sábado, 30 de junho de 2007

On the road!

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CHIRICO, "A melancolia da partida"
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A minha gratidão a todos os que caminharam comigo,
Aos que me ensinaram e aos que eu procurei ensinar,
Aos que me ajudaram e aos que eu procurei ajudar,
Aos que me entenderam e aos que eu procurei entender.
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Aos que já não puderam chegar e vivem na memória.
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sexta-feira, 29 de junho de 2007

Dos Habsburgos à Beldroega

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Dos dramas altaneiros à existência rasteira e humilde desta portulacácea - e em que a beldroega ganha ... pois não há, ao que se conhece, qualquer "sopa de Habsburgos".
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quinta-feira, 28 de junho de 2007

Serajevo, 28 Junho 1914

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O Arquiduque Francisco Fernando
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O início da grande caçada
ou
Na causa da verdadeira "mãe de todas as guerras"
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quarta-feira, 27 de junho de 2007

Memória de Indústria: 6 - Boqueirão do Duro (Lisboa)

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Foi?
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terça-feira, 26 de junho de 2007

O estado actual do painel junto à estação da Baixa da Banheira

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Pode gostar-se ou não dele, seja em forma, seja em conteúdo, mas a verdade é que ele está lá, visível da Estrada Nacional que atravessa a Baixa da Banheira do Tejo, concelho da Moita, marcando uma época e uma representação artística que se não deveria perder de uma forma consumptiva e degradante. O seu estado actual é lastimável, bem pior do que o da presente foto, tirada em 2004. E não exista a veleidade de o recuperar com umas amadoras "pinturas locais" pois o que ali há a fazer - se se quiser fazer qualquer coisa - é um verdadeiro e profissional restauro. E eu, que sou insuspeito quanto ao conteúdo do dito painel, sublinho a necessidade de ele ser olhado com um mínimo carinho por uma Junta de Freguesia e/ou uma Câmara Municipal que, sendo elas "da cor", deveriam cuidar melhor de monumentos que, como este (e os "frescos" da sede dos Penicheiros, no Barreiro, e as tapeçarias da "Casa da Cultura", antigo "Cinema Ginásio" no Bairro Velho da CUF, também no Barreiro), retratam um momento histórico na vida das populações que as elegeram. Para perdas e apagamentos da memória já basta o desaparecimento da sorridente "menina da porta da piscina municipal", também no Barreiro, mas essa há uma igual em Lisboa [1] e conhece-se o Artista pelo seu traço inconfundível - se se quiser um dia recordar e cumprir a deliberação camarária de iniciativa da "oposição" que a mandava recuperar. Não se tema, por inércia, uma conservação minimamente digna deste legado! Nem, sobretudo, o matem ou deixem morrer de evidente, desleixado e quotidianamente mostrado abandono (o painel da Baixa da Banheira já começa a ter intrusões vandálicas diversas)! Pelo menos, guardem-no em formas, modelos ou reproduções que refaçam a memória e que, ao tempo do seu melhor passado, "permitam ver o que foi". Assim, como está, é que não!

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[1] Um dia destes eu pensarei em mostrá-la aqui (a de Lisboa, que a do Barreiro já se considera perdida). Mas, deixo uma pergunta: haverá alguém que tenha dela guardado uma fotografia e a possa ceder?)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

O "carpooling" ou "fazer uma vaquinha"


Um cartaz grego sobre a parceria de utentes

(em www.carpooling.gr)

Um semanário da minha terra [1] traz, no seu último número, um interessante artigo sobre esta modalidade de transporte que pode acarretar evidentes benefícios para a comodidade, economia, ambiente e convivialidade do colectivo dos necessitados de transportes diários regulares de tipo pendular i.e. do que na terminologia anglosaxónica se designa por "commuters". Como se diz no artigo "proposta é a partilha do automóvel por um grupo de utentes que têm em comum o destino, no caso concreto, a Estação Ferroviária de Coina". De facto a partilha do automóvel ou "parceria de utentes" já é espontâneamente usada em grandes centros urbanos [2], dentro da conhecida forma da "vaquinha" ou de "fazer (ou ter) uma vaquinha": reconhecendo o desperdício e até o prejuízo económico e social que é o transporte diário do binómio condutor isolado - carro foram-se estabelecendo ligações desse tipo que na realidade existem mas que não usufruem de vantagens promocionais que as podem catapultar para o campo da generalização. Entre estas - e o artigo aponta-as - a possibilidade de dispor de parcagens garantidas nos locais de chegada, o benefício fiscal na aquisição de veículos de grande volume e a atitude das entidades abrangidas directa ou indirectamente por esta forma de organização (nomeadamente nas vertentes "emprego" e "financiamento").

Três outros aspectos convém salientar, pois inevitavelmente surgirão na instituição de um sistema deste tipo.

O primeiro é o reflexo na utilização dos designados "transportes colectivos". Teme-se muitas vezes que a "vaquinha" sistematizada diminua essa utilização. Não parece ser o caso: reduzindo a egoística utilização individual do veículo de transporte, os estudos demonstram que se fomenta a utilização colectiva. No presente caso desenvolve-se a ideia do transporte até a uma estação de CF com diversos destinos a partir daí, realçando-se pois uma complementaridade.

O segundo é a acusação do fomento da "suburbanidade" : é caso de perguntar se ela já não existe, declaradamente. O acesso a terrenos disponíveis e mais baratos (ainda que a habitação não venha a ser aí mais barata, o que traduz um outro desajuste social com componentes reconhecidamente especulativas que convirá olhar e reconhecer nas suas causas/origens/agentes) determina que o suburbano se estabeleça e, por vezes, de forma igualmente espontânea e até ilegal (as AUGI's são uma realidade e não vale a pena tapar o Sol com a peneira). Ora essas estruturas podem beneficiar assim de duas vantagens: a obtenção de formas de acesso ("de" e "para") mais frequentes e possíveis para os seus habitantes "pendulares" e, inclusive, a criação de maiores estruturas de relacionamento que enriquecem as respectivas redes sociais.

