terça-feira, 24 de abril de 2012

Notas soltas por conta (6)

Camionagens


É bem verdade que nos habituamos ao super-deluxe e que nos custa desabituar-nos. Numa andança pelo Canadá tive que ir a um local remoto e questionava-me com manifesta apreensão sobre o como chegar lá. Afinal a solução, rapidamente conseguida, nem aventura foi a menos de um reparo muito oportuno que evitou que eu saísse logo no início... e estragasse imediatamente a viagem. Mas vamos por partes: primeiro a solução. Solícitos, no Hotel, remeteram-me para uma estação rodoviária, que até nem era longe. Diga-se, de passagem, que a "net" era já de utilidade, mas ainda olhada com surpresa e ainda pouco facultada, em termos de acesso. Mas, se ainda não era acessível a partir do hotel (hoje é, claro, até com o computador próprio), o tal teminal rodoviário estava já estruturado para me dar resposta.  Escrevia-se o destino e imediatamente saltava para o écran de fósforo (!!!) a indicação dos autocarros (de diversas empresas) que serviam esse destino. Mais uma pequena diligência e tinha nas minhas mãos os horários e os custos e assim meti no bolso do meu empregador uns quantos dólares não gastos, partindo comodamente num Greyhound (foi no Canadá, ou já estarei a baralhar o bus...) e dispensando-me do problemático uso de uma viatura de aluguer. O sistema era bom e confortável, preenchia todo o Canadá e até os Estados Unidos e poderia ajudar a remeter a Vancouver, aqui com mais alguma demora que o uso da espartana AirCanada, quem lá se tivesse sentido bem. Agora o problema: a coisa passava-se à beira de um lago e a estrada servia diversas comunidades que se sucediam ao longo da margem. De uma forma assaz curiosa, a estrada tinha nome, tinha placas toponímicas e... o nome era sempre o mesmo. Além disso, alguém teria definido o centro geográfico da comunidade  e numerado os edifícios como West e East: ou seja, poderia haver no mesmo vilório um 46 East e um 46 West, distanciados de, na melhor das hipóteses, umas boas centenas de metros. Mas pior ainda. Se no sentido em que eu ia, a comunidade A se iniciava no 247 East e iria acabar num 300 e tal West, aí os números passavam de 300 e tal West para, digamos, cento e tal East da próxima comunidade, chamemos-lhe B! E a placa toponímica era sempre a mesma...e um incauto lusitano não dava rapidamente pela necessidade de ir olhando as outras placas, fugidias porque não repetidas, que marcavam o início de cada comunidade. Ou seja, um destino, Lakeshore Drive, 42, poderia corresponder, ao longo de um percurso com 12 comunidades a 24 localizações, duas (uma East e outra West) por cada comunidade. Algo confuso! Mas safou-me o ter notado a inesperada alternância East/West e a oportunidade de, na primeira paragem, perguntar ao condutor "o que era aquilo" e dizer-lhe onde queria sair. Tive sorte: o meu destino era na 5ª povoação da série, quando eu poderia ter saído logo no primeiro Lakeshore Drive, 42 que aparecesse ou então, se o destino fosse anterior à "descoberta do sistema", ter ido parar a um Lakeshore Drive, 42 mais distante que o necessário- e ambos evidentemente maus!

