segunda-feira, 30 de abril de 2007

Duas Santas Bárbaras: uma evidente e uma encoberta

.
Não poderia deixar de, nesta visita ao ALto Douro, tentar localizar representações de Santa Bárbara, sabendo como arreigado foi o seu culto no interior norte. Foi uma prospecção meramente casuística, nos locais de referência que se haviam seleccionado. No entanto foi produtiva!
.
A primeira imagem vista foi no mosteiro de Salzedas, em Tarouca. Evidente nos seus atributos, não dá lugar a qualquer dúvida:

.
Já mais controversa - e certamente justificando uma futura troca de correspondência - é a situação encontrada na igreja de Castelo Rodrigo e de que não colhi imagem por duas razões: a primeira é porque, sendo já dia avançado e algo cinzentão e dado ainda o aspecto escurecido da própria tábua, os melhores recursos da minha limitada máquina fotográfica não iriam levar a mais que uma mancha escura em que seria difícil discernir um qualquer objectivo; a segunda razão é porque um bem visível cartaz, logo à entrada da igreja, notificava da proibição de colher fotografias. Pois bem: logo à esquerda de quem entra na igreja há um altar que apresenta lateralmente quatro tábuas. Logo a tábua superior esquerda é anunciada como representando Santa Luzia, uma outra respeitável e milagreira mártir. Perguntando à cicerone porquê Santa Luzia, esta respondeu "porque lhe faltam os olhos". Mas, vistas bem as coisas, os olhos estão lá mesmo e o que falta é a apresentação destes num prato, ou sob qualquer outra forma "solta" que identifique o martírio por vazamento, como é comum atributo desta Santa. Mais ainda: ao fundo da tábua, num plano posterior à figura pintada, identifica-se e bem o postigo de uma torre, o que imediatamente dá uma identificação como Santa Bárbara e não como Santa Luzia. Matéria a debater com o Turismo local (e certamente o Abade). Veremos pois...
.

domingo, 29 de abril de 2007

O "cadavre exquis" adiado; sugestão do "déjeuner exquis"

.
I
.
Para a deslocação ao Alto-Douro eu tinha preparado uma proposta de "cadavre exquis", construção favorita dos surrealistas que alguns teimam em traduzir por "cadaver esquisito" mas a que eu preferiria chamar "cadáver requintado" [1]. O nome é tétrico, convenhamos, para um processo de grupo [1a] que de facto se mostra requintado e criativo e de que seriam de esperar resultados surpreendentemente ricos num grupo de 33 pessoas dos mais variados trajectos, como era o nosso. Mas nem o fiz sair da casca, ou seja, por me parecer não existir "mercado", nem fiz consulta do "querem ou não querem", nem distribuí sequer a proposta. A primeira razão foram os dois "derbies" futeboleiros, ontem e hoje - geradores de intranquilidade em dragões (estes com razão), panteras, águias e leões (estes dois também, aliviando a escamação dos preocupados anteriores). Outro compreensível causa foi a magnificência esmagadora da paisagem no ir-Rio-Douro-acima, da Régua a Barca de Alva, que implica uma admiração intensa - ainda que entrecortada de almoço - e que não deixa tempo para outros devaneios.
.
Douro, já a caminho de Barca de Alva (hoje, 2007.04.29)
.
Amanhã teremos o regresso e certamente o "Maria, donde vens? Venho da festa!" tão diferente do "Maria, para onde vais? Vou para a festa!", pelo que melhor será arrecadar o texto i.e. "meter a viola no saco", reservando-a para mais oportunas vivências de grupo.
.
II
.
Mas como seria pena perder o trabalho feito, a ideia aí vai, as regras também (e até oferecendo duas modalidades mais) e, para terminar, a descrição de uma alternativa criativa, aliás já experimentada.
.
O princípio: O princípio do "cadáver requintado" baseia-se na continuação estritamente pessoal de um trajecto colectivo em que cada um dos participantes, ignorando o exercício feito pelos intervenientes anteriores, recebe do que imediatamente o antecede apenas os elementos de ligação de entrada para poder construir em segredo o seu próprio exercício e, findo este, só entrega ao participante que se lhe segue os elementos de ligação de saída que resultam do seu próprio exercício. E assim sucessivamente... até que, no fim [2], se apresenta publicamente e com grande gáudio dos intervenientes o resultado global!Nada mais simples: poderão existir "cadavres exquis" em desenhos, em palavras e até em música! Dá-se seguidamente o exemplo de um "cadavre exquis" gráfico, obtido por colagem em 1928 e onde se encontram contributos atribuídos a André Breton, Max Morise, Pierre Naville, Benjamin Péret, Jacques Prévert e Jeannette e Yves Tanguy.
.
.
As regras do caso concreto que eu pretendia levar ao grupo: Trata-se da construção de um "cadáver requintado" por palavras (ou conceitos) com o maior grau de liberdade. Alternativas mais e menos livres são dadas nas notas finais [3 & 5] , mas talvez não seja mau de todo - para grupos não iniciados - começar pela que se segue que é de carácter mediano.
.
CADAVRE EXQUIS: REGRAS
.
Trata-se de cada um escrever anonima e secretamente uma frase motivada por uma palavra que o parceiro transmite sem conhecer as frases anteriores e prosseguir assim até ao último do grupo. O conjunto no fim é lido em voz alta e todos escutam! [4] .
.
COMO FAZER:

.
1. O parceiro do lado passa-te um papel enrolado ou dobrado onde estão as frases deixadas pelos parceiros anteriores (NÃO AS PODES LER!) e diz-se EM SEGREDO a PALAVRA que é a última da frase que ele escreveu (e que tu. é claro, NÃO LÊS!).

