terça-feira, 31 de janeiro de 2006

A luz dos pirilampos

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Foto (elucidativa) de pyractomena borealis ele e ela (crê-se) de "the Fireflie files", local que muito se recomenda e para onde se remete o interessado em todas e quaisquer pirilampices (em sentido sério) em http://iris.biosci.ohio-state.edu/projects/FFiles/frfact.html
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O número de Dezembro do "Scientific American" tem uma pequena notícia "signée" Christine Soares, a pag. 20, de pôr os cabelos em pé. Trata-se de mais uma capacidade indesejável do já famoso H5N1, apresentada através de uma notícia referente à "ressurreição em laboratório" do sinistro virus da "pneumónica", vulgo "gripe espanhola", que nos anos sucessivos à I Grande Guerra "limpou" mais gente em todo o mundo que a guerra imediatamente anterior. Pois bem: em lugar de me revolver no terror assim anunciado para esse flagelo que todos parecem esperar mas explicam pouco e que, dentro das boas tradições medievais, parece vir do extremo oriental do Mediterrâneo, prefiro viajar até à pag. 104 da mesma, ultrapassando todas as desgraças e graças intermédias, e pensar por que razão os pirilampos produzem luz fria. De acordo com o texto, a quimiluminescência decorre do funcionamento de um "orgão luminoso" que controla o afluxo de oxigénio celular e a combinação deste com cálcio, trifosfato de adenosina e pigmentos de luciferina na presença do enzima luciferase, tudo acrescido de uma intervenção de um óxido de azoto (este também aqui!) recentemente descoberta. Duas coisas parecem essenciais: primeiro, que o insecto não aqueça, como já referido, num verdadeiro "keep cool"; segundo: que o insecto ignore este processo todo pois, se lhe conhecesse as complicações e as incógnitas ainda existentes, certamente entraria em "stress" e, de acordo com a pag. 77 ainda da mesma, poderia ter as suas "funções reprodutoras temporariamente suspensas". Porque, para além de avisar certos predadores do inconveniente de trincarem pirilampos, as referidas luzinhas - como seria lícito suspeitar - têm também finalidade sexual. Assim, além de permitirem distinguir entre menino e menina, a notícia sugere que as fêmeas-pirilampas possam escolher os seus parceiros pelas características específicas dos masculinos "piscas". Piscadores mais rápidos e mais intensos serão mais atraentes para elas, pelo menos em duas espécies pirilampares diferentes. Se isto entra em moda e a tal complexa reacção se torne controlável e comercializável (a toxina do perigoso botulismo não se tornou já?), não faltarão por aí irradiantes personagens, uns e outras, a pirilamparem freneticamente. Não é isto melhor que um H5N1 meio-frango-killer a rastejar por tramposos galinheiros asiáticos e a servir de esconde-aqui diz-ali aos governos da Terra antes que a realidade se torne mesmo pior, enquanto prosseguem "negociações com os laboratórios" para que estes se dignem avançar para uma vacina eficiente e acessível?

Esta nota é também uma homenagem sentida aos pirilampos da vereda de Entre Quintas, que ia de Cravel, Mafamude, à Lavandeira, Oliveira do Douro, por Paço de Rei e Águas-Férreas e que, tendo resistido aos predadores e atraído as suas parceiras durante séculos com luzinhas mais ou menos intensas, mais ou menos piscantes, correm sérios riscos de morrer (se é que não morreram já) de uma doença que nenhum H5N1 propõe mas que é também trágica e crescente e que se chama betão-em-desarrumada-toca-vertical-de-humano. Isto se o Parque da Cidade, arranjado na antiga Quinta da Lavandeira, não os acautelou devidamente (espera-se, ainda que em desesperança, que alguém sabedor se tenha lembrado disso e chamado ao caso um entomólogo competente!).

E a despropósito ou a (exclusivamente) geográfico propósito, pergunto a mim mesmo o que será da Lina.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Duas outras leis murphyanas

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A "lei de Murphy" relativa ao progresso científico e à extensão dos campos conceptuais que ontem aqui veio poderia ser evocada referindo Max Planck (foto acima, o pai dos quanta ou o "Seurat da Física"), Nicolau Lobatchevski (autor ou co-autor de uma das primeiras geometrias não euclidianas), Kurt Gödel (o enunciador do teorema de incompletude), Maria Skolodowska (o salto para a radioactividade), Einstein (o afinal que, na natureza, algo de material se pode perder) etc. etc.

Mas não me ficaria bem omitir dois enunciados murphyanos que conheço de há longa data e que aqui cito não só porque o seu autor é meu compadre (destes e doutras bem originais expressões) mas porque muitas vezes a eles recorro.

A primeira, muito sintética e profunda, poderia chamar-se a "lei negativa da praxis", e que, no seu enunciado reduzido, simplesmente afirma que "Só não quem não" . Esta lei consubstancia, indutivamente, numerosas variantes e aplicações, mas o interessante está mesmo no seu enunciado como "cláusula geral".

A outra, que é "a 1ª lei de José Eduardo Silva sobre a evolução das espécies" limita-se a lembrar que "Mal vai do bicho que passa na garganta do outro bicho". Não é rigorosa e cruelmente verdade, sejam bichos, sejam organizações?

