Porque (creio) não a coloquei no "blogue" e porque um estudioso destas coisas me-lo pediu, aí vai o texto da intervenção proferida em 25 de setembro de 2014 em Aljustrel. Apesar do que foi aí dito continuamos sem MM. Já é sina…
[apenas faltam as imagens, que vão ser colocadas… mas a promessa do texto fica QUASE cumprida. O MM continua a tardar… e o "subsolo", devidamente "concentrado, continua a sair. Foi o cobre, o estanho, agora o zinco...].
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Minhas Senhoras e meus Senhores,
[Cumprimentos protocolares aos presentes, destacando a Organização e o co-palestrante e agradecimentos pelo convite e o tema]
Abordar a questão dos dois MM,
isto é, da coexistência ou da coordenação mina-metalurgia remete para uma
evocação de Jorge Agrícola e dos doze livros da “De ReMetallica” por este
escritos na Saxónia de 1550. Agricola não tinha qualquer dúvida quanto a essa
coexistência.
Remete ainda para o confronto
entre situações específicas de processamento de minérios, que
exigem abordagem própria, e a produção de commodities vendáveis em mercado,
cumprindo especificações que permitem secundarizar a origem, mas, num e noutro
caso, mesmo quando a passagem ao mercado descaracteriza a origem, a questão não
pode ser afastada – a menos que se assista à venda commodities e, de volta, à
compra dos bens que resultam da sua
transformação.
Na legislação mineira portuguesa dos
secs XIX e XX a ligação das minas às oficinas transformadoras, é sempre discreta
e, quando abordada, implica relações de vizinhança ou de propriedade comum. Mas
nem sempre terá sido assim.
No primeiro dia de Fevereiro de
1893, e estamos entre a legislação de 1892 e o regulamento de 1894, algo de
diferente era dado no Paço para publicação no Jornal Oficial sob o extenso
título de “Regulamento para a condução de
patentes e introdução de novas indústrias a que se refere o decreto de 30 de setembro de 1892”.
Tratava da introdução de novidade
na actividade mineira extensa à actividade metalúrgica e, por isso, no artigo
16º deste diploma constavam as duas definições
que vos mostro e leio e que bem marcam as etapes sucessivas do tratamento de
minérios e da transformação metalúrgica:
“Entende-se
por tratamento mecânico completo o conjunto de operações que, aplicadas aos
minérios, permitam extrair deles os produtos próprios para passarem
directamente ao tratamento metalúrgico
e
chama-se
tratamento completo metalúrgico aquele no qual se obtém os metais em tal estado
de pureza relativa que não careçam de novas operações ou ulteriores
transformações, salvo a necessária e conveniente adaptação de forma, para serem
utilizados como materias primas de outras industrias.”
Se bem que os concessionários ou
exploradores de minas retivessem o natural direito de adoptar os processos de
tratamento que considerassem mais convenientes para os seus minérios, o diploma
vai mais longe e, no relativo à introdução de novidade, divide o continente do
reino em zonas mineiras para minérios de
cobre , ferro, manganês, chumbo, prata e estanho dentro das quais poderia ser concedido o
exclusivo para qualquer novidade, prevendo a possibilidade de instalações de
enriquecimento mecânico ou de transformação metalúrgica assim montadas poderem
servir todos os minérios da mesma natureza que fossem produzidos nas diversas
minas da respetiva zona, sem requisito de propriedade comum. Consignava assim,
sem impor, o princípio de recolha e de tratamento conjunto, como meio de
viabilização de estabelecimento.
A legislação e a prática mineira
subsequente não parecem reflectir estas ideias, que poderiam aproximar
metalurgia e mina sob o mesmo chapéu. Na legislação mineira de 1917 encontra-se
a racionalização horizontal por coutamento,
que não é o mesmo, pois implica proximidade e propriedade, e concedem-se
benefícios fiscais à extração de
matérias primas minerais destinadas à indústria siderúrgica, e só a
essa. Fora disso a questão
mina-metalurgia prosseguiu limitada e privativa – até ao ponto de permitir que,
ressalvando o caso dos anexos mineiros (novamente implicando proximidade e
propriedade), o tratamento administrativo de cada uma das componentes,
extrativa e transformadora, pudesse continuar a correr, durante largos anos, por guichets e
entidades governamentais diferenciadas. Até na corrida ao volfrâmio e no
licenciamento das “separadoras” isso ficou patente e impôs uma correcção
legislativa.