.

2.Fixando-te nessa palavra que recebes, passas a inventar uma FRASE que essa palavra de ligação te inspire. Não é necessário que nessa frase repitas a palavra [5] mas a tua frase deve POR QUALQUER FORMA inspirar-se nela: p.ex. se o teu parceiro te disse SAPATO, na tua frase a palavra SAPATO pode estar ou não presente [5] mas deve exprimir o que SAPATO te trouxe à ideia, seja FERRADURA, CHINELA, PÉ, PATO ou qualquer outra coisa que em forma de associação ou mesmo de oposição te brote expontaneamente dos neurónios em relação ao que te disseram. Gramaticamente a frase também é livre, bem como em extensão (embora não seja aceitável escrever longos testamentos pois que no máximo um alexandrino chega) [5a]. Entendido?

.
3.Escreves então a tua frase em segredo e em segredo a deixas até à leitura final, enrolas ou dobras o papel para que ninguém ta leia e passas ao teu vizinho a seguir a quem anuncias também em segredo qual foi a última palavra da tua frase.
4. Ele fará o mesmo e assim sucessivamente até se completar a volta (ou as voltas) e todos escreverem frases. Segue-se a leitura! O resultado final é frequentemente hilariante e, por vezes, surpreendente. Esperemos que sim, também neste caso!".

III

Uma versão muito cómica e embaraçadora deste processo criativo, noutros cenários, é o "déjeuner exquis" "almoço estranho" (aí já não lhe chamarei requintado pois esta acepção, num almoço, liga-se mais à qualidade das coisas como se anuncia no programa do que amanhã nos espera e já nos faz salivar!). Há que também avisar o local onde se realiza para não serem os convivas escorraçados por doidos varridos à medida que o processo se desenvolve. Para um almoço com aperitivo, sopa, dois pratos (carne e peixe, mesmo que já se não use!), sobremesa (doce e fruta) e café faz-se assim: cada conviva, em "papelinhos" A7 de papel de uma côr que escolhe (e a que chamaremos os "votos") escreve exactamente as palavras "aperitivo", "sopa", "carne", "peixe", "doce", "fruta" e "café" [6] e enrola os papelinhos cuidadosamente, por forma a que se não veja o escrito, e coloca-os num vaso aberto que permita visualizar a cor. Mistura-se tudo bem. Para iniciar o almoço, faz-se a primeira tiragem de votos e cada um come o que lhe sair: A pode iniciar com a sopa, B com a fruta, C com o café, etc. etc. Segue-se a segunda votação e assim sucessivamente até ao fim do almoço.
.
Se num grupo de amigos o jogo já é pândego, em "tête à tête" amoroso ou quase e em simulacro de "cabinet particulier" (coisa que também já não existe, mas que teve a sua época!) o processo, mesmo que se mantendo prandial, pode permitir outros toques de criatividade, claro.

O "Déjeuner sur l'herbe" de Claude Monet [7]
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
[1] O assunto merece ser tratado seriamente! Veja-se
ou, para os não francófonos,
onde se poderão construir "cadavres exquis" assaz divertidos em colaboração internacional segundo as regras referidas em [5a]. Aliás o nome do processo nasce em 1925 da primeira frase obtida deste modo: "Le cadavre exquis boira le vin nouveau" (o cadáver requintado beberá o vinho novo).
[1a] A designação de "jogo surrealista" ou de "um dos jogos dos surrealistas" (porque há mais) é relativamente comum; já a designação de "jogo de salão" levará qualquer surrealista a torcer o nariz.
[2] Este aviso prévio é útil para evitar que qualquer dos participantes possa enveredar por contribuições javardas em ambientes em que esse "grau de liberdade" (que certamente muitos surrealistas genuinos reclamariam) possa parecer deslocado. É uma cedência aos costumes, uma restrição à liberdade do processo, mas é prudente o aviso!
[2a] Cortesia a
[3]Já se deixou expressa a liberdade que pode existir neste processo. Uma modalidade mais livre será transmitir conceitos em vez de palavras, mesmo que as palavras que traduzam esses conceitos possam (mas não necessariamente) ser prescindidas. Dir-se-á assim ao parceiro a quem se passa: "guerra" para significar o conceito usado no verso que se criou foi esse, mesmo que a palavra "guerra" possa lá figurar ou não (ou, em alternativa, que é mesmo obrigatório que a palavra lá esteja, desde que isso se tenha convencionado).
[4] Um bom "cadavre exquis" começa a ser obtido à volta de 10-15 pessoas. Pode fazer-se com menos (ver nota [5a]) e pode obter-se o número desejado de frases, ou "versos" dando várias voltas à mesa. Aqui, também, é uma questão de escolha.

[5] Uma modalidade mais rígida obriga o parceiro a voltar a usar a palavra que lhe é transmitida embora a palavra que passa ao seguinte possa já ser diferente. Há, de facto, multiplas variantes - mas as regras devem sempre ser combinadas antes para não dar "salada".

