quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A prorrogação do Acordo Ortográfico. Uma visão trans-atlãntica, num texto de Luís Carlos Amorim

Do escritor Luís Carlos Amorim, de Santa Catarina, Brasil, recebi, com autorização para publicar, um texto sobre o polémico e polemizado Acordo Ortográfico e que - sem me embrulhar na contenda que, rigorosamente, já chateia (nomeadamente a quem, como eu, já passou por vários acordos e outros tantos desacordos ortográficos e que nutra uma certa simpatia pela escrita rigorosamente fonética [1]) - me parece útil referir aqui. Por isso com os meus agradecimentos ao estimado correspondente do outro lado do Rio ou Avenida Atlântico, um pouco mais adiante quem caminha para o Sul,transcrevo o texto recebido, junto a sua fotografia e concluo com uma breve  biografia literária do Autor, que igualmente agradeço.

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 Transcrição:

A PRORROGAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO NO BRASIL
  Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – Http://luizcarlosamorim.blogspot.com
Quando vi a notícia de que a Presidente Dilma assinou o decreto 7875, de 27.12.12, alterando o decreto 6583, de 29.9.208, prorrogando para 2015 a obrigatoriedade da aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no Brasil, pensei que fosse mais uma arbitrariedade daquela senhora, como fez quando decretou que se escrevesse “presidenta”, quando nos referíssemos a ela, modificando toda uma gama de palavras que tomariam, muitas delas, uma forma ridícula.
Porque as modificações que o Acordo Ortográfico fez no português do Brasil foi quase superficial, embora algumas questões, como o hífen, causassem um tanto de confusão, com regras evasivas, incoerências, exceções, omissões e redundâncias. E ele foi implantado, quase todo mundo já se adaptou às mudanças. No caso de Portugal o caso é mais grave, pois o acordo vai modificar a maneira de falar, pois entre outras coisas, retira o “c” de palavras como “acto” e o “p” de palavras como “óptico”, que são muitas, diga-se de passagem. E o povo português não parece muito entusiasmado com as mudanças, conforme verifiquei quando estive lá, duas vezes. Os impressos – livros, jornais – não estão adotando a reforma.
Mas voltando à reforma no Brasil, estudando o caso a fundo, descobri que a coisa é ainda mais complicada. No acordo original, de 1990, consta que “Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências necessárias com vistas à elaboração, até 1º de janeiro de 1993, de um vocabulário comum da língua portuguesa.” Acontece que os anos foram passando, passou 93, começou o novo século e o tal “vocabulário comum da língua portuguesa” não foi estudado, aliás, nenhuma providência foi tomada nesse sentido.
Em 2008, sem nenhuma definição de como o “vocabulário comum da língua portuguesa” seria feito – e “comum” significa que todos os países envolvidos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, deveriam se reunir para chegar a um vocabulário que seria usado, pois em todos esses lugares onde a língua portuguesa é a língua oficial - outro decreto foi assinado no Brasil, o de número 6586, que dizia no seu artigo primeiro: “Nos termos do artigo 2º do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, os Ministérios da Educação, da Cultura e das Relações Exteriores e de entidades afins e dos países signatários do Acordo, adotarão as providências necessárias para a elaboração do vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa.”
E a verdade é que o vocabulário “comum” não foi providenciado até agora e o Brasil decidiu, em 2008, pelas alterações que estão sendo implantadas, com a previsão de se tornarem obrigatórias no final de 2013, ou melhor, no começo de 2014. Prazo que agora foi prorrogado para 2015. O que não vai ser suficiente, pois sem o vocabulário comum da língua portuguesa, não dá para implantar mudanças que possam unificar a língua em tantos países. As diferenças existem e a reforma, como está, pode até ser revogada, até que o vocabulário comum seja feito em colaboração entre todos os países que têm como língua oficial o português.
O que pode demorar muito, pois como disse Ubaldo, “ é uma tarefa impossível fazer com que todos falem o português da mesma maneira pelo mundo, com tantas diferenças que existem.” Palavras diferentes lá e cá, mesmas palavras com significados diferentes, palavras diferentes com mesmo significado – seriam muitas alterações sem contar nas diferenças de grafia, que implicam também em diferenças de pronúncias.
O fato é que a reforma ortográfica está mais para uma modificação no vocabulário português brasileiro. E mesmo assim, não seria a época para isso, uma vez que se pretende uma reforma ortográfica de âmbito geral, comum a todos os países envolvidos, ou seja: a temida unificação da língua portuguesa.
Na verdade, se prestarmos atenção o Brasil tem o seu “vocabulário ortográfico da língua portuguesa”. Perceberam que não consta o “comum”, que é o objetivo do Acordo?
                   
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Sobre o autor: 

Luiz Carlos Amorim é Coordenador do Grupo Literário A ILHA em SC, com 32 anos de atividades e editor das Edições A ILHA, que publicam as revistas Suplemento LIterário A ILHA e Mirandum (Confraria de Quintana), além de mais de 50 livros.
Foi eleito a Personalidade Literária de 2011 pela Academia Catarinense de Letras e Artes e ocupa a cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras.
Editor de conteúdo do portal PROSA, POESIA & CIA. e autor de 28 livros de crônicas, contos e poemas, três deles publicados no exterior. Colaborador de revistas e jornais no Brasil e exterior – tem trabalhos publicados na Índia, Rússia, Grécia, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Cuba, Argentina, Uruguai, Inglaterra, Espanha, Itália, Cabo Verde e outros, e obras traduzidas para o inglês, espanhol, bengalês, grego, russo, italiano -, além de colaborar com vários portais de informação e cultura na Internet, como Rio Total, Telescópio, Cronópios, Alla de Cuervo, Usina de Letras, etc. 

:Fim de transcrição
Data de mensagem 2013.01.09 

Outras referências:
 Blog Crônica do Dia, em Http://luizcarlosamorim.blogspot.com 
Portal PROSA, POESIA & CIA. do Grupo Literário A ILHA, em
Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br    


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[1] Há quem diga que não é possível - mas os Esperantistas sabem bem que é. Isto recorda-me uma longuíssima e brava discussão com o meu amigo Takeda (onde e como estará ele?), em que procurávamos demonstrar um ao outro as excelências das respetivas linguagens escritas. Lançava-me ele o significado incontornável que o kanji, o katakana e o hirakana imprimem à expressão japonesa; respondia eu com as vantagens do alfabeto, com a existência mas superação das homógrafas (a maior objeção por parte dos Japoneses), com  as possibilidades já demonstradas pelo "romanised Japanese" e as aproximações brilhantes e remotas que o katakana e o hirakana, como silabários que são, já demonstravam sécuos e séculos atrás. Como seria de esperar foi uma discussão estéril, mas acalorada e   interessante.Como seria de esperar...