Mas vem esta história canadiana (a seguir virá uma indiana - história, claro) para citar a dificuldade que existe, em Portugal, usando a net em todo o seu poder, para saber como encontrar uma carreira que leve o passageiro para, por exemplo, Peroselo. É que não há sistema! Para cada local, os canadianos de então davam indicações - ou pelo menos pareceu-me isso - para todas as carreiras e operadores. Aqui a questão começa por saber QUAL é o operador  - e isto, em princípio, já resolveria o acesso, permitindo ir, telefonar, netar de qualquer forma. Punha-se Peroselo, desambiguava-se se fosse preciso, ou escrevia-se o código postal aplicável e lá saltava a devida informação. Aqui é o "chacun s'arrange" (como dizia o do "bis"!), cada empresa informa de si e é a busca desconfortável de quem tenha que ir lá sem saber por onde começar. Os saites das próprias Juntas de Freguesia, ou dos estabelecimentos hoteleiros e outras empresas locais que acolhessem clientela forasteira, poderiam ter uma secção - que alguns, embora raros, vão tendo -  significativamente epigrafada de "como chegar aqui". Mas nada, ou quase: o País está voltado para os grandes eixos, para as sedes de concelho principais, para o sistemático uso do automóvel (espero que a "crise" ensine alguma coisa), para a não intercomunicação de informação de operadores e esquece, ou olha de desconfio,  o pobre peão que queira (ou tenha que) viajar à laia dos anos 50 ou 60 do século passado e que tente, desprezivelmente para muitos, chegar a pé. Quem surge no seu auto para fazer uma caminhada - é bem visto; para o antecipa a caminhada e chega caminhando, arrastando a mala, já não é - e até lhe chutam com o aviso do "prepago" por via das dúvidas.

Ponha-se alguma esperança nestas comodidades desejáveis e no futuro (com olhos em Franças e Araganças) e consulte-se o endereço http://www.lojadamobilidade.com . Já é alguma coisa, ainda que centrada no Porto. Mas folgo com isso!

Como saber coisas sobre um saite 

Por vezes interessa, como interessa saber algo sobre um URL. No primeiro caso, de que hoje aqui se trata, visite-se o www.statscrop.com . Mas há mais.

Novo vocabulário nacional

Para quem não goste do Acordo, pode dizer-se que é bem pior que isso. A mensagem é simples e embasbacará muitos cruzadistas: escrever "direitos" com 8 letras, começando por "r" e terminando em "as". Solícitos, alguns senhores democraticamente investidos e troikamente revestidos, saberão logo encontrar a solução na palavra "regalias" e tentar passar essa mensagem ao povo. E o povo que se cuide se vai na esparrela e começa a confundir "direitos" com "regalias". Houve um senhor alemão, aliás poeta,dramaturgo e consciente das coisas deste mundo, de nome Berthold Brecht, que deixou vários avisos pelo caminho. E as técnicas usadas estão, de várias formas denunciadas, nesse e noutros Autores e até na prática dos que, do outro lado, as praticam (passe o pleonasmo): iludir os conceitos, criar inimigos, abafar a memória, semear o medo...antes de usar a chibata. mas há muitas chibatadas sem chibata e sempre com a democracia na boca.

Guiné, Mali  e Botswana

Contava-me meu Pai que, quando da Proclamação da República Portuguesa, 5 de Outubro de 1910 para quem nos queira tirar o tal ainda-destranquilizante e anti-produtivo feriado (o 31 de Janeiro já tinha sido!), era primeiro ministro de Espanha (ou Hespanha, como então se escrevia) um tal Merino. E que um jornal espanhol publicara então um cartune significativo em que Afonso XIII se dirigia ao dito Merino, junto de uma porta, e lhe dizia, segundo a legenda: "Cierra bien  la puerta, Merino, que el mal del vecino es contagioso!".

Calcutá-Hong Kong

O meu amigo X contou-me esta, que pelos vistos ainda pode funcionar em certos trajectos aéreos. Estando ele em Calcutá, por razões comerciais, e tencionando voar para Hong-Kong numa conceituada companhia aérea europeia (a coisa passa-se no fim do século passado), teve o cuidado de combinar com a recepção do hotel a presença de um taxi seguro para o levar ao aeroporto com chegada por volta das 8 da manhã, para tomar o avião que sairia pelas 10 ou mais-ou-menos isso. Tinha anteriormente, e como era norma da época, confirmado o voo com a antecedência prescrita - já que estivera em Calcutá e arredores quase uma semana - indicando o hotel onde estava e dado o telefone de contacto. Tudo nos conformes.

