IC21 ou a solução é baixar o nível!
http://www.fordham.edu/halsall/mod/ww2-music-uk.html
Aí também se encontra o poema em inglês da "Lili Marléne", incluindo a variante com que Dietrich gravounessa língua para os exércitos aliados. Seja dito que, apenas canção por canção e esquecendo as audiências à época, eu prefiro a interpretação da Dietrich em alemão. Está-lhe muito mais na pele!
(postado em 28/2 a partir de "draft")
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Tirei, naturalmente, a versão original...
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1.Vor der Kaserne
Vor dem großen Tor
Stand eine Laterne
Und steht sie noch davor
So woll'n wir uns da wieder seh'n
Bei der Laterne wollen wir steh'n:
Wie einst Lili Marleen.:
2. Unsere beide Schatten
Sah'n wie einer aus
Daß wir so lieb uns hatten
Das sah man gleich daraus
Und alle Leute soll'n es seh'n
Wenn wir bei der Laterne steh'n:
Wie einst Lili Marleen. :
3. Schon rief der Posten,
Sie blasen Zapfenstreich
Das kann drei Tage kosten
Kam'rad, ich komm sogleich
Da sagten wir auf Wiedersehen
Wie gerne wollt ich mit dir geh'n:
Mit dir Lili Marleen. :
4. Deine Schritte kennt sie,
Deinen zieren Gang
Alle Abend brennt sie,
Doch mich vergaß sie lang
Und sollte mir ein
Leids gescheh'n
Wer wird bei der Laterne stehen:
Mit dir Lili Marleen? :
5. Aus dem stillen Raume,
Aus der Erde Grund
Hebt mich wie im Traume
Dein verliebter Mund
Wenn sich die späten
Nebel drehn
Werd' ich bei der Laterne steh'n:
Wie einst Lili Marleen
Uma versão curiosa das muitas publicadas no referido portal (até uma em latim existe!) é a versão em castelhano, que pouco tem a ver com o original alemão mas que é certamente uma relíquia da "Divisão Azul", que Franco mandou combater ao lado do exército alemão na Frente Leste como retaliação pela Guerra Civil, depois da famosa tirada "Russia si,es culpable!" de Serrano Suñer:
Al salir de España
Sola se quedó,
llorando mi marcha
La niña de mi amor.
Cuando partía el tren de allí
Le dijo así mi corazón:
Me voy pensando en ti,
Adiós, Lili Marlen.
Aunque la distancia
Vive entre los dos,
Yo siempre estoy cerca
De tu claro sol,
Pues cuando tu carta llega a mí,
Se alegra así mi corazón,
Que sólo pienso en ti,
Soñando con tu amor.
Cuando vuelva a España
Con mi División
Llenará de flores
Mi niña su balcón.
Yo seré entonces tan feliz
Que no sabré mas que decir:
Mi amor, Lili Marlen,
Mi amor es para ti.
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(postagem em 28/2 a partir do "draft", por avaria de computador)
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Alguns vieram cá, outros não me recordo. A selecção foi feita por um grupo de cicloturismo e cultura, ligado à indústria de bicicletas na Virgínia, EUA - zona onde aliás se situaram alguns dos maiores dramas e das maiores lutas dos mineiros do carvão americanos:
http://www.cccyclery.com/filmawards/award5.html
e, a avaliar pelos descritivos disponíveis, parece-me criteriosa.
O primeiro, que data de 1941, é verdadeiramente um "clássico" multipremiado: tendo como produtor Darryl E. Zanuch e director John Ford, com Maureen O'Hara e Walter Pidgeon nos principais papeis, conta "a desagregação de uma família mineira galesa em plena era vitoriana, causada pela rápida expansão e consequente concorrência que forçou muitos mineiros galeses e ingleses a emigrarem para [beneficiar das] oportunidades oferecidas pelos centros mineiros de carvão nos Estados Unidos, nos anos 80 do sec. XIX". "Passou" entre nós com o nome de "O Vale Era Verde" e teve um razoável sucesso. É um filme de memórias: o filho, embora lutando consigo próprio, seguiu a profissão do pai e regressa à mina e é ele, já na casa dos 60 anos (raio de casa!), embrulhado no chaile que fora da sua mãe (não, não é o homónimo fado...), que vai narrar a história da família que teve.
