quinta-feira, 31 de maio de 2007

Desfabulando (1): O equídeo raro e o porcino solidário

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Hoje foi a vez do colega Carlos Gradiz, de Beja, me mandar uma sempre oportuna fábula que, na sua redacção, tem sinais de origem do outro lado do Atlântico, mais abaixo em termos de norte/sul. É tão pouco fábula e tão oportuna que, aproveitadamente, vou transcrevê-la aqui, realçando que de minha autoria nada tem a não ser um descarado e cómodo "copianço", uns arremedos na construção das frases e algumas "bocas" esparsas, apenas isso (o que, pela negativa, está de acordo com o teor moral da mesma):

"Um lavrador rico [ainda há disso? ou seria melhor dizer "um latifundiário "? ou "um excêntrico do Euromilhões"?] coleccionava cavalos e só lhe faltava um exemplar de certa e determinada raça. Mas um dia, claro que nestas histórias há sempre um dia, ele conclui, olhando por cima da vedação, que o seu vizinho tem esse tão procurado cavalo e vai daí, pressiona-o que nem jovem e criminosamente mal-comportado automobilista do modelo cheira-cus no IC19 até que o tal vizinho lhe ceda passagem, digo, até ele abrir mão do bicho e aceder a vendê-lo.
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Tudo correria bem se, um mês depois, o cavalo não adoecesse, obrigando o próspero agrário a chamar de urgência o veterinário que normalmente atendia a sua colecção. Este, o veterinário, não se mostrou optimista e, com ar muito sério, disse-lhe: "Lamento comunicar-lhe, mas o seu cavalo contraiu uma virose grave, muito grave mesmo. E, ainda por cima, contagiosa. Afaste-o dos outros animais e tome bem em atenção que o remédio que lhe vou dar, para que o dê ao cavalo, deve ser ministrado durante três dias sucessivos, sempre à mesma hora. Comece já amanhã, de manhã-cedo, e assim, ao fim da tarde do terceiro dia eu volto a passar por cá. Mas note bem: caso o seu cavalo não esteja então melhor voltarei a lamentar muito, mas será mesmo necessário abatê-lo."
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Nenhum destes dois bípedes reparou no ar preocupado com que o porco, que tinha parado por ali, ficara a ouvir a conversa. No dia seguinte de manhã o tratador veio junto do cavalo doente, deu-lhe o medicamento e foi-se embora. O porco aproveitou a porta estar aberta e esgueirou-se sorrateiramente até junto do cavalo e disse-lhe: "Eh pá! Força nessas patas! Trata de te levantar ou senão estás feito: os gajos abatem-te mesmo, que eu ouvi a conversa deles! Põe-te a pau!"

O mesmo sucedeu no segundo dia! O tratador chegou com a segunda dose, deu-a ao cavalo, saiu, o porco abriu caminho e voltou a insistir, preocupado: "Não estás melhor, parceiro? Levanta-te lá, tem coragem, senão olha que morres mesmo! Deixa-te de coisas, apoia-te em mim e alça-te nessas patorras... Um, dois...não consegues? Desistes? Bom, ainda tens um dia! Eu amanhã volto cá para saber de ti!"

E assim se chegou ao terceiro dia e à terceira e última dose. O porco nesse dia chegou algo mais tarde, mas com a mesma mensagem solidária: "Eh, amigo! Olha que o teu aspecto é muito melhor [mentia, o pobre porco!]! Eh! Eh! O quê? Ainda te não levantaste? Olha que o gajo, o veterinário, daqui a pouco chega aqui com o teu dono e se não te mostras melhor... vais morrer! Vamos lá, pá, eu ajudo-te a levantar... Upa! Um, dois, três. Porra, que és pesado! Mas vamos lá: é agora ou nunca! Devagar primeiro! Força! Força! Braaaaavvvoooo! E agora, campeão, um bocadinho mais depressa! Corre, corre, que venceste! Venceste mesmooooo!"

Os dois, veterinário e dono, chegaram-se à balaustrada de madeira à frente da qual o cavalo trotava, alegremente, confiante, recuperadas forças, com o roliço porco todo alegre, correndo também atrás!