[5a] Pode também acordar-se que cada frase tenha a extensão silábica de um dado verso, criando homogeneidade métrica na composição. A fonte de referência mencionada em [1a] descreve da seguinte forma o processo de génese do primeiro "cadavre exquis" histórico:
"Cinco parceiros à volta de uma mesa. Cada um escreve, em segredo e até dissimulando a escrita, um substantivo que deverá ser o sujeito de uma frase. Passa-se essa folha dobrada ao vizinho da direita e recebe-se a folha dobrada do vizinho da esquerda, que a elaborou da mesma forma. Passa-se então ao adjectivo: cada um, na folha que tem à sua frente e sem saber o substantivo que lá está, escreve um adjectivo à sua inteira vontade. Tudo em segredo, claro. Nova passagem de folha dobrada, entre parceiros. Vem então o verbo, que deverá ser transitivo, para que, após nova passagem, se escreva outro substantivo (o complemento directo do meu tempo...) e, após a passagem final, o adjectivo que qualificará esse substantivo. Segue-se a leitura das cinco frases obtidas!".
[6] Claro que se pode também usar em refeições mais aligeiradas. P.ex. fazer este jogo num "MacDonalds" oferece uma sequência incrivelmente restrita. Mas tudo é possível!
[7] Para quem esperava a homónima obra de Manet (ou de Picasso apud Manet), bastante mais picante (o que tem algum valor na altura em que até a pastilha elástica - seguindo o chocolate - adopta o piri-piri) fica para a próxima! Ciao, por agora!
.

sábado, 28 de abril de 2007

Visita ao Alto Douro dos antigos alunos do LAH sediados em Lisboa

.
Para mais detalhes ver www.lah-1954.blogspot.com. De qualquer forma aí vai a Torre da Ucanha para adiantar conversa...
.

... e, também de qualquer forma, não pagamos portagem para atravessar esta ponte!
.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Recordando Guernica / Gernika gogoratuz

.
Pablo Picasso
A 70 anos e 1 dia da infâmia
E uma obra de arte para a recordar
.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Chico Buarque, em 1975: Tanto mar!


Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo pra mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
Era então 1975, mesmo para Sua Soturnidade! Por isso esta é uma primeira versão - certamente a melhor de todas!
.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

2007.04.25

.

de radio.zinzine.free.fr/emission/html


.

terça-feira, 24 de abril de 2007

S. Jorge da Beira (2) & Mina e poesia (5)

.
Como um breve apontamento da visita ao Museu, atrás referida, transcrevo um poema que lá se encontra, de louvor à terra natal e de exaltação dos seus valores religiosos, da autoria de Maria Albertina Amélia. Pela natureza de "terra mineira" que S.Jorge da Beira tem, e apesar dos diversos aspectos exteriores à mina, justifica-se a colocação no inventário "Mina e Poesia" deste "blog":

"S. JORGE DA BEIRA - TERRA DE FÉ E HOSPITALEIRA

I
A Freguesia de S. Jorge da Beira
É grande nas dimensões
Tem o Vale, tem a Cerdeira
As Minas da Panasqueira
E também tem os Cambões.

II
S. Jorge tem uma linda Igreja
Onde os fiéis vão rezar
Pedindo a Deus que os proteja
Em qualquer lugar que esteja
Mesmo longe a trabalhar.

III
Nossa Senhora das Dores
Padroeira dos Mineiros
De honrados trabalhadores
Homens de grandes valores
Esses leais companheiros.

IV
O Sagrado Coração de Jesus
Está defronte a abençoar
Este povo cheio de luz
Que abraça a Sua Cruz
Pondo em Deus o seu olhar.

V
Na sua linda capela
Que rico tesouro tem
Tem a imagem linda e bela
E que por nós todos vela
Que é a Nossa Virgem Mãe

VI
Tem uma casa museu
Com belas antiguidades
Aonde mostra o que há de seu
E muito valor lhe deu
Altas individualidades

VII
Tem um Lar para os mais crescidos
Para os que têm mais idade
Aonde estão bem protegidos
E muito bem dirigidos
Com carinho e amizade.

VIII
Mesmo à beira da ribeira
Dá prazer ao nosso olhar
Ver um campo de primeira
Que orgulha S.Jorge da Beira
Feito para os jovens jogar

IX
E lá no alto do monte
Um cruzeiro a indicar
Outro concelho defronte
Boa água em bela fonte
Para a sede saciar

X
Tenho por S.Jorge da Beira
Um carinho especial
É uma terra mineira
Gente boa e hospitaleira
Como não há outra igual

XI
S. Jorge é o padroeiro
Desta nobre freguesia
É um santo pioneiro
Que mostrou ao mundo inteiro
Toda a sua valentia

Maria Albertina Amélia"
.

Abrenúncio !

O Darth Vader ou o Sarcoma de Kaposi,
o diabo que escolha!
.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

S.Jorge da Beira (1)

.

S.Jorge da Beira, ainda que necessariamente visto "à vol d'oiseau", mostrou-se uma terra cheia de surpresas. Não foi necessariamente a rua central em obras que nos deu um acesso inicial fácil, mas depressa nos convencemos que só encontraríamos vantagens em, mesmo assim "escalacrada", encetarmos a sua subida. Refiro-me, essencialmente, ao museu local que se situa no edifício que a seguir se mostra:


e que é um prodígio de iniciativa e um verdadeiro exemplo do que se pode fazer. Quem sobre a rua, uma pequena placa em madeira na esquina do edifício de xisto assinala-o de forma suficiente:


e, como se não bastasse, uma outra placa também em madeira, mas esta colocada por cima da porta de acesso, confirma o objectivo da visita.