Assim se compreende que quase 50
anos tenham passado entre a introdução, junto às minas de RioTinto, de convertidores
Bessemer para a dessulfuração da mate de cobre e o primeiro convertidor de
cobre que soprou no Barreiro já nos anos 50 do sec. XX, inclusive com mates de
proveniência angolana, e que ficou sendo primeiro e único neste País para tal
produção. Caberia perguntar porquê.
Casos concretos e situações
exemplares poderiam ser aqui apontados sobre encontros e desencontros mineiros
e metalúrgicos. Poderia começar com a extensão informativa que acompanha o
ferro de Moncorvo ou com o caso, esse ao que eu saiba pouco estudado, do
tratamento dos minérios de urânio e rádio na primeira metade do sec. XX. Mas
aqui em Aljustrel, pisando a Faixa Piritosa, basta-me a pirite para, em termos da relação entre minas e metalurgias, falar no que se fez, no
que se não fez e no que se poderia ter
feito. A isso me restrinjo.
Afastando excepções
surpreendentes de enriquecimento e agradáveis surpresas, como foi a do estanho
em Neves-Corvo, fica, para a pirite, um problema original. Tal problema original é
simples e reside na relativa diluição dos restantes constituintes, uns úteis,
outros dispensáveis de todo, outros ainda que, mais discretos e insuspeitos à
partida, vieram depois a revelar o seu interesse, mas tudo isso numa composição
em que enxofre e ferro naturalmente predominam – ou não estivéssemos a falar de
pirites. Sem preocupação de grande rigor, olhando dados históricos, bastaria –
para compreender isso - olhar para a composição do que eu ouso chamar de “ uma pirite
típica, de Aljustrel”[e que é a projectada]
S:
45-47%; Fe: 38-40%; Cu: 0,6 a 1,2%; Zn: 2,5-3,2%; Pb: 1,0-1,2%; As:
0,5-0,6%¸SiO2: 2,8-3,5%
Para além dos metais preciosos
naturalmente concentrados nos “chapéus de ferro”, o princípio da pirite foi o
cobre – e cobre continuou a ser durante séculos. Face à desproporção entre constituintes
principais e este mesoconstituinte, cartagineses, e romanos viram-se perante uma
questão imediata: “Algo está a mais para quem interessa o menos”, que tempos
depois até daria lugar ao recíproco “Algo está a menos para quem interessa o
mais”.
Por isso os primeiros mineiros-metalurgistas,
ao sentirem a necessidade processual de darem uma volta à arrastada cinética da
lixiviação natural para chegarem ao cobre através de processos mais expeditos e
em maior escala, procuraram libertar-se de um dos constituintes principais e,
simultaneamente, acelerar a oxidação do sulfureto, alterando estrutura e
composição, e obtendo com isso melhores condições para a lixiviação.
Daí a queima das pirites, ao ar livre, seguida
de lixiviação e de cementação do cobre das lixívias Os grandes escoriais que
deixaram e a dimensão dos trabalhos que empreenderam, todos “in situ” ou quase,
documentam a intensidade da comunhão mina / metalurgia nesse período remoto.
Que prosseguiu. E tanto que já na
sua fase final, ainda no sec. XIX e primeiros anos do XX, na transição dos séculos XIX a XX, as teleiras,
que tal era o nome das pilhas de queima, fumigaram populações próximas - com acontecimentos
trágicos a marcar o desconforto por estas sentido. O sítio de Pedras Brancas,
excelentemente reconstituído, é testemunho dessa prática.
Os cementos e cáscaras obtidos e mesmo o sinter enriquecido
em cobre que resultava da queima, quando não consumidos em fundições e arsenais
locais, de dimensão relativamente limitada, eram exportados e, quem tal diria,
pelo Barreiro “fin de siécle”– porta do Alentejo, porque aí terminava a viagem
no Caminho de Ferro do Sul.
Tudo se passava então junto à
mina, porque a pirite tal-qual ainda não viajava e porque a viabilidade local
de um estabelecimento metalúrgico mais avançado dependia da quantidade de matéria
prima local ou regionalmente disponível e do capital para tal necessário.