Preparava-se X para fechar as malas e sair do quarto, eis senão quando o telefone toca. Antes das 7 horas. Atende. Em perfeito inglês, uma voz masculina do outro lado do fio diz ser da transportadora aérea e pergunta-lhe se estava de facto a falar com o Sr. X, que tinha confirmado o voo tal e tal para HK às 10 e tal dessa manhã.  X, obviamente, responde que sim. Então a voz masculina, de forma muito clara, diz-lhe que o avião vindo da Europa está com um atraso de pelo menos 2 horas e que, por isso, escusa de estar no aeroporto tão cedo, podendo diferir a sua chegada para 2 horas mais tarde e pedindo desculpa, em nome da companhia, para qualquer inconveniente que tal atraso pudesse causar. X lembrou-se do taxi que marcara, de algumas peças que à chegada vira no aeroporto e que poderia comprar tranquilamente... e decidiu seguir assim mesmo, dentro do programa anterior. Estava a fazer as referidas compras quando, à hora precisa, escuta uma chamada de passageiros para HK, através dos alto-falantes do aeroporto, num voo que lhe pareceu ser o seu. Desaustinado, largou tudo e correu para o quadro de partidas mais próximo e... bem na hora, sem atraso da máquina, era mesmo o dele. Quase sem tempo para as formalidades, que incluíam num aeroporto apinhado e confuso a inspecção de bagagens, a devolução de moeda indiana e a verificação dos passaportes, valeu-lhe no desenrascanço um solícito funcionário das alfândegas indianas que, na placa identificativa, ostentava o mundialmente difundido nome de SILVA e que lhe foi dizendo que o voo estava cheio, mas que - fazendo um rápido bipasse junto dos colegas - lhe permitiu recuperar o tempo e receber o último cartão de voo, antes da chamada da lista de espera. Limpando o suor com quantos lenços tinha, ainda abalado com a surpresa mas feliz com o final feliz, despediu-se do prestável Silva, que com dignidade  recusou alguns dólares como recordação, e entrou no aeroplano - onde aliás iriam decorrer filmagens para uma película que nunca chegou a saber qual fosse. 

Terminadas as prudências habituais da descolagem e enquanto o apinhado avião se divertia com as filmagens, chamou a "chefa" das assistentes e contou-lhe tintim por tintim o ocorrido, pedindo para formular uma reclamação. A senhora, muito claramente, disse-lhe que tomava conta da reclamação mas que muito provavelmente o assunto nunca se esclareceria. E acrescentou: alguém soube do seu contacto e alguém recebeu dinheiro da parte de alguém que estava na lista de espera, pronto a pagar generosamente a sua presença no voo para HK - acrescentando não ser aliás situação incomum naquelas paragens. Mas qual seria a cara de X se as coisas assim não tivessem corrido, já com poucas rupias no bolso, taxi devolvido e reserva de hotel inexistente, ao saber que, por chegada tardia do viajante, o avião havia partido, deixando-o só, com as malas e algumas compras, em pleno aeroporto de Calcutá e numa espera que poderia ir até às 24 horas!.

Acautelem-se pois quanto a tais armadilhas, até porque não será muito fácil terem a sorte de X e encontrarem um Silva auxiliador por essas bandas! E a solução é simples: chamada de retorno e, se não atenderem, ir mesmo à hora anterior, mas deixando tudo preparado para um eventual regresso (p.ex. se a mensagem fosse verdadeira e envolvesse uma demora considerável, como num caso de cancelamento de voo, sem outras alternativas de saída).

"La patria de  Tabucchi"

Não perder a crónica-ponto-de-vista
Editada no Peru, fala de Tabucchi, do poder da literatura e necessariamente de nós. Não perder também o saite. A ele me referirei mais tarde. [##]

Para memória futura = [##]

Como não me sinto vinculado à escapatória da porta das trazeiras para cada afirmação de perspectiva futura que aqui faça, passei a adoptar a sinalefa provisória [##] para marcar (e cumprir) eventuais promessas. A ideia também fica para a quem tal possa convir.