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domingo, 29 de janeiro de 2006

Duas leis de Murphy

1. De impacto geral no campo da ciência:

Quando um sistema se torna completamente definido há sempre alguém que descobre qualquer coisa que o põe em causa ou que o expande de tal forma que se torna irreconhecível.

2. De impacto nacional

É demasiadamente fácil ser pessimista em Portugal.

sábado, 28 de janeiro de 2006

"Soldados de Salamina"

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Creio já ter referido esta obra, de Javier Cercas, um dos mais interessantes textos que recentemente li. Mais uma obra que me passava ao lado (ando mesmo muito distraído de tudo e de mim mesmo...), não fosse a referência da Profª. Paula Godinho - a quem agradeço quer a referência quer a reflexão auto-censória dela derivada. Mas tão interessante é que, contra o meu costume egoísta e na ainda inexistência de "livrarias de serviço" (feliz o país que as tivesse, além das farmácias!), ofereci o meu próprio exemplar a quem dele também gostar pudesse - no caso vertente, a minha Filha LM, de urgente partida para outro país. É daquelas obras que se devora e que, chegando ao fim, se tem pena de não saber escrever daquele modo. Porque coisas a contar certamente há. Stinville, por exemplo! Como "sms'ei" a uma amiga minha: a realidade pode por vezes atingir o que se poderia pensar ser ficção. Mas como contá-la?
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

"Feliz Natal" - o Filme

O interesse pelas causas, factos e efeitos da I Grande Guerra (1914-1918) tem ultimamente crescido, nomeadamente em termos cinematográficos. De facto, se houve uma "mãe de todas as guerras", para usar a expressiva terminologia de Sadam, esta tê-lo-á provavelmente sido pelas radicais transformações que determinou em todo o mundo. Este filme - que se assinala como um sério candidato a diversos reconhecimentos da 5ª Arte - veio reabrir o dossier, narrando ó episódio da expontânea "trégua de Natal" de 1914, quando em diversos pontos da frente e contra as ordens dos oficiais, combatentes de ambos os lados pousaram as armas e confraternizaram numa verdadeira "Noite de Paz". Descobri o cartaz que o anunciava, já parcialmente recoberto por outros, numa parede da Rua de D. Luís. em Lisboa. Procurei o local, que recomendo a todos (embora com algumas dificuldades de acesso):
ou, de preferência, na hiperligação ao portal oficial
e fiquei chocado pelo facto de o filme ser dado como estreado em Lisboa a 29 de Dezembro de 2005 e me ter verdadeiramente "escapado", dados os afazeres e circunstâncias absorventes da minha vida pessoal. Começo francamente a pensar se vale a pena perder algumas oportunidades úteis, como esta - ainda que o filme, como é previsível, não acabe bem - em troca de flocos de nevoeiro quando se não tem garra e se começa já a não ter tempo para tocar as nuvens. Mas adiante...
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Que "tréguas expontâneas de 1914" existiram, ainda que localmente, é um consabido facto histórico. O "portal oficial" acima indicado é bastante elucidativo quanto a esse aspecto e, inclusive, quanto à sua rememoração actual. Como elucidativa é "a referência publicada numa obra de referência", de STRACHAN, Hew (edit.) "The Oxford Illustrated History of the First World War", Oxford University Press, Oxford, 1998. Na pag. 50 desta obra, no artigo de SHOWALTHER, D.E. "Manoeuvre Warfare: The Eastern and Western Fronts 1914-1915" apresenta-se, do facto, o seguinte testemunho fotográfico, de que seguidamente se traduz a respectiva legenda.

Legenda: "Na realidade, a famosa "trégua de Natal de 1914" consistiu numa série de armistícios locais, geralmente da iniciativa dos Alemães e que eram mais frequentemente correspondidos pelos Ingleses que pelos Franceses. As formas de concretização dessa trégua foram variadas, desde um simples cessar-fogo temporário até a confraternizações na terra-de-ninguém, à escala do batalhão. Em 1915 os respectivos Alto-Comandos puzeram termo a essa prática; contudo suspensões informais ou limitações das hostilidades tornaram-se parte da experiência vivida na guerra de trincheiras. É preciso uma grande argúcia para, neste instantâneo, distinguir Ingleses de Alemães.".


quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

A excursão mineira de 2004 - 3

Minas de Riotinto: a Corta Atalaya
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Impressiona mesmo...

Para dar uma ideia da dimensão da corta:
o ponto no extremo do indicador é... uma locomotiva!

Mas uma locomotiva destas, está bem? Das avantajadas!

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

A excursão mineira de 2004 - 2

De Corte do Pinto (S.Domingos) a Paymogo, pela Volta Falsa
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O início da travessia
(Para quando uma ligação em termos às terras de Andévalo?)

A fronteira deve ficar mais ou menos por aqui!



terça-feira, 24 de janeiro de 2006

In Pace

Vitória Rocha
1914 - 2006

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

A excursão mineira de 2004 - 1 / Dois aspectos

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O rio Guadiana (i.e. o rio Rio-Anna) em Pomarão

A caminho da "corta" em Tharsis

domingo, 22 de janeiro de 2006

Homenagem a Sandie Shaw

(Recordando "Puppet On a String")
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Aí a temos novamente. E em gravação "remastered"!

