sexta-feira, 30 de junho de 2006

WW1 (GG1) - Um cartaz anti-japonês

.


.
Para completar a lista dos principais beligerantes na 1ª Grande Guerra (1914-1918), representados por seus cartazes, faltavam-se dois: o Japão, ao lado dos Aliados, e a Turquia, que apoiou os Impérios Centrais.
.
Para o primeiro, se se não encontrou um cartaz do Japão, encontraram-se vários anti-Japão, editados precisamente pelos Impérios Centrais, designação que abrangia á Alemanha, a Austria-Hungria e os seus amigos. Todos eles cabem em dois tipos: ou valorizam uma componente étnica (a superioridade do alemão) e ridicularizam o "aliado japonês", ou - numa leitura que até é contraditória com a anterior - valorizam a tendência expansionista deste num teatro de guerra do Pacífico, não apenas no relativo às possessões alemãs (metade da Nova Guiné, arquipélagois adjacentes, como a Nova Bretanha, etc.), naturalmente ameaçadas, mas também denunciam-lhe um querer de ir mais além, numa alegação dirigida à Austrália e aos Estados Unidos com intuitos divisionistas no campo dos Aliados. O cartaz acima reunia ambos os objectivos.
.
Seja dito que essas rivalidades no Pacífico, após a afirmação do Japão como potência moderna (revolução Meiji e organização da marinha e do exército, respectivamente inspiradas na Inglaterra e na Alemanha e evidenciadas na guerra russo-japonesa de 1905 e nos episódios da Manchúria e China) começavam a existir e que o desaparecimentro do espaço colonial alemão, como consequência desta I GG, mais as viria a exacerbar. Foi difícil aos Aliados convencerem os japoneses a colocar navios de guerra seus no teatro do Mediterrâneo, argumentando aqueles, por sua vez, com a necessidade de não desguarnecerem o Pacífico pelo receio do expansionismo norte-americano. Também aí se ia carpinteirando o cenário para a representação duma nova peça, 25 anos depois.

quinta-feira, 29 de junho de 2006

WW1 (GG1) - Um cartaz belga

.
Posted by Picasa

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Três citações do "Mad Magazine"

.
Os "américas" por vezes conseguem ter piada. Como entusiasta leitor do "Mad Magazine"{1] (deliciando-me sobretudo com as famosas páginas do "Spy vs.Spy") descarrilei hoje num surpreendente repositório de citações e curiosidades denominado, estranhamente, "jimpoz.com" e que, pelo bom humor e espírito positivo, aconselho a visitar! Basta procurar "jimpoz.com" no "Google" e depois, chegando à página, que pode tratar dos assuntos mais maniversos, remeter para "quotes".
.
Pois chegando ao "jimpoz.com" e verificando existirem citações do "Mad" entre as numerosas (e menos sérias) disponíveis, encontrei logo 3 citações 3 que, postas em fila, até parece terem sido reunidas para comentar factos muito concretos e recentes duma breve discussão académica a propósito de conceitos nelas contidos.
.
Aí vão elas, em original e com traduções manhosas já a seguir, apresentando-se o conceito antes da frase e os originais em negrita antes das traduzidas, em tipo normal!
.

Conflict : Starting a war in the name of peace is like poking a hole in a balloon to get more air into it.

Conflito: Começar uma guerra em nome da paz é como fazer um buraco num balão para que entre mais ar.

Motivation : Plenty of people believe in energy conservation - mainly their own.

Motivação: Muita gente acredita na conservação da energia - especialmente quando se trata da própria!

Work : Most bosses never lift a finger at work, unless it’s to point out something you did wrong.

Trabalho: Há patrões que se recusam a levantar um simples dedo no que toca a trabalho, salvo quando dele precisam para apontar qualquer erro a um subordinado.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] "Mad Magazine" = revista norte-americana de humor, famosa pelas suas paródias a filmes e programas televisivos, pelas suas sátiras políticas e à cultura popular e pela figura de proa que como mascote escolheu : o uni-desdentado Alfred E. Neuman [ver capa abaixo!][2]


Esta revista foi fundada em 1952 por William M. Gaines e Howard Kurtzman, sob a forma de um livro de banda desenhada com o título "Tales Calculated to Drive You Mad" ("Histórias Pensadas Para Vos Pôr Loucos").
[apontamento retirado da referência a "Mad" em jimpoz.com]

[2] Note-se a piada a um famoso "cartaz mobilizador" americano mostrando o Tio Sam, e que por sua vez foi inspirado no mobilizador cartaz inglês de Lord Kitchener da 1ª Grande Guerra, já publicado neste "blog".

WW1 (GG1) - Um cartaz italiano

.
 Posted by Picasa

terça-feira, 27 de junho de 2006

WW1 (GG1) - Um cartaz escocês

.


Segundo parece, impresso no Canada...
... e já no fim da Guerra!

 Posted by Picasa

segunda-feira, 26 de junho de 2006

WW1 (GG1) - Um cartaz português

.
.
Este cartaz, que é o único que conhecemos, faz parte da colecção da Biblioteca Nacional de Lisboa e pode ser acedido pelo respectivo "site". Não se dirigindo directamente à conflagração mundial e tendo a parte superior cortada, parece ter servido para anunciar um "match" futebolístico de apoio ao CEP (Corpo Expedicionário Português). Só assim se entendem as formações militares-navais em fundo.

domingo, 25 de junho de 2006

Lei de McDonald ou do "hamburger" a duas gerações

.
.

"Muitos dos que claramente hostilizaram os locais de "fast-food" e impuseram esse comportamento aos filhos acabam por ser neles encontrados acompanhando os netos."

WW1 (GG1) - Um cartaz sérvio (?)

.


Este cartaz, provavelmente impresso em França, é dos poucos que representa um soldado da Sérvia. Por isso o mantemos aqui.

sábado, 24 de junho de 2006

S.João do Porto 2006


Só me falta o alho porro... e estar lá!

sexta-feira, 23 de junho de 2006

WW1 (GG1) - Um cartaz canadiano

.

.

quinta-feira, 22 de junho de 2006

WW1 (GG1) - Um cartaz australiano

.

.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Solstício de Verão (Midsummer Night)

.
Tínhamos tudo pronto para dançar em volta...
.


.
... o menhir bem lavado e aspergido, as coroas de flores, a cidreira, o tomilho, o poejo, os mantos brancos, as velas aromáticas, as flautas afinadas, os pipos de hidromel...
.
... e logo nesta noite é que nos foram faltar as virgens! Dizem-nos que as genuínas se esgotaram!
.
Assim constatamos tristemente, com a festa estragada, que lá iríamos recomeçar o caminho para o solstício de Inverno, ou seja, o Natal! Amanhã o dia já será mais pequenino...

.
Rai's-as-partam, poderiam ter vindo mesmo assim! As certificações ISO não se lhes aplicavam!

A garrafa meio cheia e a garrafa meio vazia (ou um diálogo em cinco degraus e uma despedida)

.
Personagens: A1, A2, um PNE [1] de preto
.
1º Degrau:
A1: - O que vai mostrar? A2: - Um título de 1ª página do Jornal de Notícias (edição Sul) do dia 20. Ei-lo:
.
PNE de preto: [lê a notícia em voz alta, em tom sarcástico]:
.
.
2º Degrau:
A1: - E o que mostra agora? A2: - A mesma notícia, tal como vem apresentada na 1ª página doutro jornal diário, o Diário Económico, de 21 do corrente. Ouça! [2]
.
PNE de preto: [lê a notícia em voz alta, em tom ainda mais sarcástico]:
.
.
3º degrau:
A1:- Qual é pois a verdadeira? A2: - Ambos os títulos são verdadeiros!
.
PNE de preto: [em tom interrogativo]:- Hum?
.
4º degrau:
A1:- E dizem então o mesmo? A2: - Não, não dizem o mesmo.
.
PNE de preto: [em tom conclusivo]:- Ah!
.
5º degrau:
A1: - Quer acrescentar alguma coisa? A2: - Quero! Quero recordar o "Noite e Dia" de Maurits Cornelis Escher! Aí vai!
.
PNE de preto: [desenrola um grande poster com a gravura, que pendura num cavalete]
.
.
A despedida:A1: - Boa noite que sai! A2: - Bom dia que entra!

.
A1 e A2 saem, cada um para o seu lado.
O PNE de preto enrola lentamente o "poster" e sai depois, cabisbaixo como um PNE, com ele debaixo do braço.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Notas:

[1] PNE = Potencialmente não-empregado

[2] Em apresentações "power-point", esta voz será "Veja!". Se "power-point" para surdos será "Veja!" projectado no écran (aliás como o restante diálogo)

.

WW1 (GG1) - Um cartaz inglês

.

