quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Um soneto para o tempo (em) que se vive

A Roda da Fortuna - Carta de Tarot



Ide lá, ponde a louca confiança
Naquilo em que a fortuna só domina;
Que se a roda inconstante um pouco inclina,
Sem voltá-la de todo não descansa.

Algum cuida que a prende, e a mão lhe lança
Em acto de a suster, e se arruina;
Porque o giro veloz, que a desatina,
Até lhe rompe a crédula esperança.

Depois fica-se o pobre reduzido
A passar toda a vida descontente,
De que errou sem remédio arrependido.

Sendo enfim espectáculo da gente,
De mágoa para o sábio comedido,
De riso para o vulgo irreverente.
Abade de Jazente
(Paulino António Cabral)
Amarante, 1719 - Amarante, 1789

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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Gato e rato

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Sem palavras

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Aumentando unilateralmente 2008... esta agora!...

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do JN de hoje, pag.26

... e sendo a culpa disso certamente - e mais uma vez - do Governo, muito estranharei se Gaia, isto é (neste caso) a Terra, não for chamada às Cortes para ser questionada sobre tal inadmissível incúria! É de zurzir em Comissão, pelo menos... pelo menos...
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domingo, 28 de dezembro de 2008

Actos falheiros

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Durante o período natalício (e tenho diversas coisas prontas para ir postando nos dias intermédios) mimosearam-me com dois e-gramas (que é como eu traduzo o gringuês "e-mail ") que merecem alguma reflexão e que demonstram como, admitindo mesmo que em alguns aspectos se possa ter razão, ela acaba por poder perder-se.

O primeiro, datado de 23 de Dezembro e proveniente de emissor desconhecido, tem como assunto "FW: Professores remetem prenda de Natal - Livro "Equador" e é portador dos seguintes dizeres e de um anexo:

"----------------------------------------

Prenda de Natal... Ofereço-vos...o Livro " EQUADOR "

"Os professores são os inúteis mais bem pagos deste país" !!!!!! - Miguel.Sousa.Tavares.

Ora como "os inúteis mais bem pagos deste país" já lhe deram alguns milhares de euros a ganhar, resolveram fazer uso da sua inutilidade

e dar este presentinho de Natal a todos os outros inúteis que o queiram ler...

-----------------------------------------

------ End of Forwarded Message"

O anexo é nem mais nem menos que uma digitalização completa do livro "Equador" que termina com o seguinte aviso:

"Esta obra foi digitalizada e revisada pelo grupo Digital Source para proporcionar, de maneira totalmente gratuita, o benefício de sua leitura àqueles que não podem comprá-la ou àqueles que necessitam de meios eletrônicos para ler. Dessa forma, a venda deste e-book ou até mesmo a sua troca por qualquer contraprestação é totalmente condenável em qualquer circunstância. A generosidade e a humildade é a marca da distribuição, portanto distribua este livro livremente. Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquirir o original, pois assim você estará incentivando o autor e a publicação de novas obras. Se quiser outros títulos nos procure : http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros, será um prazer recebê-lo em nosso grupo."

Surpreso já com a questão legal que subjaz à digitalização de uma obra inteira num grupo mesmo fechado (mas que se revela como permeável), cabe - por maioria de razão - constatar como a utilização dessa digitalização, no presente caso, sugere a intencional produção de dano pessoal que ultrapassa o objectivo de divulgação que a já de si questionável digitalização anuncia no aviso supra transcrito. Indicia-se claramente o propósito de afectar um Autor, nos seus direitos, por causa de uma afirmação deste. E há aqui um flagrante ataque ao Livro como obra e produto vendável. Quem pensou nesta façanha revela-se pelo seu comportamento. Espero mesmo que não seja um professor.

Registo adicionalmente que o que li tirou-me dúvidas: tinha ainda uma prenda de Natal a escolher e fui rapidamente a uma livraria próxima comprar a obra "Equador" de Miguel Sousa Tavares para preencher essa lacuna. Não quer isto dizer que compartilhe da opinião desse Autor sobre (todos) os professores, pois há Professores que merecem a maiúscula. Nem mesmo significa que especialmente goste da obra literária de MST. Quer isto dizer que DISCORDO DO ACTO EXPRESSO NO ENVIO ABUSIVO QUE ME FOI FEITO, também menos pelo envio, mas mais pelo conteúdo. Qualquer dia, por este caminho, advoga-se a "queima de livros". Onde e quando isso já sucedeu?

A segunda "gracinha" vem no mesmo sentido. Um outro e-grama remeteu-me para um blogue em que se ostentava a sequinte imagem:


Se existissem dúvidas sobre o aproveitamento político de uma questão apresentada como sindical (mas não o é, claro, e a "independência sindical" constitucionalmente prevista [1] é daqueles preceitos que uns espezinham e outros do espezinhar se aproveitam) aqui está a demonstração plena disso mesmo. O senhor ou senhora que concebeu tal dístico, que poderá interessar à CNE, tem ideias que não passam certamente pelo referido preceito constitucional. Aqui não precisei de sair para comprar uma obra na livraria - pois os sinais viários mesmo macaqueados só me afectam na estrada - mas não deixo de sublinhar a provocada confusão. E, quanto à mensagem, que sempre recorda o velho adágio: "os que lá estão, lá estão; outros estiveram, que pior fizeram; outros virão que melhor farão", a componente hipotética - e portanto duvidosa - reside toda na terceira (e optimista) frase. E serão outros? E, mesmo que o sejam ou não, farão mesmo?

Temo que exemplos destes - e não só estes - amplamente exibidos aos que hoje são alunos e que no amanhã serão também professores contribuam para a diluição da autoridade e respeito que quem ensina merece. Lamentáveis casos recentes e crescentes já o mostram e as próprias raposas que se vestem de ovelhas para "melhor conduzir a água aos seus moinhos" (e refiro-me à minimização do valor da escola pública) já começam a ter receios de que a queimada também os atinja e , por isso, a habilidosamente encolher (e esconder) as caudas.

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[1] Nº 4 do artigo 57º da CRP: "As associações sindicais são independentes do patronato, do Estado, das confissões religiosas, dos partidos e outras associações políticas, devendo a lei estabelecer as garantias adequadas dessa independência, fundamento da unidade das classes trabalhadoras."
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sábado, 27 de dezembro de 2008

Euforbia pulcherrima

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Outros chamam-lhe Poinsettia... e, entre nós, "Estrela de Natal". Mexicana de origem, floresce agora nos nossos canteiros geladinhos de frio.

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Imagem de http://www.plantcare.com/oldSite/httpdocs/images/namedImages/Poinsettia.jpg

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

"Imagens do Concelho de São Roque do Pico"

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Uma segunda surpresa que, no "sapatinho", esteve ligada aos Açores, foi a obra, já em 2ª edição revista e aumentada (2005; 1ª edição de 2003), "Imagens do Concelho de São Roque do Pico" da autoria de José Manuel Martins Gomes e Paula Maria Oliveira Gil e editado pela Câmara Municipal de São Roque do Pico.