Por razões que fazem parte da sua própria história
RioTinto teve essa capacidade em matéria prima e em capital e optou cedo por
produzir industrialmente o cobre-metal. Portugal ficara-se pela exportação de
matéria prima cuprífera, proveniente de um processo químico-metalurgico de
concentração do metal em produtos vendáveis, mas não de produção do metal. Daí
RioTinto ter podido ir mais longe, de
haver lá um convertidor Bessemer que soprava mate. Enquanto cá tal tal só iria
suceder meio século depois, longe das minas e até com mate angolano – já que o
empreendedor tivera que investir em Angola para alcançar um lugar de acesso ao
metal vermelho..
Ora a unicidade do produto nesta
fase – ou seja o cobre – tornava as
minas da Faixa muito vulneráveis às flutuações do mercado. Novidades perturbadoras
existiam mesmo, como a descoberta e exploração das ricas minas de cobre do
Chile que, aqui mesmo, se fariam sentir levando ao afundamento da Transtagana e
ao correr do pano negro da crise no teatro do cobre alentejano. Menos atingido
seria certamente quem tivesse ido mais
adiante.
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Não muitos anos depois a cena vai
reabrir com um dramático volte-face. Importantes modificações a jusante tornaram o mundo
carente de enxofre e o ácido sulfúrico tornou-se num dos indices de industrialização
química de um país, mormente pelo seu
consumo no fabricacão de adubos químicos
fosfatados.
H2SO4 com
o S bem visível…
Com uma oferta de enxofre elementar insuficiente, cara e monopolizada,
o até então repelido enxofre das pirites sobe à ribalta – e as pirites, feitas agora
“commodities”, viajam a partir das minas, chegam de comboio aos portos
piriteiros, como Huelva, ou já de barco descem o Guadiana, e daí navegam até às instalações químico adubeiras onde são ustuladas,
para que os processos químicos de produção do ácido sulfúrico se alimentem com o mesmo anidrido sulfuroso que até então
empestava as áreas de queima a céu aberto.
Com o correr dos tempos os
centros consumidores sucedem-se. Registem-se para Portugal os nomes da Póvoa de
Santa Iria, do Barreiro, de Setúbal e de Estarreja, este já mais tardio.
Não obstante a utilização
industrial das pirites envolvia novos problemas.. Além de investimentos elevados que havia que
remunerar, a queima das pirites determinava resíduos incómodos mas que, além do
ferro, continuavam a guardar uma grande parte dos valores metálicos presentes no minério e
que, por isso e até porque penalizavam ou mesmo excluíam a utilização
metalúrgica das cinzas, impunham uma purificação destas, que igualmente
recuperasse o que pudesse ter valor.
Voando sobre os multiplos tipos
de fornos que foram usados , apenas
apontaremos os que mais generalizados foram, mercê de aperfeiçoamentos
sucessivos, até à introdução da queima em leito turbulento: os fornos mecânicos
de múltipla soleira, genericamente conhecidos como “fornos Herreschoff”.
Herreschoff
7,5 tpd (1909)n e 100 tpd (1966)
Ver para
escala a figura humana
A recuperação dos elementos valiosos
contidos nas cinzas de pirite obtendo as designadas cinzas de pirite
purificadas ou “purple ore” foi, por isso, a etape seguinte da abordagem mineira e metalúrgica deste
minério.
Passara-se ao tempo de dizer que
““Algo está a menos para quem interessa o mais”. Assim a necessidade de obter
uma dimensão crítica que permitisse o tratamento levou a que, em espaços
regionais ou mesmo nacionais, os produtores de ácido sulfúrico partindo de
pirites optassem, em alguns casos, pela
cartelização das compras, utilizando o enxofre do minério e devolvendo as
cinzas à entidade adquirente para que as
tratasse, recuperando os metais contidos e produzindo um “purpleore”
aceitável. Tal foi o caso na Alemanha, em que a Duisburger Kupferhutte
(DKH) assumiu esse papel e desenvolveu
tecnologia própria que inclusive
licenciou para duas instalações na Península: uma à CUF, no Barreiro; em 1958, que
recolhia as cinzas dos produtores de ácido e vendia o purple-ore à Siderurgia Nacional;
outra, em Bilbao, à Metalquímica del Nervion, em 1962.