O terceiro é o efeito que o sistema pode ter quanto à repercussão nos utentes de situações desajustadas de greves nos transportes. Não se recusa aos trabalhadores dos transportes o direito que, como quaisquer outros trabalhadores, têm de recorrer à greve como forma de luta laboral. É inegável porém (e um recente artigo de um historiador brasileiro aqui transcrito sobre o interesse de reivindicações sociais nas greves de transportes para isso chama a atenção) que as greves de transportes afectam mais o colectivo dos utentes que as entidades empregadoras (frequentemente deficitárias ou subsidiadas). Por isso o colectivo dos utentes deve entendê-las e por isso o tal interesse de reivindicar também benefícios que a este colectivo directamente interessem, de as explicar por forma a que exista um bom conhecimento dos seus propósitos e de reduzir a possível instrumentalização que, a final atentatória dos interesses dos próprios trabalhadores, lhes vai diminuir a genuinidade. Qualquer menor vulnerabilidade para o colectivo de utentes é, sem dúvida, um contributo para este objectivo clarificador.

Conhecido já nos grandes centros industriais e urbanos, o "carpooling" - nome fino e tecnocrático para a nossa democrática"vaquinha" - tem artigo na "wikipedia" e expressão desenvolvida na "net". Daí, e da página http://www.commuterpage.com/tentips.htm , retirei e traduzi, em benefício e suporte da ideia (e oxalá que o Barreiro demonstre na organização desta - e mais uma vez - o seu pioneirismo) as "Dez regras para uma partilha com sucesso". Elas aí vão, dirigidas ao "grupo"!

"1. Estabelecer o itinerário e o horário. Definir precisamente o local ou locais em que se tomarão os parceiros, cada manhã, e estabelecer o local ou locais de encontro para o regresso a casa.
2. Estabelecer um programa quanto à distribuição das responsabilidades de condução. Se todos os parceiros alternarem como condutores, decidir a periodicidade que essa alternância deve revestir (diária, semanal, mensal).
3. Estabelecer um critério de comparticipação nas despesas. Se nem todos os parceiros repartirem equitativamente a condução, obter um consenso quanto á forma da partilha dos custos e um acordo quanto ás datas de pagamento.
4. Ser pontual. Definir quanto tempo poderá o condutor esperar. Quando se efectuarem tomas de parceiros no respectivo domicílio evitar perturbar toda a vizinhança por toques de claxon quando o referido parceiro estiver alguns minutos atrasado.
5. Estabelecer comportamentos. Fumar ou não fumar; música alta ou baixa; comidas ou bebidas. A probabilidade de sucesso de uma partilha da viatura será tanto maior quando os temas de possível conflitualidade entre os parceiros sejam discutidos logo de início.
6. Fazer com que a partilha tenha um objectivo preciso. Se a partilha visar a ida e o regreso do emprego, evitar que se torne um serviço de compras ou de objectivos casuísticos.
7. Estabelecer uma cadeia (ou rede) de comunicações. Se um condutor estiver doente, ou não for trabalhar num determinado dia, um outro condutor deverá ser logo avisado, para assegurar a viagem a todos os parceiros. Por outro lado, o condutor ´de serviço deverá ser informado, tão cedo quanto possível, se um parceiro estiver doente ou não for trabalhar.
8. Conduzir com cuidado e cuidar de uma boa manutenção do veículo - o que significa também mantê-lo limpo e seguro. Há outras pessoas envolvidas! Não há pois desculpas para velocidades exageradas, ou teores elevados de alcool ou manobras perigosas.
9. Respeitar os desejos próprios dos parceiros - especialmente de manhã, quando alguns destes apreciarem um momento mais de sorna [durante a viagem, claro].
10. Se um parceiro deixar de pertencer a uma dado grupo de transporte partilhado, procurar um substituto. [Nos Estados Unidos existem organizações que podem providenciar nesse sentido, como a página indica - e a sugestão fica para uma solução idêntica num estado mais avançado das coisas, entre nós. E o texto original conclui:] Juntos poderemos ganhar em termos de dinheiro, de tempo e do ambiente e ao mesmo tempo reduzir os congestionamentos do trânsito."
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É pois uma ideia com rodas. E motor para andar. [3]

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[1] Jornal do Barreiro, de 22 do corrente

[2] E não apenas para necessidades de emprego. Veja-se o caso de outras utilizações regulares e por vezes sazonais ou de periodicidade mais alargada que gradualmente se vão estabelecendo, como por exemplo as idas à praia em férias, as deslocações de grupos de estudantes que frequentam estabelecimentos fora das cidades natais, os adeptos de equipes ou modalidades desportivas, etc. etc.

[3] Uma curiosidade: durante a II Grande Guerra desenvolveu-se logicamente o interesse vital pela redução do consumo de combustíveis. O cartaz que seguidamente se mostra dirigia-se à sociedade americana (na Europa tal não era obviamente preciso, tão duras tinham que ser as restrições existentes) para demonstrar como o esforço de guerra poderia ser contrariado pela utilização individual do transporte automóvel. Por isso nele se dizia que "quem viaja sozinho está a dar uma boleia ao Hitler" e se aconselhava a participação em clubes de partilha de transportes:
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domingo, 24 de junho de 2007

Parasitismo

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Pinheiros em palmeira (Algarve, sem L parasita)...
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neste mundo os chatos são multiformes!
(vg. em Lisboa são mais comuns as figueiras em palmeiras)
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sábado, 23 de junho de 2007

Relações internacionais

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Quando o governante do país pobre foi acusado de, apesar de pobre, dispender somas substanciais em apoios ao país paupérrimo, rapidamente respondeu: É mesmo preciso aguentá-los já que, sem eles, onde estaria hoje a nossa auto-estima?
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sexta-feira, 22 de junho de 2007

Ainda o solstício...