É uma excelente demonstração de quanto as imagens falam e descrevem e de como o esforço e dedicação permitiu reunir e recolher de arquivos fotográficos e de albuns familiares todo o património de um concelho insular - em monumentos, manifestações culturais, actividades económicas, presenças marítimas, associações, momentos e memórias, vultos e afirmações e, inclusive, anseios - ou seja, em tudo o que ressume o passado e o presente de uma comunidade activa.

Levarei esta obra a outras terras e pessoas para mostrar o que pode ser feito, o que pode evitar a dispersão e perda de tantos documentos de grande utilidade e que, fora de uma recolha, sistematização e descritivo [1] organizados vão perdendo sentido - e muitas vezes existência - de geração para geração até se perceber que neles poderia haver uma história para contar, mas que ninguém já sabe. Ainda nesta semana, em contexto bem distinto, compartilhei a triste noção do incompreensível destroço de arquivos e de memórias a que uma vontade, actuante no momento exacto, poderia ter obstado.

A realização de uma 2ª edição, revista e aumentada, é, nos exactos termos do prefácio próprio desta (em que só se lamenta a ausência de uma data precisa [2]), o resultado de uma adesão acrescida e bem merecida. O processo de "bola de neve" assim evidenciado torna-se evidente e gratificante reconhecença do valor da obra.

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[1] Em que se inclui o sempre delicado trabalho de uma correcta e suficiente legendagem - e só não sabe quão difícil (e mesmo ingrato) esse trabalho pode ser quem observa os seus resultados sem ter intervindo na sua feitura. Relembra-se aqui, por paralelo em que simplesmente se altera o objecto que não o sentido, a frase de Garrett quando lhe elogiavam o brilho de alguns dos seus (previsionalmente preparados) improvisos como parlamentar, frase essa tão citada pelo Dr. Cruz Malpique nas suas aulas de Filosofia no Liceu de Alexandre Herculano: "Só Deus sabe o trabalhão que certos improvisos dão!"
[2] De facto a data da segunda edição só se tira dedutivamente e com incerteza da data do depósito legal (201817/03), presumindo que este é da 1ª edição e que corresponde à data de efectiva edição (e já aqui temos duas presunções) e da frase "volvidos cerca de dois anos" do referido prefácio da 2ª edição (que se admitiu, numa 3ª presunção, significar mesmo dois anos e conduzir assim a 2005). Valeu na circunstância o recurso à "rede" e ao local
http://cm-saoroquedopico.azoresdigital.pt/Default.aspx?Module=Categoria&ID=17
em que a obra, nas suas duas edições, está referida.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal 2008

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A imagem trazida para o meu Presépio de 2008


TUDO É TEU

Descalço venho dos confins da infância,

E a minha infância ainda não morreu...

Em face e atrás de mim ainda há distância.

Ó Menino Jesus da minha infância,

Tudo o que tenho (e nada tenho!) é Teu!


Pedro Homem de Mello

(Porto, 1904 - Porto, 1984)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Mensagem de Natal da Urda / Um poema do poeta cabo-verdiano Nuno Rebocho



Na sua mensagem de Natal, depois dos terríveis momentos sofridos pelas inundações que martirizaram o Estado de Santa Catarina, a escritora brasileira Urda Alice Klueger encontrou em Mia Couto a expressão do sentimento que nela quis imprimir:

Urda Alice Klueger




Neste Natal e final de 2008, ano que foi tão duro para nós, da minha região, quero lhes repassar uma fração de um poema chamado "Rosa", do escritor moçambicano Mia Couto. Acho que o poema fala por mim.
"Me sufoca o ser,
me assusta o querer ser.

O que mais quero ter
é a impossibilidade do ter."
Feliz 2009!
Urda"

Agradecendo e retribuindo os votos e esperando que 2009 seja bem melhor que 2008 e muito bem melhor do que os augures lhe vaticinam [1] verifico que, exactamente no dia anterior a esta mensagem, a Urda tinha deixado uma outra "A todos (amigos e inimigos) - BOM ANO 2009" através do poema "IRREDENTA ESPERANÇA" do poeta cabo-verdiano Nuno Rebocho, datado de 15 deste Dezembro que já apressadamente leva 2008 para o grande estuário da História. Porque o poema é excelente e porque quer nesta, quer na outra mensagem, encontramos três vértices de expressão na nossa língua comum, que é de certa forma a nossa glória de sermos irmãos das primeiras palavras que aprendemos a tudo o que pela vida fora formos dizendo, possa eu juntar um quarto vértice pela transcrição que aqui deixo do tudo que nesta mensagem nos fala:


IRREDENTA ESPERANÇA


escondo-me no saco dos brinquedos:

ainda aí guardo esperanças e segredos

fechados a sete chaves.

deles por enquanto nada direi

- quero-os irredentos

puros (sagrados)

como serão os corpos nos noivados

e são as mulheres que eu amei.

escondo-me mas não deserto. fico

à espreita na tocaia a que me dedico

sempre à espera de novidades.

sei que virá o tempo

de abrir o saco

e sacar lá de dentro outro pacto

com a chuva com o sol e com o vento.

eu sei: virá o tempo. e então direi

quanto esteve sufocado e conservei

com força de medrar e viço

e alma. direi o chão

da aventura

regada pela viva água da ternura

onde por nossas mãos brotará o pão.

eu sei: virá o tempo.


Nuno Rebocho

15 Dezembro 2008



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[1] Temo que se confirme a já denunciada semelhança entre os gurus económico-financeiros deste Planeta e os médicos-legistas: "ambos sabem fazer a autópsia da ultima crise mas ignoram totalmente como evitar a próxima". Posto isto tenho mesmo que admitir que Malthus e os seus companheiros da "escola pessimista" estavam de facto do lado da razão. Como o imaginado ou lendário Murphy.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"Cavidades Vulcânicas dos Açores"

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Há muitos anos, no Porto, apresentado por um familiar meu, conheci o Professor Pereira Forjaz, então jovem estudante, que me deu a conhecer este curioso fenómeno lávico e me mostrou as formas caprichosas de algumas solidificações nele presentes Curioso da Geologia e particularmente atraído pelos fenómenos vulcânicos, ao ponto de induzir a Biblioteca Municipal do Barreiro, em tempos passados, a uma breve mas interessante correspondência com Haroun Tazieff e de coleccionar (eu) diversa bibliografia e filmografia sobre o tema (mas tendo sucessivamente relegado para 2ª prioridade projectadas idas a Itália, aos Açores, às Canárias ou mesmo ao Puy e de vagamente sonhar com Hawai's, Rabaul & etc ... para afinal só contactar turisticamente com mecanismos vulcânicos briosamente activos quando no Japão por outras razões [1], ou quando já acalmados no Oregon - Santa Helena, claro! - ou esquecidamente fósseis como a chaminé no encosto sul do viaduto sobre a terceira saída da Praça de Espanha quem vem da Avenida de Berna, o que revela uma devoção algo ociosa, desmotivada, "voyeurista" ou pelintra...), saudo esta interessante e essencial obra bilingue (Português e Inglês), com lavra de M. P. Costa e outros sete Autores, 48 páginas, mostrando exemplares - quando não impressionantes - textos, ilustrações e fotos e recentemente editada por "Amigos dos Açores / "Os Montanheiros" / GESPEA (Grupo de Estudos do Património Espeleológico dos Açores). Saúdo igualmente quem amavelmente m'a transmitiu e permitiu assim, por antecipação, um preenchimento do meu "sapatinho de Natal".