"Espantoso remédio o seu!", disse o dono. "Isto merece uma festa! E para celebrar condignamente o milagre vamos mas é matar o porco!"

Aqui acabaria a história, se a mensagem não trouxesse consigo uma reflexão azeda que transcrevo sem disfarces: "Isto acontece com frequência no ambiente de trabalho. Muitas vezes não se entende em quem assenta o verdadeiro mérito pelo sucesso. Ou seja: Saber viver apoiado e manter escondido quem apoia pode ser uma arte; sê-lo-á certamente para quem é ajudado, mas não traz qualquer benefício a quem ajuda".
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Ou, por palavras mais directas: "Quem acaba por se safar é mesmo o chico-esperto!". E, por via de dúvidas, olhe cada um à sua volta...
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quarta-feira, 30 de maio de 2007

"É melhor o intenso que o extenso"

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Do já aqui falado "oráculo manual" intitulado "A Arte da Prudência", escrito por Baltasar Gracián (Belmonte,1601 - Tarazona, 1658) e editado pela primeira vez em Huesca, em 1647, retiro [1] - porque apropriada ao momento - a meditação nº 27 das 300 que a obra contém:
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"27. É melhor o intenso que o extenso. A perfeição não consiste na quantidade, mas na qualidade. O muito bom sempre foi pouco e raro: utilizar muito o bom é abusar. Mesmo entre os homens, os muito grandes costumam ter o cérebro pequeno. Alguns apreciam os livros pela sua corpulência, como se fossem escritos para exercitar mais os braços que a inteligência. O extenso, por si só, nunca conseguiu ir mais além da mediocridade, e é uma praga dos homens universais que, por quererem abranger tudo, não abtangem nada. O intenso proporciona eminência. E fama, se o tema for muito importante."
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[1] Das pags 14 e 15 da tradução portuguesa de Helena Pitta, editada em Lisboa e em 1994 pelas Edições Temas da Actualidade, S.A..
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terça-feira, 29 de maio de 2007

A traça come-livros

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Vieram-me hoje com as fotografias play-boy de uma capitosamente abundantíssima Daniela Cecconellos (ainda tenho amigos que me mandam pela net coisas dessas!), tinha eu chegado a casa fatigado, sujo e esfomeado a maldizer a mudança de um pneu às escuras e em plena auto-estrada que se não fosse o carro de apoio da Brisa (excelente e rápida aparição salvadora) ainda lá me faria estar! Nos e-gramas, para além de uma interessante (mas insusceptível de transcrição) resposta do meu colega Rui Abrunhosa, de diversas "charges" ao "deserto" do ministro Mário Lino e de duas ingénuas tentativas de um "phishing" gaúcho invocando um Orkut, que não uso, um outro e-correspondente formulava um problema requentado: a questão da traça come-livros.
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Este problema põe-se assim: numa estante de biblioteca está arrumada uma obra em 3 volumes. Desprezando as capas, cada volume tem 200 folhas e estão todas as folhas da obra numeradas sequencialmente. Uma larva de traça começa a roer as folhas da obra, iniciando a sua destruição pela folha 1 e segue sempre em frente, através dos livros arrumados até à ultima folha do terceiro volume i.e. a folha 600. Desprezando novamente as capas dos volumes pergunta-se: quantas folhas ao todo furou o estupor da larva?

A resposta parece simples e muitos dirão logo: 200 x 3 = 600... e erram! Erram por uma razão também simples: esquecem-se da forma ilógica de combinar o fazer os livros com a forma de os arrumar entre nós, da esquerda para a direita, não vendo que a folha 1 que está no primeiro livro está mesmo no início deste ou seja, adjacente ao 2º livro... e que a folha 600, última do livro 3º, está também adjacente à folha 201 do 2º livro! Se o gusano furou a folha 1 e a folha 600 então, desprezando as capas, teremos 1 + 100 + 1 i.e. apenas 102 folhas.

É o que se pode ver neste grosseiro esquema em que /ultima folha (volume) primª folha/:

/200 (1º volume) 001//400 (2º volume) 201//600 (3º volume) 401/.