Quanto a esta, convém revelar a iniciativa e o segredo: de toda a casa, oficina, estabelecimento que se actualizou ou por qualquer forma enfrentou mudança nesta terra mineira, o projecto- museu herdou os possíveis "monos". Herdou, guardou-os, seleccionou-os e tratou-os com carinho temático, rotulando-os e colocando-os nas situações em que haviam feito seu mester. O que de outra forma seria desvalorizado lixo ou ferro-velho tornou-se assim lembrança e objecto de memória. Existem as oficinas de ofícios que já não existem, com todo o seu ferramental, existem os recantos de vida tal como era vivida, existe a mensagem forte do "quarto da viúva", aliás uma viúva-manequim jovem e bonita, para lembrar as viúvas que naquela terra existiram por mor da fatalidade rápida que era o acidente ou da fatalidade lenta, consumptória, que era a silicose e que acabava por conduzir ao mesmo. Anotei o facto, para memória futura - e certamente a ele voltarei, porque há mais que dizer. Mas o legado de uma povoação mineira, com homens habituados ao trabalho das "frentes", está ali bem patente para que o vejam. No quadro, nem as representações dos governantes do antigamente, tal como muitos de nós os vimos, destoam do conjunto. Morreram também, como muitos daqueles objectos. Marcaram o seu tempo... e disse: não passam também de meros objectos [1]. Eis pois um museu a ver. Que marca bem o seu e o nosso tempo.
.
Uma outra surpresa de S.Jorge da Beira reside no seu extraordinário poder de comunicação. Urbi et orbi, como na benção do Papa. Ao subirmos a dita rua em obras e quase em frente à porta do Museu encontramos uma outra porta, que é a seguinte:

Tínhamos de espreitar e espreitamos... e o que vimos sugeriu-nos diversos postos (não apenas um posto) aparentemente bem equipado e colocados ao serviço da comunidade. Posteriormente constatamos que a actividade ciber é viva e intensamente vivida.Basta ir ao portal: http://cebola.net (Cebola recordando o antigo nome da terra) para o verificar. Encontrar-se-á lá, igualmente, o jornal "O Mineiro" digital, já no nº 23, garantindo assim a ligação de S.Jorge ao mundo.
.
Recordar esta visita no dia da festa de S.Jorge (23/4) é de facto oportuno. Mas não nos fiemos muito na coincidência das festas dos santos com a posição dos mesmos no calendário litúrgico: se S. Jorge está correcto, já o mesmo se não dirá quanto à Santa Bárbara, festejada aqui (S.Jorge da Beira), segundo me dizem, no 1º domingo de Julho - data suficientemente afastada do 4 de Dezembro que em rigor lhe cabe. Este desfasamento tinha-o eu já encontrado em Trás-os-Montes, aliás explicado de uma forma pragmática: o 4 de Dezembro atira a Santa para a quadra do Natal e o frio e, sobretudo, fora das orações e desvelos dos emigrantes e forasteiros que querem festejar "a sua santa" quando vêm à "sua terra" em tempo de férias. Daí a vasta migração, em termos de calendário. E que em S.Jorge toma um outro aspecto: ao fazer-se a "Festa dos Mineiros" no 3º domingo de Julho a santa fica mais perto dos que apadroa, em termos de celebrações. E estas, as celebrações, tornar-se-ão assim mais continuadas. Serão estas as razões também aqui? Anoto, para memória futura.
.
Deixo para amanhã um outro apontamento (aliás apontamento-transcrição) ...
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
[1] Sobre este assunto, que recentemente adquiriu foros que nem merecer merece, mais uma vez me louvo numa esclarecida opinião de Manuel António Pina expressa no JN num destes muito próximos dias e que, em síntese e em palavras minhas, se pode ler como: "gastar cera com ruins defuntos é dar-lhes combustíveis que não merecem". E é que de facto continuarão defuntos! Nem o D.Sebastião a isso escapou...

domingo, 22 de abril de 2007

Mina e Poesia (4): Panasqueira

.
As minas de volfrâmio e estanho da Panasqueira são, sem dúvida, um dos nomes firmemente gravados na história mineira deste País. Situadas na serra do Açor, abrangendo os concelhos do Fundão e da Covilhã, adquiriram através do "Minas de S.Francisco", de Fernando Namora, uma representação importante na literatura portuguesa e, através da sua produção e das gentes que o garantiram e que fizeram crescer povoações mineiras numa zona duramente serrana, uma referência a nível mundial. É previsível que, nesse ambiente mineiro rodeado de montanhas , se pudessem recolher diversos exemplos de poesia ligada à mina.

Numa simples passagem para participar num encontro motivado pelo interesse da preservação do património mineiro, não poderia certamente haver tempo, oportunidade ou pretensão de ir muito longe neste campo. Mas, aqui, a amostragem resultou expontânea, confirmando as expectativas e dando uma ideia da possibilidade de reservas fecundas. Pois é no restaurante "O Gasómetro" (onde o pessoal do Encontro - diga-se que já sadiamente esfomeado - encontrou uma "sopa substancial" e logo a seguir um surpreendente "bacalhau com brôa", este com o toque original de se apresentar sobre um inesperado substracto de feijão que não ia nada mal) que afixada está uma das prenunciadas mostras dessa importante expressão de uma cultura mineira.