Convem aqui referir, pelas suas
consequências, que uma das impurezas rigidamente limitadas pelas Siderurgias é
o arsénio e que, sendo este um dos mesoconstituintes das pirites ibéricas, haveria
que atender cuidadosamente a tal limitação. Esse requisito levara ao desastre
dos primeiros fornos de fluidização, com um só leito e em meio hematizante,
donde oxidante, incapazes de evitar que o arsénio da pirite fosse quase integralmente
transmitido às cinzas e delas ao “purple-ore”. O entendimento de como o arsénio
se comportava durante uma ustulação
gradual, como nos Herreschoff, foi a chave de sucesso para dois
desenvolvimentos tecnológicos que marcaram a ustulação de pirites, no Barreiro:
a intensificação da capacidade de queima e dimensão nos fornos Herrreschoff por
recirculação de gases e a possibilidade de fazer a ustulação desarsenificante
das pirites com arsénio em leitos de turbulência quer fazendo a ustulação em duas
etapes (processo BASF, adpotado no Barreiro) quer, em alternativa, por uma ustulação magnetizante (processo Bolidens,
como foi a opção escolhida pelos nossos confrades de Huelva). Um terceiro
avanço marcante consistiu na introdução e aperfeiçoamento da recuperação do
calor de queima das pirites (e da oxidação do anicrido sulfuroso), com melhoria
do balanço energético do processo global.
Reestruturadas nos anos 50, as
metalurgias de cobre, de chumbo e de metais preciosos do Barreiro – a que se juntaria,
já nos anos 80 a produção de zinco metálico recuperado das lixívias -
constituíam as peças finais de um núcleo metalúrgico integrado e flexível, apto
igualmente a tratar cementos de mina e concentrados tão variados quanto os
da Borralha, de Jales, de Terramonte, da
Panasqueira, de Miguel Vacas e de Aparis.
Barreiro, (Pereira, 1985)
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Porém, os anos 70 tinham já
trazido graves ameaças para a utilização das pirites como fonte de enxofre, com
declínio de consumos e redução de exportações, criando novas preocupações
quanto ao futuro das minas alentejanas:
Seis causas principais podem ser identificadas:
·
A concorrência do ENXOFRE ELEMENTAR,
·
A concorrência do ÁCIDO SULFÚRICO FATAL,
·
A rejeição do “purple ore” face a MINÉRIOS DE
FERRO de melhor qualidade;
·
O aumento da PRESSÃO AMBIENTAL sobre efluentes e
resíduos;
·
Os elevados encargos de capital e custos relacionados com as instalações de USTULAÇÂO;
·
E a própia CONCORRÊNCIA AO ÁCIDO SULFÚRICO em
algumas das suas utilizações,
Dando seguimento a trabalhos do
Serviço de Fomento Mineiro, do Gabinete da Área de Sines. e às próprias actividades dos Grupos CUF e SAPEC,
estudaram-se várias alternativas, algumas delas assaz optimistas, para a
expansão da utilização de pirites, quer para exportação, quer para unidades que
incorporariam a plataforma industrial de Sines.
A própria CUF, preparava-se para
finalmente entrar na mineração de pirite, quer através da Sociedade Mineira de Santiago
quer pela aquisição de uma participação confortavelmente maioritária em Pirites
Alentejanas - intenção esta “in extremis” travada pelo Governo de então que fez
avançar interesses públicos, representados pelo Gabinete da Área de Sines, na repartição igualitária dessa maioria, que
sugeria para a minoria estrangeira uma influência desproporcionada. Isto em
1973.
Após as nacionalizações de 1975,
de empresas mineiras e adubeiras, o Governo Português, face às ameaças
referidas, constituiu, em 1976, a
Comissão para o Programa do Aproveitamento Integrado das Pirites que, até à
entrega dos correspondentes relatórios, em 1982, analisou extensamente e de
forma integrada as várias alternativas possíveis, estabelecendo para Aljustrel
um plano a duas fases:
numa PRIMEIRA FASE
incluía-se o aumento da capacidade de extracção em
Aljustrel e o processamento desse aumento em Sines, num “smelting” de pirite próprio,
com obtenção quer de ácido sulfúrico quer de enxofre elementar e igualmente de
cinzas de pirite que, devidamente tratadas, permitiriam um consumo siderúrgico
local;
uma SEGUNDA FASE – diferida no tempo -
propunha um novo aumento da extração na mina e a obtenção de concentrados por flutuação em
Aljustrel, com tratamento metalúrgico destes.