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Ruth
Francesco Hayez (Veneza,1791-Milão,1882)

O capítulo "21 de Junho de 1976" da obra de Emma Cohen: "Esconjuros, Feitiços e Poções Eróticas" (nada melhor para começar o dia!) [1] esclarece como, de acordo com os ensinamentos do Grande Alberto (Santo Alberto Magno?) visgo de azinheira e uma asa de andorinha podem atrair pássaros que eram amigos e se tornaram fugitivos. Dará o mesmo com os flamingos do Samouco? E com Ruth?

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[1] Ed. Temas da Actualidade, Lisboa, 1996, pag. 77-78

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Solstício de Verão

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E não é que a partir das 19 horas e poucos minutos de hoje sucedem duas coisas: a) entra o Verão (se o virem por aí, avisem-no de que o cenário não só o espera mas já o reclama!); b) os dias começam mesmo a diminuir!

É a "Midsummer's night", a noite de S.João (embora desviada alguns dias), Stonehenge, as festividades que chegam, perdidas nos tempos, os alinhamentos misteriosos que se iluminam ao "nascer" dos astros, a noite que não existe nos países do Norte, as ervas das bruxas que estão no seu melhor (cumprimento, a propósito, as que por aqui tenho) - e que, do outro lado do ano, nos vão ligar como por um eixo ao Natal que aí vem. Enquanto Gaia durar.

Solstício, claro!

Há um ano falei nas virgens coroadas de flores que viriam dançar esta noite em torno do menhir. Pois, um ano volvido, ainda não chegaram. Efeito do menhir? Defeito delas? Ou ambas as coisas?
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quarta-feira, 20 de junho de 2007

Amsterdam (Holanda), 4 de Outubro de 1992

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Data: 04 Outubro 1992; Companhia: El Al Cargo (Israel); Voo nº: 1862;
Aparelho: B747-258F; Vítimas: 4 (em 4) tripulantes + 47 em terra

"O aparelho despenhou-se ao tentar uma aterragem de emergência após a perda dos dois reactores da asa direita. O aparelho chocou verticalmente com um prédio de apartamentos causando a morte de 47 moradores."

Foto (de autor desconhecido) e texto (traduzido) de http://www.airdisaster.com/photos/elal1862/photo.shtm,
local onde podem ser encontradas mais fotografias deste acidente.
[se não abrir directamente na foto representada, clicar na indicação "Accident Photos" na coluna da esquerda da página de entrada que então aparecer e procurar seguidamente por data (1990-1999) e identificação (El Al Cargo)]
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terça-feira, 19 de junho de 2007

Retorno ao "Aspiral"

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Ter leitores fieis é a riqueza de um blogue – tal como a riqueza de uma profissão liberal é a sua clientela. Folgo pois quando recebo os “replais” (como dizia a jovem Mara na sua estranhíssima terminologia informática) a qualquer postagem realizada e surpreendo-me sempre quando tal menos se espera, pela natureza do assunto abordado. O meu colega de Liceu e da fundação do “Prelúdio”, Rui Abrunhosa [1]. não deixou passar (e bem que o tenha feito) a alusão aos cadernos e o exemplo flagrante do “Aspiral” [2] e, na sua característica prosa, ofereceu-me o texto-mensagem que, recebido a 5 de Junho, seguidamente se reproduz:

“Zé Miguel:

Hoje madrugaste, mas madrugaste bem! Gostei, entristecidamente, do “Aspiral”….

Tenho o privilégio de conhecer muito bem o melhor Aluno, nos últimos 2 ou 3 anos, de um bom liceu, numa cidade do sul de Portugal (Xissssaa! Que me enganei… de uma excelente escola secundária ou lá como é que é), numa cidade do sul de Portugal. Com 15 anos tem uma vasta gama de conhecimentos que eu, talvez, ainda não teria, equivalentemente, quando me licenciei na Univ. do Porto.

Porém, numa página de “Aspiral” A4 escarrapacha 10 ou 15 erros ortográficos e desaparafusa meia dúzia de *orações* . No mais, um génio!! Já admiti ser ele disléxico, porém as dezenas de milhares que nem aos tornozelos lhe chegam são muitíssimo mais dispépticos. De Portugal dos pequeninos passamos a Portugal dos dislexicosinhos!

Conheço Dissertações de Doutoramento na Universidade do Porto que roçam o despautério que documentas. Uma delas é de um “criaturo” actualmente já Prof. Catedrático.

O “Diário da República” está pejado de leis cujo articulado não se consegue entender o que quer dizer – enquanto de uma lei !!!..., desde que o Dr. Almeida Santos deixou de as escrever, ou de lhes corrigir o “pudeguês”.

Recebo frequentemente relatórios de estudos médicos, complementares de diagnóstico, que peço a Colegas , escritos com palavras portuguesas, salpicadas de palavras em “Inglês USA”, alinhadas pela sintaxe british . Pior, chega-me, com frequência, informação descritiva da condição de Doentes que me são passados, sem qualquer pinta de inteligibilidade, disfarçada por caligrafias ilegíveis, assinadas por gatafunhos de desresponsabilização…

A 10 metros da entrada da Clínica, onde trabalho, no Porto, em plena zona da Júlio Dinis dos grandes Bancos, ao desembocar na Rotunda da Boavista, com frontaria de novo-riquismo,e bufas de gente fina, lê-se, gritantemente, a toda a largura das arcadas da Praceta Engº Amaro da Costa : «Centro de Bronzeado». Seria interessante saber se a Conservatória do Registo Comercial (ou lá como é que se diz) aceitou o desarrincanço!