Para mais despertar curiosidade a outros que pelo assunto se interessem dá-se seguidamente um local e um endereço electrónico a que podem aceder para mais informações
www.speleoazores.com e gespea@speleoazores.com
e transcreve-se o respectivo índice...

1. Introdução
2. Geologia dos Açores
3. Génese das Cavidades Vulcânicas
4. Estruturas Mais Comuns
5. Aspectos Gerais do Património Espeleológico dos Açores
6. A utilização das Grutas pelo Homem
7. Descrição das Cavidades Vulcânicas Mais Representativas da Região:
Algar do Carvão (Ilha Terceira)
Furna do Enxofre (Ilha Graciosa)
Gruta do Carvão (Ilha de São Miguel)
Gruta das Torres (Ilha do Pico)
8. Fauna Cavernícola e Flora
9. GESPEA - Grupo para o Estudo do Património Espeleológico dos Açores

Olho para esta obra como mais um incentivo para que, dobrados que sejam os promontórios e pedrames escondidos do ano que se anuncia e cansado que sou de defrontar feitios peladianos, me possa finalmente abalançar à desejada visita à Macaronésia, a iniciar pelos Açores - é bem claro - e se possível com havaiana companhia. Vá lá, stromboliana também pode ser!
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[1] Curiosamente, numa dessas visitas (ao Monte Aso), acompanhando diversos "sulfuriqueiros ou profissionais correlativos", nomeadamente barreirenses, verifiquei que os nativos se torciam todos com o sulfuroso, tossindo, espirrando, etc. etc. Os do nosso grupo não! Passeavam-se incólumes! Por que seria? [Se um dia recebermos um destino planetário, fica desde já aprazado que tomaremos café em Io, todas as tardes!].
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Haverá um primeiro e haverá um último...

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(Quase) como já se referira a 26 de Maio último...

...em cada conjunto plural numerável e susceptível de uma ordenação haverá sempre primeiros e últimos, qualquer que seja o grupo e qualquer que seja o critério dessa ordenação. Não havendo situações de simultaneidade nesses subconjuntos extremos, então haverá um primeiro e haverá um último.

Notícia na pag. 1 de "O Século" de 22 de Dezembro de 1944:

"Morreu o último sobrevivente do curso jurídico de 1870 que foi o fiel cumpridor de um juramento que uniu até à morte noventa rapazes de Coimbra

Com 94 anos, morreu em SANTO ANTÓNIO DO COUÇO o ultimo sobrevivente dos noventa que se matricularam em Direito, no ano de 1870, em Coimbra. O sr. dr. José Maria Henriques da Silva morre depois de ter cumprido um solene juramento. Assim: «O último que sobreviver mandará celebrar missa por nossas almas». O compromisso foi tomado em 1874, no final do curso, depois de uma ceia tremenda, que pela ultima vez os juntou. Depois, cada um seguiu seu rumo, vivendo e morrendo. O último foi o sr. dr. José Maria Henriques da Silva que, em Julho deste ano, veio de Santo António do Couço, apoiado a uma bengala para cumprir na igreja de S.Domingos o juramento de 1874. Ficou, então, mais tranquilo e aliviado daquele grande peso. Contou-nos as suas memórias - retalhos de boémias, greves, «raposas» e saudades, tudo vivido no reinado do Senhor Dom Pedro V. Evocou os seus condiscípulos, entre os quais Pina Calado, Cassiano Pinto Neves, Cândido de Figueiredo, Assis Teixeira de Magalhães (o célebre dr. Assis), Afonso Lopes Vieira, o pai do poeta eminente.
Pois morreu ontem. [...] [1]

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[1] A notícia era acompanhada por uma fotografia do Dr. Henriques da Silva, já idoso; suprimiu-se a parte da notícia que elencava os familiares enlutados.

Imagem: cortesia a
www.bhservico.com.br/fotos/corrida.jpg

NOTA A TEMPO: preparada para ser postada a 22 de Dezembro, a presente mensagem - por acidente - saiu antecipada, "desorientando" o agendamento do início do mês. Constatado agora o lapso, restaura-se na prevista localização. 2008.12.22
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domingo, 21 de dezembro de 2008

"Áreas de importância natural dos arredores do Porto"

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Da autoria do Dr. Nuno Gomes Oliveira e em edição do Parque Biológico de Gaia, em colaboração com o NPEPVS - Núcleo Português de Estudo e Protecção da Visa Selvagem, a obra que acima se mostra - com o axiológico e desafiador subtítulo de "Memória para o Futuro" constitui um valioso levantamento da situação actual da área que contorna uma grande cidade e que cada vez mais é agredida pela existência e vida desta e das suas actividades afluentes de uma forma que me faz sempre voltar à frase de Pavese já aqui algures [1] referida: “Que diremos se as coisas naturais – fontes, florestas, vinhas, campos – forem um dia absorvidas pelas cidades e desaparecerem, e apenas se encontrarem em frases antigas? Serão como os deuses antigos, as ninfas, a natureza sagrada que emerge dos versos gregos. Então a simples frase «era uma fonte» nos comoverá”.

A presente obra é, simultaneamente, um manifesto, um programa, uma memória e uma inventariação documentada. É importante ler. E muita gente que pensa conhecer os arredores do Porto constatará que há muito mais a conhecer... enquanto é tempo.
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[1] Postagem de 6 de Junho de 2007

sábado, 20 de dezembro de 2008

Semelhanças e diferenças (2)

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Dedico a mensagem de hoje àqueles que não acham que um dos meus autores favoritos mesmo, Gunther Grass, se parece fisionomicamente comigo (assunto já aflorado aqui a 15 de Novembro de 2007). A questão que hoje se põe e que resulta de uma foto que acabam de me enviar é que aqui trago é simplesmente esta: qual dos dois é este?
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Da dedicatória manuscrita num livro

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Há problemas formais curiosos e, entre estes, defrontei-me ontem com a questão: onde escrever a dedicatória manuscrita num livro? Procurei diversas fontes e concluí que há manifesta preocupação quanto ao formulário a usar mas que, quanto à localizaçao, não existe nem preocupação, nem regra exacta, embora - com alguma frequência - a dedicatória preceda o título da obra [1]

Quanto à dedicatória impressa esta regra é frequentemente subvertida e então a dedicatória pode surgir na página (ou na folha) subsequente ao título ou, inclusive, no fim de um pequeno prólogo, embrulhada com os agradecimentos (o que não me parece boa técnica, a menos que haja completa coincidência).