No outro extremo temos um outro extremo: trata-se, de um filme ("October Sky" i.e. "O Céu de Outubro") que data de 1999, dirigido por Joe Johnson, também bastante premiado, que narra a história de uma família mineira (de carvão, claro) na Virgínia Ocidental, EUA, no ano de 1957 quando a actividade mineira, ali, era pujante e considerada. O lançamento do Sputnik entusiasma o filho que, ao contrário do anterior, decide "fugir à mina e à tradição familiar" e, contrariando o pai, estudar astrofísica. Arrastado pela crise do carvão, que vem a seguir e pela despersonalização da chefia da empresa mineira, que de local passa a ausente e distante, o pai tenta, não obstante, salvar a empresa em que trabalhava, a mina, a vila mineira sem nada conseguir. O filho faz uma carreira brilhante na NASA e o sucesso espera-o. É o contrário do do primeiro filme, que, como sublinha o comentador da associação ciclista, se ficou, como única e triste riqueza, com o chaile da mãe, alguns livros e bastantes recordações (e espera-se que com a segurança social i.e. a reforma) - o que fica relativamente longe do sucesso, pelo menos em termos actuais.
Os outros três filmes são histórias de movimentos sociais, em que os mineiros lutam pelo direito de se organizarem e terem uma retribuição justa para o seu trabalho, num combate violento num ambiente violento e de que aqui, na Europa, só nos chegam notícias por vezes dispersas e incompletas.
Dirigido por John Sayles e datando de 1987, "Matewan" é uma tragédia americana proposta para muitos galardões, que conta o designado "massacre de Matewan", resultante de um violento conflito laboral nas minas de carvão da Virgínia Ocidental, nos anos 20 do século passado. É considerado um dos melhores filmes sobre a história do trabalho nos EUA.
O "Harlan County USA", prémio da Academia para o "Melhor Documentário" em 1976, foi produzido e dirigido por Barbara Kopple e narra os aspectos de uma greve numa comunidade mineira-rural do Kentucky. Um "Matewan em menor escala, decorrido aquele 55 anos antes!"
O último filme "seleccionado", os "Molly Maguires" (dirigido por Martin Ritt e tendo como actores Richard Harris, Seam Connery, Samantha Eggar e Frank Finlay), conta, em 1969/70, a história de uma sociedade secreta de mineiros activistas, de raiz irlandesa, que combatem, pela violência, a toda-poderosa empresa mineira que persegue, intimida e inclusive mata os trabalhadores que se lhe opõe - no quadro das agitadas relações laborais nos Estados Unicos de 1870-1880. Como em "Matewan", a empresa mineira contrata e infiltra detectives, neste caso os conhecidos Pinkerton, para tentar vencer e "dobrar" os resistentes.
Seria interessante poder vê-los, não seria? Pena que seja tão longe, senão eu próprio iria -- nos intervalos entre dois filmes -- com muito gosto andar de bicicleta nas diversas trilhas temáticas que também são descritas, em plena Virgínia Ocidental. Fica para um dia...
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O que era "O Patascrito"? Era um caderno de folhas inseridas, de papel costaneira, exemplar único escrito à mão (e daí o nome), chistoso em demasia, onde todos podiam deixar um bocadinho de si (hoje, para isso, há os "blogs"!) e que circulava com a condição de haver um pagamento prévio por cada interessado (já me não recordo se de uma c'roa ou duas [3]) para poder ser lido. E assim vivemos, e assim até fizemos uma "festa das rabanadas" que foi uma espécie não de jogos-florais (que também houve) mas de variedades com pretensiosos interlúdios poético-literários, improvisada numa aula de Português (et pour cause!) em que o Leopoldo fez de macaco e se leram cantigas de escárnio e mal-dizer sortido quer entre nós quer, até, "mui civilizadamente para cima".