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sábado, 21 de janeiro de 2006

Romain Gary - 25 anos já passados desde a sua morte

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Entusiasta que fui e sou da prosa de Romain Gary, fiz duas descobertas recentes a propósito deste escritor francês, de origem russa, dramaticamente desaparecido em Dezembro de 1985. A primeira foi na estante da "Folio" da livraria junto ao embarque, já em Orly Ouest, à espera do "enlatado" para Lisboa [1], como oportunidade de comprar uma colectânea de artigos e ensaios de opinião de me faltava, o "L'Affaire Homme", a segunda a de um círculo de estudiosos e idênticos entusiastas do mesmo autor, até com "link" à também desaparecida Jan Seberg (viram já a inolvidável "Joana d'Arc" de Otto Preminger, de 1957?), em que prontamente me inscrevi [2,3].
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Falar sobre Gary levar-me-ia longe. Louvo-me, assim, numa tradução do brevíssimo texto introdutório de Anne BRIGAUDEAU transmitido no programa especial dos "Les Cahiers de l'Herne" a ele dedicado em France 2 e que terá sido aberto pelas 17:42 (hora de Paris) do dia 8 de Dezembro de 2005:

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"No dia 2 de Dezembro de 1980. Romain Gary fechava o seu último texto com o seguinte adeus: "Diverti-me muito. Obrigado e até à vista." Pouco depois, no seu apartamento da rua do Bac, empunhava o revolver Smith & Wesson que tinha sempre à mão e enfiava uma bala na cabeça.
O único autor que ganhou um duplo Prémio Goncourt (como Romain Gary, em 1956, por "As Raízes do Céu", e como Emile Ajar, em 1975, por "A Vida à Sua Frente") tinha decidido que, depois dos 66 anos, "o seu bilhete de viagem perdera a validade". Poucos teriam reparado, então, que tanto Gary como Ajar significam "arde" em russo. Antigo diplomata, companheiro da Libertação, heroi da 2ª Grande Guerra, Gary iria assim trazer, ao fim dos seus dias, a mesma fulgência com que sempre vivera.
No vigésimo quinto aniversário da sua morte, vimos recordar este escritor que desafia qualquer classificação e a quem os "Cadernos" dedicam um número apaixonante, para além da edição ou reedição de numerosos textos que neste momento têm lugar."
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Eis uma pequena amostra do que foi e é Gary. Apesar do crescente apagamento que, entre nós, vai notoriamente afastando a literatura francófona, vale a pena visitar ou revisitar as suas obras.
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E vale a pena referir como, em plena década de '60 do século passado, Romain Gary esteve para ganhar um prémio de conto num dos Jogos Florais da Associação Académica do Barreiro, por onde eu passava depois da jornada fabril, matando os meus dias de solidão de mal-casado. Naquele tempo, Gary era uma das minhas referências, em termos de leitura, e era-me particularmente atractiva uma das suas primeiras obras: a "Educação Europeia"("L'Éducation Européene", editada em 1945, e que entrava em Portugal - como muitas outras obras de referência - pelo fabuloso, formador e económico sortido dos "Poche". Pois andava eu tão entusiasmado com o texto e também tão só que - num comportamento habitual que me conduz a tarefas intermináveis e interminadas quando cumulativamente me entusiasmam livros e me sinto só! [4] - me deu no bestunto fazer uma tradução da obra. Na "Académica" ou mesmo na "Boleira do Parque", que então fechava tarde, havia sempre um cantinho onde eu me podia sentar e, página após página, procurar transcrever as frases de Gary com o mínimo desejável de ofensa ao seu espírito, forma e estética. Uma dada noite, talvez mais atraído pelas discussões na sala ao lado, que muitas e vivas havia, deu-me para guardar as folhas duplas de almaço pautado da tradução já feita do primeiro capítulo e parte do segundo, numa gaveta tida por segura. Só não sabia é que, nessa gaveta, tida por segura também por outros, o juri dos Jogos Florais daquela prestimosa associação de juventude iria, no dia seguinte, depositar os trabalhos das diversas modalidades, já retirados dos envelopes de entrega e com os pseudónimos escritos no topo. Por superveniente avaria em instalações produtoras a meu cargo, que reclamaram teimosamente a minha presença durante quase uma semana, as folhas da minha modesta tentativa de tradução ficaram afastadas esse tanto tempo da minha presença e continuidade de tarefa. É verdade que tinham entretanto encontrado inesperadas companheiras, que iriam ser sacadas da segura gaveta e que iriam enfrentar, conjuntamente com aquelas, a leitura severa do juri dos jogos florais, na modalidade de conto, que, nos termos do regulamento e na falta de outra indicação, assumiu Gary como pseudónimo do autor concorrente! Fabuloso, concluiram os membros da dita comissão de julgadores (e é mesmo!). Só não se entendia bem como o texto acabava assim em suspenso, como se lhe faltasse prosa ou se perdesse a folha final! De qualquer forma, procure-se ou não a gaveta, a candidatura ao primeiro prémio estava mais que estabelecida. Mas, surpreendentemente, faltava também o envelope lacrado com o mesmo pseudónimo no exterior e, dentro, o nome e endereço do "pai biológico"! Mistério, pois!
Aí alguém mais conhecedor e que me tinha visto em pleno fervor tradutório deu o grito de alarme. Contactado de urgência, dei umas boas risadas e expliquei tudo. Gáudio geral e conclusão que o Autor, esse, era mesmo bom! Como não houvesse nos Jogos modalidade de tradução, acabei por só ganhar amizades, o que já é muito e valioso, e, com o cair do pano sobre aquele episódio patusco, nem Gary viria a saber jamais o risco de premiado que aqui correra!
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[1] "Enlatados" mesmo! Qualquer dia a TAP vai cobrar adicionalmente pela extensão dos fémures ou obrigar os passageiros do banco da frente a, por admirável nova concepção dos encostos, poderem acolher os joelhos dos passageiros de trás na caixa dos sovacos.
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[3]Sobre Jean Seberg (Iowa,1938 - Paris,1979), o seu casamento com Gary e posterior divórcio, o seu envolvimento político e as maquinações sórdidas do FBI para lhe produzirem uma verdadeira "morte artística" e que poderão ter contribuído para o seu suicídio ver www.saintjean.co.uk
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[4] Pode não se acreditar, mas a verdade é que olho actualmente para a estante donde se exibe, convidativo, o "De Re Metallica" de Agrícola, obra gigantesca e tentadora para que me falta tempo, motivação, coragem e que eu nunca acabaria, a menos que desistisse de outras guerras e que, como por Nausicaa, me fosse dada paz.
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Vêm aí as cerejas... - 4