Reproduzimo-la seguidamente, procurando manter a sua forma e conteúdo, cuidando de obedecer à grafia original e só não a pondo a duas colunas e formatada, como o texto dactilografado e encaixilhado apresentava, porque ainda não o sei fazer em "blog". Este poema, na sua expontaneidade, identifica bem os cargos, funções e equipamentos da mina. Tem, assim, muito que se lhe diga e necessita pois de ser explicado - mas entendo que, para obstar ao remorso da perda a que o "amanhã melhor se fará" frequentemente conduz, é momento de o transcrever já, aqui e agora tal como encontrado, deixando para um "oportunamente depois" ou a um "oportunamente quem" esse desenvolvimento. Regista-se a ocorrência achada, a interpretação do recurso virá naturalmente mais tarde!

"A VIDA DA MINA
(Escrita pelo Mineiro "JOSÉ TIAGO VAZ")

Logo às sete horas
Pega o mineiro ao trabalho
Cumprindo oito horas
Sempre a encher cascalho.

Quando chega entrega o cartão
E diz, pronto aqui estou
Diga-me, senhor Vigilante
Para que passagem eu vou.

Assim que chega ao corte
Começa a trabalhar com afinco
Depois vem o Vigilante e diz:
Isto aqui tem que ficar limpo.

Assim se passa o dia
Eo Mineiro cansado
Sai às quatro do serviço
Todo sujo e bem suado.

Agora vamos ao Marteleiro
Esse pobre desgraçado
Que passa o relevo inteiro
Ao martelo agarrado.

Assim passa a vida
Com labuta e sorte
Porque anda a trabalhar
Sempre defronte da morte.

Já que falamos nêstes
Vamos também ao Ajudante
Que passa o relêvo inteiro
Num trabalho constante.

Assim que chega ao corte
Ó rapaz vai buscar o tralho
Que vão sendo horas
De começarmos o trabalho.

Pega no martelo e na moleta
No coelho e na mangueira
Se não pode contudo às costas
Tem de o levar de qualquer maneira

Durante todo o relêvo
Muito terreno trilha
Passando horas e horas
Agarrado à forquilha.

Agora vamos ao Pincho
Que labuta com cansaço
Durante todo o dia
Farta-se de acartar o aço.

Primeiro diz-lhe o Vigilante
Ó rapaz mexe as botas
Que eu em pouco tempo
Quero aqui um molho de brocas.

E hei-lo logo a correr
Com todo o desembaraço
Assim que chega ao depósito
Agarra-se logo ao aço.

Mas se se demora
E não vem mais depressa
Leva logo com o pico
E ainda mais do que essa.

Agora o Escombrador
Que já me estava a esquecer
Aonde ninguém quer ir
Tem ele de se meter.

Também o Entivador
Tem a sua canseira
Que passa todos os dias
Aparelhando e metendo madeira.

Também o seu Ajudante
Não tem dos serviços mais maus
Mas também ainda se cansa
Só a acarretar paus.

Cá temos, os Fachinas
Como há poucas igualdades
Em cima de andar ao cascalho
Têm as suas responsabilidades.

Têm de conferir os cartões
Ir à água, medir o avanço
E se têm algum êrro
Ouvem logo o raspanso.

E têm de fazer as fôlhas
Mas há-de ser com bons modos
Porque em cima disto tudo
São uns criados de todos.

Aí vai o Vigilante
Com o piquito na mão
Andando sempre a vigiar
Que é a sua obrigação.

Agora, vamos ao Carregador
Que é o pior serviço de todo
Basta andar sempre lidando
Com o terrível e maldito fôgo.

Aí vem os Capatazes
A caminho na geral
Para irem de corte em corte
A ver se o serviço vai bem ou mal.

Aí vem os Snrs. Engenheiros
Com o aparelho na mão
Para verificarem o trabalho
Se tudo corre bem ou não.

Também os da Topografia
Têm as suas medições
Que é para ao fim do mês
Nos darem alguns tostões.

também os da Aponmtadoria
Têm os seus entretimentos
Passando todos os dias
Só a fazer apontamentos.

Também os da limpeza
Passam a vida a varrer
Quer esteja a fazer sol
Ou quer esteja a chover.

De tudo o que aqui falo
É uma verdade pura
Andamos todos trabalhando
Na própria sepultura.

(PUBLICADA NO JORNAL "O MINEIRO" EM JANEIRO DE 1948)"
.


sábado, 21 de abril de 2007

Escombreiras

.
(Minas da Panasqueira; 20-21/4/2007)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Wenzel von Olmütz (activo de 1481-1497)

Voltamos a encontrar "Os namorados", agora numa cópia atribuída a este "peintre-graveur" de raiz alemã, mas que trabalhou na Boémia e Morávia [1], "sobre" original do Mestre do Livro da Casa (ver postagem de 12/10/2006). Muito pouco se encontra sobre ele, essencialmente qualificado como gravador (em chapa de cobre) e ourives. Algumas fontes atribuem-lhe a introdução da técnica de gravação química, usando ácido nítrico diluído (e daí a designação de "água-forte"), mas parece que esta era já usada por artistas anteriores [2].
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
[1]Olomüt (actualmente grafado como Olomouc) é um local histórico numa zona historicamente conturbada (Morávia, República Checa)
[2] ver p.ex. http://www.polymetaal.nl/beguin/mape/etching.htm
.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Hans Leonard Schaufelein (1480-1540)

Retesando o arco (1510)

Pintor (essencialmente da temática religiosa) e gravador alemão, activo na zona de Nuremberg. Ilustrou vários livros.
.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Alfarrobeira...


