segunda-feira, 31 de março de 2008

"Telemóveis há muitos"

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Assim se chama o artigo de Manuel Tavares publicado na pag.18 da revista NS (Notícias Sábado) nº 116, suplemento comum ao DN e ao JN de 29 de Março de 2008. Comentando - e bem - uma situação que polarizou e continua a polarizar a opinião pública lusitana, o Autor remete-se a recordações da sua passagem pelo Liceu de Alexandre Herculano, do Porto - situando diversos episódios num cenário que terá muito de comum (pelo menos quanto à figura de um reitor já posterior aos "nossos tempos") com a descrição também já feita por José Pacheco Pereira. É um assunto que certamente interessa aos "alexandrinos", motivo por que se refere aqui.

Refere-se igualmente, pelo seu interesse, o texto "Profissionalismo" de Desidério Murcho, publicado no "Público", caderno P2, pag. 3, de 25 de Março corrente que, tendo sido certeiramente assinalado por um amigo, teve também localizada menção durante a ultima edição do jantar de "alexandrinos" de Lisboa, que se realizou - como é costume - na última quinta-feira do mês.

Esta postagem será também apresentada em http://www.LAH-1954.blogspot.com.
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domingo, 30 de março de 2008

O 6º (e ultimo concerto) do Festival "Terras sem Sombra", na despedida até ao 5º Festival

Com o programa supra (acrescido de dois "extras") e com a esperada qualidade da interpretação do Coro Gulbenkian, este concerto decorreu como deveria decorrer, representando um fecho solene e entusiástico que coroou o Festival e aguçou o apetite para a sua próxima edição. Com mais de 300 presenças (referiram-nos mesmo o número de 350), traduziu bem o reconhecimento merecido por organizadores, apoiantes e artistas que em todo o Festival participaram. Igualmente, através da musica ou por ela, se conheceram terras e exaltaram monumentos. Consumada assim a sua 4ª edição, fica uma recordação indelével do muito mérito desta iniciativa cultural em que, louvavelmente, o Bispo de Beja, o Director Artístico do Festival e o Director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, bem como - para cada evento - o Presidente da Câmara Municipal do concelho em que se situou, tiveram, como promotores e convidantes, destacado papel.
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sábado, 29 de março de 2008

Ilustração contemporânea do Irão para a Infância

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Se o Barreiro adquiriu um reconhecimento internacional com a realização da Ilustrarte, aqui já referida (vd. neste blogue, a postagem de 26 de Novembro de 2007 sobre a 3ª edição dessa Bienal de Ilustração para a Infância), é dentro do mesmo tema que actualmente apresenta no AMAC - Auditório Municipal Augusto Cabrita uma surpreendente exposição epigrafada "1001 NOITES - Ilustração Contemporânea do Irão para a Infância". Esta exposição decorre até 11 de Maio, no referido Auditório, estando patente de terça feira a domingo, das 17:00 às 22:00 horas. Para mais detalhes www. ilustrarte.net.

Dá-se acima uma reprodução do convite para a inauguração da mesma, a 15 do corrente mês de Março pelas 17:00 horas - que surpreendentemente foi recebido pelo correio... de ontem (i.e. a 28 do mesmo mês). Com oportuna coincidência, uma visita feita ao AMAC para ver uma outra exposição de muito interesse que lá se encontra e se pode também visitar até 6 de Abril - dedicada à memória da notável artista teatral que foi Raquel Maria (aqui também já recordada em postagem de Julho de 2006, i.e. quando da sua morte) - supriu esse deslizamento no tempo e permitiu encontrar a novidade, criatividade e desconhecida profusão dos ilustradores iranianos que dirigem para a infância a sua arte.
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Catálogo de grande qualidade e a preço acessível, também a não perder.
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sexta-feira, 28 de março de 2008

Há sempre lugar para nascer uma planta...

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... mesmo entre as borrachas da porta de um automóvel (temporaria- mente) esquecido.
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quinta-feira, 27 de março de 2008

Da Amazónia e outras cobiças

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De um amigo portuense recebi, há alguns dias, o seguinte texto, apresentado como uma intervenção discursiva do político brasileiro Cristovam Buarque, quando Ministro Brasileiro da Educação, num debate realizado numa universidade dos EUA em que lhe foi perguntado o que pensava quanto a uma internacionalização da Amazónia (ideia que, como referia a mensagem recebida, surgia então com alguma insistência em alguns sectores da sociedade americana e que, compreensivelmente, porque não parece ter sido efectivamente arredada, muito incomoda os brasileiros). O jovem estudante que formulou a pergunta, concluiu-a dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro – e o texto recebido do meu amigo portuense fechava com a afirmação da importância dessa intervenção, uma vez que não teria tido a divulgação que muito merecia e que pelo menos se esperava, facto este que logo me despertou incrementado apetite. Como, porém, não é todos os dias que se recebem palavras de um ministro (mesmo que já ex-ministro desde 2004) , fiz um seguimento da simpática informação, remetendo-a outro amigo, este brasileiro – que me confirmou a veracidade do discurso e apenas disse que não era tão recente quanto isso, pois o referido incidente se situava no já distante ano 2000 [1]. Como a demora pode afectar a frescura, mas não afecta a veracidade e, muito menos, o fundo da questão, a intervenção aí vai, tal qual a recebi. E, sem dúvida, face a discursos e ufanias imperiais, merece ainda hoje ser lida:

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“De facto, como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.

Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso património da Humanidade.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar que esse património cultural, como o património natural amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA [2] têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro.Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!