Numa outra perspectiva, um portal australiano lembra judiciosamente que há que ter cuidado com dedicatórias que se dirijam ao ente amado e que falem em amor, notando mesmo que "muito frequentemente o amor dura menos que a dedicatória em obras que o descrevem" - o que pode dar, ao texto dedicado, coloridos que vão do patético ao humorístico. A este mesmo propósito pode visitar-se uma excelente página do escritor, professor e geólogo Jorge Ordaz no seu blogue "Obiterdicta" em
http://jorgeordaz.blogspot.com/2006/10/dedicatorias.html
e - entre outros - um curiosos artigo-apontamento, bem desenvolvido, sobre a estrutura do acto comum de lançamento e "apresentação de um livro", da autoria de Felix Sanchez, em
http://www.esquife.cult.cu/revista/60/14.htm.

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[1] Embora não haja uniformidade, no caso concreto que me trouxe a tão inesperado assunto, vou observar esta regra.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Ao que leva um calendário

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A vénus prehistórica de Brassempouy (21000 a 25000 anos antes da nossa Era)

O museu de Brassempouy [5]: um tributo actual a uma beleza antiga
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Quando fui buscar o carro á oficina e pagar a reparação (uma bateria já velha no galheiro, como neste País parece ser o destino de pessoas e coisas menos novas), recebi um amável sorriso e uma solícita pergunta: quer um calendário nosso? Claro que disse que sim, que calendários fazem sempre jeito. Linear já não era a pergunta seguinte, furtivamente codificada: "Com descasque ou não?" Embora não estivéssemos na indústria do arroz, a sugestão maliciosa do vocábulo "descasque" tinha certamente o sentido que eu pensava. Por isso não me coibi e prossegui a escolha dizendo "Com descasque, pois! Mas também gostava de dar uma vista de olhos na alternativa!". Recebi o que esperava - menos mal, diga-se - e mirei o outro calendário, em que uma donzela de vestido longo (mas generosamente aberto em cima) oferecia uma taça de espumante em situação de "não descascada" mas com um olhar e posição manifesta e potencialmente "descascável", ou melhor num "ainda não descasque, mas já lá vamos!"

Saindo dali, com a carteira menos pesada (pela reparação) e o banco de trás nudisticamente mais rico (pelo calendário), não pude deixar de meditar na velhíssima questão do limite entre o erótico e o pornográfico. Questão delicada e subjectiva - e por vezes encarada de forma bastante hipócrita e contraída. O corpo nu é aceite se em obra de arte e é repudiado (ainda que procurado para mirar às escondidas) noutras situações[1], dando mesmo lugar a inconcebíveis execrações como se apontava ao Cristo morto da igreja da que foi minha freguesia e que tem o ecuménico nome de S.Cristovão de Mafamude, em Vila Nova de Gaia - igreja que, por coincidência, me disseram hoje mesmo estar quase encostada a um outro templo, mas do consumo, que dá pelo nome de El Corte Ingles.

Recordei também a perseguição desenvolvida antes do 25A à "Antologia da Poesia Erótica e Satírica" (que trouxe não-digo-donde, e sem especulação, para colegas diversos), as truncaturas ao Canto Nono dos Lusíadas nos livros destinados aos estudantes, a eliminação - por vezes de forma grosseira, raiando o ridículo, de cenas inteiras em películas cinematograficas. E se a própria Maja do Goya teve de ser vestida (embora sem que se tenha perdido o seu glorioso desnudo), a Renascença italiana (ou nórdica), no melhor que lhe foi o pre-Trento, muitos antes daquela forçada vestimenta, não tinha desprezado a beleza do corpo feminino. Em Portugal, mesmo aí, tudo continuava essencialmente embiocado [2].

Respondendo a todas as questões que se me punham, e sem ter descoberto o Bataille no cafarnaum de livros que na minha sala se entre-devoram, não resisti a ler - no computador - mais uma página do surpreendente "Eloge du sein des femmes. Ouvrage curieux" que um tal Claude-François-Xavier Mercier de Compiégne (1763 -1800) escreveu (ainda bem!) em França e que mereceu a atenção do Projecto Gutemberg a ponto de se tornar uma das obras integralmente disponíveis na "net" [3]. Nele se encontra a "definição da beleza feminina" expressa em 30 requisitos que o Autor atribuiu a Helena e colocou logo no início do 2º Capítulo mas que - ainda segundo a mesma obra - François (Franciscus) Corniger [4] sintetizou em Latin, ocupando os 18 versos, que se dão a seguir:

MULIERIS PULCHRITUDO.

Triginta hæc habeat, quæ vult formosa videri
Foemina: sic Helenam fama fuisse refert.
Alba tria, et totidem nigra; et tria rubra; puellæ.
Tres habeat longas res, totidemque breves.
Tres crassas, totidem graciles, tria stricta, tot ampla,
Sint itidem huic formæ, sint quoque parva tria.
Alba cutis, nivei dentes albique capilli:
Nigri oculi, cunnus, nigra supercilia.
Labra, genæ, atque ungues rubri. Sit corpore longo,
Et longi crines, sit quoque longa manus.
Sintque breves dentes; auris, pes. Pectora lata,
Et clunes, distent ipsa supercilia.
Cunnus et os strictam, stringunt ubi cingula stricta,
Sint coxæ et culus, vulvaque turgidula.
Subtiles digiti, crines et labra puellis.
Parvus sit nasus, parva mamilla, caput.