Repare-se agora no que sucederia se, como se verifica em diversas culturas, o livro fosse considerado como o resultado de uma deposição sucessiva de páginas de baixo para cima, isto é, cada nova página cobrindo a página anterior - como o que sucede geralmente nos arquivadores de expediente. Uma das consequências seria começarmos a ler pelo que nós chamamos de fim do livro e há quem o faça porque, para esses, aí é o princípio. Voltando a arrumar os volumes da esquerda para a direita teríamos uma seriação perfeita de todas as folhas e então a lagarta furaria mesmo as 600 folhas:

/001 (1º volume) 200//201 (2º volume) 400//401 (3º volume) 600/.

Este arranjo, de facto, harmoniza a seriação das páginas com a seriação dos volumes, o que já não sucede no primeiro exemplo em que numeramos as folhas da direita para a esquerda e arrumamos os volumes da esquerda para a direita! Quer isto dizer que se arrumássemos os três volumes da direita para a esquerda haveria também coerência e o aspecto sequencial também seria globalmente mantido! Veja-se então:

/600 (3º volume) 401//400 (2º volume) 201//200 (1º volume) 001/.

Mas, a verdade é que não é assim que se faz... e o fenómeno tem consequências! Pense-se num dossier de mola para fazer o tal arquivador de expediente ou de "vala comum" como já aqui se explicou. Os papeis vão-se juntando, cada um colocado sucessivamente por cima do anterior. Tudo bem! Mas se se comprar um pacote de doze separadores mensais comuns, de cartolina ou plástico, em que o JANEIRO está por cima do FEVEREIRO este por cima do MARÇO e assim sucessivamente duas coisas burras vão suceder: a primeira é que os últimos papeis colocados em FEVEREIRO ficam adjacentes aos primeiros papeis que haviam sido colocados em JANEIRO, etc. etc. ; a segunda é que quando for preciso colocar um mísero papelucho em NOVEMBRO ou DEZEMBRO ter-se-á o trabalho hercúleo de levantar a papelada de quase o ano todo para chegar lá...
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Seria pois lógico que os fabricantes de separadores fornecessem o conjunto anual tendo JANEIRO em baixo e DEZEMBRO por cima, i.e. de forma coerente com a deposição cronológica da papelada. Contactado sobre o assunto um conhecido fabricante estrangeiro de capas, separadores, arquivos e quejandros ele respondeu-me: nós temos isso e vendemos isso em vários mercados. Só que o mercado português NÃO QUER!
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Pois! como diria o D.Carlos de Bragança que, nestas e nalgumas outras coisas, conhecia bem demais os nacionais que tinha.
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segunda-feira, 28 de maio de 2007

Memória de Indústria - 5: A "Fábrica de Cal a Mato" de Alhos Vedros

Antes que desapareça de todo, levada por uma nova média superfície que já se anuncia e que fica em frente a outra e esta ao lado de outra sem se saber para o que vai servir a estrutura que também está a nascer por entre estas duas ... etc. etc.

Esta é a frente que se observa da estrada. No medalhão em cimento, já de muito difícil leitura (espera-se que com outra luz e de manhã se chegue lá...), pode entender-se ainda:

FABRICA DE CAL
_______________________ ?
E
PROVINCIAS ULTRAMARINAS
_______________________ ?
____________ALHOS VEDROS

marcando-se com _ o que ainda se não conseguiu ler. Será feita nova tentativa, claro. Note-se o guincho manual existente no topo, para a elevação de cargas a partir da estrada.

O portão lateral. Sobre este é possível ler FABRICA DE CAL A MATO.

Vista lateral do lado Norte. Note-se a estrutura frontal com o guincho, o portão da vista anterior e o forte e alto muro que, deste lado, correndo de nascente a poente, delimitava os fornos (o muro paralelo do lado sul desapareceu já). As fotos mostram o estado destes restos de indústria no dia anterior à data da presente postagem.
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domingo, 27 de maio de 2007

Memória de memórias

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Hoje conseguimos matar o tempo no tempo. Memória de memórias, claro.
Quando na busca da memória dos outros as nossas se deixam esquecer.
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Cada um encontrará o seu cadeirão velho num andar estreito e frio
E a recordação da casa-grande e do parque que se deixou algures.
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Ou não, em qualquer caso, o que ainda é bem pior.
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(Isto poderia ter duas dedicatórias, mas não tem: sabes bem aos "quem" me refiro no plural e sabes bem a quem me refiro no singular!)
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Memorias de Indústria - 4: A estrutura de suporte do reactor catalítico do "Contacto 5", no Barreiro