É um clássico, ainda hoje copiado por muitos!
Kitchener no seu melhor!

terça-feira, 20 de junho de 2006

O "Mistério de José" (4/4)

(continuação de 19/6)
.
Qual pois a razão deste aparente afastamento entre as dinastias e o nome "José", só nelas aparecido relativamente tarde e em gente do Sacro Império Romano - Germânico (os dois primeiros Josés austríacos), do Império Austríaco (Francisco José), de Portugal (pela possível influência familiar que já vimos) e... lapso das nossas listagens, prontamente corrigido, do Liechtenstein, que com a Aústria é "paredes-meias" [1]?
.
Debatemos bastante o assunto, sem conclusões. Até que alguém se lembrou dum livro relativamente "magro" da Editorial Estampa, o 27 da Colecção "Nova História", tendo como autor Michel Pastoreau e que, editado em 1996 (com edição original francesa de 1991), teve um nome pouco atractivo e aparentemente sem ligação alguma àquilo que procurávamos: "O Tecido do Diabo - Uma História das Riscas e dos Tecidos Listrados" [2,3].
.
Referindo que o uso (ou a atribuição) de tecidos listrados na Idade-Média poderia não simbolizar apenas a maldade associada ao personagem (condenados, doentes, profissões baixas ou infamantes, profissões malditas [4], não-cristãos, heréticos, traidores, etc.), mas também demonstrar "diversidade" ou "ambivalência", o Autor, afirma (pag. 26): "Um exemplo pertinente encontra-se na iconografia de S.José". E, a pag. 28 (há uma gravura no meio), prossegue:
.
"Durante muito tempo, ele é no Ocidente uma personagem desvalorizada, reduzida ao papel de comparsa ou de importunador. No teatro religioso medieval é mesmo francamente ridículo; atribuem-se-lhe defeitos, desconhecidos dos Evangelhos, destinados a fazer rir: patetice (não sabe contar), falta de jeito, avareza, embriaguês sobretudo. Do mesmo modo, nas procissões, o papel de José é muitas vezes desempenhado pelo idiota da aldeia ou da paróquia, e isto por vezes até pleno século XVIII. As imagens, sejam elas pintadas , esculpidas ou gravadas, não lhe ficam atrás; até ao final da Idade Média, frequentemente fazem dele um velho calvo e trémulo, nunca figurado sozinho, nunca colocado em primeiro plano (mesmo nas cenas da Natividade), sempre retirado em relação à Virgem e ao Menino, até em relação aos três Reis Magos, a Santa Ana e a Santa Isabel. Na verdade, é preciso esperar pelo Renascimento para assistir a uma verdaeira promoção de José, aliás ligada em parte à Sagrada Família. De velho apatetado, ele transforma-se progressivamente num homem mais digno, ainda na força da idade, repesentado como pai adoptivo ou como artesão carpinteiro. Mas, ainda durante muito tempo, permanecerá ambíguo (acreditar numa concepção natural de Jesus é uma heresia). De facto, é a partir da Contra-Reforma, graças aos jesuítas e à arte barroca, que São José se valorizará definitivamente. Mas será apenas em 1870 que será proclamado padroeiro da Igreja Universal."
.

Posted by Picasa Uma visão moderna de S.José [5]

Na continuação da exposição, que vai até à pag. 29, o Autor considera que a atribuição de "calças listadas" ao Santo, no século XV e início do sec. XVI - já menos desconsiderado mas "ainda não totalmente promovido ou ainda menos venerado" - pretenderia mais significar ambiguidade que insinuar infâmia. É apenas diferente, menos santificado que uns, mais santificado que o comum dos mortais. Embora não referido especificamente nesta obra, o seu "desaparecimento" dos Evangelhos, após o episódio no qual Jesus discute com os Doutores da Igreja no templo, leva a supor que terá morrido [6] - o que também, por falta de certeza e de localização temporal, traduz uma indefinição, uma ambiguidade. E o A. conclui:
.
"Com efeito, ela [a risca] pode não apenas significar a transgressão da ordem social ou da ordem moral [...] mas pode também fazer sentir mais subtilmente certos cambiantes e certos escalões no seio de sistemas de valores mais ou menos definidos. Por isso mesmo, a risca aparece simultaneamente como um código iconográfico e como um modo de sensibilidade visual. Dupla particularidade que merece a nossa atenção demorada." [7].
.
Tínhamos, quase sem querer, chegado a uma hipótese possível: a adopção tardia (e pontual e até num dos "lares do barroco"que foi a Austria) terá a ver com essa reserva medieval à figura do Santo. E essa reserva medieval, assumindo inclusive posições ostensivas de desconsideração, estará afastada com o uso do nome por personagens reais até ao primeiro José reinante indicado, que foi José I da Austria - já no tempo da clara "reparação ao Santo". É uma hipótese de trabalho que tem o seu quê de plausível.
.
Houve mesmo quem questionasse se o patronímico José, que se encontra em diversos países de tradição cristã (para além de uma eventualmente maior incidência do onomástico que nos não foi possível confirmar) não poderiam também ser "actos de reparação ao Santo" pelos séculos de desconsideração e o lugar subalterno a que fora remetido.
.
Mas nós paramos na hipótese anunciada, acreditando que aqui, nestes e noutros aspectos, há - mesmo sem listas - "pano para mangas". Por isso, para concluir, deixamos três desafios:
1.É possível comprovar a hipótese formulada, como tese geral?
2. Que sentido particular poderá ter em Portugal?
3. E que outros significados poderá assumir, para além da "rarefacção dinástica" do nome?
.
Pela nossa parte - se bem que com o mesmo nome do Santo - não nos propomos ir mais longe.




- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Pois é, tínha-nos passado o Principado... mas aí vamos, também, para a mesma época aproximada dos anteriores:

como Senhoria de Vaduz e Schellenberg:
Joseph Wenceslas (1712- abdicando em 1718)

como Principado do Liechtenstein:
Joseph John (1721-1732)
Joseph Wenceslas (o mesmo...) (1748-1772)
Francisco José I (1772 - 1781)
Francisco José II (1938 - 1999)
.
e, mais uma vez, a proximidade da Austria deve ter ajudado!
.
[2] O objecto do livro, transcrito da contra-capa do mesmo, é de per si interessante:
"Que terão de comum S.José e Obélix, a prostituta medieval e o árbitro de futebol, os carmelitas e os banhistas dos anos loucos? Todos usam vestuário listrado, característica que, desde a Idade Média, e durante muito tempo, foi sinónimo de transgressão ou de exclusão da ordem social por parte de quem assim trajava.
Todavia, esta visão diabólica e degradante da risca alterou-se consideravelmente com o romantismo e, actualmente, vestir-se com riscas é sinal de liberdade, juventude, prazer, humor. Usá-las significa ter acesso ao «chique».
A mudança na interpretação da risca deu origem a esta história da risca ocidental, na qual Michel Pastoureau se interroga sobre o funcionamento dos códigos visuais, sobre o que é uma marcainfamante, por que motivo as superfícies listradas se vêem melhor que as lisas. Será isto verdade para todas as civilizações? Trata-se de um problema biológico ou cultural? O Tecido do Diabo tenta responder a estas e outras questões."
.
[3] Da mesma contra-capa uma biografia sumária do Autor, à data da edição (1996):
"Nascido em 1947, Michel Pastoureau é arquivista paleógrafo e director de estudos na Escola Prática de Estudos Superiores (Sorbonne, IV Secção), onde é titular, desde 1983, da cadeira de História da Simbólica Ocidental. Os seus primeiros trabalhos foram consagrados ao estudo de emblemas e dos sistemas de representação (brazões, sinetes, medalhas, iconografia). As suas investigações actuais têm por objecto, por um lado, a história dos animais e dos vegetais e, por outro, a história das relações entre o homem e a cor."
.
[4] Segundo a fonte referida, pag. 26, essas "profissões malditas" na perspectiva medieval seriam três: os ferreiros, que são feiticeiros (Ah!, este eterno horror à metalurgia! Até noutras culturas esta associação é frequente! Resultado do manejar do ferro e do fogo?), os carniceiros que são sanguinários, e os moleiros, que são armazenistas e causadores da fome.
.
[5] Com a devida vénia, do local trilingue de Gregor KollMorgen: http://www.kollmorgen.privat.t-online.de . Nesta representação, já moderna, S.José é representado com o Menino ao colo, numa figuração pouco vulgar que reproduz as apresentações geralmente mostradas para a Virgem. Por isso, e porque assim representa o oposto à subalternização medieval que o A. refere, a escolhemos. O trajo é liso, como passou praticamente a ser em tempos modernos Aliás, como diz Pastoureau a pag. 29 da obra citada: "Vestir José de uma toga, uma túnica ou de um manto inteiramente às riscas teria sido nitidamente degradante; dotá-lo [na Idade Média, intercalado nosso] de calcão listrado representa simplesmente um acento destinado a sublinhar o seu carácter específico. Aqui, a risca funciona mais como um sinal de ambiguidade do que como um sinal de infâmia. José não é Caim nem Judas; não tem nada de desleal."
.
[6] Suposição esta que aparece em várias obras. Lançamos mão da que estava mais à dita mão e que a refere: TAVARES, Jorge Campos: "Dicionário de Santos", Porto, Lello & Irmão, Editores, 1990: 87. Identifica 3 Santos: S. José, José de Arimateia e José de Cupertino (1603-1663, canonizdo em 1787).
.
[7] Nas notas 17, 18 e 19, a fim do capítulo (op.cit. pag.45), dão-se referências de interesse para o estudo desta perspectiva e da iconografia de S. José. Serão essenciais para quem queira aprofundar o tema.