Quem saiba Latim que traduza. Quem não souber Latim tem a tradução francesa no referido capítulo. & em qualquer caso, ponha-se a bolinha no canto para arreda das pessoas que se sintam alérgicas! Porque, em bom Latim, aqui está o descasque da "menina do calendário".
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[1] A partir daqui poderia ter enveredado por um outro caminho dedicando-me à "controvérsia travada no decurso do sec. XIX entre a pintura e a fotografia relativamente ao valor artístico dos seus produtos", como escreveu Walter Benjamin no seu ensaio "A Obra de Arte na Época da Sua Reprodutibilidade Técnica", incluído no volume "Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política" editado pela "Relógio d'Água" em Lisboa e em 1992 (uma boa sugestão para prenda de Natal a quem a entenda e mereça e ligue mais ao alto valor da amêndoa que ao baixo preço da casca). Não foi esse, no entanto, o caminho seguido - fixando-me antes num assunto aparentemente muito mais terra à terra mas que, de facto, é " talvez não!"
[2] E Frei Bartolomeu dos Mártires a caminho de Roma e finalmente à boleia de purpurados franceses acompanhava-os devotamente nas suas cantorias, pensando tratarem-se estas de hinos religiosos, para acabar por descobrir que eram licenciosas canções, apud Aquilino. Ou, já antes, na triste cena de D.Afonso V com Luís XI, quando o primeiro, "le pauvre Roy du Portugal" como rezam as crónicas, escandalizado com os costumes libidinosos da corte francesa, decidiu (mas foi prontamente descoberto e remetido à procedência) por-se, como expiador peregrino, na senda de Jerusalem
[3] Em http://pge.rastko.net/etext/18610 ou http://www.gutenberg.org/etext/18610
[4] Os vestígios encontrados sobre este Autor apontam, com reservas, para a Península Itálica no início do sec. XVI

[5] Brassempouy fica no sudoeste de França, nas Landes. Facilmente acessível a partir de Bordeus, Pau ou Dax.
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A estação antiga do Barreiro (hoje oficinas)


De um atento familiar recebo (e agradeço) a gravura que se dá supra e que foi recolhida do "ARCHIVO PITTORESCO - SEMANÁRIO ILUSTRADO", Volume VI - 1863, Lisboa.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

pré-Natal


Em tempos de rigor, sempre vale mais um peru entufado
que um pavão armado em leque.



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Imagem de pavão de www.sitiostantonio.com.br/imagem/pavaoazul2.jpg
... mas há mais (e onde menos se esperam)!


segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A ilha de Jan Mayen

Cornelis de Man (1621-1706): A fusão da gordura de baleia na ilha de Jan Mayen

Também tivemos professores estranhos. Se naquele tempo contávamos pelos dedos de uma mão o que considerávamos maus professores, que os havia, os dias de hoje - na opinião dos alunos - levam a contar da mesma forma os considerados bons. Mas havia os estranhos que, independentemente dessa dicotomia primária, tinham humanas fífias.

A gravura junta, que reproduz um quadro exposto no Museu Real de Amsterdam, o Rijksmuseum (lea-se "Reíks...), transportou-me a um episódio algo grosseiro, mas que me marcou pela injustiça nele contida. O professor, de Geografia, era um bom homem - não tenho dúvida - e assumia uma forma muito peculiar de se dirigir aos alunos. Todos o conheciam por isso e ninguém lhe tomava a mal que, na generalidade e na especialidade, nos tratasse, no então 2º ciclo, como se fôssemos criancinhas da primária.

Falando bem e depressa, eu era um puto curioso. Gostava de viajar nos mapas de um atlas, aliás Espanhol (Salvador Salinas, seria esse o nome?) , que representava os continentes e os oceanos em esmerado detalhe e que me fazia sonhar em horizontes ainda não conhecidos. Cheguei ao ponto - original na época e quase precursor - de verificar que os continentes podiam ser um "puzzle", isto é que o "nariz" do Brasil encaixava no côncavo do Golfo da Guiné e que as Aleutas pareciam um rasto de geleia de marmelo na toalha do Pacífico Norte. Sem o saber, estava num bom caminho - mas não passei dessas constatações curiosas e de outras, reforçadas aliás pela filatelia e a leitura da Enciclopédia de Maximiliano Lemos (que me parecia uma obra gigantesca, na estante dos meus Avós maternos, mas que outro dia vi - e impressionou-me pelo seu tamanho, bem mais reduzido do que então me parecia).

É aí que, já no Oceano Glacial Ártico, a norte da Islândia, eu fui encontrar a ilha de Juan Mayen (Juan porque o atlas era espanhol!) , como que perdida e sem a indicação, entre parêntesis como era costume, das iniciais da potência titular da dita ilha (que é a Noruega, diga-se). Curioso de tirar o assunto a limpo, esperei o fim da primeira aula de Geografia que tive, deixei-me arrastar na sala e dirigi-me ao Prof e perguntei-lhe, designando um local provável no azul acima da islândia, antes de chegar ao branco:

- Professor, a quem pertence a ilha de Juan Mayen?

O calmo professor subitamente entrou em inesperada erupção (aliás adequada, porque Jan Mayen tem vulcanismo activo) e apontando-me com o dedo em riste, respondeu:

- Olha, meu pequenino, é uma falta de respeito tentar experimentar os professores com perguntas matreiras!

E deixando-me envergonhado e confuso, saiu pela porta fora... sem sequer me dizer que, se não sabia, iria procurar conhecer quem, de facto, mandava em Jan Mayen. Não gostei!
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domingo, 14 de dezembro de 2008



Em qualquer grupo existem os "outros" e os "coisos". Estes, que se reclamam do lado mais penoso da luta de classes, subdividem-se em "coisos propriamente ditos" e "pluto-coisos." Os primeiros, os "propriamente ditos", têm clara noção disso; os "pluto-" também afirmam tonitruantemente ter, só que, depois do "também", o discurso prossegue-lhes com um "todavia". [1]


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[1] "Coiso" é diferente de "coisa" e é aqui usado como clausula geral, susceptível de ser substituída por uma designação mais precisa - desde que se mantenha o posicionamento relativo face aos "outros" (igualmente clausula geral). Não tem qualquer conteúdo depreciativo: lembremo-nos do chamamento afectuoso, entre colegas, quando se esquece ou se não sabe exactamente o nome: "Oh coiso, chuta para cá a bola!"

sábado, 13 de dezembro de 2008

Trabalho de casa

Deverá qualquer Uva Passa copiar cem vezes "O Velho, o Rapaz e o Burro" e, no fim, ser avaliada pelos seus pares. Apresentada geralmente "à Setubalense", ou seja: rodeada de citrinos, poderá - enquanto escreve - ir bebericando um cálice de moscatel ou, na falta dele, de Madeira.
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A Mostra de Natal em Barrancos



De pessoa amiga recebi e transmito gostosamente a seguinte mensagem-convite e cartaz para a Mostra de Natal em Barrancos, com a curiosidade da mensagem conter partes grafadas em barranquenho:


"Caruh amiguh i amigah,

Aproveitem estes dias para descansar e estar com aqueles de quem mais gostam. Tragam a família e os amigos para passar um:
NATAL EM BARRANCOS!

A mostra do Natal em Barrancos pode ser visitada na Sala 3 do Museu Municipal de Arqueologia e Etnografia de Barrancos, entre 10 de Dezembro de 2008 e 10 de Janeiro de 2009.

Entre os dias 22 e 31 de Dezembro, poderão saborear um pouco da nossa doçaria de Natal.

Estamos à vossa espera no Museu. Visite-nos!