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Aqui assentava a torre que continha o catalisador de pentóxido de vanádio para a oxidação de SO2 a SO3 necessária para a produção de 500 toneladas diárias de ácido sulfúrico naquela unidade ... Mostra-se o plinto hexagonal, em betão, e o epitáfio que reza "ESTA ESTRUTURA SUPORTAVA A TORRE DO CONVERTIDOR, PEÇA ESSENCIAL DO PROCESSO PRODUTIVO DA FÁBRICA DE ÁCIDO SULFÚRICO "CONTACTO 5" CONSTRUÍDA PELA C.U.F. EM 1965 E ENCERRADA EM 1990". Juntar-se-á oportunamente uma fotografia de quando em vida.
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sábado, 26 de maio de 2007

Eles aí estão...

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TGV's sortidos na Estação de Montparnasse (Paris, 2007.05.25)

... ou, para os ter, tantas escolinhas e tantos hospitalinhos que os Franceses deixaram de fazer!
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Atenção! O que agora mais se fala por Franças e Araganças é nos projectos de ligação por TGV à "Europa de Leste" (se é que esse termo ainda é adequado!). Dos "nossos" falamos nós e a restante Europa nem pio! Eu sempre disse que a concorrência de um Barreiro não estava numa Moita nem a de um Vale do Ave estava num Vale do Sorraia mas sim, e imediatamente, em locais (que eram há bem pouco tempo) aparentemente tão remotos como Ostrava ou o Vale do Prut (para não falar ainda do pragmatismo capitalista que, com um piscar-d'olho sabemos de quem para lixar a Europa tanto quanto possível, inunda um qualquer Chi-pin ou o Vale do Jin-guá). É que "as comunicações comunicam" tanto quanto "o que se vende tem de ser bem feito e tornar-se acessível". E, por exemplo, o CO2 passou a ser uma gaita penalizante de realizações - menos para os que vão pondo o rabinho de fora, continuam a assobiar para o ar e esperam o valor de oportunos (mas não para já, claro...) actos de contrição ecológica. Se bem me faço entender...
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sexta-feira, 25 de maio de 2007

Um letreiro um pouco avançado ou...

... uma exposição "quand même" surpreendente!

Orly Ouest, 2007.05.25

quinta-feira, 24 de maio de 2007

O Relógio, um poema de Charles Baudelaire

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"L'Horloge [1,2]

Horloge! dieu sinistre, effrayant, impassible,
Dont le doigt nous menace et nous dit: "Souviens-toi!
Les vibrantes Douleurs dans ton coeur plein d'effroi
Se planteront bientôt comme dans une cible;

Le Plaisir vaporeux fuira vers l'horizon
Ainsi qu'une sylphide au fond de la coulisse;
Chaque instant te dévore un morceau du délice
A chaque homme accordé pour toute sa saison.

Trois mille six cents fois par heure, la Seconde
Chuchote: Souviens-toi! - Rapide, avec sa voix
D'insecte, Maintenant dit: Je suis Autrefois,
Et j'ai pompé ta vie avec ma trompe immonde!

Remember! Souviens-toi! prodigue! Esto memor!
(Mon gosier de métal parle toutes les langues.)
Les minutes, mortel folâtre, sont des gangues
Qu'il ne faut pas lâcher sans en extraire l'or!

Souviens-toi que le Temps est un joueur avide
Qui gagne sans tricher, à tout coup! c'est la loi.
Le jour décroît; la nuit augmente; souviens-toi!
Le gouffre a toujours soif; la clepsydre se vide.

Tantôt sonnera l'heure où le divin Hasard,
Où l'auguste Vertu, ton épouse encor vierge,
Où le Repentir même (oh! la dernière auberge!),
Où tout te dira Meurs, vieux lâche! il est trop tard!"