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[1] Idêntica dúvida parece ter surgido no próprio Brasil, dando origem a uma nota explicativa muito oportuna na transcrição da intervenção em http://www.almacarioca.com.br/cro38.htm - portal que estabelece, em tons definitivos, a sua genuinidade e inclusive data e localiza o incidente reportado. Nesse portal o presente texto é apresentado como um artigo publicado na imprensa como resultante de uma intervenção, e não como a própria intervenção. Mas, no essencial, mantém-se.
[2] Para evitar confusões com o actual (e o anterior) confronto eleitoral nos EUA, recorda-se que o incidente terá decorrido no ano 2000.
[3] Imagens:
1ª: http://www.universia.com.br/materia/img/ilustra/2006/abr/amazonia.jpg

2ª e 3ª:
http://www.lbaconferencia.org/port/press_images.htm ;
4ª: http://www.consciencia.net/2006/0128-amazonia3-greenpa.jpg
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quarta-feira, 26 de março de 2008

A conferência do Professor Doutor Rui Vieira Nery em Beja, a 22 do corrente

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Igreja de N.S. dos Prazeres, Beja - Pormenor do tecto pintado (lado direito) [1]

A conferência que o Professor Doutor Rui Vieira Nery, da Universidade de Évora, proferiu a 22 do corrente mês de Março (Sábado de Páscoa), pelas 18:30 horas, na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres - Museu Episcopal de Beja, subordinada ao título "A Outra Europa: O Cruzamento das Culturas Musicais nas Tradições Mediterrânicas", constituiu uma manifestação saliente integrada na 4ª edição do Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo, "Terras Sem Sombra". Só se pode lamentar esta realização em dois planos, e ambos a favor do evento: (a) a desconformidade entre o interesse da exposição e a reduzida assistência (contamos 30 a 36 pessoas), que certamente resultou da singularidade do dia e hora e do frio e chuva que marcaram negativamente uma tarde que se esperava mais primaveril; e (b) não ter sido gravada a excelente lição, que - inclusive pelo que se não sabe descrever, por mor duma requerida síntese - de longe o merecia.

A tese fundamental da conferência, que associou a audição de excertos musicais a uma exposição verbal muito clara e exemplarmente estruturada, residiu na demonstração de duas leituras culturais distintas, tanto na música sagrada como profana. Assim, já com a revolução do gótico mas, sobretudo, com uma injusta tentativa de reescrever a História por parte dos enriquecidos agentes da diferenciação Norte / Sul numa Europa pós revolução industrial, pretendeu-se afirmar uma hegemonia do Norte polifónico, com uma expressão musical de extremo rigor matemático, relativamente à afirmação melódica que continuou a existir no Sul e que resultou de uma amalgama de culturas e tempos diversos em torno do Mediterrâneo, da reconhecimento e diferenciação das expressões regionais e recolha e recepção da expressão popular, do prestígio do virtuosismo e da manutenção do valor transcendente da afirmação musical que já existia na antiguidade clássica e que acabaria, no plano profano, por ser transposta, já no Renascimento, para a ópera.

Mas, para além do reconhecimento dessas duas vertentes, há que constatar como um movimento correctivo verificado nos últimos 40 anos conciliou os factos com a realidade, acreditando e reconhecendo a diversidade europeia, mas recusando uma pretendida hegemonia nórdica e mostrando a crescente vitalidade da expressão cultural e artística da Europa do Sul - que inclusive recolhe uma incontornável singularidade na sua transposição e no seu especial diálogo com outros continentes. Esse o cruzamento das culturas musicais nas tradições mediterrânicas.
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[1] Como se verifica neste pormenor, as figuras que molduram a Sagrada Família são apenas dois anjos - o que poderá reduzir a probabilidade da colocação singular de uma Santa numa das laterais da moldura homóloga no lado direito (ver foto na postagem de 23 do corrente, muito prejudicada pela iluminação existente). É mais uma acha para a fogueira, mas certamente uma interpretação ainda não decisiva.

terça-feira, 25 de março de 2008

Os objectivos económicos das Invasões Francesas

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A propósito das comemorações do 2º Centenário da primeira das Invasões, a integrar no conjunto complexo e ibericamente confuso que cabe na designação global de Guerra Peninsular, cabe levantar um tema que, salvo erro ou omissão do bloguista, ainda não viu tratado no plano estritamente nacional das relações invasor / invadido: o desmantelamento sistemático da nossa incipiente indústria. De facto, nenhum país invadido escapa a um conjunto de depredações com manifesta vantagem económica para o invasor e uma das causas frequentemente apontadas para o grave atraso da nossa actividade industrial passa pelo aniquilamento das poucas e titubeantes realizações então existentes - ao passo que a principal preocupação dos Historiadores se parece situar nos objectivos postados ao longo das costas e dos portos de comércio nelas instalados. O que se passou então: Houve um plano sistemático para nos "libertar" desse fardo industrial? Houve roubos de equipamentos ou tecnologias? Houve acções de defesa ou de resistência? Houve perseguição de competências? Houve evidente protecção de estabelecimentos franceses? Houve uma coordenação global, mesmo que rudimentar, da guerra económica? São perguntas que se deixam em aberto e para as quais se agradece qualquer referência.
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segunda-feira, 24 de março de 2008

O 6º (e ultimo concerto) do Festival "Terras sem Sombra"

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Mesmo antes de postar o comentário à conferência de encerramento que teve lugar em Beja, a 22 do corrente, por manifesta falta de tempo do bloguista, considera-se oportuno anunciar o 6º e último concerto (concerto de encerramento) do mesmo ciclo que terá lugar na Igreja Matriz de Santiago Maior, em Santiago do Cacém, no dia 29 de Março, i.e. sábado próximo, pelas 21:00 horas. Presente o Coro Gulbenkian, sendo tema "Vésperas: A Devoção Mariana na Música Portuguesa do Tempo de D.João V".
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domingo, 23 de março de 2008

Estará Santa Bárbara representada no tecto da Igreja de Nª. Sª dos Prazeres, em Beja?

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Igreja de N.S. dos Prazeres, Beja - Pormenor do tecto pintado (lado esquerdo)