WW1 (GG1) - Um cartaz dos EUA

.
Posted by Picasa

segunda-feira, 19 de junho de 2006

O "Mistério de José" (3/4)

(continuação de 18/6)

.
Tínhamos chegado à colecção das escassas fontes, prontos a iniciar o exame. E este foi surpreendentemente confirmativo: nenhuma casa real da Europa apresentava um monarca com o nome de José, salvo 5 excepções:
.
Austria:
José I (1705-1711), da casa dos Habsburgos, e José II (1765-1790), da casa dos Habsburgos-Lorena, para não falar no penúltimo "imperador da Austria e rei da Hungria e Boémia", o de longevo reinado Francisco José I (1848-1916), também da casa dos Habsburgos-Lorena.
Espanha: José Bonaparte (1808-1813)
Nápoles e Sicília (Duas Sicílias): José Bonaparte (1806-1808) [o mesmo]
Portugal: José (1750-1777).
.
Ou seja, se retirarmos José Bonaparte, monarca em dois reinos mais pela graça (e força) do mano que por outra razão [1,2], teremos apenas 4. E, desses 4, é quase certo que o "nosso" surge por influência austríaca, pois D.João V casou (1708) com Maria Ana (ou Mariana) de Austria (1683-1754), irmã de José I (e do sucessor deste, Carlos VI), todos estes filhos de um Leopoldo I [3].

Quanto a Papas... nem um!

Estávamos para "fechar a loja", intrigados com a "ausência de Josés" no meio de tantas cabeças coroadas (cristãs e não cristãs) de nomes sortidos, quando, dos que procuravam no enxame da "net", nos apareceu novidade! No reino judaico medieval dos Kazars, "poderosa tribo turca que ocupava as estepes da Rússia do Sul [hoje Ucrânia?] e se converteu ao judaísmo" teria havido, cerca do ano 960, um José, filho de Aarão [4]. Consideramos com interesse essa "excepção" e a sua ligação à fé judaica, mas entendemos que esta estrela isolada e remotíssima não alterava a regra da "rarefacção de Josés".

Ficou uma questão: porquê?

(a concluir)

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Há dois excelentes livros e de muito agradável leitura (mesmo em castelhano) da autoria de Juan Antonio Vallejo-Nágera, um famoso psiquiatra espanhol (1926-1990) "Yo, el Rey" (Prémio Planeta 1985) e "Yo, el Intruso" (1987) sobre este irmão de Napoleão que, em Espanha, dada a sua notória "afición" pelos alcoois locais, passou a ser conhecido por "Pepe Botella". Como a muitos outros da época, Goya também o retratou!

[2] Houve quem, por associação notória da referida à família Bonaparte, tentasse inserir Josefina na contagem. Por uma maioria manifesta, não homologamos esta proposta!

[3] Aliás este Leopoldo I Habsburgo (1640-1705), que foi um dos "motores" da "guerra da sucessão de Espanha" , em que nós andamos também metidos, usou o nome José com uma certa "abundância". Do seu terceiro casamento, com Eleonora, princesa do Palatinato, três dos 10 filhos foram "Josés": o que seria imperador, um Leopoldo José que morreu criança (1682-1684) e uma Maria Josefa, que também não foi muito longe em idade (1687-1703). Mas, com excepção de Francisco José porque claramente o usou e foi referenciado como tal, decidimos não homologar nomes segundos ou etc.! Aliás com a abundância de nomes que davam às cabecinhas reais no baptismo (os tais etc.), certamente que haveria mais que contar!

[4] Vide http://www.fordham.edu/halsall/source/khazars1.html

WW1 (GG1) - Um cartaz francês

.

(Propaganda ao "Empréstimo Nacional" [1,2,3])

.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[1]I.e. "empréstimo de guerra"
[2]Legenda do cartaz: "Para que os vossos filhos nunca mais conheçam os horrores da guerra[...]" e, no entanto, vinte e tal (com o "tal" entre cinco e um) anos depois ...
[3]Repare-se que a bonequinha entre lençois tem o toucado alsaciano (as províncias da Alsácia e a Lorena, que voltariam à França após 1918, tinham sido anexadas pelo Império Alemão após a vitória na Guerra de 1870-1871). E poderemos falar em "Império Alemão" e não na Prússia (embora esta fosse a potência hegemónica da coligaçao alemã e a guerra 1870-1871 seja conhecida como "guerra franco-prussiana") porque - também como consequência da vitória - o Império Alemão foi proclamado em 1871 na "Galeria dos Espelhos" do Palácio de Versailles. A propósito: já neste blog se publicou a poesia "O estudante alsaciano", outra reminiscência da mesma época.

domingo, 18 de junho de 2006

O "Mistério de José" (2/4)

(continução de 17/6)
.
Há gente abelhuda, que se não contenta com a resposta a uma simples questão e que logo dela faz sair outra, como o monte que se segue ao monte e faz continuar o desafio. Assim foi connosco. Estabelecida a questão do D.José "II", logo alguém do mesmo grupo de amigos, penso que foi a May, professora de História desempregada, lançou a dúvida seguinte: "Já repararam que nas casas reinantes da Europa o nome de José é uma raridade e que só surgiu recentemente?" Pronto! (e não "prontes!" como muitos e muitas teenagers com quarenta ou cinquenta anos, tatuadas elas no fundo das costas ou noutros locais, que vão do mais visível ao menos óbvio, dizem para aí! [1])
.
Posto o novo problema, lá regressamos nós aos catrapázios e, claro está, ao recurso do nosso tempo, que é a "net". A May esclareceu que o tal "recente" teria a ver com a "quarta dinastia", ou seja, que até aí, sec. XVII, não haveria mesmo Josés reinantes. Tínhamos duas armas poderosas, para além da já referida "net". Do meu amontoado de livros, onde se encontra o que se não procura quando se procura o que se não encontra, trouxe o "Oxford Dictionary of Popes", de J. N. D. Kelly, editado em Oxford e Nova Iorque pela Oxford University Press em 1996 (com primeira edição em 1986). Já está desactualizado, claro, que isto de Papas também são mortais! Respondendo à objecção religiosa argumentei com razões de Direito Internacional: que o Vaticano era um Estado, muito embora discutível, e que os "Príncipes da Igreja", enquanto "monarcas desse estado", deveriam entrar no rol. Até porque já tiveram poder temporal mais alargado que um outro Giuseppe (o Garibaldi, claro) ajudou a encurtar!
.

O meu contributo
.

Na mesma linha editora (é curioso!) houve alguém que arrancou uma arma muito mais convincente: o "paper-back" de John E. Morby, "Oxford Dynasties of the World - A Chronological and Genealogical Handbook", da mesma já citada Oxford University Press, de 2002 (com primeira edição em 1989).
.
Na "net" (Google.pt) os resultados obtidos numa primeira busca não afinada foram rápidos, acagaçantes e terríveis: 70.700.000 "King Joseph", 70.000.000 "Joseph+King", 18.800.000 "Rey Jose", 5.960.000 "Joseph Koenig", 5.690.000 "Roi Joseph" e 4.090.000 "Rei José". Demasiada fartura, que permitiu ainda calar os que queriam alargar a busca a outros governantes não coroados, numa escalada de sugestões que subrepticiamente iria levar ao "Zé dos Bigodes". Nikitamente cortámos cerce e incumbimos os mais informáticos da malta de, tanto quanto possível, afinarem a busca![2]
.
Conseguirá tirar-se qualquer conclusão desta salsada toda? Conseguirá qualquer das pesquisas contribuir para que eles saibam o que querem? Existirá mesmo um "mistério de José"? Não percam o próximo e emocionante capítulo!
(a continuar)

.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
[1] Piada ordinária dirigida à May por ter armado a tenda da questão. Eu ainda sou do tempo em que as tatuagens eram referidas nas aulas de criminologia. Agora parece que se tornam atractivas (o que não eram!) quando exibidas noutros cenários. A ver vamos...
[2] Fiquei tão surpreendido com a divulgação do meu primeiro nome (também José) mesmo com apendice reinante que voltei ao Google.pt a procurá-lo apenas, i.e. sem o tal apendice. E aí vai! 791.000.000 Joseph, 398.000.000 José, 72.600.000 Josef, 47.600.000 Giuseppe , 7.820.000 Josip; tentei também os diminutivos: 542.000.000 Joe, 350.000.000 Zé (mas 480.000.000 Ze) 28.500.000 Pepe, 2.180.000 Zeca. Isto pode levar a pesquisas engraçadas!