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François Clouet (1505/10-1572)
[escola de Fontainbleau]
"Gabrielle d'Estrées e sua Irmã, no Banho"
Museu do Louvre

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Vêm aí as cerejas... - 3


Cerejas, meu amor
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Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.
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E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba
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e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...
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Renata Pallottini
(in http://c.seabra.utopia.com.br/poesia que muito se recomenda)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Vêm aí as cerejas... - 2

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Le Temps des Cerises
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[Deve-se a Jean-Baptiste Clément e Antoine Renard esta canção romântica que, composta e cantada entre 1866 e 1868, foi anterior à Comuna de Paris (1871). Não obstante esta canção simples e até ingénua, como recorda o local http://drapeaurouge.free.fr/cerises.html, que traduzo muito livremente nesta nota, ganharia surpreendente força, que ainda hoje lhe assiste, quando se tornou, após o massacre dos "Communards", um símbolo da Comuna e das imensas esperanças que criou]
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Quand nous en serons au temps des cerises
Et gai rossignol et merle moqueur
Seront tous en fête
Les belles auront la folie en tête
Et les amoureux du soleil au cœur.
Quand nous en serons au temps des cerises
Sifflera bien mieux le merle moqueur.
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Mais il est bien court le temps des cerises
Où l'on s'en va deux cueillir en rêvant
Des pendants d'oreilles
Cerises d'amour aux robes pareilles
Tombant sous la feuille en gouttes de sang.
Mais il est bien court le temps des cerises
Pendants de corail qu'on cueille en rêvant.
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Quand vous en serez au temps des cerises
Si vous avez peur des chagrins d'amour
Evitez les belles
Moi qui ne crains pas les peines cruelles
Je ne vivrai pas sans souffrir un jour.
Quand vous en serez au temps des cerises
Vous aurez aussi des chagrins d'amour.
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J'aimerai toujours le temps des cerises
C'est de ce temps là que je garde au cœur
Une plaie ouverte
Et dame Fortune en m'étant offerte
Ne saura jamais calmer ma douleur.
J'aimerai toujours le temps des cerises
Et le souvenir que je garde au cœur.
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terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Vêm aí as cerejas... - 1

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A canção da cereijeira
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Disse Deus na primavera: «Ponham a mesa ás lagartas!»
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E a cereijeiracobriu-se immediatamente de folhas, milhões de folhas, fresquinhas everdejantes.A lagarta, que estava dormindo dentro de casa, acordou, espreguiçou-se,abriu a bocca, esfregou os olhos e poz-se a comer tranquillamente asfolhinhas tenras, dizendo: «Não se póde a gente despegar d'ellas. Quem éque me arranjou este banquete?»
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Então Deus disse de novo: «Ponham a mesa ás abelhas!»
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E a cereijeiracobriu-se immediatamente de flores, milhões de flores delicadas ebrancas.E a abelha matinal aos primeiros raios da aurora pousou sobre ellas,dizendo: «Vamos tomar o nosso café; e que chávenas tão bonitas em que odeitaram!»Provou com a linguita, exclamando: «Que deliciosa bebida! Não pouparam o assucar!»
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No verão disse Deus: «Ponham a mesa aos passarinhos!»
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E a cereijeiracobriu-se de mil fructos appetitosos e vermelhos.«Ah! ah! exclamaram os passarinhos, foi em boa occasião; temos appetite,e isto dar-nos-ha novas forças para podermos cantar uma nova canção.»
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No outono disse Deus: «Levantae a mesa, já estão satisfeitos.»
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E o vento frio das montanhas começou a soprar, e fez estremecer a arvore.As folhas tornaram-se amarellas e avermelhadas, cairam uma a uma, e ovento que as lançou ao chão erguia-as novamente, fazendo-as esvoaçar.
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Chegou o inverno e disse Deus: «Cobri o resto!»
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E os turbilhões dos ventos trouxeram a neve, sob cuja mortalha tudo dorme e descança.
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Guerra Junqueiro
"Contos para a infância - Escohidos dos melhores auctores"