Quando, a 24 de Fevereiro último, era aqui mencionado o monumento impressionante que é a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, particularizando a grandiosidade da talha, azulejaria, e pintura, nomeadamente de tecto, crê-se como omitida a referência que poderia ter sido então feita a uma suposta imagem de Santa Bárbara, que, neste, seria evidente como elemento da moldura que inclui o ensinamento da Virgem-Menina por Santa Ana sob o atento olhar de S.Joaquim, do lado esquerdo do templo. Para um auto-assumido inventariante de representações da Padroeira dos Mineiros e Metalurgistas (e não só), o esquecimento da máquina fotográfica foi, na altura deste inesperado achamento, um verdadeiro desgosto - só mitigado pela perspectiva de voltar ao mesmo templo, um mês depois [1]. E assim de facto sucedeu, permitindo trazer aqui hoje a imagem em questão e identificar o seu posicionamento no referido e extraordinário tecto pintado.
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Fica porém em dúvida se se trata de uma representação de Santa Bárbara ou de um simples elemento glorificador da Virgem, e esta dúvida resulta de três razões: (a) a imagem homóloga da representada, na referida moldura, é a imagem de um Anjo e não de um Santo, contra o que seria de esperar para confrontar a imagem da Santa; (b) o único atributo que pode referir-se à Santa será a torre (e mesmo essa com disposição diferente da comummente vista para as 3 janelas), mas faltam-lhe elementos essenciais como a auréola de santidade e a palma do martírio; e (c) observando detalhadamente "in loco" é visível, sob a representação, a expressão "turris davidica" presente na "Ladaínha da Santíssima Virgem" e que pode justificar a torre não necessariamente como atributo da Santa. Por outro lado, surgem argumentos "a favor": (a) o que inspiraria o artista para produzir uma imagem tão próxima da iconografia de Santa Bárbara; (b) a presença da auréola não parece essencial nesta representação, como se evidencia nas imagens da Virgem, Santa Ana e S.Joaquim, logo ao lado (a palma do martírio já é uma "falta" mais valorizável); (c) não sendo um anjo mas uma evidente figura feminina e não sendo a representação de uma Santa, quem poderá representar?

Assumindo pois que só um exame mais completo do tecto, particularmente da sua composição do lado direito (em que as duas posições homólogas são tomadas por anjos), e a consideração de estudos pormenorizados deste, que existem quer publicados quer no registo artístico da diocese de Beja [2], poderão esclarecer o asunto, dá-se para já a referida imagem e expõem-se as dúvidas que ela levanta. Voltar-se-á a isto e, independente das dúvidas, insiste-se na proposta da visita a esta joia do barroco que é a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres em Beja (e à Igreja de Nossa Senhora aos Pés da Cruz, de momento ainda não visitada na mesma cidade mas cuja repetida referência como emuladora daquela em termos de arte levanta o mais evidente empenho de brevemente regressar à capital do Baixo Alentejo).
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[1] Sobre anteriores referências à Santa neste blogue ver as postagens de 21/8/2005, 4/12/2006, 2/4/2007, 30/4/2007, 23/11/2007, 4/12/2007 e 18/3/2008, para além das referências incidentais em 24/3/2007, 23/4/2007 e 11/11/2007 e, quanto ao renascimento nórdico, as pontuais alusões feitas em 11/10/2006, 17/10/2006, 9/12/2006 e 9/4/2007.
[2]
vide http://www.agencia.ecclesia.pt/ecclesiaout/snpcultura/vol_igreja_nossa_senhora_prazeres.html e
http://da.campodosmedia.com/jornal/?link=noticia&id=5027

sábado, 22 de março de 2008

A raposa na matilha

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fotomontagem em http://www.e-farsas.com/foto_raposa.htm

Muitos factos haveria a referir, nesta Semana Santa que culmina no fim-de-semana de Páscoa, onde a dessacralização consumista das festas religiosas pela maioria religiosamente não-praticante põe muitos portugueses (financeiramente exaustos em termos estatísticos) à procura da "tanga" nos aeroportos de destinos quentes. Registo a morte de Arthur C. Clarke, o famoso "clássico" da FC (a SF dos anglófonos), no Sri Lanka, a 19. Registo a conferência em Beja, neste sábado, integrada no festival "Terras Sem Sombra", já aqui anunciada e que, só por si, merece também um apontamento próprio e futuro. Registo, ainda, o País surpreso por uma cena de violência e insubordinação escolar em que muita gente está a ver muita coisa, de acordo com o que se acha mais cómodo ou útil ver, sem que ninguém se debruce demasiado sobre o chamado "efeito boomerang" de várias condutas que na escola confluem ou incidem. Entretanto, e no genérico, a raposa passeia-se com a matilha. Quando trocar a matilha pelas penosas é que as coisas se tornarão bem mais penosas (para as penosas, certamente).
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sexta-feira, 21 de março de 2008

Para a chegada da Primavera, uma imagem de Arcimboldo e um poema de Federico García de Lorca

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Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) - Primavera (1573)


IDÍLIO

A Enrique Durán

Tú querías que yo te dijera
el secreto de la primavera.

Y yo soy para el secreto
lo mismo que es el abeto.

Árbol cuyos mil deditos
señalan mil caminitos.

Nunca te diré, amor mio,
por qué corre lento el rio.

Pero pondré en mi voz estancada
el cielo ceniza de tu mirada.

¡Dame vueltas, morenita!
Tem cuidado con mis hojitas.

Dame más vueltas al rededor,
jugando a la noria del amor.

¡Ay! No puedo decirte, aunque quisiera,
el secreto de la primavera.


Federico Garcia Lorca
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quinta-feira, 20 de março de 2008

Rescaldo do "Dia do Pai 2008"

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Sapo parteiro
(da postagem de 8/6/2004 no blogue "serradesintra")

Da página 24 da obra do juiz Baltasar Garzón "Un Mundo Sin Miedo", publicada em edição de bolso pela editora DeBOLS!LLO, de Barcelona, em Janeiro de 2006:

"São onze horas da noite e decido fazer uma pausa para conversar com os meus filhos - que, ultimamente, pouco vejo. A minha entrega vocacional tem um custo pessoal e familiar que me pesa como uma tampa de sepulcro. Muitas vezes não terei estado quando de mim necessitavam."