No 5º ano (1951-1952) adoeci e tive de deixar a turma do Liceu passando ao "ensino particular doméstico" [4] para não perder o ano por faltas. Voltaria no 6º (1952-1953), já o meu colega de carteira, o José Seabra, tinha ido para o "D.Manuel". Mas "O Patascrito" lançara semente... e surgiu aí, como desejo de coisa mais séria, a "febre dos jornais". No "Alexandre", no "nosso", dois alunos do 6º ano - o Abrunhosa Vasconcelos e eu próprio, da turma A, a que se juntou o Manuel Carvalho e Cunha, da turma B - esboçaram um projecto e levaram-no ao Reitor, que era o Dr. Sena Esteves. Este acolheu com agrado a proposta, utilizou com a amplitude possível a condicionada abertura permitida pela legislação vigente (que, não obstante, subordinava qualquer publicação escolar à "tutela" de um Centro Escolar da M.P.), nomeou aqueles 3 mânfios "redactores" e entregou o cargo de professor-orientador ao saudoso Dr. Cruz Malpique, um verdadeiro filósofo de obra escrita e que levava fleugmaticamente a sua posição e a responsabilidade do cargo com compreensão, paciência e bonomia. [5,6]
A prova provada que a "doença" era transmissível foi que o Zé Seabra, chegando ao "D.Manuel II" com o Belmiro Guimarães logo ali "montou" também um jormal:"O Mensageiro", de que era professor orientador o Dr. Óscar Lopes. E é por isso que, logo aqui, há uma primeira correcção a fazer (para uma segunda correcção ver nota [8]) : o José Seabra nunca foi fundador de "O Prelúdio" porque, quando da fundação deste, já não estava connosco. Foi, sim, fundador de "O Mensageiro", jornal dos alunos do Liceu D. Manuel II, onde deixou uma notável marca da qualidade que bem lhe conhecíamos.
Com grande surpresa minha, andava eu nestas lucubrações, um "blog" ilustre da nossa praça, o http://www.purprazer.blogger.com.br publicou - a 14 de Dezembro de 2005 - a ficha técnica do primeiro "Prelúdio" (não houve "número zero") e fez mais: prometeu que dele iria divulgar mais coisas - e divulgou! Devo essa interessante iniciativa ao AEF, que suponho seja o Àngelo E. Ferreira, um dos bloguistas daquele título. Repetem-se seguidamente os dizeres da ficha técnica, então publicada (a repartição por linhas e o centrado é meu!):
PRELÚDIO
Ano I, Porto, 31 de Janeiro de 1953, N.º 1, Mensal, Preço 1$00
Gazeta dos Alunos do Liceu de Alexandre Herculano (ao abrigo do Art. 445 do Dec. 36.508) CENTRO ESCOLAR N.º 6 -- ALA DO DOURO LITORAL
Prof. Orientador: Dr. Cruz Malpique
Composto e impresso na: Esc. Tip. da Oficina de S. José
telefone 21 866
Rua Alexandre Herculano, 123 PORTO
Redactores: José Miguel Leal da Silva, Manuel Carvalho e Cunha, Rui Abrunhosa
E acrescentava AEF: "Esta preciosidade encontrou-a o Eng. Miguel Oliveira, pertença do seu pai. E este jornal vai trazer-nos novidades (antigas) e outras cousas de interesse. Ai se vai. Bom dia. *AEF"
Aliás nem demorou muito tempo a passar do prometido ao feito, postando a 20 do mesmo mês de Dezembro, o "en-tête" do "Prelúdio" nº 1 e duas das obras poéticas nesse primeiro número publicadas. Aí vai tudo, incluindo comentários a itálico, tudo com a devida vénia, aos Autores de hoje e de ontem:
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Transcrevo:
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"Esta publicação do Liceu Alexandre Herculano, feitinha pelos alunos de então, é uma preciosidade. Eu, que sou um jovem, portanto insuspeito, posso bem dizer que antigamente havia coisas que já não há. Era bem diferente o ensino. Claro que houve a democratização e o país melhorou muito no acesso à educação, sem dúvida. Mas lá que agora já não se fazem coisas como o PRELÚDIO, lá isso não. Faltam professores como o Dr. Cruz Malpique, faltam exigência, rigor, seriedade. Será que não podemos ter isto com a democratização? Será que não podemos ter rigor e bons professores? Podia ir mais longe, mas fico-me por aqui. Ah, e convém dizer que não estou a dizer que todas as escolas são assim, claro que há muitas e honrosas excepções -- lá se ia o meu futuro político.
Julgo mesmo que foi neste número 1 do PRELÚDIO que o Manuel Alegre terá publicado pela primeira vez, a avaliar pela idade que teria na altura. O seu poema "AS ROSAS DA MOCIDADE" virá já a seguir, e muitos ensinamentos... Até mais.