Tenho proposta a levar aos grupos parlamentares: Substituir a “Bandeira de Portugal” pela Imagem da tua foto do «Aspiral» !!!

Anexo uma parte de página, à sorte, do Livro de Contas Correntes do Estabelecimento do meu Avô Aníbal – o tal, igual igual à “sem igual” Casa Diva [3] - numa perdida aldeia de Trás-os-Montes:
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Tem data de 1936. Foi escrita pela sua 4ª Classe, feita 50 anos antes, em 1886, noutra perdidíssima aldeia de Moncorvo. Depreende-se bem a justeza, o rigor, a clareza, a preocupação de se fazer a profilaxia do equívoco. Tenho pena de não ter à mão o arquivo da sua correspondência. Guardo-a lá na Casa que foi dele e que ainda hoje conservo com o carinho de quem sabe o segredo “do de onde veio”. Demonstraria a perfeição caligráfica, o rigor sintáctico, a ausência de erros ortográficos, a educação recebida e o Grande Modo de Ser e de Estar. Que classe a daquelas 4ªs Classes! 1886!!!

Usa como quiseres [4].

Boa noite, não esqueças abrir o anexo,

a) Rui Abrunhosa

Obrigado, Rui! Continuamos jovens. Ainda bem! E recorda-te… sabíamos de cor: Sabor, Tua, Corgo, Tâmega e Sousa… ou Erges, Pônsul, Ocreza, Zêzere, Nabão, Alviela, Maior e Trancão … que teimam em existir, bem como as serras, ao contrário de muitas das linhas de CF que nós também tínhamos de saber e que entretanto já morreram! Pode sair a fotografia de uma dessas “estações fantasma” algo antes de Barca D’Alva?

Ruínas da estação do Coa (Linha do Douro)

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[1] Para Rui Abrunhosa e "Prelúdio" ver postagens de 14/2/06, 30/3/06, 8/4/06, 16/4/07, 17/4/07, 14/5/07 e 29/5/07. Ver também 14/5/07 - Apontamento 3.

[2]Para "Aspiral" & outros cadernos viajar até à postagem de 4/6/07

[3]Para Casa Diva ver 11/5/07 e 14/5/07 - Apontamento 3.

[4] Pois foi o que eu fiz... e sem cerimónia!

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Incongruências...

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Garante-se que entre o sinal circular que está no 1º plano e que é de voltar á direita e o sinal circular que está uns 40 metros mais à frente e que é de voltar à esquerda não existe qualquer rua ou entrada - como aliás se pode concluir dos carros estacionados. Em que ficamos? Local: Conde Barão, Lisboa.

domingo, 17 de junho de 2007

Mobilidade Urbana e Cidadania

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Do historiador Ricardo Machado, de Blumenau, Santa Catarina, Brasil, chega-me um texto [1] que ponho à reflexão dos muitos que se sentem afectados pelas questões ligadas aos transportes na Cidade. Saliento dois aspectos, geralmente esquecidos entre nós: o conteúdo social da greve, acrescendo às reivindicações laborais uma componente social que as pode tornar mais inteligíveis e partilhadas e não apenas o "prejuízo dos utentes" que estamos habituados a conhecer e o apoio aos transportes individuais alternativos, não apenas pela criação de ciclovias que sejam amostras isoladas mas pelo desenvolvimento de toda uma cultura de respeito e segurança para os que os utilizam. [2]

Mobilidade Urbana e Cidadania
Ricardo Machado*

Neste ultimo dia 23 tivemos dois importantes acontecimentos em Blumenau que servem de alerta para pensar as condições básicas de garantia de cidadania e democracia em nossa cidade. Refiro-me a greve dos funcionários das empresas de ônibus e também na audiência publica realizada na Câmara de Vereadores que discutiu a cobrou a implantação definitiva de um sistema cicloviário na cidade de Blumenau.
Já na Grécia antiga a condição de cidadania só era possível dentro do espaço da Pólis. Por isso, aqueles considerados não-cidadãos (no caso, mulheres e escravos) estavam excluídos dos privilégios da vida pública. Da mesma maneira, uma das penalidades mais severas para algum crime era justamente a expulsão da cidade. Por isso, desde seu princípio a palavra cidadania está intimamente ligada a cidade, bem como, a palavra política está ligada a Pólis. Na cidade contemporânea esta discussão da noção de inclusão/exclusão será dada no campo da mobilidade urbana. Nos dias de hoje, a melhor definição de democracia pode ser vislumbrada nas condições de acessibilidade a estrutura urbana oferecida. Ou seja, a promoção de trabalho, educação e lazer precisa estar vinculada as condições de mobilidade dos indivíduos dentro do espaço. Diante disso, o usuário de ônibus precisa estar ao lado da greve dos motoristas para reivindicar não só melhores condições de trabalho para estes trabalhadores, mas sobretudo, a garantia de um transporte público de qualidade. Por que não inserir na pauta de reivindicação a redução de tarifas, o maior número de linhas e até quem sabe a municipalização deste serviço? Estas idéias que podem parecer exageradas e destoando da realidade, tornam-se simples e modestas se invertermos a lógica e entendermos o transporte público um dos elementos centrais de cidadania.
E ainda, de uma maneira até mesmo complementar, é preciso investir e garantir na segurança das
bicicletas como alternativa real de transporte dentro da cidade. Diante da constatação da insustentabilidade ambiental e humana do nosso atual sistema viário que valoriza somente o conforto do automóvel, o uso de bicicletas têm se demonstrado como mais adequado as condições impostas pela vida urbana. Por isso, se pretendemos viver em um espaço sustentável, a finalização do sistema cicloviário torna-se um outro pilar para a garantia de cidadania em Blumenau.
A discussão sobre o espaço da cidade precisa estar no foco de visão dos seus gestores. Mas aqui, não me refiro somente aos especialistas ou burocratas que normalmente falam em nome das pessoas. É preciso a cidade seja construída por aqueles que vivem nela cotidianamente: motoristas, ciclistas, estudantes, trabalhadores...