Como te entendo, juiz Baltasar. E, no entanto, comigo, tudo voltaria a ser assim.
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quarta-feira, 19 de março de 2008

O 25º Aniversário do Parque Biológico de V.N. de Gaia

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Logotipo do Parque Biológico de Gaia

Parabéns pelo 25º aniversário desta iniciativa pioneira, celebrado há escassos dias (15 de Março)! E parabéns igualmente pela formulação de uma proposta activa quanto ao sequestro de carbono - antecipando assim, na medida correspondente (que caberá a todos), a resposta a um verdadeiro desafio do nosso século. Parque certamente de visitar (eu prometo passar à prática e preencher brevemente esta grave lacuna, fazendo-o demoradamente nesta primavera) mas, enquanto se não visita, que virtualmente se alcance e conheça através do portal http://www.parquebiologico.pt. O que, de modo algum, supre a utilidade (e mesmo a necessidade) de uma presença - e tão próximo do Porto o Parque está!
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terça-feira, 18 de março de 2008

Festival "Terras Sem Sombra": Conferência em Beja, a 22 de Março

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A 4ª edição do Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo, "Terras Sem Sombra", aproxima-se do fim. Assim, e como já aqui referido, a penúltima realização integrada neste Festival é a conferência que o Professor Doutor Rui Vieira Nery, da Universidade de Évora, profere a 22 de Março corrente (Sábado de Páscoa), pelas 18 horas e 30 minutos, na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres - Museu Episcopal de Beja, subordinada ao título "A Outra Europa: O Cruzamento das Culturas Musicais nas Tradições Mediterrânicas". O reconhecido mérito do Conferencista e a natureza do tema, que se enquadra perfeitamente no espírito do Festival, são garantia do grande interesse do evento. Procurarei estar em Beja nessa data e hora para acompanhar esta lição e, inclusive, estar equipado para, aproveitando a oportunidade, aí fixar na fotografia a extraordinária imagem de Santa Bárbara que, em pintura, ornamenta o tecto do magnífico templo [1]. Poderei assim juntar ao acréscimo dos meus conhecimentos, o aumento das minhas referências quanto às representações da Santa padroeira das minas, metalurgias e não só.
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[1] Actualização em 23 de Março de 2008:
Sobre as dúvidas que levanta esta possível representação da Santa, agora examinada com mais detalhe, ver a postagem desta data.

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segunda-feira, 17 de março de 2008

Homenagem singela a uma Leitora assídua...

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Lavradio, 16 de Março de 2008

domingo, 16 de março de 2008

A pesquisa de anteriores postagens + interlúdio dominical pre-pascoalino

"Continuas amarrado a essa m.... de computador, não é?! E sabe-se lá com quem!"
(legenda livre ao chiste supra, do local http://peoresnada.com - a visitar)

Por telefone acabam de me perguntar qual a técnica a usar para se ler uma anterior postagem. Nada mais simples, caso se conheça a data ou uma palavra significativa do seu conteúdo. Se se conhece a data: basta ir à margem esquerda da entrada do "blogue" e procurar o mês e ano correspondente na coluna "caixote dos idos" (as postagens são coleccionadas mensalmente), clicando aí imediatamente surgirão as postagens desse mês no painel principal (à direita) e depois é ir descendo neste até encontrar o dia (i.e. o que se pretenda). Se se conhece a palavra significativa: no canto esquerdo da barra superior do blogue existe uma janela que diz "procurar no blog": coloca-se aí a palavra, clica-se e todas as postagens que a têm surgirão no painel principal cronologicamente ordenadas (sempre com as mais recentes em cima), bastando depois fazer a mesma "descida" e busca. Entendida?
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A despropósito: outra pessoa amiga (que as há e muitas!) enviou-me o também extraordinário endereço http://producten.hema.nl . Visitem-no, com olhos atentos e som ligado: ao princípio, como me foi referido, parece um inocente "site" comercial normal, de uma empresa que vende objectos diversificados. Mas aguardem e ... [1]
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Bom domingo!

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[1] Nota: para os que esperam um significados mais lusíada na palavra "NU" que por ali aparece, esclarece-se que em flamengo "NU" significa "apenas; só; não mais que"... e disse!
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sábado, 15 de março de 2008

Rogério Ribeiro (1930-2008)

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No início da semana que hoje finda, precisamente na 2ªfeira 10 do corrente, faleceu em Lisboa o artista plástico Rogério Ribeiro, deixando mais um lugar vazio na cultura portuguesa, que significativamente representou em pintura, escultura e gravura. O pequeno fragmento que encima este registo é um detalhe identificado como de sua autoria no mural exterior da sede do PCP, em Lisboa, e tem o especial significado de poder sugerir uma hipotética relação de semelhança com a "menina dos ramos de flores" que poeticamente alegrava, no exterior, uma parede da Piscina Municipal do Barreiro [1] e que incompreensivelmente foi apagada numa das obras que aquele equipamento recebeu - tendo inclusive sido motivo de uma proposta de reposição, aprovada em reunião camarária mas até ao momento não concretizada [2].

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[1] Terra em que Poesia e Alegria têm escassas confluências.
[2] Para evitar situações como a referida e como a grave deterioração de um painel na Baixa da Banheira, que - não sendo do concelho do Barreiro - foi já mencionada neste blogue - há que acautelar o presente e o futuro de diversas outras obras plásticas aqui existentes, promovendo o seu atempado registo e combatendo a deterioração ou o desconhecimento (que é a primeira forma daquela). Citam-se, entre outras, as pinturas murais dos salões das sedes de'"Os Penicheiros" e da SFAL e as tapeçarias de Zoio na antiga "Casa da Cultura", hoje na posse da Quimiparque. Ver, sobre o assunto, a postagem de 26 de Junho de 2007 neste blogue, de que se cumpre a promessa então feita de aproximar a "menina desaparecida" de uma sua provável "irmã", identificada em Lisboa, lamentando profundamento o motivo que agora conduz a tal cumprimento.


sexta-feira, 14 de março de 2008

Do livro de poesia de Luna Levi "SO2", página 77

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Transcreve-se (a gravura não faz parte do texto transcrito):

"Li que no interior do átomo existe o vácuo. Os biliões incontáveis de átomos que dão consistência à matéria de que sou feito formam o vazio corporal no interior da alma. Toda a transcendência se situa na exterior da interiori­dade, aguenta-me como lamparina frágil. A aura produz um corpo por necessidade de marcar sua presença, que é sinal de outra luz mais distante, íntima.

Podes então dizer que és uma candeia posta na in­finito, estrela cadente. Porque me disseram que há tantas estrelas no céu quantos os homens vivos nas ga­láxias. E o povo sempre contou que eram almas prestes a chegar a Deus, as estrelas cadentes.

Comove-te saber que Deus te destinou uma estrela para quando partires, que alguma criatura venusina alumiará a tua noite infinda. Estremeces só de antecipar tua alegria quando juntares o pensamento ao pensamento universal.

Tão infinitamente pequena é tua quota-parte de ma­téria que ficas sem olhos para enfrentar a luz da estrela que te destinaram para companheira."