Charles-Pierre Baudelaire
(1821 - 1867)


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[1] Poema LXXXV, cap. "Spleen et Idéal", em "Les Fleurs du Mal", edição de 1861
[2] Para uma excelente tradução deste poema (e de outros), pelo repórter e escritor Jorge Pontual, visite-se
Por uma estranha interferência aparecerá um motor de pesquisa que não interessa. "Pode-se" o endereço, eliminando a parte que não consta do endereço acima... e o acesso ao blog "New York on Time" far-se-á sem problema.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Tibério

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Um recente programa do "Canal História" veio lembrar-me como Tibério, tendo alcançado uma idade avançada, soube modificar a sua vida e de tal forma que, confinando-se às delícias recém descobertas de Capri, deixou mesmo de visitar Roma e de aí exercer os seus cargos imperiais. Grande Tibério! [1, 2]
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[1] Em compensação, o dito programa contava como Ovídio, escrevente da "Arte de Amar" em pleno período de apologia de uma puritana moral familiar segundo Augusto, acabou mesmo por se lixar com a sua obra!
[2] Entretanto Tibério, que prezava as cultas discussões filosóficas, "passava por cima" de certas questões estranhas que decorriam na sempre turbulenta Palestina e que metiam o filho de um carpinteiro, coisa certamente a não ligar muito já que aquela gente só pensava em arranjar sarilhos. Já o seu sucessor - Calígula - preocupar-se-ia mais com essas situações e o seu alastrar até Roma!
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terça-feira, 22 de maio de 2007

A traição à azálea, ou as azáleas de Tarouca

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Quando, no fim do último mês , passei por Tarouca não pude deixar de notar o apego das pessoas locais pelas azáleas. Algures no tempo, eu também tive um grande apego por uma azálea, que todos os anos se cobria de folhas novas e de flores salmão no jardim da casa grande de Gaia e que, para mim, era como uma certeza, ano após ano, de que iria ter aquilo que não tive - uma vida tranquila. A azálea ou rododendro, sei lá bem, deixada à sorte do jardim em que regularmente me lembrava que o tempo ia passando, deve ter sido arrancada, como serrada e arrancada foi a palmeira grande em que os melros faziam ninho, uma outra grande traída desta história de homens e plantas em que eu entro do lado da sombra, porque nunca na vida me orientei por forma a que pelo menos a companhia daqueles seres vivos (porque o são) fosse prezada e entendida. Eu sei que o mesmo irá um dia suceder com o meu pinheiro manso, que quando viemos para aqui era uma pequenina árvore-de-Natal, que nos deu e dá sombra, que viu crescer os meus Filhos, que assiste hoje (sabe-se lá se imperturbável, sabe-se lá quão perturbável) ao desfazer da feira que o tal tempo inevitavelmente traz consigo. Mais um companheiro, esse, a que ninguém dará qualquer consideração, além do "constata-se".
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Mas a azálea de que eu gostava era salmão claro como nunca encontrei outra de cor igual (se encontrasse teria arranjado maneira de a trazer para aqui, de cloná-la aqui, para envelhecermos juntos ao lado do pinheiro manso), as corolas destacavam-se inteiras, como saias que se tiram pela cabeça, muito parecida às azáleas que eu vi em Tarouca, que eu espiei para dentro dos muros dos jardins de Tarouca, a ver se encontrava a inconfundível cor salmão daquela amiga perdida há muitos anos, daquela amiga que, afinal, traí.
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Não encontrei. Continuarei a procurar. É, para mim, uma dívida que persiste, das muitas não saldadas que arrasto comigo.
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segunda-feira, 21 de maio de 2007

A propósito do almoço anual (Sábado,19) da AAB = Associação Académica do Barreiro no Lousal

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Uma variação de itinerário: a escolha do "caminho velho" da Serra da Caveira até ao Lousal. Vista parcial dos extensos escoriais (romanos) das antigas minas da Serra da Caveira, Grândola.

domingo, 20 de maio de 2007

Memórias de Indústria - 3: O compressor Ingersoll-Rand das minas de Regoufe (Arouca)

Posted by Picasa

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sábado, 19 de maio de 2007

Resposta a um autarca feito régulo e embalado nas loas da (sua) tribu

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Berra ele: E que ninguém me venha dar lições de democracia!
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Resposta adequada: Mas olhe que precisa! Meta um explicador!
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sexta-feira, 18 de maio de 2007

Norte & Sul

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quinta-feira, 17 de maio de 2007

Memórias de Indústria - 2: Chaminé na estrada Loulé - Tôr - Salir

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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Memórias de Indústria - 1: Locomóvel em Freixo de Numão




terça-feira, 15 de maio de 2007

Do nome de Prantilhana...