*Mestre em História pela UFSC.

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[1] Texto recebido, com autorização do Autor para publicação, por intermédio da Dra. Urda Alice Klueger. Mantida a grafia original.
[2] Na terra de onde escrevo, e onde persistem cidadãos cujo tipismo é reclamá-la como exclusivamente deles, recordo-me de, a seguir ao "choque do petróleo", ter ido de bicicleta para a fábrica: não apenas fui motivo de pública chacota, mas isso ponho eu no caixote do lixo (exprimindo-me assim de forma surpreendentemente educada porque admito mesmo que os tempos possam ter mudado o comportamento dos peões), mas convivi com situações de manifesto desrespeito viário e até de risco por parte de automobilistas ligeiros e pesados, que ainda hoje vejo manterem-se ou até acentuarem-se. Um ensaio concludente e actual pode ser tentado ao percorrer em "pasteleira" e em normal pedalar a pequena extensão da Rua do Industrial Alfredo da Silva entre o Largo das Obras e o antigo Posto Médico (ou o "Sobe e Desce") ou vice-versa nas chamadas "horas de ponta". Para dar uma componente cultural à experiência de risco que se irá viver, aconselho a que se leve um pequeno gravador, para enriquecer o léxico dos comentários e insultos correntes!
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sábado, 16 de junho de 2007

... e "capot" quente puxa gato(s)...

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Irmãos, claro.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Palavra puxa palavra...

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Esta é, no fundo, a base do "cadavre exquis" - já aqui explicado. E se a postagem anterior falou em Manara, por que razão não trazer aqui novamente Manara, no seu desenho inconfundível?

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Benjamin Neukirch (1665-1729)

Poeta do barroco alemão, Benjamin Neukirch deixou uma obra notável, na linha dita galante e entre nós popularizada, para com Bocage, de "erótica e satírica". Uma visita sobre este autor na net é uma demonstração de algo que já tinha constatado ao abordar as obras do renascimento alemão: estamos perante um mundo fechado que continua fechado. Os dados biográficos, históricos e artísticos sobre o poeta são quase totalmente em alemão e se alguém mais se interessou por ele, em termos actuais, foram os polacos - não fosse o homem silesiano. Pelo que se pode ler sobre o barroco alemão, há nele muito de especial a descobrir, em sucessivos tons do gracioso ao grave. João Barrento, com "O Cardo e a Rosa: Poesia do Barroco Alemão" (Assirio & Alvim, Lisboa, 2002) procurou abrir esse caminho e traduziu (e bem, em meu ousado entender) algumas das poesias que seleccionou, de autores desse rico período, tornando-os assim mais acessíveis para o desprevenido leitor lusitano. Creio que já aqui trouxe um exemplo, carregado de ironia, de Friedrich von Logau- e, porque se enquadra numa abordagem do erótico, trago agora, dessa mesma obra, um exemplo segundo, este de Benjamin Neukirch, como o anterior em tradução de João Barrento. Quão longe ainda vinha o pesado romantismo!
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"An Sylvien = A Sílvia
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Porque praguejas, Sílvia, quando esta negra mão

Com o teu seio quer brincar?

Era alva como tu, e o fogo da paixão
Assim a fez ficar.

Se com teu fogo vens meu corpo incendiar,

Nem mármore, nem neve, pode minha mão ser.

Dizes-lhe que não busque, que não faça o que faz.

Tens razão. Há-de ser.

Mais não busca que a ti, mais não quer do que paz

E seu jogo jogar.

De que te queixas pois? E que razões ter julgas

Já que favores iguais não os negas às pulgas? "
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Excelente, na verdade - e, por estranha associação, arrasta-me um postal-cartaz de uma obra-monstro do cinema, do que enriqueceu a nossa juventude e que como arte fica. Tem a ver com isto, tem a ver com a verdade universal que, tirada ou não da costela de Adão, pôs tetas onde exactamente as deveria por - "ad usum Delphini", digamos contritamente, e - menos contritamente - também à sã festança dos pais e mães (actuais ou futuros) de todos os delfins. A natureza é curiosa: para os insectos criou os aromas, as cores, e fez as flores; para os pássaros, chamou os frutos, etc. e tudo por aí acima, até às armadilhas deliciosas tendidas à escala humana, velhas como os relevos & pinturas dos templos asiáticos, mais recentes como os frescos de Pompeia mas sempre novas na noite que se vive e no Manara que cada um espera encontrar. E é bom entender isto sem fedúncias. Ou, como escrevia o tal experimentado poeta morto a 10 de Junho: "Mais vale experimentá-lo que julgá-lo. Mas julgue quem não pode experimentá-lo" (Lus.,IX,83)
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E com esta me vou. Não sem vos recomendar o excelente blog (aliás em "link" com este) Menina Marota (e também Poesia Portuguesa) e as breves considerações que nele são feitas, em postagem de 27 de Maio p.p. (domingo), sobre o erotismo na poesia, a propósito do blog de poesia erótica que pode ser acedido em http://www.estudioraposa.com. Fica o aviso.
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quarta-feira, 13 de junho de 2007

Pitanga

= Eugenia uniflora, L.