No domingo procurei Alfarrobeira, ou seja, o lugar exacto da batalha. À beira de uma ribeira, diziam os cronistas. Como contavam do assassínio de Pedro, o proto-europeu, a coberto das leis da guerra que não declarara (três dias e três noites lhe deixaram o cadáver insepulto no terreno, como se faziam aos vencidos), após um caso insidioso de assassínio político promovido pelos senhores da terra que enredavam nas suas influências o jovem sobrinho-genro-monarca e ditavam um processo retrógrado de poder a que só D.João II, e à naifada, viria mais tarde a pôr temporário cobro.
.
E assim lembrando-me do significado de Alfarrobeira subi dos Salgados da Póvoa para as ruinas quase completas dos fortes "Quintela Grande" e "Rua Nova", que deram nome ao Forte da Casa e são vestígios da paragem forçada imposta à III - a do Massena - hoje repartidos entre a EPAL, o Ministério da Defesa (ME dizem os marcos em torno dos bastiões destruídos) e o mundo do betão e estuque que também vai já por ali acima, e desci a serra do outro lado, do lado Norte, voltado já para a A1. De acordo com informações esparsas correria ali a tal ribeira... que viria descarregar no vale da Verdelha.

No local que terá sido da batalha, a cervejeira permanecia indiferente e activa: o primeiro domingo de calor trazia consigo promessas de acrescido consumo. Regressando pelo mesmo caminho (recusando, por menor esforço, regressar junto da mãe-de-água que fica a nascente, a dominar a ribeira, e recorda um pequeno templo clássico), prometi a mim mesmo voltar ao local para verificar quanto uma simples lápide ou um qualquer sinal poderia ser útil para recordar o que naquele chão se passou. Mas - concluí - não deixa de ser irónico que ali se produza a cerveja "Sagres", uma implícita homenagem a um Infante que tão importante foi mas que mal (e tão dubiamente) se comportou na contenda entre o irmão e o sobrinho - provocada no fundo pelos nobres ciosos de poder e de conseguir engrenar uma marcha atrás em toda a tentativa de progresso.
.
Um dos problemas graves deste País é que na caixa-de-mudanças política a marcha-atrás fez-se sempre sentir mais cedo e mais intensamente do que seria prudente e razoável. E deixa cá ficar um tal cheiro a ferodo...

O "Prelúdio" em 1973 e 1974 - 2/2

.

Data de Março de 1974. Inaugurara uma capa nova. Dentro, página 9 entre muita coisa nas outras páginas, os "Estatutos do Homem", de Thiago de Melo, com data de Abril de 1964 e local : Santiago do Chile. Em Abril de 1964 ainda não chovera em Santiago. Recordo o poema, então tão conhecido, hoje mais esquecido - mas sempre belo e sempre ensinador:

Os Estatutos do Homem (Acto Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony



Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Thiago de Melo
Santiago do Chile, abril de 1964

- - - « « « «» » » » - - -
NOTAS:
1) Ao colega "alexandrino" Taveira de Sousa volto a agradecer o ter-me facultado este último número do "Prelúdio", que foi o jornal
dos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, no Porto)
2) Relativamente ao poema original, a presente versão, que foi retirada do "Jornal de Poesia" do Autor, tem pequenas divergências, que podem (salvo uma: o "caminharemos" do texto do Prelúdio por "marcharemos" no texto original, no 4º verso) ser levadas a título de gralhas.
.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

O "Prelúdio" em 1973 e 1974 - 1/2

Nota prévia: este primeiro de dois artigos corresponde a uma postagem tirada de um "blog" da "malta" do LAH (Liceu de Alexandre Herculano, do Porto) que se encontra em http://www.lah-1954.blogspot.com


Como foi referido na postagem de 25 de Janeiro [do mencionado blog do LAH], o colega Paulo Taveira de Sousa deu-me notícia da edição de dois números do "Prelúdio", um em Dezembro de 1973 e outro já em 1974 - e amavelmente facultou-me uma cópia do número de 1973, ficando o de 1974 (de que tem igualmente exemplar, mas não em Lisboa) para posterior obtenção. Bem haja por isso! Do número de Dezembro de 1973, de que se reproduz a capa, dá-se seguidamente a ficha técnica e o "índice", ficando à disposição para mais informações:

Ficha técnica: "Prelúdio - 47" - Dezembro 1973 - Professor orientador: P.e Alexandrino Brochado - Director : Joaquim Paulo Taveira de Sousa - Administradores: José Manuel Amaro Meneses e Rodrigo Martins Pinto de Azevedo - Direcção artística: Jorge Nuno de Araújo Ribeirinho Soares e Manuel António Braga de F. Moutinho - Redactores: António Acácio Pires Ferreira, António A. Sanchez Ferreira da Silva, António Jorge Cardoso Pereira, Clemente José R. C. Pinto, Eudardo Jorge dos Santos Carvalho, Francisco Coelho, Joaquim Paulo N. L. Castro, José Eduardo Brochado do L. Lobo e José Manuel Coelho P. França - Comp. e impresso na Tip. do Colégio dos Órfãos - Porto.