Luna Levi, "SO2", Guimarães Editores, Lisboa, 1980; p. 77



quinta-feira, 13 de março de 2008

A Ponte D.Maria Pia, entre Porto e Gaia, como motivo de uma reflexão de Marcello Mastroianni (1924-1996)



"COMO UM DIRIGÍVEL

Vêem aquela ponte de ferro, aquela arcada audaciosa, ali no rio Douro? Chama-se «Dona Maria», uma rainha de Portugal, e foi projectada pelo engenheiro Eiffel, que todos conhecem pela famosa torre Eiffel de Paris.

Quando vejo «objectos» do género, arrependo-me um pouco de não ter sido o que gostaria de ser: arquitecto. Sabe-se lá se seria bom. Um arquitecto realiza coisas sóli­das, que perduram. Mas da minha profissão, o que perdura? Sombras, sombras chinesas.

Sempre sonhei construir casas; fi-las com o dinheiro do cinema, não como arquitecto. A minha casa ideal, gostaria de tê-la construído com o engenheiro Eiffel: um poste de ferro, uma torre tendo lá dentro um elevador; e lá no alto, ancorado - um dirigível. Eis a casa ideal: adormece-se no Norte, acorda-se no Sul. Porque o dirigível anda ao sabor do vento. Infelizmente o engenheiro Eiffel já não existe, e a minha casa ideal não passou de um sonho.

Quando o contei ao pintor Rauschenberg, pintou-me um quadro, como fazia ele, com bocados de jornais e de papel: havia esta torre que subia para os céus com o dirigível an­corado em cima; o apartamento ficava por baixo da cabina. Francamente, não seria nada mau."

Marcello Mastroianni, “EU LEMBRO-ME, SIM, BEM ME LEMBRO”, Ed. Teorema, 1997, Lisboa, pag.105 (trad. de José Colaço Barreiros)


quarta-feira, 12 de março de 2008

Quando o bloguista se dava às artes (com "a" pequeno) (1976)

terça-feira, 11 de março de 2008

"Canções de fim de caso"

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Não queria abordar este tema, mas a coincidência de três situações a ele inevitavelmente me leva. E esses três casos são: a) a "passagem" no Rádio Clube, ontem, de uma canção de Chico Buarque e Francisco Hime, de 1978, "Trocando em miudos", que levou ao debate e (a pedido) busca do poema na "net" (exercício dificultado pelo nome errado com que a canção foi designada); b) um artigo com pés-na-capa no último número da revista "Focus"; e c) um título de 1ª página e o associado texto no JN de hoje. E o assunto ficaria por aí - passe a tentação de transcrever o oportuno poema da canção brasileira referida (diga-se que há música brasileira de que gosto) [1] - se este blogue não fosse também um registo de estudos & ensaios, de descobertas & achamentos, e se, na referida busca, não tivesse surgido algo que merecesse ser salientado. Trata-se da postagem de 13 de Outubro de 2007 no blogue "Poportugal" de Eugénia Melo e Castro: (http://poportugal.blogs.sapo.pt/173454.html), postagem que, sobre o tema, faz um verdadeiro estudo da modalidade "canções de fim de caso" no masculino e na MPB [Música Popular Brasileira]. Facto é que poderia constituir um objecto de mestrado, enquadrado nas actuais tendências evolutivas da vocação familiar, alargar esta análise aos múltiplos exemplos do lado de cá do Atlântico - que, sem enunciado limitativo, incluem casos antológicos como, no feminino, o clássico "amaliano" "Não sei porque te foste embora", de José Galhardo e Frederico Valério [2] e, voltando ao masculino, o mais recente "Deixa-te ficar na minha casa", da Filarmónica Gil, com composição de João Gil [3] - sem perder de vista, muito alto e longe, o celebérrimo relicário flamengo que foi e continua a ser o "Ne me quitte pas" de Jacques Brel [4]. Para já, feito este improvisado (e imprevisto) registo "pro-memória", prefiro o outro polo da situação, menos dolorida e mais colorida, que vive no poema do "Com um brilhozinho nos olhos", de Sérgio Godinho [5].

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[1] http://chicobuarque.uol.com.br/letras/trocando_78.htm
[2] http://sintonizate.net/musica/amalia-rodrigues/27560.html Atenda-se, ainda no feminino - que é bem a versão original deste fado, embora já se tenha ouvido uma interpretação do mesmo no masculino, com poema adequadamente adaptado-, à excelente interpretação de Ana Sofia Varela em http://www.youtube.com/watch?v=-ryopevkWyU. Aliás, no feminino e em Português, poder-se-ia abrir um ainda maior volume da compilação em que se incluiria um muito extenso contributo da MPB.
[3] http://letras.terra.com.br/filarmonica-gil/258194/
[4] http://letras.terra.com.br/jacques-brel/5766/ e também
numa excelente interpretação do próprio Brel em http://www.youtube.com/watch?v=uEAGoLHMMoA .
[5] http://letras.terra.com.br/sergio-godinho/356698/


segunda-feira, 10 de março de 2008

O concerto de 8 de Março em Castro Verde

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A Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição, em Castro Verde, abriu as suas portas para acolher o 5º Concerto da 4ª Edição do Festival de Música Sacra do Baixo-Alentejo "Terras Sem Sombra", nele cabendo ao "Banchetto Musicale Lusitania" - agrupamento vocal e instrumental dedicado à música antiga - a interpretação do programa acima reproduzido. A surpreendente extensão temporal e geográfica das peças apresentadas e a qualidade de execução reforçada pela excelente acústica e a conhecida solenidade do templo foram factores que certamente ditaram uma considerável afluência (de 100 a 120 pessoas), pesem embora as características do dia, mobilizadoras para outros eventos. Prossegue este concerto a qualidade do Festival, que brevemente encerrará a sua actual agenda. É a todos os títulos desejável que este esforço prossiga, sempre com abertura às variadas expressões culturais do Mundo Mediterrânico e com a simultânea exposição dos monumentos em que tem lugar.