Recuperarei também alguns rascunhos... [##].


sábado, 14 de abril de 2012

Notas soltas por conta (5)

"Intelligence"

Numa das recentes sarrafuscas que trazem à ribalta o mundo futebolístico (faz jeito, é bem verdade, que enquanto se preocupam com isso não se preocupam - ou preocupam-se menos com outras coisas, na versão portuguesa FFF do feminino e anti-feminista KKK de outros tempos e doutrinas, mas que deixaram alguns saudosos a praguejar pelos cantos)  apareceu a palavra "intelligence" ligada à actividade de uma firma e que logo alguns MCS's se apressaram a traduzir por "inteligência" e mesmo "inteligência empresarial". Surpreende esta tradução, quando certamente outras expressões poderiam ser encontradas para tal objectivo, a mais amena das quais seria provavelmente a de "informações" - até no plural, para frizar um etc implícito. De outra forma, prevalecendo a surpreendente leitura,  teríamos de admitir que CIA literalmente significasse "Agência Central da Inteligência" norte-americana e até em Langley ficariam com fugagem alérgica, só de pensar que os pudessem reconhecer como tal!

Cartões de visita


Conhece-se a história do cartão de visita que, em lugar da profissão do portador, dizia «Ex-passageiro do paquete "Pátria» e, bem assim, a realidade de um cartão que recebi num país afastado, que como profissão ou título preenchia duas linhas inteiras em corpo mais pequeno (nem a extensão de habilitações do simpático setubalense "Finuras") e rematava, no canto inferior esquerdo, com a indicação legível de três números de telefone: "GERAL, e dava o número, "DIRECTO" e dava outro número e "SECRETO", não se esquecendo de dar o terceiro número. Face à recente supressão de prestações que constituíam direitos e quando abusivamente se usa a palavra "reposição" para repor nada do que foi tirado, quando a verdade seria dizer "retorno" ou "recomeço" ou até  "regresso" colocando mesmo um ponto de interrogação e agradecendo ao Senhor Peter Weiss ter sido ele lá de longe que levantou a lebre por coelho, sugere-se que próximos cartões de visita tragam apenas uma palavrinha simples subjacente ao nome do portador: "Espoliado".

A questão  (ou o "back to school")


Começa a entender-se, mas devagar para que se não entenda, que a questão sistémica é a economia e que os "perdulários do Sul" estão a ser sugados, como foram sempre, pela rapaziada do Norte. Se se andasse para trás, reabilitando a memória, poderia perguntar-se quem se abasteceu por aqui de mão-de-obra barata, de preciosas e úteis  matérias primas ao pé da porta, de destruição ou deslocalização de indústrias, de pescas, de agriculturas. Nem sempre vai cair diretamente nos gajos, dirão os ingénuos - mas dêem a volta, num sistema global (ah, o mito da globalização!) de "net-backs", e verão em que bolsos vão cair "os mercados" e os contributos ou tributos que estes exigem a uns e geram para outros. É fácil escrever sobre economia, temos exemplos disso. Como sobre educação. Como (mais erradamente ainda) sobre Direito e Justiça, dois conceitos não necessariamente harmónicos, como se aprende em Filosofia do Direito (a tal cadeira que devia ser dada no primeiro ano de qualquer curso jurídico). Mas se sobre isso é fácil escrever, muito mais difícil é fazer - e aqui é que está o cerne da questão. Que seria do pêssego sem caroço?


O "filósofo" da Praça da Concórdia

Quando o record nacional de ódios acompanha o record nacional de cagaços.


A quimera do ouro


Proliferam as baiúcas da compra e venda de ouro. O G (passo a chamar-lhe o G, em homenagem ao homónimo ponto) diz que se vai legislar sobre o assunto. Quem e onde? Surpreende a frequência do negócio. Surpreende o fluxo de metal que poderá justificar tal afluxo de balcões. Afinal havia tanto? E quanto realmente sai? E para onde vai? Bélgica?

Uma oferta oportuna


terça-feira, 3 de abril de 2012

Ricardo ou quando ainda se pensava saber economia

 Mas não se esqueçam do famoso exemplo das relações comerciais entre Portugal e Inglaterra!