terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Notas soltas por conta (1)

O ritmo da vida tem impedido que faça as publicações como deveriam ser. Anoto-as, registo-as, escrevo-as mesmo em pedacitos de papel. Acabo por não as colocar aqui. Vou mudar novamente o sistema - juntando-as todas em pacote e lançando-as de uma só vez. Não fica bem, eu sei, mas o que fica bem hoje?

Hungria e designações:
Sob a epígrafe "Divulgação: O regresso do autoritarismo" o Público de 8 de Janeiro analisa o que se passa na Hungria, num excelente artigo assinado por Luís Miguel Queirós. Dele retiro uma frase de Manuel Loff, aliás posta em destaque: "Omitir a designação de República é uma estratégia típica dos anos 30."  Observação certeira e oportuna quando a moda consiste no logotipo "Governo de Portugal", de bandeira enrolada e, para os que o usam em papel de escrita, em trazer a mesma desenrolada na lapela - modelo "States"...  ou "Sargentão".

A similitude ou dissimilitude das situações que se vivem faz com que alguns nos coloquem nos anos 30, outros em 1913 pre-Serajevo. Nenhuma destas hipóteses prima por  tranquilizadora, digamos mesmo.

Pontapés no cobre(cega-rega):
Temos minério de cobre no Alentejo.
Exportamos o minério.
Outros tiram o cobre do minério.
E vendem-nos o cobre...
Cobre em coisas e cobre para coisas fazer
Vem outros e roubam por aí  as coisas que têm cobre
Sucateiros há que juntam essas coisas
Para que se exportem pelo cobre que contêm
Outros irão tirar tal cobre das sucatas
E vendem-nos o cobre...
Cobre, recobre, o cobre que nos cobre
E que em qualquer passo alguém nos cobra
Ou já cobrou do cobre que tivemos.

Normais & Pobre's
Achei graça ao tom surpreso de um comentador económico da SIC Notícias ao glosar a notícia de nova e malévola rapaziada destes famigerados rateiros - para concluir finalmente, como também o Ilustre Professor, que se estava perante uma guerra acesa entre o Euro e o Dólar. Pessoalmente nunca tive ilusões, desde o início, de que era (e é) isso mesmo. E tanta gente andou para aí (e anda ainda) a vender o contributo socrático para tal crise como se fosse privativa do nosso lusitano espaço e dele partisse para contaminar um continente. De uma determinada corporação foram só 100 000 à rua por muito menos do que os mantém agora caladinhos na toca ou quase. Não se iludam: os "mercados" só se acalmarão quando a tal Europa deixar de apenas rosnar e decidir finalmente passar à acção se para isso se encontrar com pomos de oiro ou quando o Euro passar tristemente à História. E se for este o malfadado caminho, concluir-se-á então, sobre as cinzas de um sonho tornado inferno, que fizeram à Europa o mesmo que Júpiter lhe foi mitologicamente fazendo, disfarçado de touro - quando o monte Olimpo,  grego sem austeridades, era sobretudo reinadio. E aí até com eventuais aquiescências, ou nos termos das crónicas cor-de-rosa do hoje em dia, que até já ganharam espaço permanente no JN, com "muita cumplicidade".

Nomeações
"Nada de novo na frente ocidental" é um excelente livro de Erich Maria Remarques. O meu exemplar está marcado pelas moscas.

Terceira idade
Do "Diagnóstico Social da Cidade do Barreiro (2009)", disponível a partir do "saite" da Câmara Municipal, recolhi uma citação de Virgínia Woolf: "Há uma idade na vida em que os anos passam demasiadamente depressa e os dias são uma eternidade."  Que nunca o possas vir a sentir, longe que disso ainda  estás - pensei para comigo fazendo figas. Ambos os rins se manifestaram solidários - prometendo funcionar bem para tranquilidade conjunta.

Mais um livro sobre o momento do volfrâmio...

