de Pontos de Interesse Geológico e Mineiro de Portugal, mas para a qual se defende a extensão e inserção do registo e memória das actividades transformadoras relevantes que, se não conseguiram um estatuto MM de jure, pelo menos viveram-no de facto e marcaram história por isso.

O meu agradecimento pela vossa atenção e paciência.

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Aljustrel, 25 de Setembro de 2014

@ José Miguel Leal da Silva





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