Boa tarde.*AEF
AS ROSAS DA MOCIDADE
(Coronemus nos rosis ante quam marcessant)
Ao Exmo. Sr. Dr. Cruz Malpique
Ó rosas em flor da doce Mocidade,
Hoje vicejais, amanhã murchais!
Ai botões de rosa da santa idade,
Em que se vive ainda ao sabor dos pais!
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Gozemos,amigos,o feliz instante,
Destas rosas belas, a desabrochar!
Num dia futuro, não muito distante,
Vereis as florzinhas, tristes, a murchar...
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Cantemos, cantemos, ao nosso esplendor!
Em taças de oiro, o furto da vida
Bebamos. A nossa alma pede amor,
Deixemo-la andar amando... perdida...
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Andemos, que ela esvoaça depressa!
Ai rosas bonitas, que breves sois!
Chorarmos agora, ai, livrai-nos dessa,
Ó rosas viçosas que murchais depois!
.
Amigos, amigos, segui adeante,
Eu paro, que fico... que fico a chorar!
Gozai, que esta hora passa num instante,
É como uma noite de suave luar!
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Vereis, depois, vir noites, noites infindas,
Que não passam nunca, que aborrecem sempre!
Olhai para estas rápidas e lindas,
Estas são assim, olhai... não duram sempre!
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Ai rosas benditas, breves, talvez...
Ai rosas bonitas, que lindas que sois!
Vós brilhais um dia, mas uma só vez,
Vós brilhais um dia e murchais depois!
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M. Alegre Duarte (5.º ano)
Terá este sido o primeiro poema publicado por Manuel Alegre?
*AEF
BALADA DA HERA
A minha casa tem heras,
Tem heras, junto ao portão,
Onde aves fazem ninhos,
No tempo de S. João,
Onde canta um rouxinol
Durante todo o Verão.
Se as folhas das heras caem,
Cai também o meu coração...
Veio o vento, veio o frio,
Veio a chuva e o nevão.
Caem as folhas das heras
Que tenho junto ao portão,
Já não há aves nem ninhos,
Há silêncio e solidão.
Mas, com as flores das heras,
Já não cai meu coração,
Porque, quando elas caírem,
Já ele caíra então.
Não foi chuva, não foi frio,
Não foi o vento suão,
Não foi neve, nem geada,
Nem a força dum tufão,
Foram uns cabelos loiros,
Que passaram junto ao portão,
E, no dia em que os vi,
Perdi meu coração...
A minha casa tem heras,
Tem heras, junto ao portão,
Onde aves fazem ninhos,
No tempo de S. João,
Onde canta um rouxinol
Durante todo o Verão.
Se as folhas das heras caem,
Já não cais meu coração,
Porque tu já nem és meu,
És desses cabelos loiros
Que passam junto ao portão.
José Miguel Leal da Silva
in PRELÚDIO, Ano I, N.º 1, Liceu Alexandre Herculano, Porto, 1953".
: fim de transcrição.
Deixou-me verdadeiramente sem fala, este poemeto escrito há 53 anos. Eu, que dos meus escritos nunca guardei nada [7], que do "Prelúdio" não guardei um número sequer, vim encontrar aqui um bocado de mim, transportado no tempo. Foi interessante, logo no dia de hoje. Acrescento apenas que se chamava Célia, que tinha de facto cabelos loiros e olhos muito azuis.
E fico-me por aqui, algo comovido, como se de um mirante eu pudesse ver os passos todos, bons, maus e assim-assim (estes os piores) que desde aí percorri. Deixarei algumas notas para responder a questões pendentes [8,9,10]. Recordarei que o "Velho Alexandre" [11] está a comemorar o seu Centenário e direi, a fechar, por que razão não vou por lá os meus pés. O argumento pode residir no desconforto de ver por ali, avelhentadas como eu, tantas celebridades; a razão, essa, é uma única, que peço emprestada ao Pavese mas que faço muito minha, agora só neste momento: "Nada é mais insuportável do que o lugar em que se foi feliz."
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[1] O que não significa que, a contrario, escrever no "Prelúdio" fosse para mim critério decisivo de voto.
