sexta-feira, 19 de abril de 2019

POLIMERIZAÇÃO E O RESTO

A polimerização continua a ser um virtuoso processo no rico mundo da Química. "Para viver melhor graças à Química", como então se dizia. Os "filhos" que abundantemente nos trouxe sob o depreciado e até incorreto nome de "plásticos" não são maus em si e com eles continuadamente convivemos. E, no entanto, eis-nos - devido ao desprevenido mau uso que NÓS deles fizemos ou fazemos -  perante uma ameaça ambiental verdadeiramente trágica.
Dir-se-á que, para além dos já para tal intencionalmente paridos de origem, muitos outros desvios do fabrico ou da lucubração humana podem levar a similares exemplos e recordar-se-á favor disso,  a fácil constatação de que "qualquer ferramenta pode servir como arma, desde se saiba como nela pegar". E acrescentar-se-á que há sempre quem queira aproveitar o lado mau das coisas potencialmente boas.
Mas não é só por aí,  pela insídia original  ou superveniente, que o mundo vai mal!  É também  pela circunstância imprevista e que até encanta (ou faz encantar) que o abuso se insinua e passa a ser impulsionável porque a aceitação dá lucro a quem a reconhece e convida a fazê-la passar de agradável a charrável e de charrável a controlável/controladora. Manobrando a trilogia do "1984", abrindo a auto-exposição, explorando o momento, narrando pelo écran, secando as palavras, criando a solidão para a dependência, o lado errado das fascinantes e prometedoras "novas tecnologias" e das suas multiplas aplicações começa a revelar tenebrosas utilizações que procuram intrometer-se na natureza da crescente mas inconciente  população utilizadora, que somos todos nós. Novos convites, novos anseios, novos crimes, novas impunidades, novas autopatias, novas angústias se estabelecem e afrontam a miséria, a qualquer miséria, que a imagem ou a realidade põe aqui ao lado - ou mesmo dentro de cada si-mesmo.  Perante uma realidade diferente, mas também manipuladora, Lopes Graça fez cantar o "Acordai!".  Que, sem acordarmos, muito do que pode ser ou tornar-se valioso acabará, daqui a não-muitas gerações, por matar inocentes seres marinhos como hoje fazem os plásticos dos cotonetes ou dos sacos fininhos de embrulhar bananas (que aliás já cresceram e vieram com casca). Mas, com eles, vamos nós! Uma porra!