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Cumprimentando o Chile

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No dia seguinte
(ao 15 de Janeiro de 2006)

domingo, 15 de janeiro de 2006

Esgares

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Uma caneca do caneco, mas o Jim Carrey consegue ser mais novo e menos cerâmico...
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sábado, 14 de janeiro de 2006

Pondo-me em dia...

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Para me por em dia e não deixar mesmo derreter o "blog" qual sorvete, recupero uns breves apontamentos de viagem...
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2006-01-08
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De facto já não viajava de avião há muito tempo. Sinal evidente de alguma regressão funcional, num país em que muita coisa importante se passa fora. E, independentemente de, em nome das austeridades diversas e que entendo, ter deixado de aceder a certas tarifas - o que me não afecta e é coerente com a minha maneira de pensar - constato que, no geral e no particular, a qualidade do transporte passou, entretanto, ao estado de péssima. Bom, a finalidade daquelas geringonças e das companhias que estão por detrás delas é mesmo transportar-nos e o resto é pois acessório. Aguentemos a crise, conscientes de que alguém - numa situação de efectivo balanço - estará certamente a ganhar com isto tudo.
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No sítio onde cheguei, com uma sanducha manhosa no bucho, o imperioso dos horários, combinado com o facto de ser domingo e a quiosqueria estar encerrada por obras de remodelação local, não dava muita margem para abordagens gastronómicas e/ou demoradas. A solução era recorrer a uma hamburgueria relativamente conhecida, pois que era a única restauração por ali aberta e temporalmente acessível. Desde a minha passagem pelos EUA e o Canadá que não me tornei abstencionista radical àquilo a que muitos chamam, com razoável propriedade, de "junk food" e em que juram altaneiramente nunca jamais por os pés (muitos deles até serem condescendentes avós, claro). Sei comer tanto isso como a "nouvelle cuisine", como passar de blinis russos a tâmaras enroladas ainda não sei bem com quê perto da "Maison des Merveilles" de Bamako e estou sempre pronto a recorrer ao que, na altura, necessário se mostre e indígena pratique. Pois aqui, pelos diversos imperativos expostos, necessário mesmo foi. No espaço, aliás cheio de gente na mesma circunstância supletiva, no que seria a triste calma de uma repleta quase-sala de espera europeia-central, agitavam-se dois fenómenos perturbadores e olhados com ar censório: dois putos que por ali corriam e berravam, importunando tudo e todos, chocando com as mesas e arriscando o derrube de tabuleiros, chamados em alta grita e em confrangedor vernáculo pelas respectivas mães. Adivinhem qual a nacionalidade dos mesmos? Se disserem o que penso que disseram, acertaram apenas em 50%, pois, na verdade, um era de "palópica" origem. O outro, sim, era mesmo "pelópico".
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2006-01-09
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No segundo andamento da viagem, a eficácia dos caminhos de ferro centro-europeus voltou a marcar pontos. Quando viajo de comboio por aquela geografia, essa eficácia confrange-me, pois não posso evitar recordações antigas, imagens remanescentes e até memórias transmitidas. Vieram-me à ideia, entre outros cenários, dois filmes referidos quase à mesma época, embora algo distantes quanto a produção: o "Comboios Rigorosamente Vigiados", estreia do checo Jiri Menzel, sucesso em Cannes 1966 e de que nunca mais ouvi falar, e o "clássico" "A Batalha do Rail", de René Clément, filme choque francês de 1946. Poderiam ter vindo muitos outros, mas recordei estes.
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Recordei também as sagas dos comboios blindados, como máquinas de guerra ultrapassadas, sobretudo no leste europeu, mas que deixaram algum significado também em Espanha e em Cuba. Para os nostálgicos da história desses "comboios da morte" activos (já que os "comboios da morte" passivos eram os que conduziam rebanhos humanos para estações-terminus humanamente execrandas), que - uns e outros - um mix Bruegel-Turner não desdenharia, sugiro uma demorada visita ao Google sob o conceito "armoured trains".
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Para completar o trajecto, lembrei ainda a "Casa dos Espíritos", em que a linha de acesso às minas portuguesas de Neves-Corvo ganhou cenário de estação chilena, promovendo Castro-Verde a local de estreia mundial. E, para afastar de vez quadros negros ou cinzentos, permiti-me não recusar a memória transmitida de um filme que lamento não ter visto, mas que animadamente me relataram, que no enquadramento dum comboio russo do "antigamente", carregado de cortesãos, "cortesonas", com concessões democráticas ao pessoal ferroviário necessariamente presente e "champagne" à bessa, e que, retido pela neve mas suficientemente aquecido, sedeou - até ao seu resgate, oxalá demorado - uma desenfreada espécie de "Decameron" em que, em vez de se contarem histórias, se exercitavam directa e generosamente os actos.
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E, entretanto, as estações iam passando e passando, iluminando fugazmente as janelas.