Aproveitamos a oportunidade para desejar:

Felih Natá i milhó Anú Nobu para toduh!"

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Hai kai

De www.custodio.net/haikai/haikai14.jpg


O comentário de um visitante amigo na rápida rememoração do falecido café Rialto, do Porto (postagem de 19 de Novembro) levou-me a visitar um local da net a que nunca tinha acedido mas que tem todo o interesse da descoberta:http://recantodasletras.uol.com.br. Pode aí tomar-se contacto com a efervescente produção literária brasileira e considerar, com atenção, o valor de muitas expressões da arte poética ou da expressão narrativa nas suas mais diversas modalidades. Só de haikais (ou haicais, ou haikus) teremos mais de 19000, o que é esmagador.

E resulta em curiosidade saber por que razão o Brasil se devotou tanto a essa forma japonesa, tão menos cultivada é entre nós. A forte emigração japonesa, a meu ver, em si não chega [1]. No entanto o hai-kai perfeito requer a subtileza de um momento de encanto, de um verdadeiro flash de beleza, como um floco de neve isolado, ou uma flor que esboça um particular sorriso entre o comum de todas as outras. Elegância, requinte, síntese descritiva e beleza sensível são os ingredientes de uma estutura tão simples e frágil. Penso na minha surpresa ao encontrar os "hai-kais" num curso de escrita criativa que uma universidade canadiana trouxe à "net" à data dos seus primórdios (entre nós) - ainda os virus eram tão raros que se continham num pequeno livro de bolso com 100 páginas. Consagrava-se-lhes um dos capítulos.

Mas entremos um pouco na estrutura do "hai-kai", recorrendo ao texto de http://www.naminhateia.com/haikai/haikai.htm que por sua vez o toma de um autor anglo saxónico:

"Haicai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do século 20 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão, e na maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku.
Segundo Harold G. Henderson, em "Haiku in English", o haicai clássico japonês obedece a quatro regras:

  • Consiste em 17 sílabas japonesas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas
  • Contém alguma referência à natureza (diferente da natureza humana)
  • Refere-se a um evento particular (ou seja, não é uma generalização)
  • Apresenta tal evento como "acontecendo agora", e não no passado."
Regras simples estas, em que assenta toda a dificuldade e exigência desta forma. Aliás, como se verá, a regra métrica, isto é a primeira, é frequentemente subvertida - desde que se mantenha o essencial do "momento fotográfico enquadrado na natureza".Mas se se visitar o tema "hai-kai" na Wikipedia constatar-se-á que a sua evolução no Brasil passa de uma mierificação e rima rígidas até à total flexibilidade - que hoje existe e é apreciada. E, neste evoluir, a própria referência á natureza e à estação do ano e a exigência do facto concreto está, em muitos casos, posta em causa.

De um outro local brasileiro, tirado ao acaso (eles são tantos!) e onde foram reunidos 100 hai-kais considerados representativos vou aqui colocar um simples exemplo, de Millor Fernandes
e que dedico ao cão que tentou salvar o colega atropelado numa auto-estrada chilena, como o you.tube mostra e Maria trouxe (e bem) qual lenitivo comentário à postagem de ontem. Para mais exemplos, uma viagem na "net" rebentará as redes, com tanto peixe.

De Millor Fernandes:


Na poça da rua
o vira-lata
lambe a Lua

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[1] E, curiosamente, nesta frase caí em deixar um hai-kai escondido! Péssimo, diga-se!
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Dia de encrencas

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Coloque neste balão o que pensa disto tudo!

Algo está a mudar: ou em mim ou no meio que me rodeia. Hoje, em pouquíssimas horas, tive três assuntos para tratar e todos se mostraram tortos e infectados. Entretanto, pelo correio, ou pelo telefone chegaram mais três.

No primeiro caso, uma alta figura (ou como tal se assume no seu pelouro) caiu, possivelmente por imprevisão de consequências, numa decisão prepotente e incorrecta, tipificável como abuso de poder - numa forma agravada pela ausência de qualquer comunicação e explicação. Escrevi-lhe uma carta. Não respondeu (as altas figuras, porque se assumem altas, sentem-se longe desses incómodos, sobretudo quando têm a cauda trilhada na porta). Muito lusitanamente, e porque o reclamante - que sou eu - tem clara razão, movimentaram-se vias alternativas, informais, de meia-encosta, que vão resolver o problema de forma supletiva, potencialmente suficiente mas artificial. Mais "a la Tchekov" que "a la Kafka", as boas-vontades preenchem os erros cupulares. Felizmente que, para esses, existe um livro de reclamações. Sem resposta por mais uma semana, vamos a ele.

A segunda questão versa sobre a necessidade de - num sistema burocrático - poder subir nas abordagens. Tratava-se de resolver uma situação de lana caprina, relativa aos serviços de entrega, não efectuada, de uma compra. Ao nível corrente do atendimento telefónico (após ter constatado que o portal na internet está mais preparado para atender clientes que para facultar informações aos clientes de clientes e destinos verdadeiros das entregas! - e este ultimo era o meu caso) a situação estava não só irresolúvel como em torno dela se levantavam as maiores dificuldades - acompanhadas, de um lado e doutro da comunicação telefónica, por agrumes totalmente fúteis. Abespinhei-me ao ponto de solicitar a ligação ao/à superior/a hierárquico/a. Falando com este/a, o assunto ficou resolvido, a pleno contento das partes, em menos de 3 minutos. Pergunto a mim mesmo qual a preparação daquele primeiro (e convencido) contacto, mais pronto a ouvir-se que a ouvir. E se não teria sido bem melhor para a própria imagem do convencido/a gajo/a dizer "Um momento!", falar com o tal escalão hierárquico e ser ele/a a apresentar a solução conveniente.

A terceira questão vinha infectada da origem, mas o seu tratamento foi uma excepção e, por isso, aqui ponho o nome: "Páginas Amarelas". A minha reclamação foi ouvida, entendida e despachada, com toda a cortesia, em menos dos tais 3 minutos. Deu ainda tempo para actualizar dados e para receber proactivamente uma indicação útil, que não fora pedida mas que poderia vir a ser. Excelente, e sem ter de passar a primeira linha da frente.

