Da escritora Urda Alice Klueger, de Blumenau, estado de Santa Catarina, Brasil, recebi o seguinte e-mail que, como manifestação de solidariedade face à sujeição dos pobres pagantes a procedimentos automáticos, seguidamente divulgo:
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De: urda Enviada: sexta-feira, 14 de Abril de 2006 1:41
Para: Urda
Assunto: GVT-Quem já se incomodou com ela?
GVT – QUEM É QUE JÁ SE INCOMODOU COM ELA?
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Pois não é que me incomodei de novo? E desta vez não foi só com o 0800, como duma outra vez que aconteceu em 2005 – desta vez foi com a própria empresa e o 0800 juntos.
Vamos ver o que acontece: faz cinco décadas que vivo neste mundo de meu Deus, e tanto quanto saiba, até hoje não fiquei devendo nadinha de nada para nenhuma pessoa ou lugar, nem aqui no Brasil nem nos outros países por ando por aí afora. Paralelamente, sou cliente da empresa telefônica chamada GVT já faz um bocado de anos, já nem sei quantos: ela me fornece uma linha telefônica e uma linha para a Internet. Pago minhas contas em dia, diretamente em débito bancário, e não é muito pequena a conta que pago, não – juntando a Internet, dá lá em torno de uns 200,00 reais mensais, o que, acho, para uma pessoa física, não é uma conta pequena.
Daí, no dia 06 de março de 2006 a Associação Comercial do Paraná emitiu uma cartinha para mim, avisando que “por instrução do credor”, eu estava sendo incluída no SPC (lá do Paraná – eu moro em Santa Catarina, outro Estado). Se tivesse alguma dúvida, que ligasse para o nr. 0800 0522525. Muito intrigada, liguei, e uma moça bastante gentil explicou-me o que ocorria: que eu fizera 3 ligações telefônicas (gente, uma é de 0,49 reais!!!) usando o código 25 (que é da GVT) num telefone da Brasil Telecom.
Bem, desde que me lembro tenho também um telefone da Brasil Telecom , também pago através de débito bancário – que é que acontecera que as 3 ligaçõezinhas não tinham sido pagas? Duvidei bastante da coisa, mas a moça estava sendo muito gentil e prometeu mandar-me novamente as faturas, que chegariam em 7 dias.
Vou fazer um parêntesis para inserir aqui o que sei que esses monstros chamados Multinacionais fazem com os seus pobres atendentes das linhas 0800, e que já escrevi em outro texto.:
“(...)quando falo em tadinhos, não quer dizer que esteja a depreciá-los: estou é querendo dizer que são grandes vítimas de um Monstro chamado Capitalismo, que lhes paga um salariozinho de fome, lhes faz decorar algumas frases sempre iguais, lhes obriga a não cometerem nenhum ato de piedade ou de humanidade e lhes faz a aturar todos os estresses que o tal Capitalismo lança sobre os consumidores dos seus produtos. No caso da GVT não é diferente. Com a gentileza que são obrigados a terem para não serem colocados no olho da rua e serem incorporados às multidões de excluídos que o Capitalismo vem formando, sempre maior multidão destinada à morte pela desassistência e pela fome(...)”... Pois é, taí o que penso daquelas centenas, milhares de jovens que ficam tentando ser gentis com a gente quando a empresa quer que eles nos matem e nos esfolem, o que nos causa as grandes revoltas e nervosismos que acabamos devolvendo a eles, e eu imagino que a maioria deles viva com dor de estômago, de cabeça, ou quem sabe até em depressão, de tanto levar bronca imerecida, broncas direcionadas aos seus nababos patrões desconhecidos, que decerto neste instante estão por aí refestelados em iates fabulosos ou vomitando champanhas cujo preço de uma garrafa é maior do que o dos salários mensais dos pobres atendentes que estragam sua saúde para mantê-los a jogar dinheiro fora em cassinos de luxo – e como tenho esta clareza quanto ao que é feito com os seres humanos que atendem o 0800, desde já peço a eles desculpas pelas vezes em que também me irrito e repasso para eles o que não tenho como repassar àqueles donos do Capital e do Poder que, como se fossem Santos do Céu, permanecem inacessíveis à nossa reles ira humana.
Ta, mas voltemos ao meu caso específico com a GVT. Passaram-se os 7 dias, passaram-se 14, e nada de as tais faturas chegarem. Voltei a ligar, então. Outra pessoa gentil atendeu, e diante do meu número de protocolo, achou ligeirinho as faturas que me tinham sido enviadas e devolvidas pelo correio com uma observação mais ou menos assim: “endereço não localizado”, ou algo equivalente. Confirmei o endereço: era exatamente o meu, com rua, número, apartamento, CEP, tudo. Estávamos, portanto, diante de uma falha do correio.
Como sou pessoa que recebe pilhas de correspondência por dia, aquilo me parecia uma brincadeira. Solicitei à atendente que voltasse a me mandar tais faturas com AR (Aviso de Recebimento), portanto, mas sabe como é, os escravos do Capital não podem falar uma palavrinha fora do que lhes é permitido, e ela não podia dizer alguma coisa assim: “Ta certo, vou repassar seu caso para meu chefe”, ou algo assim. Só podia me confirmar que receberia as novas faturas até o dia 11.04.2006. Voltei a esperar, portanto.
Hoje, olhando para o calendário, dei-me conta que já estamos a 13.04.2006 – cadê as faturas da GVT? Voltei ao 0800, tive um trabalhão mas consegui falar com uma supervisora – claro que a GVT iria resolver o meu caso! Resolveu? Uma ova! Por mais de uma hora penei ao telefone, sendo empurrada para um e para outro, contando minha história desde o começo seis (SEIS!!!) vezes de novo – sem a menor sombra de solução à vista, e então achei por bem começar a reclamar via a página da Internet www.gvt.com.br, onde há um espaço para reclamações. O caso é que a gente só pode reclamar um pouquinho, lá, passou de 800 toques (algumas linhas), eles cortam – e então fui mandando minha reclamação aos pedacinhos. Que fizeram? Lá pelo sexto pedacinho .... CORTARAM MEU ACESSO às reclamações. Tem dó, né, gente! Eu tinha prometido ao pessoal da GVT que botaria a história no sino grande, conforme teria dito a minha avó, e aí está, no sino bem grandão, nos muitos ouvidos pela Internet e outros veículos por aí. Tenho medo que me cortem a Internet – mas daí sempre se pode ir a um café cibernético e dar um jeito. O fato é que se eu souber que por causa de continhas mínimas de 2003 e 2004 (quando penso que já era cliente da GVT fazia tempo) estou hoje com o meu crédito estragado, a coisa não há de ficar barata, não. Da última vez que resolvi mesmo peitar uma briga, chegou-se a uma decisão do Supremo Tribunal Federal! Já aconteceu alguma coisa parecida com você? Não sei, mas sei que eu, cá, estou me sentindo uma palhaça.
Blumenau, 13 de abril de 2006.
Urda Alice Klueger
Escritora