Veio da América do Sul para Luanda
Sabe-se lá quando e por quem
De Luanda vieram os caroços
Que se tornaram árvore em Lisboa
no Monte Olivete
Antes que alguém, menos interessado por pitangas,
A mandasse cortar!
Mas filhos já cresciam ao sol, no Lavradio.

O que sucede é que os melros daqui
São mais de ousança que os da margem Norte
E arriscaram provar!

Hoje, de pitangas rubras, nem um fruto me sobra
Enquanto os melros enxameiam de negro o meu jardim!
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terça-feira, 12 de junho de 2007

Só e entre pedras

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Insistência

segunda-feira, 11 de junho de 2007

A registar, a informar e a apoiar: um Museu da FEUP

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domingo, 10 de junho de 2007

Feriado em domingo

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Um País que festeja, como festa nacional [1], a morte de um poeta que tratou mal durante a vida responde a dois aspectos importantes do signo que tem: duplo... e cada um a puxar para o seu lado!
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[1] Feriado em domingo é como coito interrompido: um e outro já se não usam.
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sábado, 9 de junho de 2007

2.5.7+1/365 = sono + dia-a-dia ^gis?+etc

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Assim mesmo, e com uma reflexão sobre o surrealismo [1] :
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"No entanto, a tristeza da vida quotidiana é o estribo graças ao qual o surrealismo cavalga os grandes corcéis do sonho. Ela não desempenha o papel de cravelho para a evasão e o mistério, como asseguram alguns pensadores estalinistas. Muito pelo contrário, é o centro do desespero donde toda a esperança renasce , mas pelo caminho tortuoso da cultura."
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Jules-François Dupuis
"História Desenvolvida do Surrealismo"
Edições Antigona, 2000, Lisboa
p.50
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Entre-sonos (melhor que Entrecampos):
de uma filmobiografia do General Franco, no "Canal História"[2], ao "Há festa na Aldeia", de Jacques Tati, que ontem me ofereci em DVD da Atalanta Filmes (e que recorda, fora o colorido, o Clube de Cinema do nosso Liceu, nos anos 1953-1954) - ou seja, entre Francisco general e François carteiro.
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[1] A noção de "fim" está "avant la lettre" melancolicamente expressa em pelo menos dois dos filmes de Tati: o retorno do carrocel, neste, e a praia re-deserta das "Férias do Senhor Hulot". A reflexão de Dupuis que se fez acima tem também algo a ver com isso.
[2] Do lado positivo: uma das vantagens desta peça televisiva é que nem falam em nós. Numa outra perspectiva, e esta do lado negativo: com a actual inserção de publicidade em castelhano
no "Canal História", timidamente iniciada e agora prolongada e explícita , não excluo rever a minha posição quanto a esse Canal.
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sexta-feira, 8 de junho de 2007

Auto-retrato urbano aos sete a zero


A tempo: Chamaram-me a atenção para o facto desta fotografia ter sido repetida no presente "blog" - na medida em que tinha sido postada a 28 de Agosto de 1996 com o título "Solidão". Merece-o o gatinho amarelo que, de facto só, questiona o mundo exterior de entre chicanas de cimento urbano; mereço-o eu também - e muito especialmente neste dia!

quinta-feira, 7 de junho de 2007

As flores do cobre... - 2

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Descobri! e deixo aqui as prometidas (na postagem de ontem!) fotografias do tapete de "flores do cobre" junto da estação do Barreiro-A a 4 de Maio de 2000.
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quarta-feira, 6 de junho de 2007

As flores do cobre... - 1

Atrasei-me, este ano. Tencionava fotografá-las em aproximação: são pequeninas, roxas, rasteiras, que forma(va)m grandes tapetes no Sobe-e-desce, no Barreiro A, nas Cordoarias, durando uma semana no máximo, para rapidamente desaparecerem até Maio do ano que virá. Associavam-nas ao cobre e, na realidade, encontrei-as igualitas junto das minas alentejanas - e também é boa verdade que no Barreiro havia cobre [1,2]. Devo ter para aí umas fotografias, embora relativamente pobres - e se as encontrar, chapo-as aqui. Mas distraí-me, este ano: as poucas "flores do cobre" que ainda subsistiam, como já ano-para-ano-mais-debilitada memória do cobre que já não subsiste, deram lugar a uma praga de flores amarelas, pequeninas, compósitas diria o conhecedor, que enchem espaços e jardins... e essas aí vão:
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[1] A extracção do cobre das pirites "queimadas" (primeiro na "lessivage" e depois no TCP), adicionada ao tratamento de outros matérias primas cupríferas metropolitanas e angolanas, manteve do início dos anos '10 até à crítica transição '80-'90 a omnívora metalurgia de cobre e a produção de sulfato de cobre, no Barreiro.
[2] Uma outra "flor do cobre", nas alturas andinas do Chile, é bastante diferente!
http://www.florachilena.cl/Niv_tax/Angiospermas/
Ordenes/Lamiales/Scrophulariaceae/Mimulus/Mimulus
de onde a gravura seguinte foi tirada:
"Flor del cobre" ou mimulus cupreus - Chile

terça-feira, 5 de junho de 2007

Tabelas de Keck (ou Kek?)