A quarta e quinta questões não serão detalhadas pois resultam de uma INCOMPETÊNCIA que conduz a responsabilidade. Amanhã alguém vai ouvir o que não gosta! Mas o que sucede de facto é que com "a crise antes da crise" muitas empresas descobriram que a forma de resolver alguns dos seus problemas (enquanto os bancos e algumas das próprias empresas estafavam as massas em aventuras financeiras e duvidosas aplicações) passava por um conjunto de soluções típicas e de consequências tristes: a) vender activos (nomeadamente na área da produção industrial, aqui tantas vezes já falada); b) despedir pessoal experiente; c) abusar da prestação de serviços ("outsourcing" para a frente e já); d) despedir pessoal experiente; e) recorrer ao mercado do emprego precário; f) reestruturar actividades; g) despedir pessoal cada vez menos experiente & assim sucessivamente, numa espiral de mediocridade. Paralelamente com isso o que se passa no ensino, em todo o ensino, conduz - com exclusão de honrosos casos contáveis - a uma idêntica e generalizada impreparação e à colocação de capacidades bem ou mal adquiridas num mercado que as subemprega. O que se está a passar na Grécia, tão ignorado e mal contado, vai também no caminho disto e a passividade com que se aceita o abaixamento de nível social ("social downgrading") e o desespero individual que passa a colectivo por acumulação permite augurar todos os males que a História demonstra para casos como estes. Com tal espiral de desmobilização de vontades e de capacidades, os lugares vão sendo preenchidos por pessoas sem ambição, que são chamados a acumular funções enquanto não acumulam preparação para elas. Aí é que está efectivamente o problema dessas incompetências que geram responsabilidade e desses incidentes do dia a dia que demonstram que cada assunto tem de "correr mal" antes de ser resolvido. Trocamos o "the right man in the right place", vemos dar o favor de emprego a prazo ao "the right (ou the wrong, tanto faz!) man in the wrong place" e caimos em ter (também a termo) o "the wrong man in the right place" sem nos apercebermos que todos alinhamos, inclusive mercê da exigência não respondida do uso das novas tecnologias e sistemas, numa vulnerabilidade global que não é acompanhada pelas capacidades individuais de resposta e que já o "Jethro Tull" há muitos anos cantava. Pede-se mais quando se produz menos e o mais vai escasseando mesmo para os que se lambuzam com ele. Só falta a aceitação da sinistra figura oficial de um "handycapper general" que Ray Bradbury colocou num dos seus mais característicos (e mais causticos) contos.

Para fechar o dia e acabar de matá-las: telefona-me uma voz informaticamente composta para informar que 22 Euros a mim mensalmente debitados por uma determidade entidade - e escrupulosamente pagos pelo sistema de débitos directos - misteriosamente não tinham sido liquidados no dia 4 deste mês. Isto vai envolver uma outra história, porque erro houve em qualquer sítio, já que não existia razão para tal. As alternativas que ficavam para realizar o devido pagamento seriam só duas, era-me notado: ou pagar numa loja da entidade, ou pagar por cheque ou vale de correio (não existia a modalidade de pagamento por Multibanco em caixa ATM). Fui a uma das lojas dessa entidade, que é uma empresa que tem posição activa em redes informáticas, deslocando-me para isso e perdendo o meu tempo. Pois, numa empresa que posição activa em redes informáticas, "não tinham rede" (não só naquela loja, como em todas as lojas - era "geral", como me disseram) pelo que não podiam receber o meu pagamento. Insisti que o recebessem com recibo manual: também não podiam, porque mesmo isso dependia da tal informática que não tinham, que estava numa geral quebra (numa empresa que tem posição e cagança activa e mui publicitada em redes informáticas, repito!). Kaput!

Bardamerda, pensei eu para comigo, considerando que a culpa deve mesmo ser minha, por ter saído hoje do ambiente tépido do meu quarto, esgotando-me entre sonos e refeições a ver o "Odisseia" ou o "Canal História" até à vitória do FCP sobre os "gunners". Inteiramente minha ou partilhada com uma nebulosa cada vez menos distante, toda ela constituída por gases fétidos. Sulfídrico temperado com indol e estercamol no seu (deles) pior!
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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um ditado botânico





Dar flor mata o agave mas poupa o aloés

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Peso a mais

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E só pararemos quando ultrapassarmos a marca dos 140%. Nunca menos.
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domingo, 7 de dezembro de 2008

"A Liga da Duquesa", um soneto de Julio Dantas


A Senhora Duquesa, uma beleza antiga

de bastão de faiança e de cabelo empoado,

certo dia, ao descer do seu estufim doirado,

sentiu desapertar-se o fecho de uma liga.


Corou, quis apertá-la (ao que o pudor obriga!),

mas voltou-se, olhou... Tinha o capelão ao lado.

Mais um passo, e perdeu-se o laço desatado,

e rebentou na corte uma tremenda intriga.


Fizeram-se pregões. Marqueses, condes, tudo

procurava, roçando os calções de veludo

por baixo dos sofás, de joelhos pelo chão...


E quando já ninguém supunha que surpresa!

foi-se encontrar por fim a liga da Duquesa

no livro de orações do padre capelão.



Julio Dantas

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sábado, 6 de dezembro de 2008

O princípio de funcionamento dos tuneis de vento


Legenda:

Intake = Admissão (de ar ou gás de ensaio)
Compressor = Zona de compressão (Compressor)
Test section = Zona de ensaio
Diffuser = Zona de Difusão (Difusão)
Exhaust = Escape

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imagem de wings.avkids.com/Tennis/Images/ten_wt.jpg
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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Lisboa marinheira...

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A 5 de Novembro de 1944, na pag 1 de "O Século", titulando um artigo de Matos Sequeira ilustrado por Varela Aldemira:

"Lisboa marinheira afasta-se do Tejo do qual a separa o biombo das fábricas e das oficinas enfarruscadas e soturnas"

Já então se notava...
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Dia de Santa Barbara - 2008

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Santa Barbara: pintura mural numa Igreja sueca (Östra Sönnarlövs) - Foto de Väsk em Wikipedia Commons


Nos dias de hoje (e para muitos): qual é a semelhança de Santa Bárbara com o Estado?

RESPOSTA: Só se lembram deles quando troveja.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Alerta!

Pessoa conhecida fez-me chegar um documento que, no balcão de um Banco em que tem conta e em que constituiu o depósito das suas (parcas) poupanças, lhe puseram à frente do nariz, para que assinasse. Aí vai o referido texto, expurgado de referências nominais, para geral conhecimento:

TRANSCRIÇÃO:

[Banco XYZ]

Nome: [do cliente]

NIF: [do cliente]



Questionário de Conhecimento e Experiência s/ lnstrumentos Financeiros e Equiparados (APPT)

Atesta ao [BANCO XYZ], sob compromisso de honra e por ser verdade o seguinte: N° [1]

Tem conhecimento dos riscos subjacentes a estes Instrumentos Financeiros Simples (Grupo 1) - Acções Merc. Regulamentado; Obrigações sem derivados (Grupo); UP harmonizadas; Instr.Merc. Monetário; Seguros UL normalizados; Obrigações sem derivados?

[S/N] tenho conhecimento dos riscos subjacentes a estes instrumentos financeiros.

Tem experiência dos riscos subjacentes a estes Instrumentos Financeiros Simples (Grupo I) - Acções Merc. Regulamentado; Obrigações sem derivados (Grupo); UP harmonizadas; Instr.Merc. Monetário; Seguros UL normalizados; Obrigações sem derivados?