WW1 (GG1) - Um cartaz austríaco

.

"O Anjo"

Posted by Picasa

sábado, 17 de junho de 2006

O "Mistério de José" (1/4)

Tudo começou com uma conversa sobre D.José I e por que razão se dizia D.José I quando não existiu, ao que se saiba, um reinante D.José II. O grupo de amigos dividiu-se entre os que achavam que valeria a pena saber por quê e os que entendiam que era pura e simplesmente perder tempo, pois também se dizia D.Luís I e D.Carlos I e até D.Miguel I, embora, para este último, os miguelistas encontrassem sucessão e justificação óbvia para o ordinal. Mas também se dizia comummente D.Fernando, D. Duarte, D. Sebastião, D. Miguel, D. Luís e D.Carlos e também D.José sem colocar o ordinal. A conversa foi mais longe e, em falando-se de Pedro III, esclareceu-se logo que esse era o marido (e tio, porque irmão de D.José) de D.Maria I. Como se falaria de Fernando II, o consorte de D.Maria II, que justificaria falar-se no "Formoso" como D.Fernando I. Os exemplos franceses de continuidade simbólica e intercalar de Luís XVII e Napoleão II não tardariam também em vir à baila! Mas o tema D.José II ficaria ali para e por resolver.
.
O assunto esclarecer-se-ia facilmente com uma simples consulta à "Wikipedia", procurando no conceito "José de Bragança", pois que na dinastia brigantina, mesmo que só em potencial reinante, teria necessariamente que se situar (embora pudessem existir "Josés de Bragança" não reinantes anteriores), já que D.José I o era. Apareceram nada mais nada menos que quatro "Josés de Bragança".
.
José de Bragança - filho bastardo do rei Pedro II e arcebispo-primaz de Braga;
José de Bragança - filho bastardo do rei D.João V, o mais novo dos "meninos da Palhavã"e que foi inquisidor-mor do reino;
José de Bragança - o nosso já conhecido rei D.José a que a junção de Primeiro levou à discussão referida;
José de Bragança - filho da rainha D.Maria I e do também já referido consorte Pedro III, herdeiro presuntivo da Coroa, Duque de Bragança, Príncipe da Beira e Príncipe do Brasil.
.
Teria de ser este último o "D.José II", em termos de continuidade simbólica. E foi.
.

D.José "II"

.
Ainda segundo a Wikipedia, José Francisco Xavier de Paula Domingos António Agostinho Anastácio de Bragança (nascido a 20 de Agosto de 1761 e prematuramente falecido de varíola a 11 de Setembro de 1788) foi Duque de Bragança, Príncipe da Beira, Príncipe do Brasil e até à sua morte herdeiro da coroa portuguesa como filho mais velho da rainha D.Maria I. Casado com a sua tia, Maria Benedita, não deixou sucessão. A sua morte iria dar acesso ao trono a seu irmão D.João, aliás o único filho sobrevivente de D.Maria I, que viria a ser o rei D.João VI.
.
Na história de D. Maria I sobressai a série de situações dolorosas que marcaram o fim do seu reinado e a sua loucura (além de "A Piedosa" foi também cognominada de "A Louca"). Dada à melancolia e à religiosidade, como seu marido, atribulado o início do seu reinado com a modificação da política seguida pelo do Marquês na transição que significativamente ficou conhecida como "Viradeira", tendo assistido à morte de todos os seus filhos, salvo o sobrevivente sucessor João [um primeiro João (nascido e falecido em 1763), Maria Clementina (1776, com 2 anos), Maria Isabel (1777, com 11 anos), Maria Ana (1788, com 20 anos e já casada com o príncipe de Espanha Gabriel de Bourbon) e finalmente D.José (1788, com 17 anos)] e do marido [1786], espectadora à distância, mas sofredora, dos acontecimentos da Revolução Francesa (1789), com a execução de Luís XVI e de Maria Antonieta e comoções subsequentes, a rainha viria a enlouquecer, assumindo o filho sobrevivente D.João a regência, primeiro em seu nome (1792), depois como Príncipe Regente (1799). Morreu no Rio de Janeiro em 1816, ainda no periodo do "Império à Deriva", parafraseando o título de uma obra recente [WILCKEN,2005], período esse iniciado em 29 de Novembro de 1807 com o embarque da corte para o Brasil e as tropas de Andoche Junot às portas de Lisboa. Diz-se que "a única voz que se opunha a essa retirada de escárnio era a da Rainha Senhora D.Maria I, que embora vagando no seu estado de loucura, teve uma frase "Olá! Fugimos todos sem ao menos disparar um tiro, mas que coisa é esta?" [HENRIQUES, 2005: 130]. Põe o bloguista as suas reservas à justeza da expressão "retirada de escárnio", no que se sente confortado por diversas e mais abalizadas opiniões e certamente pela irritação que Napoleão demonstrou por não encontrar aqui a comodidade das "favas contadas" que um internamento da família real certamente lhe facilitaria. Considere-se a tentativa mal-sucedida de Manuel Godoy de também embarcar a família real espanhola, com o México como destino (em 1808), e o comportamento de Napoleão face àquela na sequência da famosa "entrevista de Bayonne" (também em 1808).

(a continuar)

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

HENRIQUES, Américo José: "A Invasão de Junot - Roliça, Vimeiro e Convenção de Sintra", in Instituto de Defesa Nacional: "Guerra Peninsular - Novas Interpretações - Actas do Congresso realizado em 28 e 29 de Outubro de 2002", Lisboa, 2005(2002), ed. Tribuna da História, pags. 125 a 140.

WIKIPEDIA, em http://pt.wikipedia.org/wiki conceitos "Maria I de Portugal", "João VI de Portugal", "José I de Portugal", "José de Bragança" e "José de Bragança, Príncipe da Beira", acedidos hoje.

WILCKEN, Patrick "Império à Deriva - A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821", Lisboa, 2005(2004), Civilização Editora.

WW1 (GG1) - Um cartaz russo

.


(Divulgação do empréstimo de guerra) Posted by Picasa

sexta-feira, 16 de junho de 2006

WW1 (GG1) - Um cartaz húngaro

.

.
[O poder da cerveja] [1]
título inventado

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Recordando que, então, a Hungria fazia parte do designado Império Austro-Húngaro

Posted by Picasa

quinta-feira, 15 de junho de 2006

WW1 (GG1) - Um cartaz alemão

.

Na Pátria

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Cosmos & Cosmos


terça-feira, 13 de junho de 2006

Andevalo - Los pasos de Huelva

.
Desde 1997 ou 1998 que venho seguindo a luta permanente das gentes do Andévalo para terem mais eficazes ligações a Portugal, para Ocidente, evitando as complicadas voltas que exige uma passagem no Rosal de la Frontera, a Norte, ou atravessar a ponte sobre o Guadiana, em Vila Real de Santo António, a Sul. Vale a pena visitar os seus "sites" na net e verificar o quanto essa aproximação pode ser vital para uma região assim fechada na sua interioridade, afastada que foi da sua intensa e essencial actividade mineira, mas que, ano após ano, vem exibindo uma crescente vitalidade.
.
Sempre me foi simpático este movimento culto e sadiamente persistente e que, para mais tocar a minha sensibilidade nortenha parcialmente transplantada, em prática de vida, para as terras alentejanas, escolheu como significativo emblema duas das pontes sobre o Douro, em cuja margem sul nasci. Ei-las, hamiltoneanamente (em termos fotográficos) temperadas pelo nevoeiro portuense, que tão bem conheço e de que tantas saudades tenho:

.
Aconselho pois a devida atenção para os locais do Andevalo, nomeadamente para os "Pasos Fronterizos de Huelva" que se podem encontrar em
Mas não deixo de ficar hoje apreensivo por não ter conseguido aceder a uma longa série de artigos e reflexões produzidos desde o início do movimento e que representam um repositório extremamente valioso de toda a luta e das vivências, aspirações e costumes locais. Não os deixei de interrogar sobre o assunto, mas isto levanta-me uma outra reflexão acre: o que sucede quando se perde, por qualquer forma, todo este manancial que mantemos, na fidelidade dos dias vividos, como nossa escrita electrónica? É, de facto, um problema angustiante.
.
Termino com os versos de dois fandangos do Andévalo, retirados com a devida vénia do primeiro portal indicado e que, como diz o apresentador, não podem ser mais verdadeiros. Gosto especialmente do segundo, mas como também opinam nestas instâncias os de menos tenra idade (velhos não há, gaita!) : "Isso é do tempo de Primavera-Verão, que até aquece os que com frio estão"! E oh se não aquece! Pois aí vão eles:
.
En el mundo no hay placer
ni tiempo tan divertío
que dos que se quieran bién
sin ser parientes ni amigos
.
.
Una vez que quise irme
a una nación extranjera
fuí a tu casa a despedirme
y tú, pa que no me fuera
desnuda saliste a abrirme.
.
De facto este segundo é delicioso! E creio que, com tão fortíssimos argumentos, o fandangueiro não se foi e por ali mesmo se deixou quedar. Aliás "mal seria que tal num sesse!" ou pelo menos assim gramaticamente o confessam versos que, escritos no passado, se continuam fandangando no presente! E que, erotizando a sugestão, não se me dava que pudesse eu cantar algures no futuro!
.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Pirite e "piriteiros"! (2)

.
Sempre defendi que o Barreiro e Huelva - os eternos rivais num "passado piriteiro" - deveriam entender-se. Quando a utilização do minério, gastas as florestas, intoxicadas as populações, descoberto o interesse do ácido sulfúrico para aprontar fertilisantes fosfatados, se desviou das minas e das terríveis queimas ao ar livre, nas teleiras, para fábricas situadas junto a portos de mar, era inevitável que se dessem dois movimentos: o de exportação para centros industriais estrangeiros, como fonte de enxofre, e o de utilização nacional, também como fonte de enxofre para a produção doméstica de ácido e de adubos. A exportação de pirites de RioTinto e de Tharsis por Huelva justificou os caminhos de ferro mineiros e os dois impressionantes molhes de ferro; a exportação de pirite de S.Domingos, em Portugal, determinou a subida e descida do Guadiana por barcos que vinham carrgar no porto fluvial do Pomarão [1] ; enquanto que a exportação de pirite das minas do "hinterland" alentejano, como Aljustrel, Serra da Caveira e Lousal, recorreu ao transporte em caminho de ferro no sentido sul-norte até aos portos exportadores da bacia do Tejo-Sado [2]. E foi assim que nasceram as fábricas da CUF no Barreiro, no fim dessa linha férrea, junto ao rio Tejo, em 1908 - como também nasceriam as fábricas de ácido sulfúrico em Huelva. Daí a aproximação natural (e a rivalidade industrial) entre as duas terras. O que se fazia aqui, era conhecido lá; o que se fazia lá, era conhecido aqui. Quando num dos locais se desenvolviam novas tecnologias relativas ao uso da pirite e ao aproveitamento dos seus componentes, logo no outro local se discutiam e inclusive ensaiavam... ou não. Quando no Barreiro se desenvolveu, e entrou em praticamente "premiére mundial" naquela escala, um processo para a queima de pirite em fornos mecânicos com recirculação de gases (não vou aqui explicar em pormenor o que isto é, claro), logo em Huelva se carregou um barco de pirite de RioTinto e Cueva de la Mora para a ensaiar aqui, precedendo e permitindo decidir sobre a construção lá do saudoso HQ1 - com tecnologia Chemiebau. Quando, afastado o receio causado pelos primeiros resultados para pirites como as nossas [3] em fornos de turbulência de um andar (os Dorr-Oliver) se decidiu retomar esses processos, foi quase simultânea uma opção por eles nos dois sítios, mas aqui escolhendo uns e outros tecnologias diferentes: no enveredou-se pelo BASF a 2 etapes, em Huelva escolheu-se o Boliden-magnetizante em Huelva [4]. Muito discutimos nós, os de cá e os de lá e ambos, sobre isto!
.
Aliás, muitos anos atrás, quando se tinha considerado que a descoberta de nódulos de fosforite na Estremadura Espanhola poderia conduzir a um rentável negócio exportador, tinha funcionou já um esquema concorrencial: numa primeira alternativa, foi estabelecida e contratada a construção do ramal de Cáceres [5], para se promover a exportação de fosforites pelo porto de Lisboa, eventualmente até pelo Barreiro, transformado em porto mineraleiro como demonsta a finalização e objecto do "cais dos ingleses"; num segundo momento, verificou-se o desvio dessa (potencial) exportação para Huelva, por um destinado caminho de ferro norte-sul, inspirado num chamado "plano Salazar" (creio que este era Manuel e certamente não António de Oliveira!). De qualquer forma, a exploração das fosforites de Cáceres [6] não veio a ter o esperado sucesso e quer o Barreiro, quer Huelva continuarama a ser portos importadores de fosforites do Norte de África (primeiro Tunísia, depois Marrocos) e ocasionalmente dos EUA (Florida).
.
Há pois uma destinação conjunta que, para ambas as urbes, resulta do original traçado dos caminhos de ferro, de uma natureza portuária e dos posicionamentos geográficos próprios. Barreiro vai funcionar como "porta do Alentejo", Huelva como porto de escoamento dos recursos naturais do Andévalo e estendendo-se, seguidamente, até à Estremadura, em concorrência aqui com o porto (estrangeiro) de Lisboa. Essa redescoberta de uma proximidade vocacional, que até os problemas postos pelo desarme dos parques industriais (mais aqui que lá) irmanaram, poderia ser útil. Creio que o seria.
.
Uma terceira (ou quarta, ou quinta) "aproximação piriteira" poderia trazer uns e outros, Barreiro e Huelva, ao convívio com Swansea, La Rochelle (LaPallice) ou Duisburg. Mas isso são contas de outro rosário, a falar a seu tempo!
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
Notas & comentários:
.
[1] Com um caminho de ferro mineiro S.Domingos - Pomarão
[2] Com um caminho de ferro mineiro Aljustrel - Figueirinha (linha do Sul), passando pelas Pedras Brancas, que incluía obras de arte de algum interesse e que é manifesta pena não ter sido ainda estudado. Fica a sugestão. O actual ramal de Aljustrel é, ainda hoje, um "caminho de ferro mineiro". As pirites de Serra da Caveira e, algo depois, de Lousal eram conduzidas para o porto de Setúbal, onde Pirites Alentejanas (Aljustrel) também chegou a dispor de facilidades de embarque próprias, ou para o complexo adubeiro da SAPEC, na Mitrena.
[3] Esta limitação resultava da composição das cinzas provenientes das pirites ibéricas, com algum arsénio, dos fornos de turbulência simples, diferentes das provenientes dos fornos mecânicos (de andares), dando origem a problemas técnicos nas siderurgias e acarretando a recusa destas.
[4] Em qualquer dos casos e na passagem de pirite a hematite há sempre duas etapes. No primeiro pirite -> pirrotite -> hematite; no segundo pirite -> magnetite -> hematite. É pândego conhecer do desconhecimento das coisas técnicas neste País: estava o processo já em bom e largo funcionamento quando um senhor respeitável clamava que parecia impossível não haver, em Portugal, ustulação de pirites em leito turbulento.
[5] E controversa, até por razões estratégicas. O Mundo ainda estava hiper traumatizado com o uso dos caminhos de ferro na Guerra da Secessão nos EUA e, sobretudo, com a Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871.
[6] Nódulos bastante refractários e duros, que do lado de cá da fronteira tiveram também ocorrência em Medelim, Idanha-a-Nova.

domingo, 11 de junho de 2006

Apropriações...



.
"Se é chato vermos as nossas coisas expostas por outros, mais chato é o constatarmos quão totalmente ignoram o que elas para nós significavam." [1]
Gato Pelado
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[1] E chatérrimo fica o quadro quando, presumindo saber tudo, no-las pretendem explicar! Então não há mesmo pachorra! BdM!

sábado, 10 de junho de 2006

Pirite e "piriteiros" ! (1)

.


.
Não costumo misturar bagaço com serviço. Por isso mesmo, relegando para outro local (http://www.fabricasol.blogspot.com) o que, só e sobretudo acompanhado, já fiz ou participei na transformação da pirite, prosseguirei aqui dedicando-me exclusivamente às minas. E isto porque, como excelente motivação, este blog teve ontem (9 de Junho) a visita de alguém que o empurrou para outro blog que desconhecia e para onde remeto quem com estes assuntos se interesse: http://www.historiasdehuelva.blogspot.com.

De facto, a fronteira política desconhece a geologia e, por isso, a faixa piritosa, que começa aqui pertinho, ali mesmo em baixo junto à herdade da Palma, desenvolve-se para sudeste e chega a Almadén de la Plata, perto de Sevilha. Através dela, a história mineira e operária de século e meio de vitórias, derrotas, sucessos e insucessos, sonho e resistência, sofrimento e luta. Do lado espanhol, em 1963, um senhor chamado Isidro Pinedo Vara fez uma obra extraordinária, ainda que essencialmente mineira, editada pela Summa, em Madrid, mas que se vendia em Huelva e que se chamava exactamente "Piritas de Huelva". Penso que estará esgotadíssima. Existe uma crescente bibliografia "riotintera", onubense e "nética" [1]. Adiante! Do nosso lado existem várias obras e trabalhos, que o estudioso precisa ainda de ir juntando.