Sumário: Pag 1: ver reprodução o início desta postagem / Pag. 2: (Ficha técnica); Editorial (assinado pela Direcação): Há vinte anos / Pag. 3 e 4: Entrevistas (assinado Paulo Castro) / Pag. 5: Cinema "A discreta tesoura do censor", por Artur Villares / Pag. 6: "O Funeral, ou Um Pesadelo Transformado em Conto", por Rodrigo Martins Pinto de Azevedo / Pag. 7: "O Draaagão Industrial", por José Meneses / Pag. 8: "Mayall's Blue", por M.A.M. / Pag, 9 e 10: "Diz Carlos Gaspar ...", assinado M.A.M. e J.M. e ainda, na Pag. 10, "Notícias do Nosso Liceu: Centro de Juventude" / Pag. 11: "Aqui Se Fala de Teatro", concluindo na Pag. 20, assinado António Jorge Cardoso Pereira / Pag. 12 e 13: "Poesia: Ontem" (composições de José Miguel Leal da Silva e Fernando A. Gonçalves Ribeiro) e "Hoje" (de Rodrigues Raimundo e José Meneses) / Pag. 14: "A Novelística de Ferreira de Castro... e o Prémio Nobel", a concluir na pag. 16, por Rui Amorim e José Marques / Pag. 15: "Morto de Nascença com as Calças na Mão", concl. na pag. 20, de Artur Villares / Pag. 16: além da conclusão assinalada, a poesia "Marta", de Rodrigues Raimundo / Pag. 17: "Homens em Foco", de Joaquim Paulo Taveira de Sousa / Pag. 18: "Automobilismo: Campeonato Mundial de Marcas", por M.A.M. e J.M. / Pag. 19: "Dover e o Basquet", a concluir na pag. 20, assinado por Eduardo Carvalho, Sanchez Silva e António Acácio / Pag. 20: conclusão de 3 artigos / Pag. 21: sob o título geral "Pinceladas", dos apontamentos: "Mixordeiro-viajante" e "Aversão ao Interior dos Templos" / Pag. 22 e 23: "Humor", por Francisco Coelho / Pag. 24: Publicidade (Banco Pinto de Magalhães).

Publicidade: Conseguiram os nossos colegas da época obter publicidade, o que fica bem aos publicitadores e publicitados. Estes aí vão: Pag. 4: Camisaria Janota (fim de coluna = 1/4), Relojoaria e Ourivesaria "Heroísmo" (idem); Pag. 6: Livraria Investigação, Lda (idem); Pag. 7: Café - restaurante "Solar da Beira" (idem) e Bilhares e Desportos "Progredior" (1/2 coluna); Pags. 8 e 9: Philips, dois fins de página); Pag. 11: Casa "Arautos", Confecções (1/3 de coluna) e Victor Simarro, selos para clecções (fim de coluna); Pag. 15: José da Costa Andrade & Filho, calçado de borracha e borracha (1/2 página); Pag. 16: Confeitaria do Bonfim (1/4 coluna), S. Cristovão - cinto de segurança, de Passamanarias Monte-Meão, Lda. (1/3 coluna), "Sim e Não e Muita Cosa", novidade literária, de Alexandrino Brochado (fim de coluna); Pag. 17: Centro de Ténis (fim de coluna); Pag. 18: "Sopeles" (1/3 de coluna); Pag. 19: Estabelecimentos "Melodia" (fim de coluna) e Confecções "Gentleman" (idem); Pag. 21: Gamobar, S.A.R.L. (representantes Peugeot): 1/2 página; Pag.22: Foro Eléctrica (fim de coluna); Pag. 24: Banco Pinto de Magalhães (página inteira).

Concluindo (por agora): Na posse desta preciosa informação e das correspondentes cópias em A4, e pensando que obteremos proximamente o número seguinte, de 1974, faltar-nos-ão apenas os números intermédios i.e. do período do José Pacheco Pereira & outros para termos a colecção completa do "Prelúdio" sob forma digitalizável. Apela-se para a obtenção destes exemplares em falta!

ZM

domingo, 15 de abril de 2007

Tenho de ir á Ilha do Pico...


.
Naquele almoço em que falamos do Kurt, falamos também de diversas outras coisas. O transsiberiano, a descida do Danúbio, a história da Hungria, a música cigana, o queijo de S.Jorge, se possível com 4 meses de cura, e, inevitavelmente o "Lajido". Tudo, ou quase tudo, já tratado neste blog, veja-se bem como me estou a tornar repetitivo.
.
Quanto ao "Lajido", temos conversado! O gerente de um super-mercado na Vila Chã trouxe-o em tempos para o Barreiro - mas eu tive a inegoísta tentação de o recomendar a uns amigos selectos, que me retribuíram a amável referência removendo das prateleiras tudo o que ainda havia, incluindo uma meia dúzia de garrafas de "Terra de Lava" que, tirando a origem, nada tinham a ver com a história. Dou-lhes inteira razão, já que o "Lajido", uma vez que encontre não se pode perder! Daí que eu me esforçasse agora, através da "net", por localizar onde, em Lisboa, poderia encontrar tão surpreendente produto da vinha e do homem em singular terra de vulcão.
.
E foi assim que desembarquei numa outra surpresa: no blog "maroiço" i.e.
http://ilhaminhameusamores.blogs.sapo.pt
onde "picarota310172" mostra surpreendentes fotos daquela que é a nossa montanha mais alta, solenemente exibida nas suas mais diversas roupagens. Ficaram-me os olhos naquilo e coloquei a ilha do Pico no alvo possível de uma das minhas jornadas. A ver vamos... pois não é nada por acaso que se merece ser "património da Humanidade".

.

sábado, 14 de abril de 2007

Uma frase na "retirada" de Odete Santos

"Ganhei o direito ao lazer... mas lazer não é preguiça!"

Gostei! Guardarei para relembrar em breve...