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Desenvolvi ontem a história que me contaram da Prantilhana ou Prantelhana, acidente registral que anos atrás resultou do mau entendimento do bom (mas algo arcaico) português do declarante-pai ao dizer "prante", de "prantar", em vez de "ponha", de por, levando a que o "Prante-lhe Ana" fosse e ficasse escriturado de "Prantelhana" no Registo Civil. Como agora começa a ser meu hábito, dei uma volta pelos blogues e depois pela "net" para verificar se alguém já contara a história. Deveria tê-lo feito "antes de" ou "em vez de", já que não encontrei um só alguém, mas muitos... e alguns até bastante conceituados! Pelo que meti a viola no saco, engoli a prosa e só deixo ficar, qual evaporito, este sucinto registo. Coisas da vida!
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segunda-feira, 14 de maio de 2007

Ressonâncias de Alma pela "Joia de publicidade em verso" da "Casa Diva" ou Apontamento Três (de catorze do cinco)

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Falava eu, no apontamento anterior, no meu colega Rui e eis que, como amigo que é, ele inesperadamente surge na mensagem electrónica, bate á porta, grita, deixa notícia sentida a propósito de uma postagem anterior e vem enruiquecer (boa, enruiquecer!) esta página. Bem vindo seja, como todos os amigos são. Por isso este comentário não vai para os comentários. Fica aqui, tão clara e completamente como chegou!

Facto é que a publicidade em verso da "Casa Diva", de Arouca, de 1941, postada a 11 de Maio, caiu fundo. Mérito dela. As pessoas são avessas a comentar, mas falam - e falaram-me nisso. Além do Rui o amigo Rolko, noutra idade e noutras latitudes. já a tinha comentado favoravelmente dizendo
" gostei^^" e acrescentando "hehehe me lembra um pouco uma música de Simon & Garfunkel... que em português é : A feira de temperos, ou algo do tipo...n me lembro bem". O que significa que devo continuar! Se bem que noutra finalidade, vou ter que devorar durante anos textos de outros anos que, como o Rui bem avisa e o Rolko chama ao presente, poderão constituir uma verdadeira mina para o registo colateral de recordações que temos ou que ainda iremos ter. O presente é sempre cheio de passado. Creio que foi o Gide que, num sentido algo pessimista, concluiu que "o futuro estaria cheio de todas as venturas se o passado não trouxesse consigo uma história". Não é bem assim: vivemos sempre numa senda de progresso, em que cada degrau é necessário ao que vem a seguir. Contribui para ele, e não o destroi. Por isso continuarei a contar coisas. Até um dia! Já que, como uma vez lembrei aqui num sábio provérbio árabe, tenho à minha espera toda uma eternidade para descansar.

Mas vamos ao que diz o Rui:

Zé Miguel : considera o que vem adiante como “comment” à peça do teu “Sitedaqui” que transcreve, do «Defesa de Arouca», de 11.10.1941, a jóia de publicidade, em verso, à “Casa Diva”. Usa-o como entenderes.

"Deslumbrei-me e comovi-me!

Em Novembro de 1946 cheguei de Africa, onde nasci. Mergulhei, tímido, nos frios, nevoeiros e neves de uma perdida Aldeia em Trás-os-Montes do pós guerra português.

Senhas de racionamento, às escuras, por greve do Sol, sem água *encanada*, nem saneamento, desprovida de electricidade. Candeias e candeeiros de vidro, com pé alto e chaminés periclitantes, de torcidas capilarizadoras de “pitrol”

Deslumbrei-me e comovi-me!

Maravilhado, passei, nessa época, horas de atenta observação, num, então, magnetizante mundo, para mim novo. As movimentações, as sabedorias, as gentilezas, as solidariedades, as conversações. Meu Avô – o materno – a Figura para mim Central, o dono do “estabelecimento”. Seus Clientes, suas Clientes. A algumas destas Pessoas ainda as encontro, sentadas nas mesmas escaleiras, quando frequentemente ali estou em férias. Têm adiantados noventas, muita elegância de modos e maneiras e fina "sagesse",

Deslumbrei-me e comovi-me !