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A central térmica de Ekibastus (Cazaquistão)
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Nos tempos em que ainda havia cursos de Engenharia Químico-Industrial, com esta designação polivalente, em que se usavam réguas de cálculo e tábuas de logaritmos, um dos exercícios das aulas práticas de uma cadeira chamada "Instalações Industriais" (5º ano?) era o "cálculo de uma chaminé de tijolo usando as tabelas de Keck" (ou Kek?). E essas tabelas existiam na FEUP, já muito ratadas, já muito manuseadas, mas permitindo estabelecer o referido cálculo com os requintes diversos que uma chaminé de tijolo exige, da base e canal de fumos ao coroamento (e evitem-se analogias anatómicas s.f.f.) passando pelos diversos troços do fuste. Veio-me isso hoje precisamente à ideia quando (hipótese ainda não provada) as chaminés hoje destruídas da CV1 [Central a Vapor 1 ] do Barreiro me sugeriam novamente serem reprodução, numa escala mais modesta, das chaminés da fábrica de gás de Genevilliers, nos arredores de Paris, umas e outras em tijolo. O paralelo tem razão de ser: ambas as instalações foram projectadas no início do sec. XX e ambas tiveram o mesmo projectista. Mas essa hipotética aproximação levou-me a procurar na "net" as tão famosas tabelas, que eu bem gostaria de obter para as colocar na memorabília do Barreiro como exemplo dos modelos de cálculo eminentemente práticos que existiam e que eram usados para projectos de engenharia que durante anos e anos deram as suas provas. Consegui muitas coisas, nessa excursão: que Keck's e Kek's há diversos, que a chaminé mais alta do mundo era (ou é) a da central térmica de Ekibastuz, no Cazaquistão, com 420 m [1], que existe uma entidade chamada CICIND (Comité International des Cheminées Industrielles), que o Masonry Career Guide do Vocational Information Center pode ser utilíssimo, que milhentas outras informações permanecem abertas (embora votadas para outros tipos de chaminés, com predomínio para as chaminés de... lareiras) e que é possível encontrar, num local de cozinha turca (em bom Português) uma interessante e relativamente fácil receita para queques de azeitona que, um dia destes, não deixarei de experimentar [2]. Mas, do Keck (ou Kek) das ditas tabelas, nada...[3]
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Vou procurar, junto da FEUP, saber se aquelas (as tabelas) ainda por lá andam. Duvido muito! Será como o desaparecido livro de arranque do Contacto 6 em que o jovem que eu era deixava instruções e gráficos que hoje gostaria de rever, entrecruzados com notas insólitas do tipo "dei de frosque às 0100", que era o momento de arrancar em "600" para a "cidade do vício e do pecado" que, de braços abertos, copo "Bourbon-Soda" e Carla-nome-de-guerra, me esperava do outro lado do rio. "Memories are made of this!"
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Entretanto: se alguém souber das aqui celebradas "tabelas de Keck" (ou Kek) que me diga!
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[1] Mas com as chaminés ibéricas da Corunha e de Teruel em excelente posição, aliás como - na Bulgária - as das centrais térmicas de Stara Zagora, a "gémea pouco-visível" do Barreiro. certamente que todas com exterior não-em-tijolo.
[2] Em http://cozinhaturca.blogspot.com/2007/01/pastelaria.html.
[3] Outra das diversões no caminho foi encontrar a biografia de John Tennant, o lendário industrial químico de St.Rollox, lobrigada em http://gdl.cdlr.strath.ac.uk/mlemen/mlemen091.htm


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Cadernos há muitos!

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Há quem diga que para se analisar o "estado de alma" de um País basta ver a papelaria de uma significativa superfície de venda.Concordo com tal ponto de vista e, por isso mesmo, sou daqueles que não perdem pitada a, aqui ou além,cuscar papeis, blocos, esferográficas, lapiseiras, cadernos e caderninhos. Mais que as próprias livrarias super-generalistas dessas superfícies, as "exposições do papel" ensinam sobre os comportamentos, sobre os custos, sobre o poder de compra, sobre a formação do próprio vendedor (vide amostra supra, em que o "espiral" passou a um eventual derivado da aspirina!), sobre - especialmente - a oferta dirigida aos estudantes e, em imagem de espelho, sobre a procura por parte destes.

Sempre fiz parte dos que não deixam de associar o desleixo escolar ao abandono da pasta rígida pelos arremedos de ensacamento em mochila mole. Causa relevante desse insucesso as mochilas não terão certamente sido, que o poder das mochilas ainda é felizmente limitado para chegar a tanto, mas dele constituem evidente sintoma. Começaram os cantos dobrados e enrolados e as capas partidas dos livros, a desculpa do peso para reduzir cargas. o ensebar dos cadernos e das folhas, algumas delas - de esquecidas que se tornaram - estratificando-se no fundo como palmilhas ao saber, o deformar geral da compostura e a corrente evidência do não manuseio. A pasta rígida pousava-se, a mochila atira-se e apenas nisso já vai grande diferença...[1].

Quanto a cadernos, nem é bom falar. Uma certa incapacidade nacional manifesta-se na impossibilidade de manter estavelmente uma gama homogénea de cadernos cosidos, de lombada e com um razoável número de folhas, rondando a centena. Quem os quer que os compre de importação.Vários argumentos militam para essa incapacidade: a procura e exigência da moda, o preço, a necessidade de limitar mão-de-obra e a dificuldade de aceder a outras tecnologias. Tudo blá, blá, blá - no sentido da mais duvidosa utilidade para o estudante..

Comecemos pela procura e exigência da moda: a tendência do estudante actual é para os cadernos de espiral, pautados de capa mais ou menos fantasiosa e colorida. Aceita a desgosto os pequenos cadernos A5 de capa preta, agrafados, apenas considerados como solução mais económica muitas vezes imposta. A razão é óbvia: o caderno espiral permite mais facilmente arrancar folhas e não se espantem se dentro das tais mochilas existirem cadernos espirais com as capas, a espiral... e meia dúzia de sebentas páginas de esborratada escrita em lugar das 80 0u 100 folhas com que vinham na origem. Além disso os cadernos de espiral permitem capas sortidas que, acompanhando a(s) moda(s), mudam de ano para ano, de colecção para colecção. É verdade que dificilmente se conservam, que quando se procura um caderno igual ele já não existe, mas quem quer conservar um saber que só se leva até ao fim do ano, apenas porque é preciso e que depois se deita fora? Onde o culto dos apontamentos de qualidade tirados em aulas de qualidade, transcritos em colecções homogéneas de cadernos que depois seriam passadas ao irmão ou primo ou amigo mais novo antes de ser guardado? Chapéu!