A descoberta de Neves Corvo em
1977 e as primeiras perspectivas sobre o valor dessa descoberta fizeram com que
o Plano tivesse de ser dotado de uma certa flexibilidade para poder acomodar,
dentro das infraestruturas da unidade metalúrgica de Sines, uma instalação
produtora de cobre através de uma capacidade de “smelting” de concentrados que, atendendo ao que então se ia sabendo, teria uma capacidade inicial posicionada na
gama das 50.000 toneladas de metal.
Na concepção deste arranjo não se excluía a possibilidade
de poder combinar as capacidades de smelting, para pirite e para cobre,
nem igualmente se excluía a
possibilidade de introdução na unidade de cobre de concentrados que fosse possível obter na 2ª
fase,
mas defendia-se a preservação,
tanto quanto possível, do resíduo essencialmente pirítico como “reserva futura”
em eventual carência mundial de enxofre.
Com esta configuração flexível as propostas do
PAIP (Plano do Aproveitamento Integrado das Pirites), aliás descritas em
bibliografia especializada, foram entregues ao Governo em 1982 sem delas
resultar qualquer sequência metalúrgica.
Reencontrar-se-á na mina, e já
nos anos 90, a ideia de prosseguir o PPC,
programa de produção de concentrados, como via da manutenção de
extração, quando – a nível nacional – se extinguia o consumo da pirite para ácido
sulfúrico.
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Entretanto uma forte machadada no consumo da pirite – e
um forte abalo no edifício integrado do complexo industrial da CUF no Barreiro
-- foi dada , desde 1970, pelo sucessivo aperto em especificações e exigências
por parte da Siderurgia Nacional quanto ao “purple ore” colocado no Seixal – a
ponto de reduzir drasticamente e mesmo
interromper a sua aquisição, pelo que o relatório da CUF relativo ao exercício
de 1972 mencionava “não
terem sido ultrapassadas as dificuldades de colocação de
cinzas de pirite purificadas na SN [Siderurgia Nacional], colocação que se
considera “essencial para assegurar o necessário e desejado aproveitamento das
pirites nacionais”.
Após um afincado estudo de alternativas,
começou, em 1977 no Barreiro, já pela Quimigal, a construção de uma instalação de purificação de cinzas de pirite pelo processo
da sociedade japonesa Kowa Seiko para que, articulada com a instalação DKH
existente, se atingisse a produção de 342 000 toneladas [anuais] de peletes
hematíticos autofundentes, de qualidade satisfatória. Quimigal e SN eram então
Empresas Públicas. Ambas!
Concluída essa pesada unidade em 1980, a sua
produção foi meramente esporádica até 1985 – ano em que suspendeu a sua
atividade, nunca mais recomeçada por se ter entretanto gorado o Plano
Siderurgico Nacional que permitiria absorver aquela produção.
Encerrava-se assim – e é triste dizê-lo - o
ciclo de utilização integrada da pirite no complexo industrial do Barreiro, que
durara cerca de 80 anos. Todas as instalações dele remanescentes foram
leiloadas e desmanteladas em 1990.
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Paralisado o Plano de
Aproveitamento Integrado das Pirites e dissolvida a Comissão respetiva, a
presença imponente de Neves-Corvo na realidade nacional depressa comandaria uma
outra questão igualmente polémica e igualmente mal sucedida: o Projeto Cobre.
Num texto que escrevi para fechar
o primeiro volume da obra “Mineração no Baixo Alentejo”, com coordenação de
Miguel Rego, editado em 1996 pela Câmara Municipal de Castro Verde referi
alguns aspectos relativos a esse projecto metalúrgico, que mereceria o título
de uma das mais marcantes obras de Gabriel Garcia Marquez: a “Crónica de uma
Morte Anunciada”.
Recordar-se-á aqui que a primeira
negociação contratual para o estabelecimento da SOMINCOR e seu seguimento,
incluindo a previsão de uma unidade metalúrgica,de produção de cobre foi realizado por uma empresa pública de nome
mal querido que se chamava EMMA - Empresa Mineira e Metalúrgica do Alentejo.