Sem volver ao passado e fazer uma grande repescagem dos textos que mais podem interessar porque mexem também no social, e sem a preocupação de ser exaustivo, deixarei aqui algumas pistas que agradarão aos estudiosos das minas de pirite "do nosso lado", entre os quais eu imediatamente me voltarei sempre a inscrever com as orelhas de burro ganhas por merecimento próprio e, sobretudo, com as orelhas de burro que muitos me procuraram enfiar. Adiante!

ALVES, Helena: "Mina de S. Domingos - Génese, Formação Social e Identidade Mineira", ed. do Campo Arqueológico de Mértola, Mértola, 1997.

BARROQUEIRO, Mário Luís Gaspar: "O Declínio de Centros Mineiros Tradicionais no Contexto de Uma Geografia Industrial em Mudança - As Minas de Aljustrel e da Panasqueira", Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, policopiado, 2005.

CAMARA MUNICIPAL DE CASTRO VERDE, 3 Volumes sob o título geral de "Mineração no Baixo Alentejo", coord. de Miguel Rego, 1996 e seg. [o 3º destes volumes refere-se a Neves-Corvo]

FONSECA, Maria Inês Pinto: "Levávamos Logo a Foice para a Mina - Identidades e Memórias dos Mineiros de Aljustrel", dissertação para doutoramento em Antropologia, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2004.

GUIMARÃES, Paulo Eduardo: "Indústria, Mineiros e Sindicatos - Universos Operários no Baixo Alentejo dos Finais do Sec. XIC»X à Primeira Metade doso Século XX, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1989.

GUIMARÃES, Paulo Eduardo: "Indústria e Conflito em Meio Rural - Os Mineiros Alentejanos (1858-1938)", Ed. Colibri / CIDEHUS-UE, Lisboa, 1989.

RODRIGUES, Paula: "Vidas na Mina: Memórias, Percursos e Identidades" [estudo sobre as minas do Lousal], ed. Celta, Oeiras, 2005

Quanto à transformação, há um artigo no 1º volume da "Mineração no Baixo Alentejo" e encontram-se "chaves" cronológicas e de outra natureza no tal www.fabricasol.blogspot.com.

Esta lista tem certamente vários defeitos e omissões mas, como disse acima, presta-se a um arranque inicial. E amanhã proponho que falemos mais um pouco destas coisas...

A tempo: quem veja o lindo exemplar de pirite que está em fotografia a encimar esta postagem e pense que as pirites da tal faixa piritosa são assim tão magnificamente belas engana-se redondamente. Estas são em massa compacta, extensa e dura, que nas fábricas de ácido chamávamos de "pirite verde" e isso de tal forma e "facies" que houve até quem lhe propusesse uma identificação como rocha sob o nome sonoramente estranho de "piritito". Adiante!

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Bastará ir à "net", colocar o www.google.es (o que não é absolutamente essencial) e procurar sob os conceitos "piritas de huelva", "tharsis", "la zarza", "sotiel", "aznalcollar", "nerva", etc. etc. Entre as obras publicadas: BALLESTEROS, Esteban Ruiz: "Mineria y Poder - Antropologia Politica en RioTinto", ed.Diputación de Huelva, 2ª Edição, Huelva, 2002 (1998). Como num novelo de lã... basta puxar por uma ponta solta!

Posted by Picasa

Vasos não comunicantes (a propósito de uma citação de Saint Exupery)

.


"O que dá valor à flor é o tempo que com ela se gastou"
Saint Exupery
.
1º Comentário (jocoso): Nem sempre! (vide figura supra) [1]
.
2º Comentário (sério): Isso é uma visão elitista! Que pensar das flores do campo, tantas delas já na lista das "espécies em risco" por motivo das mondas químicas? E as papoilas? [2][3]
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
[1] Desenho encontrado no site Les plantes carnivores - Fabrice Coutadeur Culture, semis, biologie et utilisations médicales, photos. Visitável em www.geocities.com/RainForest/2982/
[2] Admito que o pensamento seja do "Le Petit Prince". Assim, está justificada a atitude porque a) sendo emitido por um príncipe enternecedor, não é por isso que deixa de provir dum representante do "ancien régime" (por que não de um aprendiz de mineiro das "charbonnages"?); b) sobrava tempo, a esse príncipe, dividido entre a flor e o vulcão activo.
[3] Achei melhor retirar um terceiro comentário, de pesadão e seco que ele era!.

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Poesia no futebol: Vinícius de Moraes

.
.
O ANJO DE PERNAS TORTAS

A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.

Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés - um pé-de-vento!

Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.

Garrincha, o anjo, escuta e atende: - Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. É pura dança!
.
Vinícius de Moraes

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Bolo de aniversário: dois poemas de Alexandre O'Neil com entremeio comemorativo

.
I
.

.

Sei os teus seios.
Sei-os de cor.

Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.

Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.

Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!

Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!

Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?

Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?

Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!

Quantos seios ficaram por amar?

Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!

Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!

Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...

Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.

Seios que vão à escola p'ra de lá saírem
Direitinhos p'ra casa...

Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...

O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"

Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!

Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.

Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!

Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!

"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos"

Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, p'la igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")
De repente a podridão do seio.

Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...

Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...

Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...

Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!

Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.

Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.
.

Alexandre O'Neil

II

.
Às centáureas que souberam esperar pela noite de 7 para 8 para então abrirem as duas primeiras flores azuis! .

III

.


Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.


Alexandre O'Neil

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Os DINKIs = Double Income No Kids (Rendimentos: Dois - Filhos: Zero)

.
Nas´ referências oportunamente feitas à natalidade e à matrimonialidade dos portugueses (e à desmatrimonialidade também) há que ter em conta os tempos que correm e a sua projecção para o futuro. "Nunca mais as coisas serão as mesmas" é um princípio fundamental a receitar para temperar saudosistas crónicos ou incuráveis, mas sem abandonar a devida análise das coisas & causas & intervenientes dentro do mínimo ético que cada um se estabeleça segundo as suas próprias convicçõese e sem fugir a uma apreciação actualista que se encerra naquele velho chavão de que "as coisas hoje não são necessariamente melhores nem piores que as de ontem, são simplesmente diferentes". Como o comentário eciano que ouvimos a uma Senhora que, com mais de 90 anos, mantém aceso um espírito jovem: "Criamos um mundo em que os filhos de alguns de nós só acabam por sair de casa dos pais quando tiverem idade para viver na casa dos filhos (deles, claro!)".
.
Mas, neste quadro, há situações deveras curiosas que, pela sua crescente generalidade e tipificação, merecem estudo. Cito duas: os DINKIs, de que já falaremos, e o "divórcio de cotas", entendidos estes, eles e elas, na acepção actual da palavra "cota", e que nos propomos analisar um dia destes. As questões postas por ambas as situações são tipicamente urbanas e situam-se em estratos sociais de gama surpreendentemente larga e, se não tem passado despercebida aos agentes que "mexem nas coisas" (advogados, juízes, responsáveis registrais, religiosos mais ecalarecidos, alguns políticos), começam a vir a lume pelos seus reflexos económicos e pelos peculiares "potenciais de consumo" que levantam. Novamente o económico corre à frente de tudo o resto, gerando situações que por sua vez amplifica, na envolvente que traduz o interesse e o valor dos capitais aplicados ou aplicáveis, retomando e realimentando ciclos com amplitudes cada vez maiores que só um amplo "movimento societal", na acepção usada por Jean-Marie Vincent, conseguirá frenar.
.
Vejamos para já os DINKI's = "Double Income, No KIds", ou seja "Duplo rendimento, sem filhos" ou, em termos de resultado desportivo: "Rendimentos: 2 - Filhos: 0". A secção "Aos olhos dos consumidores - Novos Segmentos" do "Suplemento de Marketing Relacional" em "Marketeer", de Junho de 2006, traz, a pags. 33 e 34, o artigo "O Presente do Futuro: DINKI's - Double Income No Kids", assinado por Manuela Mendes e Luís Pinto, do MPG Catalyst Team, essencial para a caracterização do fenómeno & impactos associados e do qual, com a devida vénia, retiramos a síntese publicada, que não dispensa a leitura do restante:
.
"Jovens casais , entre os 25 e os 35 anos, não tem nem pensam ter filhos nos próximos tempos. Individualistas, em constante mudança, buscam o prazer e não estão nada dispostos a fazer sacrifícios. Formar uma família não é sinónimo de renunciar a si mesmo. Entre o hedonismo e a impulsividade, vivem o prazer dos sentidos, o desfrutar da vida, a procura constante da qualidade, da sensualidade, da sexualidade, é desta forma que a Millward Brown no seu estudo "Jovens Famílias - Mudanças, Tendências e Marcas" caracteriza um novo grupo de consumidores".
.
Entenderam? [1]
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
[1] Admito que se possa invocar aqui uma potencial contradição: os componentes de um casal DINKI vão ou não contrariar a afirmação da transição "casa dos pais / casa dos filhos" que acima se citou? Aparentemente, sim - mas, ou seja antes, ou seja depois, ou seja ainda numa crise do durante (desemprego, doença, ruptura), o "havre de grâce" que a "casa paterna" ou, melhor ainda, a de um dos pais, se o outro já tiver desaparecido ou se ambos forem "cotas separados" (fenómeno este oportunamente a apreciar), não deixa de ser - enquanto exista - uma apólice de seguro que, mesmo quando materialmente se evite, mesmo que em espírito se rejeite, permanece sempre como a ter em conta!

terça-feira, 6 de junho de 2006

Não desçam nunca mais

.