[S/N] tenho experiência destes Instrumentos Financeiros.

Tem conhecimento dos riscos subjacentes a estes Instr Financ Complexos (Grupo II) - Obrig. c/ derivados; Val. Mob. Convertíveis; Certif. Indice; Tit. Participação; UP n/ harmoniz.; Seguros UL n/ normaliz.; Direitos; Acções n/ negociadas MR; Cont. Diferenciais?

[S/N] tenho conhecimento dos riscos subjacentes a estes Instrumentos Financeiros.

Tem experiência dos riscos subjacentes a estes Instr Financ Complexos (Grupo II) - Obrig. c/ derivados; Vai. Mob. Convert(veis; Certif. índice; Tit. Participação; UP n/ harmoniz.; Seguros UL n/ normaliz.; Direitos; Acções n/ negociadas MR; Cont. Diferenciais?

[S/N] tenho experiência destes Instrumentos Financeiros.

Tem conhecimento dos riscos subjacentes a estes Instr Financ Complexos (Grupo III): F Pensões Abert UP n/ harm.(FEIS); Opções, futs, waps e Outr. Deriv.; Certif. sobre mercad., Warrants;Rever. Convertibles; Cont. Deriv. Transf. Risco; Credit Link Not;

[S/N] tenho conhecimento dos riscos subjacentes a estes Instrumentos Financeiros.

Tem experiência dos riscos subjacentes a estes Instr Financ Complexos (Grupo III): F Pensões Abert; UP n/ harm.(FEIS); Opções, fut,swaps e Outr. Deriv.; Certif. sobre mercad., Warrants; Rever. Convertibles; Cont. Deriv. Transf. Risco; Credit Link Not;

[S/N] tenho experiência destes Instrumentos Financeiros.

Este questionário permite apurar o conhecimento e a experiência necessários para compreender os riscos envolvidos, os quais constam, em síntese, de suporte duradouro já fornecido pelo [BANCO XYZ] , e que o seu património lhe permite suportar financeiramente quaisquer riscos conexos de investimento e que a operação/produto/serviço está em coerência com os seus objectivos de investimento.

A ordem das questões tem em consideração a análise de risco efectuada aos instrumentos financeiros, em termos de perda de capital versus potencial de rendibilidade, por grau crescente de risco.

Deste modo, as respostas positivas aos instrumentos financeiros de maior grau de risco, habilitam automaticamente o Cliente aos Grupos de instrumentos financeiros de menor grau de risco.

Observações: [Espaço em branco]

Declaro que conheço, compreendo e aceito as Condições Gerais DE CONTAS DE REGISTO E DEPOSITO DE INSTRUMENTOS FINANCEIROS E DE INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA em vigor no [BANCO XYZ] para a prestação deste serviço e todos os anexos às mesmas, designadamente a política de execução de ordens, constante do Anexo 1 [não foi entregue], com a qual concordo.

[Local para indicação do local e data da declaração]

Assinatura tal como consta no Documento de Identificação: Abonação da assinatura:

[Local para assinatura do cliente declarante] [Local para assinatura do abonador]

[indicação do código do funcionário bancário e hora]

[

(1) Informação fornecida pelo Cliente sobre o n° de operações, no último ano, no que respeita à sua experiência como investidor. [e que deve ser colocado ao lado das operações I, II ou III referidas]

[Identificaçao do BANCO XYZ, com denominação social, indicação da sede social, do capital social, do nº e conservatória do registo comercial pertinente e do respectivo NIF (ou seja da identificação societária total requerida pelo Código das Sociedades Comerciais]


: FIM DE TRANSCRIÇÃO

Este documento-questionário - que no caso vertente não terá sido assinado - merece, a meu ver (a ao ver de quem mo cedeu) algumas considerações:

1. Repare-se desde logo na sua redacção: um Banco, entidade privada, dirige-se a clientes através de um questionário complexo mas formal, pedindo a cada cliente SOB COMPROMISSO DE HONRA E POR SER VERDADE (i.e. com evidente cheiro jurídico) se tem determinados conhecimentos e experiência (incluindo a menção do número de actos!) relativos a operações em que, através do Banco, tenha realizado - logo dizendo, mais abaixo, que os riscos envolvidos constam em síntese de informação prestada pelo Banco e que se pretende conhecer e avaliar reservas e pressupostos que, em boa-fé, o Banco deveria conhecer no acto do estabelecimento dessas operações - mais sendo de notar que nestas não foi pedida ao Banco recíproca atestação para além da formulação contratual.

2. A solicitação referida surge assim como um documento adicional a uma relação contratual existente em que, unilateralmente, é pedida a uma das partes uma certificação de conhecimento e experiência que poderá ser revertida contra si, em termos de que decorrem responsabilidade, que normalmente são solicitados em relações com partes revestidas de poder (como o "compromisso de honra", "assinatura conforme o Documento de Identificação" e a ser abonada" i.e. envolvendo uma formalidade presencial e testemunhada, etc) e , sem que - pelo menos - o Banco ateste, também sob compromisso de honra e responsabilidade, que mantem a capacidade para prover às responsabilidades assumidas nesses mesmos contratos.

3. A utilização de siglas e abreviaturas e a exaustiva denominação de produtos bancários complexos pode ter a vantagem das enumerações sistemáticas e das classificações de risco, mas em nada contribui para a clareza global do documento.

4. Se o documento se baseia numa recomendação de proveniência oficial, como parece ter sido referido verbalmente no caso concreto, então que a tal proveniência oficial a divulgue e esclareça melhor através de um dos seus cadernos ou informações, tornando-a devidamente publicada, conhecida, mais completa e acessivelmente explicada quanto ao que se pretende e formulada de molde equilibrado e não apemas carreando adicionais responsabilidades, mesmo que potenciais, para os QUE NO BANCO COLOCARAM AS SUAS POUPANÇAS OU RESERVAS no pressuposto da sua melhor gestão, reprodutividade e recuperação financeira.

De outra forma parece que, pelo menos, se faz presente a imagem de lava-mãos de Pilatos - com a diferença de Pilatos eventualmente poder dar a salva como garantia, caso fosse de prata e não tivesse servido já de garantia a garantia a garantia etc em hipotecas sucessivas constituídas sobre miríficas reservas dos negócios duma já inexistente rainha de Sabá mas, de facto, como ração de engorda para anónimos capitalistas da Bushénia. [1]

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[1] Espera-se que, no extremo, se não caia no seguinte silogismo: "Se não houvesse compromissos de liquidez não havia crise. Ora os compromissos de liquidez relacionam-se com as exigências dos clientes. Donde os responsáveis pela crise são mesmo e apenas os clientes.". Ou seja: "quando o mar bate na rocha quem se..."
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