Deslumbrei-me e comovi-me, quando voltei a ter 10 anos, re-iluminados pela jóia publicitária em verso da “Casa Diva” nas Eiras. Curioso: o “estabelecimento” de meu Avô não é nas Eiras mas a sua Aldeia também tem o lugar das Eiras.

Venho para dizer que não é minuciosa verdade o enunciado de abertura «Ei-la a casa ideal , como não há outra igual…» Havia sim, Senhores!. Tal e qual! Igual! Igual! Igualzinha! Voltei a ter 10 anos. Que bom!…Valeu a pena!. Obrigado".

Rui

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Apontamento Dois (de catorze do cinco)

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O meu ilustre colega do Liceu e das primeiras andanças jornalísticas, Dr. Rui Abrunhosa, acaba de postar (ele odeia o Dr. e odeia estes neologismos, mas, por isso mesmo, eles aí vão, um e outros, a nicarem-lhe o juízo) no blogue da malta do dito Liceu uma espécie de concurso tão imaginativo como o próprio proponente e para o qual se solicitam e se aceitam respostas.
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Sugere-se ao povo blogoleitor uma passagem por lá e um palpite sempre salutar (quanto mais impróprio ou excêntrico mais salutar, claro). Ele, o proponente, economicamente poupando palavras, não prometeu qualquer prémio. Nem regulamentou o certame.
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Apesar disso é sempre oportuna uma visita. A questão competitiva foi levantada e está a 10 de Maio em http://www.lah-1954.blogspot.com, um cantinho de pseudo-venerandos já que cheios de juventude à vossa espera. Ugh!
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Apontamento Um (de catorze do cinco)

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Desembarquei no blogue da Alice Geirinhas "UnderWorld"
por causa de um parceiro eslovaco que investigava o tema "Judite e Holofernes", pelos vistos comum a este e àquele.
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Vale a pena. Tem um dos mais lúcidos comentários (desenhado) ao 33º aniversário do 25A.
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Voltarei, claro está. E unilateralmente linco-o i.e. ponho-o no meu positivo "index privado".
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domingo, 13 de maio de 2007

Afonso Costa - Seia, 6/3/1871 - Paris, 11/5/1937

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Morre no exílio, há 70 anos. A efeméride merece um comentário: este País tem, de facto, uma forma muito especial de (des)tratar os que pretendem modernizá-lo. E alguns conseguíram deixar as suas marcas. Outros, manifesta ou encobertamente contra aqueles, continuam a tentar tapar o sol com a peneira.
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sábado, 12 de maio de 2007

De Arouca a Castro Daire por Alvarenga, Noninha e Carvalhosa

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Montemuro, claro!

Só me resta agradecer a sugestão do trajecto!

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Uma joia de publicidade em verso... e de 1941!

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No semanário "Defesa de Arouca" de 11 de Outubro de 1941 a CASA DIVA, de Eiras, Burgo, Arouca, fazia assim anunciar, em verso, a sua múltipla e bem variada oferta! É só ler...

"Ei-la a casa ideal
Como não há outra igual
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Na "CASA DIVA", das Eiras,
Vendem-se pregos em ceiras,
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Carrinhos, socos, tamancos
E calçado para mancos,
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Algodão para coser,
Belo vinho p'ra beber,
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Agulhas, arroz e panos,
Aparos, azeite, abanos,
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Calçadeiras e cacau,
Travessas a dar c'um pau,
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Escovas, brochas e facas,
E para as botas atacas,
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Meias, colchetes, colheres,
Ligas, blusas pr'a mulheres,
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Canela, chá e canetas,
Pr'a vender com duas tretas,
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Há copos, lousas, canecas,
Também pentes p'ra carecas,
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Chouriço, corda, botões,
Açúcar e salpicões,
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Tachas, tachotes, dedais
Ferragens e cereais,
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Parafusos, fechaduras
Das melhores e mais duras,
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De nastro e seda à fita,
Lá vende fibra de pita,
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Lenços, livros e fivelas,
De sebo também há velas,
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Lixa, porroas, tijelas,
Pratos, penicos, panelas,
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Alguidares, assadeiras,
Para todas as sopeiras,
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Vasos, cântaras, cafeteiras,
Taças, bacias, banheiras,
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Tachos, sertãs e sabão
E tudo o mais que é bom.
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Também lá se vende pão
E café à discrição.
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Louças, massas e toalhas
E molas, papel e talhas,
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Pingue, pipas e pomada,
Tintas e mais trapalhada,
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Vassouras e passadores,
Tudo pr'os nossos amores,
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Também se vende rafia
Mas precisa: Não se fia.
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Se quereis economizar
Desta casa heis de gastar.
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A "CASA DIVA"
Eiras - Burgo"
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quinta-feira, 10 de maio de 2007