Um aspecto do concerto

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A Basílica Real (título devido às diligências de D.João V para que tal apreço fosse reconhecido à grande Igreja que fez construir sobre um templo anterior, contruído por D. Sebastião, e que, por sua vez, já se sobrepusera a um muito mais antigo) não necessita de apresentações. De muito longe se impõe ao casario que a rodeia, dando a Castro Verde um perfil muito próprio. Quer na sua azulejaria, evocativa da vida do nosso primeiro Rei e da jornada de Ourique [1], quer na talha, quer ainda no conjunto de paramentos, imagens, pinturas e alfaias sacras que constituem um verdadeiro tesouro, a Basílica Real é ponto de obrigatória visita. Com o esforço de reparação e restauro que tem sido prosseguido, permanece porém em aberto a questão do tecto, que já havíamos conhecido duas dezenas de anos atrás e que bem merece a qualificação de "angustiante" que lhe ouvimos aplicar. Magnífica obra pintada, em madeira, plenamente justifica que sobre ela especialmente se estabeleça, financie e suporte um plano global e multidisciplinar de recuperação (e de concomitante estudo).

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[1] Curiosa a recente leitura de "Ourique - área" , mais que "Ourique - local", que ouvimos enunciar na exposição prévia ao Concero.



domingo, 9 de março de 2008

Uma antologia poética sobre o Alentejo (Castro Verde, Março 2008)

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Basílica Real de N.Sª. da Conceição

Fui ontem a Castro Verde, ao 5º e penúltimo concerto da 4ª Edição do Festival "Terras Sem Sombra", mas a descrição disso fica para amanhã. Enquanto o tempo passava, dentro do princípio tão querido a Alfredo da Silva do "espera-se lá", reparei que, no rincão ajardinado da Praça do Município, a caminho da Basílica Real, um conjunto de 11 pendões de dupla face (ou de 22 pendões justapostos) subordinado ao tema "O Alentejo Nas Mãos dos Poetas" apresentava 21 poemas (de 21 autores) sobre o Alentejo, todos com uma pequena biografia. Agradável surpresa verificar que o conjunto formava uma das muitas antologias possíveis sobre o Alentejo - e logo me veio à idea o proceder a uma listagem dos poemas e Poetas apresentados. Obviamente que não vou transcrever aqui os poemas, nem tempo teria para os coligir, mas vou certamente indicá-los e ordená-los pela ordem alfabética dos respectivos autores (1º nome), como sugere a disposição deles no jardim. Perguntar-se-á porque são apenas referidos 21 Poetas quando são 22 as faces dos pendões? Resulta isto de, na 1ª face, se ter apenas a denominação da exposição e os nomes dos 21 Poetas expostos. Ficam pois 21 faces para Poetas (com nome, data e local de nascimento e data de morte quando já sobrevinda, seguidamente indicados, bem como pequena biografia e posicionamento literário que se não transcrevem) e poemas (nome em negrita e obra em que foi incluído):

01. Al Berto (Coimbra, 1948 - 1997), "Envolver-me na mais obscura solidão" in "Salsugem";

02. Alexandre O'Neill (Lisboa, 1924 - 1986), "Pelo Alto Alentejo" in "Entre a Cortina e a Vidraça";

03. António Ramos Rosa (Faro, 1924) , "Caminho do Alentejo" in "Respirar a Sombra Viva";

04. Antunes da Silva (Évora, 1921 - 1997), "Paisagem" in "Canções do Vento";

05. Armindo Rodrigues (Lisboa, 1904 - 1993), "Entre montados" in "Quadrante Solar";

06. Carlos Oliveira (Belém do Pará, 1921 - 1981), "Ceifeiras" in "Alentejo Não Tem Sombra - Antologia de E.A." [i.e. antologia de poemas sobre o Alentejo, coligidos por Eugénio de Andrade]

07. David Mourão Ferreira (Lisboa, 1927 - 1996), "Nocturno de um comboio no Alentejo" in "Tempestade de Verão";

08. Eugénio de Andrade (Fundão, 1923 - 2005), "A terra de palha" in "Contra a Obscuridade";

09. Florbela Espanca (Vila Viçosa, 1894 - 1930), "Árvores do Alentejo" in "Poesia 1903 - 1917";

10. Jorge de Sena (Lisboa, 1919 - 1978), "De relance, o Alentejo" in "Post-Scriptum";

11. José Gomes Ferreira (Porto, 1900 - 1985), "Circunstanciais IV" in "Poeta e Militante III";

12. José Régio (Vila do Conde, 1901 - 1969), "Fado Alentejano" in "Fado";

13. Manuel Alegre (Águeda, 1936), "Gramática de coentro e cal" in "Alentejo e Ninguém";

14. Manuel da Fonseca (Santiago do Cacém, 1911 - 1993), "Aldeia" in "Obra Poética";

15. Mário Beirão (Beja, 1890 - 1965), "Ausência" in "Poesia Completa";

16. Miguel Torga (S.Martinho d'Anta - Sabrosa, 1907 - 1995), "Canção para o Alentejo" in "Diário III",

17. Natália Correia (S.Miguel - Açores, 1923 - 1993), "Ceres alentejana ao meio-dia" in "O Armistício";

18. Raul de Carvalho (Alvito, 1920 - 1984), "Terra - Mãe" in "Poesia - Talvez Infância";

19. Ruy Belo (Rio Maior, 1933 - 1978), "Breve Sonata em Sol {Um} (Menor, claro)" in "Transporte no Tempo";

20. Sophia de Mello Breyner Andresen (P0rto, 1919 - 2004), "Soror Mariana" in "Cem Poemas de Sophia";

21. Urbano Tavares Rodrigues (Lisboa, 1923), "Margem Sul" - poema cantado por Adriano Correia de Oliveira in [no album] "Margem Sul", Orfeu, 1967.

Esta selecção e a sua afixação creditam louvores a quem teve a iniciativa e lhe deu espaço (Câmara Municipal? Junta de Freguesia?) e a quem a trabalhou. De facto - se é que se não aperceberam disso - o colocar poesia na rua denota que algo está a mudar neste País. Só falta que qualquer viandante possa achar tranquilidade e tempo para a ler e fruir e, lendo-a, compreensão e abertura para a sentir. E isso passa pelo bem estar social e por uma melhor educação, claro.


sábado, 8 de março de 2008

Março 8


I.


II.