[2] Seja dito que, como sinal muito prévio de conturbação do regime, nos últimos anos da época destes episódios, começaram a aparecer alíneas de letras no Alexandre Herculano e... mulheres-alunas, o que se diria de todo impensável naquela casa. Ficavam clausuradas nos intervalos, coitaditas, não fosse a presença feminina excitar as hostes que se limitavam então, além muros e além rua, a soltar olhares langorosos para o vizinho "Rainha Santa" (salvo quando também para as profs, que as havia e de que, pelo menos um caso singular, com unanimidade da turma, levaria a que um aluno, numa paródia chamada "Asíada", tivesse mesmo escrito - suma ousadia, tocando a brejeirice - "que outras Vénus temos, mais ou menos bem").
[3] Qualquer dia poucos saberão o que era uma coroa (50 centavos), um cruzado (40 centavos), um tostão (10 centavos), um vintém (dois centavos, que já não conheci), etc. Por razões de peso e de proximidade temporal o conto de reis (1000 escudos) ainda se vai mantendo na memória das gentes para correlação verbal de preços, mas...
[4] Com enorme sacrifício de meus Pais e Tio, que me arranjaram professores (e bons) para todas as disciplinas necessárias.
[5] Seja dito que também não lhe demos muitos problemas... salvo dois incidentes: um artigo sobre (contra) a Lei do Cinema, que nos levou ao corredor da Reitoria e (eu comecei aí a aprender mais algumas coisas!) nos foi proporcionada a honra de receber uma "entrevista expontânea" que estava fora de qualquer previsão, programa e convite, e (b) também uma edição que saiu cheia de gralhas porque a revisão fora apressada "para poder ser distribuída no passeio anual do 5º ano". Mas os santos teriam caído todos do altar, logo à nascença, se tivéssemos avançado com o primeiro nome que tínhamos achado sonante e que era ... "O Avante!" [afinal dizia-se "Avante" no Hino da Restauração, sim ou não?]. Isto foi imediatamente antes de almoço, numa reunião que tivemos a preparar o primeiro encontro com o Reitor, nessa tarde. Eu fiquei a almoçar na Cantina (normalmente ia a casa, a Gaia, e tinha 15 a 20 minutos para almoçar...) e o Abrunhosa foi almoçar a casa, que não era longe dali. Estava eu a comer o macarrão e a dispensar a fruta, quando vi o Abrunhosa que me fazia grandes gestos à porta da cantina. Fui ver que desgraça havia e ele perguntou-me logo: disseste o nome a alguém. Eu disse que não e perguntei porquê. E o Abrunhosa disse eh, pá! se mencionamos o nome, disse-me o meu pai, há logo sarilho. E explicou... Como ninguém queria sarilho e muito menos usurpar o futuro de um título, discutimos logo o que havia de ser. Surgiu o "Prelúdio" não sei bem de quem, mas melómanos tínhamos por ali muitos, pelo que não admira o oportuno e significativo achamento!
[6] Menos sorte teria o "Clube de Cinema", que lançamos no 7º ano (1953-1954) com o apoio do Padre Alexandrino Brochado, que tinha assumido o difícil cargo de ser nosso professor de Moral, substituindo o Padre Domingos Pinho Brandão, que nos acompanhara até ao 6º e fora chamado a iniciar uma importante e desassombrada carreira eclesiástica. Tudo correu muito bem, a malta na 4ª feira, em vez de marchar no saibro do recreio, ia ilustrar-se na extraordinária sala de cinema do liceu (no destacado que se vê à direirta do corpo principal), onde passamos o "Milagre de Milão", o "Polícia e Ladrão" com o Tótó e o Fabrizzi, o "Ladrão de Bicicletas" (cortando lá uma passagem)... mas aí estragou-se tudo. Um zeloso papá escreveu uma carta ao Reitor a dizer que estávamos a pender muito para um certo tipo ideologicamente suspeito de filme italiano, etc. e tal. Acabaram logo os filmes e a "malta" voltou para as marchas de 4ª feira!
[7] Se alguma vez escrevi algo de que verdadeiramente gostasse foi já no Barreiro, muitos anos depois, por volta de 1965-1968, dois poemas que também deixei perderem-se: "Nichols-Herreschoff" e "O teu vestido vermelho". Poderia acrescentar um terceiro, da tal época anterior, a uma outra loira caixeirinha de uma papelaria onde eu ia mais vê-la que comprar sebentas de 20 folhas, que era o pretexto mais barato que eu podia encontrar. Mas esse, "Gouache azul", quem tiver os números seguintes do "Prelúdio" acaba por o descobrir.