... e o curioso é que me recordo de, no lançamento (1946),  ver cheia dele a montra da Livraria Latina, onde estava o Senhor Alberto, amigo de meu Pai, livraria (e neste caso editora)  que ficava no início da rua de Santa Catarina, mesmo ao cimo da "31 de Janeiro" (então pudicamente retomada como "Santo António" pelo regime). Do Autor (1912 - 1966), um neo-realista natural de Monchique, conhecia já dois outros títulos sobre mineiros ("Mineiros" e "Histórias de Mineiros").

domingo, 8 de janeiro de 2012

A atração da marca

Imagem: cortesia ao Blogista, claro.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O fechar do ciclo de Natal 2011-2012



Creio que já disse por aqui que começávamos o ciclo de Natal na Casa Grande de Gaia, que já não existe, com a limpeza da chaminé, a vinda dos limpa-chaminés enfarruscados de "A Fuligem" raspando a conduta com ramos de carqueja logo após o dia de Todos os Santos e da deposição respeitosa dos crisântemos  naquela extensão da casa familiar que ficava (e está) no Repouso para os que tinham partido. Nas festas era muita gente junta, metiam-se as tábuas centrais na mesa que custava sempre a abrir, e quase todos os convivas de então também se foram. A árvore era enorme, a sala decorada, o presépio só recebia o Menino na noite de 24 para 25. A meio do corredor, junto ao vão das escadas, a salamandra soprava calor.  O encanto acabava nos Reis. No dia seguinte, que era o de hoje, os adornos de Natal voltavam às caixas de cartão que se fechavam na cómoda ou na arca que o Tio António mandara de Moçambique, o ritmo voltava, os dias já cresciam,   - nem se dava por isso - o frio soprava do Norte, chegava dias depois o "ele é nosso e não é do abade" das rusgas (os "da Rasa" e os "Mareantes do Rio Douro") que, em fatos e cabeleiras do sec. XVIII, traziam o S.Gonçalo , para nos lembrar com vigoroso zabumbar que estávamos já num novo ano, aberto a todas as esperanças possíveis - incluindo o desejo que a Paz voltasse ao mundo ou que se mantivesse. Os tempos mudaram.  Fecho hoje o meu Presépio na minha mesa, muito mais pequenino, entre computadores insonhados então. Não me custa fazê-lo só, no meio dos livros que durante uma vida fui acarretando. Passam por aqui memórias de palmeiras, de heras, de pessoas e momentos. A diáspora familiar recomeçou. O caminho já vai na geração dos bisnetos, plantei árvores - algumas tropicais, dei duas voltas ao Mundo para ver se o Julio Verne se tinha enganado e se o Philleas Fogg contara mesmo um dia a mais, escrevi mesmo um livro com saudades de uma terra em que não vivi mas que marcou o meu imaginário. Voltam sombras a uma Europa que parece sofrer de esquecimento. E eu pergunto-me: quantas vezes fecharei mais o presépio numa caixa muito mais pequenina? Ou não o vou fechar nunca mais, deixando-o ficar nesta mesa numa atitude de rebeldia serôdia,  até porque já que se ouviu dizer que o Natal pode ser quanto o Homem quiser? E, afinal, talvez seja assim - e que, entretanto, a austeridade com que os que mandam sempre nos foram espezinhando (e quanto possível espoliando), então como agora, se vá cozer.  No tempo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Do comércio, em dia de Reis

Ante-ontem a conversa geral era sobre supermercados, ontem começava a falar-se de lojas. E digam lá se a distribuição e o comércio a retalho não ocupam uma quota importante na actual preocupação dos media deste País? Lol!

Três conclusões:
a) atenção aos desvios de atenções em "tempos de crises" (ou "com papas e bolos - e não necessariamente alimentícios - se enganam os tolos e os que permanecem "adormecidos" até os virem buscar - Brecht dixit  e Omar Kayan também dixit);
b) atenção às raízes de intolerância e à tendência quase pandémica para a afectação de liberdades pela criação de "suspeitos" (e quando qualquer sociedade religiosa ou política ou mesmo de organização profissional  era, no seu início, uma "sociedade secreta", Cristanismo, sindicalismo, mesteres e até "sociedades anónimas" incluídos?);
c) (corolário da anterior) atenção aos "papões na História", sejam de que lado sejam!