Gerbéria
(pela 2ª vez neste blogue)

sexta-feira, 7 de março de 2008

"Cão", um poema de Alexandre O'Neill

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Cão passageiro, cão estrito
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara-lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão ali, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção,
cão pré-fabricado,
cão espelho, cão cinzeiro, cão botija,
cão de olhos que afligem,
cão problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!

Alexandre O'Neill (1924 - 1986)
in Abandono Vigiado

quinta-feira, 6 de março de 2008

Um apontamento sobre as Termas de S.Lourenço, em Ansiães


Em 1998 o Instituto Geológico e Mineiro, com apresentação do Presidente do seu Conselho Directivo, Eng. Luís Rodrigues da Costa, e nota biográfica da Dra. Rita Marquilhas, mandou proceder a uma edição facsimilada do "Aquilégio Medicinal", da autoria de Francisco da Fonseca Henriques, primeiro inventário de águas minerais naturais de Portugal Continental, dado à estampa em 1726. Com as discussões hoje levantadas pelo possível aproveitamento energético do rio Tua. é interessante referir o que, nessa obra, vinha já descrito sobre as "Caldas de Ansiães", item XVI do Capítulo I ("Das Caldas"), pags 33 a 35. Actualizar-se-á, tanto quanto possível, a grafia:

"XVI
Caldas de Ansiães

No termo da Vila de Ansiães, Comarca da Torre de Moncorvo, de que dista seis léguas, junto ao lugar de Pombal, freguesia de S.Lourenço, descendo para o rio Tua, por uma serra tão áspera que só a pé se pode andar por ela, nasce uma fonte de água sulfúrea, com calor moderado, despenhando-se pela serra abaixo em grande quantidade.; onde o zelo do padre António de Seixas, Pároco, e natural daquela freguesia mandou fazer um tanque, ainda que humilde, e de pedra tosca; no qual se tomam banhos em todo o tempo do ano; e servem para curar debilidades de nervos , e juntas tolhidas, e dolorosas; estupores, parlesias, vertigens, e outros achaques desta classe, a que se devam aplicar Caldas sulfúreas. São também eficassíssimos em curar sarnas, chagas antigas, e lepra; do que há muitas experiências; o que poderá fazer o enxofre, que no cheiro da água se reconhece; mas por ventura que o seu mineral seja também caparrosa, ou pedra hume, que tem grande virtude para secar chagas, e curar pustulas. Se houvera casa de banhos, e tanque acomodado para se frequentarem, logo pelos efeitos se iria alcançando a qualidade dos minerais, e se viria em claro conhecimento de suas virtudes; e seria um grande bem para todos aqueles povos, que ficam mui distantes de outras Caldas, de que não podem usar facilmente.
Todos os anos há grande concurso de gente a lavar-se, e tomar banho nesta água na noite da véspera, e dia de São Lourenço, pela fé, que com ele têm; e passam de quatrocentas pessoas, que se banham nessa noite, e dia, sempre com banho novo, pela muita cópia de água com que brevissimamente se enche o tanque, e ha experiência de que vindo doentes com lepra, outros tolhidos, e outros com vários achaques, com um só banho, tomado na na noite, ou dia do Santo, sararão."

O actual debate sobre a desejada reabilitação das termas, que como se constata já era motivo de preocupação no inventário do sec. XVIII, e a possível interacção com a supra referida barragem do Tua, são temas versados em diversas localizações na "net", bastando - para consulta - pesquisar por "termas de S.Lourenço". As descrições actuais das termas são mais ou menos coincidentes, referindo a pequena povoação, que está próximo da estação do Tua, na linha do Douro, e que já teve apeadeiro na linha do Tua, a dificuldade de um alojamento precário e a descrição breve dos banhos actuais, com as respectivas recomendações terapeuticas. Estes tomam-se numa grande tina granítica em "casa" fechada com paredes e cobertura de formato piramidal também graníticas. A tina, que pelas suas dimensões até permite o "banho familiar" recebe a água quente de uma bica e descarrega para um tanque exterior. O tempo de cada banho (1/2 hora) é reservado por marcação (informa a junta de Freguesia), referindo ainda essas informações mais recentes, um número de utentes que poderá atingir 400 pessoas por dia - exactamente o mesmo que era apontado no sec. XVIII para o dia e noite de S.Lourenço e que, nas actuais condições, parece exagerado e relevar da tradição oral de antanho. Interessante ainda uma discussão pró e contra a modernização dessa instalação rústica, que se encontra em
http://pensar-ansiaes.blogspot.com/2006/07/as-termas-de-s-lourenço.html
só acessível em "cache", através da referida busca.

As fotografias que se dão, na abertura e fecho desta postagem, são de, respectivamente, a imagem em pedra de S. Lourenço que se encontra num nicho sobre o referido tanque de banhos (fotografada em 2001), e, abaixo, uma visão do acesso às instalações, denunciadas estas pela cobertura piramidal em granito. É também visível o tanque exterior, para onde escorre a água descarregada da tina de banhos.



quarta-feira, 5 de março de 2008

A cidade natal

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Porto - Rua de Santa Catarina (troço Sul) [1]

Não será exactamente a minha cidade natal, porque está desta separada por um rio, mas disso fez função em muitos aspectos da minha vida. Por isso, calcorreando hoje ruas centrais do Porto que já não via há, pelo menos, uma dezena de anos, foi com mágoa que pude observar a grave deterioração de edifícios e equipamentos - de forma e extensão tais que me trouxeram à memória imagens recolhidas em cidades da Europa de Leste no "outro tempo" delas.

Recordei aqui uma vez (postagem de 14 deFevereiro de 2006) a frase de Pavese: "nada mais insuportável que o lugar em que se foi feliz". Duplamente, direi eu no presente caso. E o Porto certamente não merece este estado de coisas.