[8] Das questões que ficaram abertas, sai uma segunda conclusão (e a resposta parcial a uma pergunta) relativa ao Manuel A. Duarte daquele tempo, que se pode chamar também de "fundador" porque, desde início, ele - que era do ano imediatamente seguinte ao nosso - acompanhou sempre a "operação Prelúdio" com interesse, iniciativa e colaboração. Se estes foram ou não os primeiros versos que publicou, não sei. Mas sei que foram, certamente, dos seus primeiros escritos pois, nesta altura, já tinha um razoável conjunto de poemas, com uma carta-prefácio do Dr. Cruz Malpique. Aliás todos os poemas ali publicados foram seleccionados pelo professor orientador de entre as muitas candidaturas então apresentadas.Colaboração, de facto, não faltava! Malta muito poética e prosadora, aquela!
[9] Um dos nossos erros quanto ao "Prelúdio" foi não deixar uma sucessão completa tipo-equipe, transmitindo a forma como tínhamos conseguido funcionar. Por isso o "Prelúdio" desapareceu algum tempo depois. Mas viria a reaparecer, anos volvidos, pela mão de uma outra equipe muito dinâmica, que deixou nome no liceu e no jornal, tendo à cabeça o José Pacheco Pereira e contando com a colaboração da irmã deste, Beatriz Pacheco Pereira e de Mário Dorminski - que aí também estrearam a sua escrita. Recomendo a leitura das dificuldades que o J.P.P. enfrentou com um reitor diferente do nosso professor-orientador e que relata, de forma saborosa, no seu blog "Abrupto", de 7 de Julho de 2003:
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[10] Uma questão que fica em aberto: no fim da transcrição do meu poemeto, no "José Miguel" do meu nome, deixaram um link que vinha ligar precisamente aqui, a este blog! Como descobriram? Deixo a pergunta ao AEF.
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[11] Agora designado "Escola Secundária "Alexandre Herculano", de cujo portal, com a devida vénia, tirei o alçado geral que inicia estas notas. Aconselho uma visita a esse portal, fotograficamente muito documentado (e com fotografias excelentes), pelo menos para matar saudades. O portal é: http://www.esec-alexandre-herculano.rcts.pt/
Do blog da Vanessa (o "rua da saudade") recebo e, com a devida vénia, republico o desafio seguinte:
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No desenho a pena do Capitão B. Granville Smith,
em "The Danube with Pen and Pencil", op. cit., 1911
... e Ottensheim hoje!
Fora algumas diferenças de perspectiva e de
estrutura do "castelo", o sítio é mesmo... o mesmo!
ou na Espanha de 1958 havia quem dissesse que era assim!
Aos 3 de setembro de 1958 este cidadão português, então estagiando em La Felguera, Astúrias, Espanha, entrou numa livraria (ou "na livraria") e fez um vultoso investimento: o "Diccionario Ilustrado de la Lengua Española", de Aristos (?), Ed. Ramón Sopena, Barcelona, 1957 e uma Gramática da mesma língua, que não anda por aqui perto. No vocábulo "tarjeta", a pag. 963, dava-se esta formalíssima gravura do formalíssimo uso do cartão de visita proposto para terras de Espanha, já que em Portugal as coisas, mesmo formais, não seriam bem assim. O dito Aristos, muito velhinho e de folhas amareladas, ainda anda por aqui e presta bom serviço. Merece, por isso, vir ao "blog" ... e veio!
Creio que as legendas todas se entendem, salvo talvez "cita". De acordo com o mesmo volume, e traduzindo, "cita" é a "fixação de dia, hora e lugar para tratar algo". Uma citação ou convocação, como queiram!
A tempo (acrescentado já a 13/2):
A presente postagem mereceu já dois inesperados telefonemas de outros tantos visitantes que não quizeram deixar mensagem escrita e preferiram recorrer ao "celular" para dizer coisas. Aí vai, com agradecimentos:
O primeiro visitante salientou o risco de confusão nos pares binários que nesta linguagem de cartão de visita se podem encontrar e que são: visita <---> despedida; pêsames <---> felicitações; baile <---> almoço (ou jantar); boda <---> funeral (!!!); desculpa <---> recomendação (e qualquer destas com "desafio") e citação/marcação <---> negativa. Em todos estes casos qualquer erro ou confusão pode de facto ser dramático!