Eu sou orgulhosamente sócio do Futebol Clube do Porto, leitor do "Jornal de Notícias, apreciador de "francesinhas" (na corrente do "criador" mestre Daniel Silva, cuja loja, na "Regaleira", rua do Bonjardim frequentei a desoras quando estudante), de tripas e de b'roa de Avintes, esperantista também, e já  declarei a primeira qualidade, quando Vereador da oposição (da oposição que continuo a ser), numa sessão de Câmara local, como ficou registado pela imprensa. Admiro mulheres bonitas, jovens e sobretudo interessantes, o que  - "interessante" - é já um conceito difuso e por vezes secreto. Fumei cachimbo e pertenci a uma associação inorgânica de fumadores de cachimbo locais, o "Piper's Club", que organizava torneios de duração. E bem mais coisas. Mas quando pelo telefone me perguntam quem é o meu fornecedor da TV por cabo eu digo: isso são elementos do foro relacional que não revelo. E quando me perguntam, com certos objectivos e em certos meios, qual é a minha Igreja eu estou sempre disposto a responder como, para provocar quem  o provocava, respondia  aquele estudante americano em ambiente religiosamente agressivo: "Gótica!" . Um caso pode ser um caso, em qualquer sociedade ou forma orgânica ou inorgânica de associação de interesses ou de preferências que sempre criam afinidades - mas nunca se ultrapassem os limites disso e se avance cegamente com "carimbos" fundamentalistas e com a intrusão cega nos direitos fundamentais (nem com a indulgência para deveres fundamentais), mantendo o tal "sal na comida" de que falava um conhecido bispo no sec. XIX. Todo o exagero é uma porta aberta para as perseguições que possam vir depois: não está historicamente longe o Arbeit macht Frei!

AVISO: O bloguista informa que nada tem a ver com pop-ups ou outros apêndices de carácter publicitário que surjam permanente ou transitoriamente no topo de página inicial do seu blogue ou em qualquer outra parte deste, actualmente em nome de "Let's qualquer coisa", "V. ganhou isto ou aquilo", "Clica aqui ou ali" ou outro qualquer teor similar de tipo expositivo ou competitivo. Tratam-se de "colagens" abusivas de que não teve qualquer aviso prévio, sobre cujo conteúdo visível ou invisível declina qualquer respomsabilidade, das quais não aufere qualquer lucro e/ou às quais não deu qualquer acordo ou  considera manifestar qualquer interesse. A "entrada" nesses jogos ou questões estranhas ao blogue e as respectivas consequências recaiem inteiramente sobre quem as use.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Lá vamos nós dar ao mesmo...


No JN de ontem, 4 de Janeiro, a  pag. 6, o Sudirector Jorge Fiel relatava discretamente em "Bússula" um "Almoço com Durão no Tivoli". Desse cuidado relato retiro, com a devida vénia, que o presidente da Comissão Europeia  "está optimista e crítico das Cassandras e do "intelectual glamour of pessimism","

Mas retiro algo mais de uma outra frase, com esta intimamente relacionada: "Atribui o pessimismo dominante ao controlo de 95% do mercado da informação pelos anglo-saxónicos  (que não são entusiastas do euro). O resto vai atrás, contagiado. Em termos de comunicação, a Alemanha vale cem vezes menos que o Finantial Times, Economist e Wall Street Journal juntos".

E acrescento eu: Ai! O incómodo Euro (ou o incómodo do Euro!) revisitado! As comichões que causa no "Empire"!!!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Efemérides e não só" ou "idade e múltiplos e 9"

Algures no ano passado, e que vai ainda por perto, durante uma conversa amena numa das salas da UTIB, alguém deixou cair esta simples informação "Olhem que eu hoje faço XY anos", para receber de minha parte a curiosa mas inesperada resposta de "Parabéns! E parabéns de quem, como eu, tem hoje YX anos.", sendo X e Y diferentes de zero e diferentes entre si.

Dias depois (é curioso como certos acontecimentos se repetem surpreendentemente quando anos a fio andaram arredados!), tomando um café com pessoa amiga, concluímos ambos que em 2012 as nossas idades trocariam de dígitos, ou seja, que um faria AB anos e o outro BA, sendo A e B diferentes de zero e diferentes entre si.

Achei que o tema tinha alguma piada... e concluí o seguinte (deixando a demonstração, que é muito simples, para quem a queira fazer):

1. Em pessoas com idades diferentes representadas por números de dois dígitos (i.e do tipo XY ou AB ou, o que é o mesmo se situem entre os 10 e os 99 anos) só são possíveis "trocas" de algarismos como as referidas, quando a diferença de idades fôr de N anos, sendo N um múltiplo de 9 (i.e. N = 9 x K, com K numero inteiro, entre 1 e 8).