Mal querido porque, a muito breve trecho, cumprida essa primeira missão e
enfrentando já um outro governo, gregos e troianos procuraram contribuir para
que rapidamente fosse substituído o M metalúrgico
por um D, significando Desenvolvimento - mas mantendo pudica e transitoriamente
o A do Alentejo, que pouco mais tarde viria também a cair, o que até se
compreende pela limitação de objetivo que impunha ao que é a actual EDM, que
nada tem a ver com os amores e desamores técnico-políticos de uma avó EMMA algo
ousada porque, aqui e então, queria ver-se simultaneamente mineira e metalúrgica.
Á laia de nota de rodapé,
daquelas que se devem ler como nos livros de Direito, seja dito que a avó EMMA
deixou um filho que me dizem também já ter morrido e ter morrido moço, mas com obra e escola
feitas: estou a referir-me à instalação piloto de flutuação de Valdoca, Aljustrel, que tanto contribuiu
para os desenvolvimentos mineralúrgicos dos projetos do Alentejo e que, por
isso, deveria ter permanecido fora dos domínios, sucessões e partilhas empresariais.
Facto é que, ao criar a EDMA, o poder de príncipe que a tal
se dedicou rematou para a QUIMIGAL, então também [mas ainda] empresa pública, o
conjunto das actividades transformadoras que a EMMA se propunha prosseguir. Estas,
“naftalinado” o Programa do Aproveitamento Integrado das
Pirites”, reduziam-se na prática, ao “Projecto Cobre”.
No desenvolvimento desse
projecto a QUIMIGAL terá procurado dar o
seu melhor. O “Projeto Cobre” avançou até ao arranjo e desobstrução dos
terrenos em Sines (Fervença), ao anúncio público para prequalificação de
“contractor” [enchendo uma página inteira do DN] e a negociações com potenciais
interessados em participar
Sempre reticente a mina no
quantitativo das reservas para suporte da capacidade de transformação proposta
(450.000 toneladas anuais de concentrados e cementos de cobre para a produção
anual de 100.000 toneladas de cobre catódico) e acesa a discussão em torno do
Projeto, a QUIMIGAL entregou ao Governo, em Março de 1988, um circunstanciado
relatório para prosseguimento de obra, que – esse também, iria embater num dos costumeiros cenários de crise
que, em Portugal, sempre ditam outras prioridades.
Um reacendimento do fogo
metalúrgico, em 1990, sob a epígrafe de METCOB, já por via independente da
condução anterior,viria igualmente a extinguir-se em 1993.
Existe suficiente documentação
sobre a matéria e será certamente algo a abordar numa perspectiva histórica
interessante que passa por uma questão pertinente: porque é que Portugal não teve uma metalurgia de cobre quando outros
centros europeus aumentavam a sua capacidade produtiva. Talvez que a
resposta esteja, mais uma vez, nisso mesmo, ou seja, talvez que a fragilidade
das relações MM tenha, mais uma vez também, marcado a nossa existência – tanto
mineira como metalúrgica.
E com esta questão me ficaria, se
não fossem três conclusões que podem e
devem ser tiradas destes e doutros passados:
A primeira é que, como se
pressente dos exemplos citados, a aliança mineira e metalúrgica, fora casos excepcionais
e limitados, não vingou mesmo em Portugal – e que, face às vantagens que muitos
encontram nessas soluções, suprindo intermediações não rigorosamente
produtivas, e às desvantagens que se
encontram por não existirem, seria interessante persistir no modelo.
A segunda diz respeito às
situações pouco convergentes por parte de entidades protagonistas ou a bruscas
modificações de programas que determinam incerteza e levam a bloqueios
intempestivos de que resultam indefinições, dúvidas e, sobretudo, perdas de
oportunidades.
A terceira diz respeito a uma
realidade que se louva e que é o Roteiro de Minas e de Pontos de Interesse Geológico
e Mineiro de Portugal, mas para a qual se defende a extensão e inserção do
registo e memória das actividades transformadoras relevantes que, se não
conseguiram um estatuto MM de jure, pelo menos viveram-no de facto e marcaram
história por isso.
O meu agradecimento pela vossa
atenção e paciência.
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Aljustrel, 25 de Setembro
de 2014
@ José Miguel Leal da
Silva
C:\Users\Utilizador\Desktop\PEN'S RECOVERY\PEN05-Dane_Elec\000 Textos a considerar\REQUIEN PELOS MM NA MINERIA ALENTEJANA (2014).docx