"Que os abutres negros
de farda ou de sotaina
não desçam nunca mais.
.
Com espadas ou cruzes
e símbolos de morte
não desçam nunca mais.
.
Com armas de terror
e fogueiras de ódio
não desçam nunca mais."
R. Cupyr (tradº.)

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Casamentos!

.


Honoré Daumier, "Seis meses de casamento..."
em "Moeurs Conjugales (nº 7), 1839"
.

Um jornal de Lisboa, hoje, clamava na primeira página, em letras gordas, que os casamentos em Portugal tinham caído ao nível de 1940.
.
E eu pergunto: esperavam o quê (Estado e Igreja incluídos)? O que têm feito para que não seja assim?
.

domingo, 4 de junho de 2006

O adeus a ChronoMath!

.


Mais um excelente local que nos deixa, o www.chronomath.com, sobretudo para quem ainda seja francófono (circunstância que, em Portugal, de regra que era se vai dia a dia rarefazendo). Descobri isso ontem, numa das "voltas" que dei por alguns locais de selecção. E este éra-o, não haja dúvidas. Basta, ainda hoje, visitar o que ficou!
.
Razões, há-as. O Autor, Serge Mehl, que encerrou o local em Março, creio eu, queixa-se de uma lei que protege o património informático traduzido em música ou filme, mas que se está nas tintas para todo o outro, nomeadamente aquele que tenha outro conteúdo cultural.
.
Acresce a constatação de Mehl que a cultura custa dinheiro e é cara, que o "corta e cola" é prática corrente, que ninguém agradece devidamente um esforço continuado e prestado com gratuidade e que... os 61 anos e a reforma demonstram que o tempo corre e que, como irreversível que ainda é, se não recupera numa vida.
.
Não visitei amiúde este "site", mas passei várias vezes por lá. E do que vi gostei. Por isso junto-me aos que lamentaram e lamentam o fecho. E convido-vos a uma visita, para verdes o que se perdeu!

A tempo: desculpa, ChronoMath, pelo trevo que te tirei! Boa sorte! Posted by Picasa

sábado, 3 de junho de 2006

O visitante nº 6831

.
Acabo de receber o visitante nº 6831. Não tinha a honra de o conhecer por aqui, até ao momento, a não ser na magnífica embaixada que têm em Paris, "years ago", em relação com as reuniões do designado "Grupo Austrália"- e considero que deu, pelo menos, dois sinais positivos: o primeiro é que, tendo eu escrito o nome "Timor" na postagem que precede, isto deve-lhe ter soado como uma campainha pavloviana e prontamente salivou; o segundo é que, havendo milhentas maneiras de mascarar o rótulo, claramente o não fez, o que só abona a seu favor. Não seria muito correcto (e até contra as mais elementares regras do "marketing") expor eu aqui outros dados do meu sistema de seguimento mas, pelo menos, convém que saibam que eu sei que sabem e que trato este visitante nº 6831 como exactamente trato qualquer outro, esperando sempre que assuma a oportunidade de, mostrando como o blog lhe agradou, nos (a mim e ao blog) conceder uma segunda ou sucessiva visita. E por isso, dirigido ao "Australian Department of Defence", relembrando as 7:18:03 pm de hoje, hora de Canberra, estendo o meu "benvindo seja quem vier por bem", mesmo sem ser em azulejo de faiança das Caldas encaixilhado para pendurar à porta, e um vigoroso "hello!" com os cumprimentos lusitanos do "Sai-te daqui".
.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Sobre três artigos do "Público"

.
Não sou leitor sistemático do "Público" - mas certamente que não sou indiferente à leitura e reflexão que diversos temas nele apresentados de quando em onde me suscitam. E, por isso, não deixei passar três dessas oportunidades em dois dias sucessivos o que, digamos, traduz uma excelente média.
.
O primeiro artigo a que me quero referir é o "Mal-amados", de José Pacheco Pereira, no "Público" de ontem. Partindo da não-estupefação que o comentário azedo de Jack Welsh sobre o nosso País deveria causar, para quem bem avisado ande, o Autor lança-se numa apreciação das perspectivas que o rectângulo oferece ao observador externo e, para mais acentuar a acridez da crítica, selecciona referenciais lusófonos - para nos dar a ideia do que somos no julgamento daqueles que fizemos ou com quem nos gabamos (mesmo quando injustamente) de dar placenta ou repartir umbigo. Não será surpresa encontrar esses julgamentos. Temos muito feito por isso, e não necessariamente agora. O antecedente do comentário queirosiano, que o Autor não deixa de referir, quase que me poderia provar, por absurdo, quão excepcionais somos para termos conseguido sobreviver assim, na perdição, cem anos pelo menos - tese essa que enuncio mas que também não é original. Tem Pacheco exposta razão, no diagnóstico que faz. Como têm exposta razão todos os que sabem explicar a crise de ontem, ousam interpretar a crise de hoje, mas não sabem antecipar ainda a crise de amanhã. Mas só exposta! Em economia - e talvez em política - o pessimismo ganha sempre, como já o demonstraram Ricardo e Malthus, permitindo abrir o espaço irónico-humorístico do mítico Murphy dos nossos dias. Porém eu, que não sou decididamente um optimista, ouso recordar que, como já alguém disse (e esse alguém chamava-se Auguste Comte), "". Ou seja: quando será que a correcção de um diagnóstico dá lugar a uma aceitação do tratamento? Psíquico, mesmo que seja?
.
Procuramos construir uma auto-estima. Mas será verdade que procuramos? Será verdade que agitando-nos colectivamente pela defesa de um povo injustiçado, como fizemos com Timor - e ainda bem que o fizemos - estávamos à espera de ceder menos que aquilo que devíamos e de obter espiritualmente mais do que aquilo a que tínhamos direito? Será verdade que colocando bandeirinhas em tudo que é local e sonhando colectivamente com o Mundial (e em privado com o Euromilhões) estejamos à espera do milagre de nos caber mais do que aquilo que conseguirmos fazer? Será verdade que não entendamos o jogo das "altas esferas" do económico e do político, que vejamos o comboio passar e aceitemos as jogadas que, com cartas marcadas, todos os dias se processam à nossa volta? Que não consigamos desmascarar a hipocrisa chapada dos que, por exemplo, clamam contra o declínio da nossa natalidade quando basta examinar bem o IRS para descobrir o valor que efectivamente se dá à família - isto só para citar um exemplo actual? Que não entendamos o resultado efémero e volátil dos serviços ou das produções repartidas de tipo multinacional, de pronta deslocalização ou permanente reconstrução em busca de custos mais baixos ou mais submissos, em lugar da efectiva, estável, conhecedora e responsável produção em nichos úteis e respondentes que deveria interessar aqueles que governam, tenham a cor que tenham, e modificar os que, mal a brisa sopra ao contrário, arremessam o pronto argumento de colocar o capital algures, se é que ele já lá não está? Que não notemos que os braços em espiral da nossa galáxia se fecham, no sentido de nos roubar sucessivamente espaço, a menos que esta gire ao contrário? Que...
.
Não deixo de dar razão a Pereira, no retrato que traça. Lamento que lha encontre. Mas isso não me chega. O retrato de Pereira será lido pelos leitores do Público. E depois? E os outros? Quanto ao depois, vamos continuar alegremente na mesma. Quanto aos outros, que muitos são, nem o leram, nem o entendem e passam tão bem ou tão mal com isso como dantes estavam e estariam. Depois ou durante o futebol chegam aí os santos populares, as vacâncias, as praias, as festas "resedá" (até o "Portugal-pink" já desbotou) numa qualquer estância de luxo, com o batalhão dos colunáveis a colunarem-se e os escândalos pequenos e grandes, escancarados ou escondidos, a surgirem na moximbada que nos é habitual. Diremos sobretudo mal uns dos outros, pelo que fizeram e pelo que não fizeram, pelo que deixaram feito e pelo que deixaram por fazer. Justificar-nos-emos todos uns aos outros com isso, enquanto a inexorável espiral continuar a rodar e a apertar-nos nos seus braços. Até daqui a mais um século, como não diria o Fradique Mendes nas suas cartas. E como certamente já eu não poderei dizer, que conto entretanto saltar (ou ser saltado) fora.
.
O segundo artigo chama Voltaire. É "O Sr. Pangloss morreu", de José Miguel Júdice, no Público de hoje. Examinando o problema de Timor numa perspectiva mais alargada e menos cromossómica, levanta a questão da sobrevivência das pequenas novas nações num universo que lhes é em princípio hostil, a menos que consigo tragam algum contributo palpável ou palatável em termos de recursos naturais. Então, pelo que durar o interesse, dão-se-lhe palmadinhas nas costas, conspira-se um bocadinho e chucha-se-lhes o tutano enquanto o têm. Há lá dentro sempre quem ajude. Comparado com o texto anterior, a música é exactamente a mesma, só que tocada fora da janela e em que somos nós agora que estamos por detrás da lupa com que se examina a realidade. E a defesa do neo-protectorado em termos de "real-politik", com toda a reserva frontal que nos merece, não admira que surja como conclusão do Autor, dentro duma argumentação que desenvolve e a tal conduz. Só falta vender as fragatas para comprar canhoneiras e abrir a tiro o caminho da Cidade Proibida, mas para clientela mais pequenina, agora, que a outra já aprendeu a morder e morde mesmo! Uma pequena potência antiga, rica e sabidona (vg. Confederação Helvética), que recusou ser mandada e por isso aprendeu a mandar, é de facto outra loiça, como Sacavém já dizia! Estar no centro da espiral - como no "olho" dos ciclones - pode ter, mesmo que temporariamente, as suas vantagens...
.
O terceiro artigo, também de hoje, é o "Descobrir o Mar" de Victor Dias. Nele perpassa uma brisa mais fresca que continua a embalar as papoilas. Recorda os 70 anos da Frente Popular em França, nos "luminosos dias de Junho de 1936" e a quem não conheça o que de novo então sucedeu e ainda hoje subsiste nas nossas vidas, recomendo vivamente uma leitura. Transcrevendo o Autor, direi que "é claro que, na evocação dos 70 anos da Frente Popular e das suas principais conquistas, há quem prefira falar de "mitos", da "grande ilusão" e de "fogo-de-artifício social", ou então das posteriores desilusões, fracassos e traições." Mas a verdade é que, então, como sucederia pontualmente noutros locais e circunstâncias e até em meios que politicamente se declar(av)am entre si antagónicos, a espiral, sorrindo, ganhou momentos de rotação contrária. E mostrou que isso era mesmo possível!
.
Há quem diga que o que se ganhou em França de 36 perdeu-se, um mês depois, na Espanha de 36. É verdade: as lições dão-se e as lições recebem-se. Só que, e isso é uma característica dos maus intervenientes na docência e na discência da vida, há os que não aprendem e os que recusam aprender. E há os que não ensinam. E há, sobretudo, os que - de um lado ou de outro - esquecem ou pretendem fazer esquecer.
.
Concluo com Comte, como há pouco citei: "Science, d'où prévoyance; prévoyance, d'où action". Ou então com Rabelais: "Science sans conscience n'est que ruine de l'âme". Ou finalmente, entre iscas fininhas (com todas) e à beira-Tejo: para quem (ainda) tenha cabeça, chapéus há muitos!