O segundo visitante lembrou uma moda muito mais lusitana que se encontrava nas papelarias de bairro nos anos 50 e que era um cartão tipografado a azul (não sei se a cor teria alguma influência escondida) e que dizia, em impressão primorosa, uma baboseira directa do género: "Menina, gosto muito de si. Aceita o namoro?" E depois, mais abaixo, em letra mais pequena, acrescentava: "Se dobrar o canto da direita é SIM, se dobrar o canto da esquerda é NÃO, se devolver o cartão sem dobrar DÁ UMA ESPERANÇA!". De facto, não fosse a requestada donzela confundir os cantos, no da esquerda estava um grande N, no da direita um grande S e em qualquer deles uma linha de dobra. Para além de se fornecer uma solução para a abordagem por tímidos, já então se propunha um sentido político para o voto em branco! Fabuloso! Não é que o mundo hoje está muito mais propenso à "acção directa"?
1. E aí vão dois provérbios na transcrição fonética do Autor:
Êm xubendu, tôdu nu' mulhêmu'
Barba' parelha' não guardam obelha'
o primeiro é democrático, entende-se bem, porque a chuva quando cai molha a todos (note-se a forma plural com o apóstrofo); o segundo é mais complicado e diz que Barbas iguais ou seja, duas pessoas da mesma idade, não podem deter-se a conversar (isto ainda segundo a explicação do Autor, Leite de Vasconcelos).
E já que estamos em Fevereiro...
Nã xubendu êm Febrêru, nêm bom pradu, nêm bom çilêru.
com a particularidade de "êm" ser um "e com til", necessariamente nasalado, coisa que este computador, neste programa, se recusou terminantemente a dar, mesmo com "copy / paste" (no entanto, vide quadra abaixo, "êm" não deve estar muito fora da realidade)!
2. Engraçada é também uma adivinha:
Quantu mái grande, menu péza!
Resposta: um buraco, numa peça de roupa (p.ex. fato).
Ou, uma "pergunta de algibeira"
Qu' é mai duma baca?
que leva logo de resposta: Sã' dua'!
3. E, para acabar, uma quadra!
Uma belha muntu belha
Mai' belha q'a çaragoça,
Le falarôm êm cazá,
De belha turnô-çi moça.
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Fica em Alcântara, Lisboa, mas a freguesia é agora a dos Prazeres.
Aquela edifício à direita era a Fábrica Sol.
Era!
Naquela esquina, em 1910 (ou 11)
um grande fotógrafo que se chamava Joshua
fotografou um grupo de mulheres grevistas.
Até saiu na Ilustração Portuguesa!
Entre elas
um dos sorrisos mais bonitos que Joshua deixou sorrir
em compostos de prata
e que também já não existe mais,
nem o nomeque tinha,
nem o xaile que trazia
no trajar de operária de Lisboa.
Eram os tempos do viv'á República.
que já não era preciso escrever a sangue, como contou o Dantas.
no "Pátria Portuguesa", não foi?
Depois, continuaram a vir anos de fome e défice,
até que, no passeio em frente à esquina,
junto de muros e armazéns que também deixaram de existir
a polícia carregou sobre mulheres que davam força e fé
aos que teimavam então em fazer greve.
Era já 43 no relógio do mundo!
Até o disse "O Século" (mas sem fotografias!)!
e hoje esse passeio, onde elas não corriam,
com a travessa desapareceu também.
Pois parir-se-ão ali blocos & blocos.
(como até mostrou um apelo aos eleitores
mas claro, claro,
em ano de eleição!)
onde arquitectos vão deixar sonhos em cimento e ferro.
Mas, indiferentes ao aço e ao betão,
aos continuados défices,
insistidos rigores,
excelências perdidas,
lucros fabulosos dos financiadores,
opas que não são de procissão,
memórias deixadas do cheiro do sabão,
da luz da estearina,
os sonhos ali sonhados vão ficar ali mesmo
ali naquela esquina,
a sonharem também
e
a serem recordados
um dia, por ninguém.
.
.