2. Para qualquer outra diferença de idades, que não seja múltiplo de 9, nunca ocorrerá a "troca" dos dois dígitos.

3. O número de casos para cada N possível é de 9 - K (com K entre 1 e 8)

Casos possíveis: 

Para N = 9 ou seja K = 1: 12 e 21; 23 e 32; 34 e 43; 45 e 54; 56 e 65; 67 e 76; 78 e 87; 89 e 98 = 8 casos

Para N =18 ou seja K = 2: 13 e 31; 24 e 42; 35 e 53; 46 e 64; 57 e 75; 68 e 86; 79 e 97 = 7 casos

Para N =27 ou seja K = 3: 14 e 41; 25 e 52; 36 e 63; 47 e 74; 58 e 85; 69 e 96 = 6 casos

Para N =36 ou seja K = 4: 15 e 51; 26 e 62; 37 e 73; 48 e 84; 59 e 95 = 5 casos

Para N =45 ou seja K = 5: 16 e 61; 27 e 72; 38 e 83; 49 e 94 = 4 casos

Para N =54 ou seja K = 6: 17 e 71; 28 e 82; 39 e 93 = 3 casos

Para N =63 ou seja K = 7: 18 e 81; 29 e 92 = 2 casos

Para N =72 ou seja K = 8: 19 e 91 = 1 caso

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Quando o erro técnico é intencional...

... vai novamente cair-se na mentira, mesmo que política.

 Hyeronimus BOSCH, "O Prestidigitador" - ou "O que está fazendo o senhor de óculos, último à esquerda?"

E enquanto o País debate a constitucionalidade das medidas e, no doméstico Belém-da pétrea-mastaba, o lava-mãos de prata (ou de cobre, que é o que está na moda e no goto dos "pilhas" urbanos) antecipa-se  rapidamente 33 anos ao Menino do presépio, a real politik do paga-o-que-deves-e-nem-sabes-bem-a-quem  traz à baila a distorção de vários conceitos e o esquecimento de outros rigores.

Para já o valor da leitura constitucional. Li um recente texto em que o ilustre Provedor de Justiça põe com justeza alguns pontos nos ii enquanto outros pontos tentam por aqui colocá-los nos yy. Alguns desses pontos são por demais evidentes e escondem-se no exercício actualista do texto constitucional. Embora quando me debrucei crente e piedoso sobre  textos constitucionais me tivesse sentido profundamente afim da Constituição Jacobina, que deve ter sido uma das melhores constituições francesas porque logo que acabada foi encerrada numa urna de bronze e dela nada mais se disse quanto a efeitos, nunca deixei de admirar a simplicidade da constituição americana, por vezes retorcida pelos "amendments",  face a uma construção galicista, cheia de conteúdos doutrinários muito respeitáveis e de pormenorizações demasiadamente extensas que se podem virar contra os direitos que se supunham por elas defendidos e que trazem consigo, frequentemente, outros tantos alçapões para os que os queiram usar. E, por isso, o que estamos a ver pode chocar-me mas não me admira: "qualquer ferramenta pode servir de arma, só é preciso saber pegar-lhe" - e é exactamente isso o que estamos a assistir, com uma Constituição pragmatica e pontualmente como que suspensa sem que tal se diga. Vejamos ao que leva o movimento de invocação constitucional em curso. Dentro de gerações será um "caso histórico" que terá e trará nomes (e responsabilidades) associados. Mas, como dizia Keynes para poder desprezar uma segunda parcela, então estaremos por certo todos mortos. E no "salvemo-nos como pudermos" que nos é apresentado, sempre com o velho látego da austeridade que parece  derivar de mortificações pias (os Olimpos eram sem dúvida mais gozadões, "malgrès tout!"), encontrará o Poder e o Capital anónimo, este ávido, imoral e eficaz na sua desenfreada busca da especulação e crescimento,  todas as justitficações para espezinhar o mexilhão que é o que sempre sofre quando o mar bate na rocha. A conjugação é simples: deve-se = ele deve, ele tem (pouco que seja) = há pois que sacá-lo. 