quinta-feira, 1 de junho de 2006

"A bola dá que fazer" (6/6)

(continuação de 31/6 e conclusão)
.
Farto de censurar cartas de amor aos seus soldados, quando afastados das trincheiras, num repouso de dias na rectaguarda, lembrou-se de os entreter com um campo de «foot-ball». E, mal se deu o primeiro encontro, nunca mais tiveram tempo ou se lembraram de escrever as costumadas cartas para as noivas...
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[em rodapé:]
Da «Pátria Portuguesa» (Rio de Janeiro) de 3 de Outubro de 1931:

«A VIOLÊNCIA NO FOOT-BALL
Estamos numa época em que para se ganhar uma partida de campeonato se recorre a todos os meios, por mais violentos que sejam. Havendo apenas, o interesse de ganhar, tanto se dá a A. que fosse preciso abrir a cabeça do guardião, com um pontapé proposital, como de prostar sem sentidos e a esvair-se em sangue, o «player» que estava na emergência de conseguir um «goal». Por este andar, diante deste interessante estado de coisas, havemos de chegar ao tempo de, na véspera de um encontro, se aprisionarem ou se «liquidarem» todos os componentes de uma «equipe», a fim de que o «team» mais interessado na vitória possa ganhar a partida do dia imediato - E não falta muita coisa para que tal se dê...»
.
[fim de transcrição]
- - - « « « «» » » » - - -
.
Conclui-se assim o referido capítulo! Nihil novi sub sole! (mesmo em desafios que se joguem à noite!)
.

Junho... e "A Lágrima", de Guerra Junqueiro

.

Junho
(no missal antigo de Lorvão)

- - - « « « «» » » » - - -

A Lágrima

Manhã de Junho ardente. Uma encosta escavada,
Sêca, deserta e nua, à beira d'uma estrada.

Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha,
Bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha.

Sôbre uma folha hostil duma figueira brava,
Mendiga que se nutre a pedregulho e lava,

A aurora desprendeu, compassiva e divina,
Uma lágrima etérea, enorme e cristalina.

Lágrima tão ideal, tão límpida, que ao vê-la,
De perto era um diamante e de longe uma estrêla.

Passa um rei com o seu cortejo de espavento,
Elmos, lanças, clarins, trinta pendões ao vento.

- "No meu diadema, disse o rei, quedando a olhar,
Há safiras sem conta e brilhantes sem par,

"Há rubins orientais, sangrentos e doirados,
Como beijos d'amor, a arder, cristalizados.

"Há pérolas que são gotas de mágua imensa,
Que a lua chora e verte, e o mar gela e condensa.

"Pois, brilhantes, rubins e pérolas de Ofir,
Tudo isso eu dou, e vem, ó lágrima, fulgir

"Nesta c'roa orgulhosa, olímpica, suprema,
Vendo o Globo a teus pés do alto do teu diadema!"

E a lágrima deleste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa.

- - -

Couraçado de ferro, épico e deslumbrante,
Passa no seu ginete um cavaleiro andante.

E o cavaleiro diz à lágrima irisada:
"Vem brilhar, por Jesus, na cruz da minha espada!

"Far-te hei relampejar, de vitória em vitória,
Na Terra Santa, à luz da Fé, ao sol da Glória!

"E à volta há-de guardar-te a minha noiva, ó astro,
Em seu colo auroreal de rosa e de alabastro.

"E assim alumiarás com teu vivo esplendor
Mil combates de heróis e mil sonhos d'amor!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu e quedou silenciosa.

- - -

Montado numa mula escura, de caminho,
Passa um velho judeu, avarento e mesquinho.

Mulas de carga atrás levavam-lhe o tesoiro:
Grandes arcas de cedro, abarrotadas d'oiro.

E o velhinho andrajoso e magro como um junco,
O crânio calvo, o olhar febril, o bico adunco,

Vendo a estrêla, exclamou: "Oh Deus, que maravilha!
Como ela resplandece, e tremeluz, e brilha!

"Com meu oiro em montão podiam-se comprar
Os impérios dos reis e os navios do mar,

"E por esse diamante esplêndido trocara
Todo o meu oiro imenso a minha mão avara!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa.

- - -

Debaixo da figueira, então, um cardo agreste,
Já ressequido, disse à lágrima celeste:

"A terra onde o lilaz e a balsamina medra
Para mim teve sempre um coração de pedra.

"Se a queixar-me, ergo ao céu os braços por acaso,
O céu manda-me em paga o fogo em que me abraso.

"Nunca junto de mim, ulcerado de espinhos,
Ouvi trinar, gorgear a música dos ninhos.

"Nunca junto de mim ranchos de namoradas
Debandaram, cantando, em noites estreladas...

"Voa a ave no azul e passa longe o amor,
Porque ai! Nunca dei sombra e nunca tive flor!...

"Ó lágrima de Deus, ó astro, ó gota d'água,
Cai na desolação desta infinita mágoa!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Tremeu, tremeu, tremeu... e caíu silenciosa!...

- - -

E algum tempo depois o triste cardo exangue,
Reverdecendo, dava uma flor côr de sangue,

Dum roxo macerado, e dorido, e desfeito,
Como as chagas que tem Nosso Senhor no peito...

E ao cálix virginal da pobre flor vermelha
Ia buscar, zumbindo, o mel doirado a abelha!...
.

Guerra Junqueiro
25 de Março de 1888