Para cinéfilos: "Woman in Red" na versão Sta. Iria

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100 comentários!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Lavradio do futuro ou futuro do Lavradio?

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Régua - Lamego

terça-feira, 8 de maio de 2007

O pombo esborrachado....

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Estrada vazia (via-rápida, Barreiro-Coina), às 14 horas de um 25 feriado. O pombo em voo, apanhado levemente pela antena do carro que ia à minha frente, cai tonto no asfalto. Aparentemente pouco ferido, levanta-se logo e começa a dirigir-se para a berma, seguro e decidido, nas suas patitas. Não arrasta nenhuma asa. Desvio-me dele sem problemas e, como vou relativamente devagar, passo a olhá-lo pelo retrovisor. Uns bons 50 metros (ou mais) atrás de mim, um carro castanho, 97-87-qualquer coisa, desvia-se da sua trajectória normal - e fá-lo propositadamente - para, já junto à berma, esborrachar o pombo com a roda da frente, do lado direito. Um casal de meia idade gargalha no carro, quando me ultrapassa, orgasmando-se com o sucesso da pontaria!
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Este episódio diz algo do que nas estradas temos! Povão de brandos costumes, o tanas!
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segunda-feira, 7 de maio de 2007

Horizontes penhascosos...

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Rio Douro

domingo, 6 de maio de 2007

Periféricos

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Deixem o TGV em Salamanca
Ou em casa do Sebastião José
E albardem a mula manca
P'ra prosseguirmos a pé!

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sábado, 5 de maio de 2007

Gatos

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Deng terá dito:


"Não importa que o gato seja preto ou cinzento. O que interessa é que cace o rato!"

Do ponto de vista do rato, a afirmação é de uma parcialidade inaudita. E, numa tentativa fraccionista, há que a levar aos gatos amarelos. Se nada se tem com isso a ganhar, também com isso nada se tem a perder. E pode ser que cole... ou que propositadamente se faça engano na escolha do bicho![1]
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[1] ... que o sonho secreto e recorrente do rato é mesmo o de ser olhado como amigo da onça!

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Citrinadas

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Para além da tangerina, há-os laranjas e há-os limões.
Mas citrinos, todos eles!

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quinta-feira, 3 de maio de 2007

Ciprestes (2/2)

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O passeio das freiras

(margem esquerda do Douro, entre o Pocinho e Barca de Alva; 29/4/2007)

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Ciprestes (1/2)

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Três irmãs

(margem esquerda do Douro, entre o Pocinho e Barca de Alva; 29/4/2007)

terça-feira, 1 de maio de 2007

1º de Maio

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Parece oportuno retomar aqui este excerto sobre o trabalho no Douro histórico, mas não muito longínquo, como exposto na Casa-Museu de Freixo de Numão:

"(...) O Doiro risonho e alegre que o senhor Meneses aguarelava como qualquer propagandista oficial, ocultava por debaixo do sorriso turístico um calvário de lágrimas e fome. A descrição colorida do palco de xisto escamoteava o martírio dos actores. O trato reles, as jornas miseráveis, a promisquidade eram explicadas de todas as maneiras: crises sucessivas, pragas terríveis, concorrências desleais e criminosas do sul, anos de colheitas más. Simplesmente, tudo isso não justificava uma escravidão de que não havia paralelo em todo o país. (...)"
Miguel Torga, in "Vindima"
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Maio

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Maias ou giestas...