Outra falácia corrente é o desmoronar evidente da consideração do imposto como uma relação contratual. Mais ou menos nesse tempo em que eu lia constituições sortidas e o livro do Professor Martinez - e ele sabia dessas coisas pois andara por lá na companhia do sempiterno "in dubio pro fisco" - ai de quem pusesse em causa essa interpretação. Havia então um senhor alemão - aliás insuspeito por algumas das  suas suspeitas relações -  que, em palavras breves, defendera que o imposto não passava de um esbulho - o que, na prática,  permitia antecipar no seu tempo a crítica ao "paye" (pay as you earn) como "anestesia" que evitava tirar do bolso o que no bolso tinha entrado e isso  porque, por dedução imediata, nem no bolso do "sujeito passivo" chegava a entrar. Cristalizada precisamente nessa expressão já de si clara de "sujeito passivo" que pressupõe o "toma, paga e não pies" (ou o "paga primeiro e pia depois!") era a chegada ao reino do "faz de conta" e sempre em prejuízo do bolso - mas, como se sabe aqui, nem sempre todos os bolsos são iguais. É que há bolsos e bolsos, senhores - como diria mestre Gil ou alguns pragmáticos analistas das  lisboetas  linhas 15 e 28. Mas ai de quem então adoptasse essa visão rapinante da relação tributária, contra a apregoada e aceite "relação contratual", que trazia uma unção honorífica à respeitabilidade do legislador fiscal. Está hoje a ver-se!!! Defendia-se na mencionada entrevista do Senhor Provedor da Justiça que um dos pilares da relação do cidadão com o Estado reside na palavra e no sentimento de confiança. Onde está hoje isso? Mas continuam a existir bolsos e bolsos: alguns tão alargados no fato europeu que se caseiam do abrir aqui ao fechar entre tulipas ou em "paraísos" em que a salvação, no limitado abrir de braços dos crucifixos jansenistas que por aí abundam, não é certamente para todos.

Finalmente -. e na construção clássica de uma sinfonia exige-se agora o terceiro andamento - a maleabilidade da qualificação técnica. Nas troikolentas obrigações que nos invadem depois das cornucópias da fortuna com com que os mesmos vieram corromper os outros mesmos (semear para colher, meus filhos, semear para colher - tudo é uma questão de tempo!) e que têm efeitos mais que duvidosos (cala-te boca, pois se vamos para a "teoria da conspiração", que inexoravelmente aponta para a nota verde pelas mais ínvias trajectórias e para uns "ignotos e anónimos mercados" que bem parece que só se "acalmarão" no triunfo daquela sobre outra perturbadora divisa, €' claro, não mais sairemos daqui e daí a bocado resvalaremos tanto para o Hardt & Negri discretamente já trazidos supra mas que surpreendentemente ninguém vem invocar agora - como para a obra mais lusitana e doméstica, e portanto valiosa, de Penim Redondo que valeria a pena reler, numa de antecipação à tal visão actualista que tem muito a ver com isto tudo), foram-nos impostas medidas no campo da receita e no campo da despesa. O pausado Senhor das Finanças procurou o denominador comum e, pelos vistos, conseguiu-o: nas receitas aumentar os impostos ou seja entrar nos tais bolsos, nas despesas fazer com que se reduza o que entre nos tais bolsos e ainda por cima de forma desigual e que levanta dúvidas constitucionais. É o "paye avant le paye", ou seja, é a gadanha da receita a atacar pela frente e a mesma gadanha recoberta  agora pelo véu da ficção e do devido não-pago (e porque assume que o não-pago não é devido) a atacar pelas costas. Ora o dito Senhor não pode passar indiferente à opinião de tantos fiscalistas, e de vários quadrantes, que por aqui já se pronunciaram: esta mobilização de vencimentos devidos é um IMPOSTO. E se é um IMPOSTO é algo que se insere na coluna da receita e não da despesa e inseri-lo na DESPESA é não só uma impostura como uma evidente e indesculpável falácia em termos de rigor. Espero que isto não passe despercebido ao Eurostat e à sua oportuna leitura das contas do Estado ou então, dos Prazeres à Rua da Alfândega e desta a Belém e de Belém aos burocratas de Bruxelas, todos estarão a fazer de conta e a prepararem-se para um valente "chumbo" em Finanças Públicas. Para além do debate constitucional aqui afanosamente em curso (já o deveria ter sido antes), esta verdadeira prestidigitação orçamental terá certamente de ser denunciada perto do Petit Sablon, se é que as rendas bruxelenses ainda servem para alguma coisa, a urofluxometria do Maneken pis ainda não revelou hipertrofia prostática e o lema (ou o drama) europeu, ultrapassando Comissão e Conselho, ainda não chegou ao "L'État mit uns".
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