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2006-01-10
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Numa igreja muito antiga, uma imagem de Santo António (dito de Pádua! não podia deixar de faltar essa habitual e errónea "denominação de origem"!), rodeada de ex-votos. Aliás todas as imagens da referida igreja estão rodeadas de ex-votos, uns pintados, estilo "naif" - como são os da Senhora do Rosário do Barreiro - outros gravados em placas de mármore ou de madeira. Pergundo a mim mesmo se aquele casal que ali foi de longe agradecer a cura do filho, em 1892, o teria ainda visto vivo em 1918. O amor pode muito - até a ilusão do momento.
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E por falar em '18. Meu Pai, em talvez reminiscências do Lys, costumava sentar-se à beira da minha camita, antes de eu dormir, e recitar-me um texto francês que, não sabendo ainda francês, me tinha sido uma vez traduzido e isso, com a minha memória de então, era suficiente: "Un jour un soldat, échapé du champ, frappe à la porte du foyer paternel. - Qui est lá, demande la vieille en sursaut! - C'est votre fils! - Vous mon fils? Vous mentez! Mon fils est à la frontiére, à defendre la Patrie!" Eu ouvia, ouvia, sabia já de cor o discurso todo, papagueava-o mesmo, mas não desistia de perguntar sempre no fim, feito Calvin: - E depois? - Depois - dizia meu pai - o filho, envergonhado, voltou para a guerra! Se essa explicação, que eu havia provocado, me dava uma ideia muito vaga do valor da Pátria, por outro lado também me irritava. Achava eu que, sem uma tragédia, aquela história não acabava bem e, por isso, o "espírito-Calvin" (então ainda indesenhado) reapossava-se da minha pessoa e motivava outra questão cruel: - E morreu lá? Meu Pai então, fingindo colaborar no drama mas juntando a reserva da dúvida, limitava-se a dizer: - Talvez! E eu adormecia tranquilo, felizmente longe, enquanto a guerra corria novamente pela Europa.
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2006-01-11
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A primeira fase da minha tarefa ficou hoje concluída e, por isso, mudo de local. O objectivo foi - está - atingido e teve um produto acessório: constatar como, para além das fachadas que ficam, cada pessoa - em si mesma uma história - pode ser feliz ou infeliz, com momentos de plenitude ou ocasos de solidão. A tendência é para que, em termos algo fatalistas, essa sucessão de estados se verifique pois que, em torno de cada um e no desenrolar do tempo, os conviventes vão rareando: uns porque o tempo ou as razões os levam, outros até porque se chateiam e afastam. Ficar só pode ser uma forma de morte antecipada, porque em torno do solitário nada vai parar - e a história privilegia sempre os sucessos e esquece tanto os desaparecidos como minimiza as razões dos desaparecimentos. Está na onda quem (e enquanto) nela permanece.
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2006-01-12
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As tensões induzidas nas sociedades por desenvolvimentos desiguais e mal concebidos de início engendam monstros. O sentido de insegurança das populações modifica comportamentos, reduz opções, compromete os transportes colectivos e mina os interesses imobiliários suburbanos. Numa TV local - e estou ainda longe de Portugal - ouço falar em grupos de cidadãos para colaborar com a polícia e constato a surpresa de um representante de um sindicato de polícias que se interroga sobre o que isto pode significar, sugerindo, mas não afirmando claramente, que tal possa representar uma encapotada legitimação de "milícias". Apela-se - aqui como lá - ao reforço de poderes e, no seu desespero, as ditas "minorias", ou sobretudo as segundas e terceiras gerações delas, já nacionais mas não assimiladas, assoladas pela permanente "crise" da economia (repito uma pergunta anterior: num sistema de balanço geral, quem é que está a ganhar com isto?), actuam de molde a reforçar tanto esses receios como tal pedido de reforço. O ensino degrada-se, de ambos os lados. Personagens isolados saltam para a liça e tentam afirmar o seu "eu" de poder. No campo internacional, a jactância de um chefe nacional ganha força própria e, na defesa das razões que afirma assistirem-lhe, enreda os sistemas estabelecidos. São sintomas gerais. Que herança esta que estamos a construir para nós mesmos?
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2006-01-13
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Dia infernal, completando indagações, visitando locais, recolhendo comprovantes. Tudo fica pronto, pouco antes do jantar. Visita fugaz a uma retrospectiva muito parcial de Turner (pessoalmente, gosto de Turner). Algo diferente, um livro sobre como fazer iluminuras. Pode ser um "hobby" para dias futuros. E fazer a mala. Regresso amanhã.
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Na livraria, especializada em livros de arte, encontro a resposta para uma pergunta que de há muito arrastava, talvez até por inércia ou esquecimento meu. Conhecia a obra desde o "1900" de Bertolucci e, depois, comprei mesmo uma reprodução dela (infelizmente não legendada) numa papelaria do Porto. Mas o autor e o nome da obra? Encontrei, finalmente!
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Giuseppe Pellizo da Volpede "O Quarto Estado"

