Palavra de ordem

(E a culpa é sempre de qualquer Governo) [1][2]
Oportuna correcção: a figura do "espanhol anarquista" é de Erico Veríssimo. Ver o endireitador comentário de Jorge Fagundes.
Dizia o ouro à pedra - Ente mesquinho!
Que profundo cismar sempre te prega
À beira duma estrada, ou dum caminho,
Pasmada, mas sem ver, eterna cega?
Em vão o orvalho a ti te lava e rega,
Em ti não cresce nunca pão, nem vinho.
Dura e inútil - o lodo é teu vizinho,
E o homem só, por te pisar, te emprega!
Em ti só medra e cresce o cardo e os lixos,
Tu serves só de abrigo ao lodo e aos bichos,
E ensaguentas os pés descalços, nus!
Ó pedra! quanto a mim sou a Riqueza!
A cega disse então, com singeleza:
- Eu trago no meu peito oculta a luz.
Imagem: hulha de Pittsburg, EUA; crédito a appaltree.net.
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Insondavel abysmo!... negra estancia,
perenne sorvedouro dos viventes!...
ó sepultura!... horrida habitação,
onde jazem do mundo e s'aniquilam
phantasticas grandezas e vaidades,
que tetricas ideias me apavoram,
quando o baque do corpo inanimado
faz ouvir em teu seio horrido som?!...
Que mysterios não jazem submergidos
da fria sepultura nos horrores!...
Nesse pó dos finados e na cinza
que espr'anças lá se fundem lisongeiras!...
N'esse nada, a que somos reduzidos,
os sonhos do mancebo, os desenganos
da trépida velhice ali perecem!...
Ali se acabam distincções e morrem
privilegios, que fumo são aereo!...
Na presença do tumulo que são
inimisades, rixas, malquerenças?
N'este chão da egualdade, aqui s'aplanam
humanas condições... eguaes são todos!...
Que saudaveis conselhos, tão proficuos
nos inspitram do tumulo os arcanos ?!...
Que escondido thesouro de verdades,
para o varão prudente, se descobre,
se nos horrores pensa do sepulchro!...
Nos despojos da morte que ali jazem
vês tu quem somos, quem seremos, vês!!