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[1] Cortesia, pela foto, a "Galeria Pública Francisco Restivo" em www.picasaweb.google.com. Não parece, neste troço da rua, verificar-se qualquer problema... mas quem percorrer o seu troço Norte, entre a Rua Gonçalo Cristóvão e a Praça Marquês de Pombal ficará, certamente, com uma diferente visão das realidades que, nesta como noutras, se oferecem à contemplação do imparcial viandante.
[2] Exceptuo desta apreciação negativa a capacidade de transporte proporcionada pelo "metro" local, na sua eficácia, boa manutenção e articulação com outros sistemas e no excelente aproveitamento que foi feito das infraestruturas ferroviárias pré-existentes.
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terça-feira, 4 de março de 2008

O 5º (e penúltimo) Concerto do Festival "Terras Sem Sombra" - 4º Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo

Terá lugar já no próximo dia 8 de Março, sábado, pelas 21:00 horas, na Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição, em Castro Verde, pelo "Banchetto Musicale Lusitania" sob o título "O Virgo Splendens: A Devoção Mediterrânica Medieval"

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O Festival concluirá por uma Conferência e um Concerto de Encerramento respectivamente a 22 (em Beja) e 29 (em Santiago do Cacém), como seguidamente se indica:


Março 22: pelas 18:30 horas na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja: Conferência de Encerramento pelo Professor Rui Vieira Nery, da Universidade de Évora, subordinada ao tema "A Outra Europa: O Cruzamento das Culturas Musicais nas Tradições Mediterrânicas"


Março 29: pelas 21:00 horas na Igreja Matriz de Santiago Maior, em Santiago do Cacém: Concerto de Encerramento, pelo "Coro Gulbenkian " sob o título: "Vésperas: A Devoção Mariana na Música Portuguesa do Tempo de D.João V"

segunda-feira, 3 de março de 2008

Da ginjinha e d' "A Ginjinha"

Passo agora com mais frequência por lá... e paro. Paro como param as pessoas fixadas na excelente fotografia de José I. Costa, datada de 7 de Fevereiro de 2007, em olhares.com (i.e. no local http://olhares.aeiou.pt/a_ginjinha/foto1747133.html), fruindo, no canto nordeste do Rossio de uma das ainda sobrantes expressões democráticas de Lisboa. Talvez por isso uma recente intervenção fiscalizadora calou fundo e teve eco generalizado, catapultando ainda mais a ginjinha, "com elas" ou "sem elas" (as ginjas) para um mais amplo conhecimento europeu e mesmo mundial. Mantém-se, de resto, o tipismo do estabelecimento: o balcão, os copinhos, as garrafas de 7 decilitros e de litro, a "malta" no exterior, isolada ou em grupos, todos comungando no tradicional licor que desde 1840 ali se serve, faça quente ou faça frio, S.Domingos de um lado, Garrett do outro, o Palácio da Independência à frente, um Euro a menos no bolso (hoje) - mas ninguém o regateando. E, para além da publicidade em verso (o local acima referido reproduz o "poema" da portada do lado direito quem olha o balcão... mas há mais, há mais) e do retrato do Fundador, existe ainda, à esquerda, o marco de bronze do Turismo de Lisboa que, em Português(com versão em Inglês por baixo), refere a singularidade do local nos termos que , com a devida vénia, seguidamente se transcrevem:

"A Ginjinha
A Ginjinha do Largo de São Domingos, propriedade de um galego de nome Espinheira, foi o primeiro estabelecimento em Lisboa a comercializar a bebida que lhe dá o nome e que rapidamente se transformou num ex-libris da cidade. Por conselho de um frade da Igreja de Santo António, Espinheira fez a experiência de deixar fermentar ginjas dentro de águardente, juntando-lhe açúcar, água e canela. O êxito foi imediato, quer por ser doce, quer por ser barato e a ginjinha transformou-se na bebida típica de Lisboa."

Típica de Lisboa... e não só. São reconhecidas igualmente como famosas as ginjinhas de (por ordem alfabética) Açores (nomeadamente a ginjinha do Peter's), Alcobaça, Almeida (a "ginjinha da Amelinha") Anadia, Madeira, Óbidos, Ourém, Sanguinhal - e o bloguista (e apreciador) agradece que lhe seja assinalada qualquer omissão, para completar a lista e os itinerários de prova sugeridos. Refere ainda que, há muitos anos, conheceu também um local do Porto em que a ginjinha era vendida a pequeno copo ("shot" se lhe chama agora!) tal como em Lisboa: era na Cervejaria Adriano, na Praça da Batalha, frente a Santo Ildefonso - a nascente do "'Aguia Douro", também "com elas" ou "sem elas" como manda a regra.
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domingo, 2 de março de 2008

"La Vie en Rose"


La "Vie en Rose" é o título em Portugal (e em diversos países) de um dos êxitos da famosa cançonetista francesa EdithPiaf (1915-1963) e também o título do filme sobre a sua agitada vida, dirigido por Olivier Dahan e apresentado em Fevereiro de 2007 sob a denominação original "La Môme". Embora algumas críticas refiram que é a interpretação sublime de Marion Cotillard que salva o filme, considerado de resto como um normal "biopic" (= filme biográfico, de "biographic picture"), os factos acumulados de ter ganho dois Oscar's no presente ano (interpretação principal feminina, precisamente a Marion Cotillard, e "makeup"), a média de votação de 7,6 em 10 atingida no normalmente exigente portal IMDb (International Movie Database, em http://www.imdb.com/title/tt0450188/), o peso das minhas recordações pessoais no descobrir e aprofundar as canções de Edith Piaf e, finalmente, o facto de ser mais um filme europeu mundialmente reconhecido e galardoado, levaram-me, ontem, a uma sessão de cinema em que, apesar de o por do sol ter já fechado uma tarde esplêndida, não estariam na sala mais que dez espectadores. Não dei por perdido nem o tempo, nem o dinheiro. Dizer que a interpretação é sensacional, torna-se, de facto, lugar comum - mas merece sem dúvida toda a referência e elogio que a esta seja feita. De resto, um "biopic" não pode afastar-se do modelo que retrata. Nesse sentido o filme é igualmente bom e nele se encontram diversos planos de bom cinema. Porque o fluxo biográfico é interpolado, os respectivos recortes e confrontos estão sabiamente escolhidos e a música, além de um tema discreto, retoma, de forma exemplar, os principais êxitos da cantora. Recomenda-se, pois, esta história da Edith Piaf - que merece muito mais que a exígua audiência de que fizemos parte.
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sábado, 1 de março de 2008

Março, nas "Les Très Riches Heures du Duc de Berry"

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Aproxima-se a Páscoa. Entra a Primavera. Começa o calor. Preparam-se os campos e os pomares. O ano, como outrora, deveria começar aqui!