na Galeria de Arte Moderna de Milão
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2006-01-14
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O regresso. Não reproduzo a fala de D.Carlos para João Franco, mas por vezes dá mesmo vontade. Encontro o País extraordinariamente motivado pela natureza intrusiva das facturas telefónicas detalhadas. Em tempos que já lá vão, conheci o titular dum cargo elevado numa pessoa colectiva que diariamente reclamava uma entrega, algo sigilosa, das listas de "faxes" enviados e recebidos. Não era que tal exame lhe competisse mas... conhecimento (até do que os colegas enviavam ou recebiam!) é certamente também força. Parece que, entretanto, se deixou disso - ou disso o fizeram deixar-se! O "tal espírito" perdura por aqui!... Apre!
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Não deixa de ser curioso que, entretanto, o tal País extraordinariamente motivado, não tenha ainda reagido às afirmações ontem feitas por um Ministro de que, a X anos, poderá não haver forma de pagar as pensões !
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Quanto ao que fui fazer, alvo atingido. Tenho muito e muito para contar. Daria uma espécie de "Soldados de Salamina" noutro campo e, certamente, num estilo incomparávelmente menor que o de Javier Cercas. Aprendi também algumas coisas. Aprende-se sempre.
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Pelo menos aqui, no meio das deserções sucessivas e do desmantelar de uma experiência, que recorda a viagem dos barcos para o estaleiro-matadouro de Alhos Vedros (cheguei a ver dois, irmãos gémeos, vindos propositadamente dos Grandes Lagos para ali passarem a sucata) , procurei redefinir coordenadas para me orientar no labirinto que tinha deixado e encontrei o "Bourbon". A ele fielmente regresso. Enquanto existe e/ou enquanto existo.


domingo, 8 de janeiro de 2006

Blog no frigorífico

Como vou estar fora de portas durante 1 semana, procurando em França a solução para a adivinha que foi a ultima postagem em www.fabricasol.blogspot.com este blog vai ficar entretanto "no frigorífico". Muito bom seria se também pudéssemos pôr 8 dias no frigorífico as afirmações de alguns personagens que adejam por aí, com ou sem blog. Sobretudo dos que presumem tudo saber. E, com isto, adeus, até ao meu regresso!

sábado, 7 de janeiro de 2006

Ilse Losa (1913-2006)

Abrindo final e tardiamente o jornal, num dia de azáfama quase febril, depara-se-me uma nota triste, que infelizmente não vou poder desenvolver como seria merecido. Morreu Ilse Losa.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Dia de Reis

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Nesta festa que praticamente encerra as comemorações natalinas fr 2005-2006, pelo calendário gregoriano, recomendo o já referido Bolo-Rei, acompanhado a Vinho do Porto, e a leitura de "Gaspar, Melchior e Baltazar", de Michel Tournier.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2006

Véspera de Reis


Numa típica mesa portuguesa em que se festeje este dia (tal como na véspera de Natal), mesmo que pequenino seja, mesmo que em fatia, mesmo que nas variantes arrevesadas que vão aparecendo em nome nda inovação mas sobretudo em nome do mercado e do consumo, não será de faltar o Bolo-Rei

(A tempo: esta postagem foi reconstituída já em 2008 dos apontamentos existentes, por se verificar ter sido perdida a sua oportuna publicação)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Da persistência


Não sei se ainda se conhece a história algo pseudo-ingénua das duas rãs que caíram no balde meio cheio de leite, mas a verdade é que não se perde nada - antes pelo contrário - se fosse mais contada por aí. Prometi-me trazê-la hoje mesmo a este blog, já que diversos factos ocorridos durante o dia petérito constituiram mote para me recordar dela. Pois bem, duas rãs caíram no tal balde meio cheio e estrebucharam sem poder sair, as paredes tão escorregadias estavam como com o leite podem ser. Ao fim de uma boa hora ou hora e meia, uma das rãs disse para a outra: Não posso mais, estou cansada, estou farta, vou morrer, adeus companheira! Parou de estrebuchar e, desaparecendo no leite, afogou-se, morreu rapidamente. RIP! A outra, aflita, ainda por cima isolada, continuou a estrebuchar, agitada. Mais cinco minutos, mais dez minutos, mais quinze minutos já quase sem mais poder sofrendo no limite! E eis que ao décimo-sexto minuto - milagre! - sentiu que qualquer coisa confortavelmente sólida e macia se desenvolvia debaixo dos seus pés e que fazia firme suficiente para que, com as poucas forças que lhe restavam, conseguisse saltar para fora do terrível balde, finalmente livre. A explicação é simples e envolve uma "ideia de ruptura": com tanto bater compulsivo das patitas, desesperadamente mas sem parar, tinha conseguido transformar o leite em manteiga. E assim acaba a história. Nada mais.
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terça-feira, 3 de janeiro de 2006