Compreende-se asim por que os cadernos de lombada, cosidos, colados (falarei deles adiante!) ou agrafados sejam geralmente afastados face aos tais "aspirais". Nota-se naqueles, que não nestes, o arrancar das páginas. E se um pai ou um professor se lembrarem (atitude insuportável para muitos, nos tempos que correm!) de impor ao educando a numeração das folhas? Mas que grande chatice! Se até os livros de actas das empresas podem hoje ser em folhas soltas... (já ouvi este falacioso argumento... e talvez seja por isso que muitas empresas mantém ciosamente a virgindade dos seus livros de actas, para barbaramente os violarem à pressa, quando é preciso escriturá-los da noite para o dia, "porque senão há bronca"!). Não! A espiral ou as argolas... ou os dossiers de folhas com furos gaussianamente centrados á volta de uma posição média são solução bem melhor. Preparam para a vida! Mas que vida?

O horror ao quadriculado merece uma chamada especial, ainda que rápida. Quadriculado é um sinal de matemática e matemática é algo de tenebroso, algo susceptível do mais descarado afastamento. "Não se escreve prosa em caderno quadriculado". Há professores que o dizem; há professores que o proíbem! Porém há também países que o fazem, sem complexos, e em que os próprios cadernos pautados têm pontos marcados nos topos para permitirem traçar redes quadriculadas insertas no texto (Japão). Adiante!
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Prosseguindo nas razões: o preço. Esta é uma razão verdadeiramente ilusória, na medida em que muitos dos tais cadernos espirais ou outros oferecidos no mercado, quer indígenas quer importados daqui e dali, têm preços iguais ou superiores a cadernos cosidos de qualidade média e que são importados em quantidades limitadas apenas porque não têm procura [2]. Este é um facto que todos podem constatar nos supermercados mais próximos ou, até com mais variada oferta, em papelarias de bairro ou de referência. Excluem-se, como foi dito, os referidos cadernos de capa preta ou similares, os "económicos" A4 ou A5 geralmente agrafados - mas é surpreendente ver como famílias, aparentemente com menos posses, lutam por os inculcar aos seus estudantes, atraídos estes que são por materiais certamente mais vistosos... e mais caros.

Quanto à necessidade de limitar mão-de-obra e a dificuldade de aceder a outras tecnologias, temos também de conversar. Um caderno cosido é, sem dúvida, um caderno que exige mais mão de obra, inclusive na junção dos cadernos de folhas e na feitura da lombada e da capa. Após anos de desalento em que, por razões de economia, fomos fazendo cadernos (e livros) colados que se esboroavam com o uso e até com a simples exposição ao sol, a oferta nacional - de forma radical - quase se limitou aos já falados cadernos agrafados, de capa preta ou não-preta, mas com número de folhas necessariamente limitado, e aos cadernos de argolas ou de espiral. Certo é que não se acede por aí a outras tecnologias, como p.ex. a um aperfeiçoamento suficiente da colagem. Certo é que os agrafados permitem cadernos sóbrios, baratos e de execução muito económica, em termos de mão-de-obra, embora sempre "magros" em número de folhas. Da mesma forma, o caderno de espiral não envolve especiais dificuldades ou mobilizações de mão de obra e responde aos requisitos da procura. Uns e outros constituem opções possíveis - mas de sucesso essencialmente limitado ao mercado interno, porque todos (ou quase todos) os sabem fazer. . A economia não deixa de jogar neste tabuleiro e, mais ainda, quando o jogo se faz num mundo crescentemente globalizado.

Finalmente a metrologia. Já aqui contei uma história que metia cadernos A4 e A5 e que pareceria anedota, se não fosse verdadeira. Mas, de facto e felizmente, os tempos mudaram. Subsistem, é verdade, pequenas diferenças em formatos - mas no essencial há uma razoável conformidade. Não parece ser por aí que o gato vai às filhós e, de tudo isto, resulta uma conclusão importante: enquanto os suportes informáticos não absorverem o essencial da expressão escrita (e enquanto a caligrafia, já de si deteriorada pelas esferográficas e marcadores, não passar a uma modalidade de arte ultrapassada), se me disseres a procura de cadernos que encontras (ou a oferta de cadernos que existe), eu dir-te-ei a população estudante que tens. Daí o interesse de, noutras terras e outras gentes, continuar a manter visitas curiosas às áreas de papelaria de quaisquer superfícies comerciais.

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[1] E muita evaporação daquilo que se chamava "brio" e que hoje é apontado como comportamento de escárnio dos designados "betinhos", pesem que não pesem as campanhas publicitárias que mostram o que seria o Senhor X ou a Senhora Y se não tivessem estudado...

[2] Curiosamente esses cadernos de lombada fixa e até com acabamentos (e preços) luxuosos começaram a ser adoptados por profissionais, superando inclusive - para diversos usos nobres (apontamentos diários, reflexões íntimas, poemas escondidos & outros, esbocetos da cara sardenta da pequena que come o gelado duas mesas adiante) - os sistemas de folhas soltas padronizados e mais ou menos sofisticados que se vendem por aí com nome de marca e que fizeram furor como agendas pessoais polivalentes nos anos 80 e seguintes.

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domingo, 3 de junho de 2007

Descubram as cinco diferenças!

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sábado, 2 de junho de 2007

Do "Fritz" para a LeoMi, com saudades...

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Que tal?

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sexta-feira, 1 de junho de 2007

Junho




Centáureas, claro... e minhas!