I. Na secretaria... II. Comentário acerca do cidadão Florindo

I
Tem-se falado nisso e conviria mesmo falar-se um pouco mais. No seu habitual comentário "Por outras palavras" no JN de ontem, 2 de Janeiro, que intitulou "Novas notícias do bloqueio", Manuel António Pina refere-se à situação paradoxal de dois candidatos às próximas eleições para PR (Manuela Magno e Luís Filipe Guerra), ambos não-partidariamente apoiados, que se viram arredados do sufrágio porque "terão confiado, por exemplo, que as juntas de freguesia se regem pelo Código de Procedimento Administrativo e não pelos telefonemas dos confrades e o resultado foi que terminou o prazo de apresentação das candidaturas e ainda continuam ambos à espera de certidões que, por lei, lhes deveriam ter sido passadas em três dias." E pessimisticamente conclui que poderão processar 350 freguesias mas: a) quem se importa[rá] com isso? b) quais os efeitos de uma decisão judicial que apontará para um futuro remoto quando o mal que está feito se reporta a eleições que estão já à vista?
Isto é grave e, mais uma vez, toca-nos a todos. Assobiar para o ar não dá. Se a lei permite abusos - e a demora de processamento de documentos sujeitos a prazo que determina uma não aceitação de candidatura é uma evidente e flagrante denegação de direitos - que se modifique a lei para os evitar ou para exemplarmente castigar os abusadores, nomeadamente fustigando-lhes fortemente as carteiras em modalidade tipo Código-de-Estrada, ou, consoante a gravidade, afastando-os mesmo de cargos de que se mostrem, pela prática (neste caso a "não-prática"), indignos. Nada há pior para uma lei que o seu incumprimento sem responsabilização alguma, nada há pior para uma sociedade que um laxismo flagrantemente antidemocrático.
II.
E a propósito, mesmo que o não pareça: quando é que o PGR acaba com a situação do cidadão Florindo, também chamado o "morto-vivo", que na porta do Palácio Palmela vem deste há anos pacientemente, chova ou faça sol, produzindo uma documentada campanha na defesa de direitos de que se diz esbulhado? Porque é triste, em Portugal, à vista de toda a gente, à porta de um dos mais elevados representantes duma Magistratura, com a representação elevada que lhe assiste na hierarquia de Poderes, encontrar uma tal manifestação pacífica, paciente e ordeira, simpática até, mas que diariamente põe em causa o que todos nós gostaríamos de acreditar: o exercício da Justiça. Porque se o cidadão Florindo tem razão, então de há muito deveria ter-se-lhe dado razão - e porque se a não tem, também de há muito o cidadão Florindo deveria ter sido convencido desse facto e convidado a sair dali. Ou espera-se que o cidadão Florindo tenha o seu blog e, se possível em expressão bilingue (o Inglês será certamente a língua estrangeira indicada), vá prosseguir interneticamente o seu "sit-in", expor ao Mundo as suas razões e deixar definitivamente o seu banquinho de madeira ou os dizeres que vai mostrando a quem passa, na lisboeta Rua da Escola Politécnica, a dois passos do Rato?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

A zona envolvente do Palácio do Freixo

Razões de oportuno diálogo e de acesso a documentaria levaram-me a conhecer, já concluído, o trabalho de seminário "A Industrialização na Zona Envolvente do Palácio do Freixo (1850-1930)" elaborado pelas finalistas da Licenciatura em História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Drªs. Alexandra Castro, Elisabete Botelho e Vânia Azevedo (Núcleo de Estágio da Escola E.B. 2/3 de Valbom) no ano lectivo 2004/2005 - um trabalho que toca as questões da industrialização portuguesa e muito especialmente da industrialização do Porto nesse período. Merecendo certamente o apreço e classificação que lhe foi conferido e a atenção dos historiadores das indústrias e técnicas e dos portuenses interessados, dá-se dele aqui devida notícia. Proponho-me oportunamente fazer, noutro local, uma recensão que mais possa auxiliar no seu conhecimento. Não deixo porém de sugerir que trabalhos deste teor mereçam o miramento das entidades mais directamente ligadas às questões da cultura e, portanto, da memória das terras e das gentes e que disponham de meios para facultar a sua divulgação pública - sem o que um dia entraremos fatalmente na memória da memória, o que será uma situação pelo menos triste.Bem hajam pois pelo trabalho que fizeram.

domingo, 1 de janeiro de 2006

Mensagem de Início de Ano aos meus Amigos

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Missal de Lorvão (Portugal, Sec. XV)
1º mês

A todos os que visitam este blog e a todos os meus Amigos, incluindo os que não o visitam, dirijo os melhores votos para um Feliz Ano Novo 2006.

Ainda acabado de chegar de Arouca, entrei em 2006 de uma forma para mim inédita: concluindo e difundindo um texto sobre um tema que se ia perdendo e que, uma vez retomado já anos atrás, está hoje em perspectivas de fixação. Não terá sido, pois, uma passagem de ano muito cheia de amor (ou de Amor) e do bulício próprio destes dias festivos, mas - no seu formato próprio - foi uma passagem de ano calma, reflectida, encontrada e retribuída, pelo que se pode chamar de feliz. Tudo o resto, menos o tempo, de uma forma ou de outra se remedeia. Adiante, pois.