(em entrevista radiofónica, já não sei a que estação!)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Kurt Vonnegut partiu para Tralfamadore

(elegia em estilo de notícia surpresa)

caricatura em www.garykoelling.com

Falamos dele ao almoço. Aliás eu já tinha falado dele a muita gente e muitas vezes, sendo que foi (é) um dos meus autores favoritos. Até falei nele aqui, neste "blog", e na sua visão tralfamadoriana da (inexistência da) morte. E comecei um trabalho de pós-graduação em antropologia citando que uma obra pode ter três títulos e invocando, em minha defesa, os três títulos de uma das suas obras mais conhecidas, a obra aliás que me facultou a sua descoberta. Alguém na mesa disse que esse autor já tinha morrido, mas eu não liguei. Ao chegar ao escritório, há minutos, abrindo o jornal, vi a notícia da sua partida, ante-ontem, para Tralfamadore, de onde se observa simultaneamente toda a vida como quem vê um painel das Montanhas Rochosas, Talvez na sua trajectória de viagem tenha passado por ali e por isso, como que fora do contexto, fomos levados a dele falar. Coisas da vida - ou melhor, "So it goes", como escreveu e insistiu no original. Um abraço! E outro, grande e abusador, para a Montana Wildhack!
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
Frase relembrada na notícia de óbito, assinada por
Matthew Robinson (Reuters):
.
"Diverti-me imenso e devo dizer-vos isto: estamos na Terra para nos soltarmos.
Não deixem nunca que vos digam o contrário" .
.
Kurt Vonnegut
.

Leituras


.
Fiz a mim mesmo a promessa (assimptótica, digamos...) de restringir a aquisição de livros enquanto não consumisse uma parte substancial dos que cá em casa amontoo. Esta inatingível vocação traria consigo duas virtudes: aliviar-me-ia o orçamento e far-me-ia ler, coisas uma e outra susceptíveis de me fazer sentir mais confortável (ou confortado?) se um conjunto de situações exógenas as deixassem concretizar. Mas adiante... Vai daí, peguei no "Glória" de Vasco Pulido Valente, cuja exposição e prosa sempre admirei apesar de, noutros aspectos, não estarmos sempre nos mesmos quadrados do tabuleiro. Era um livro que eu temia, pela positiva. Embarcado nele, dele não saio - e aproveito todos os (poucos) momentos livres para me deliciar verdadeiramente aos bochechos, nos tempos que me dão ou que me dou [1], com mais umas páginas e mais umas descobertas numa senda que conhecia, mas que está admiravelmente "capturada" como agora se diz na gíria economicista das gentes das empresas. Para mim chega a palavra "conseguida", nesse mesmo sentido.
.
É porém um livro triste, uma obra que leva a reflectir. Não é apenas o gongorismo brilhante de um Vieira de Castro que, num país gongórico, se consome na sua própria chama. É o próprio País que é o nosso e que, como numa fotografia amarelecida de um album velho de família, encadernado a seda de cores desmaiadas e cantos já esfiapados, nos deixa descobrir nos cabelos do Tio-Bisavô Vítor, encostado à coluna de estuque, o mesmo caracol curto que hoje tem o filho Miguel. E que deixa já, página sim página não, vazios de causa desconhecida e dúvidas crescentes de identificação de personagens, mas que mantém o registo contínuo de uma história que, de qualquer forma, é a nossa e preserva o essencial dos nossos traços. Não posso deixar de melancolicamente rever este meu tempo, o tempo que vivi e vivo, "com as devidas adaptações" antecipado já em certas páginas ou situações naquela obra descritas, mas de há cerca de século e meio atrás. Nisso, se mudamos muito, de facto pouco mudamos nos estratos sedimentados de nós mesmos... salvo intrusões eruptivas e dinamizantes que, e ainda bem, aqui e além ponteiam com letras gregas e cores diferentes (e curiosamente... de vermelho! [2]) os "mapas geológicos da História".
.
Veja-se esta pequena amostra, sobre o caminhar intranquilo do Eng. Fontes (o que foi bordallescamente chamado de "António Maria), a pag. 241 e 242 da obra citada [3]:

"[...] O governo não conseguira dominar o défice ou consolidar a dívida flutuante. No ano fiscal de 1865-1866, o défice excedera o previsto por Lobo d'Ávila, que na altura a Fusão considerara aberrante. Em 1866-67 chegou a 8000 contos, que se levantaram, com excepcional usura, nas praças de Lisboa e Porto. Para equilibrar o orçamento ou, pelo menos, reduzir o défice, Fontes tomou duas medidas que seriam a sua perda.
A primeira (a cargo de Martens Ferrão) foi um esforço para disciplinar as confusas finanças dos municípios e limitar a sua tendência para contrair dívidas, que o Estado central depois pagava, exigindo prazos rigorosos para a apresentação (e aprovação superior) de orçamentos e contas. Esta regra suscitou uma grande agitação. As câmaras, com orçamentos exíguos, viviaqm de expedientes, nem sempre ortodoxos (ou legais). O zelo de Martens ofendeu velhos interesses que logo se puseram a "blasfemar". Aqui, Fontes resolveu cortar o mal pela raiz. Caso os municípios cumprissem satisfatoriamente os seus deveres, seriam conservados e subsidiados. Caso contrário, tinham de ser redefinidos e reorganizados, em nome da poupança e do futuro.
A reforma administrativa, que Martens eventualmente apresentou, assentava nesta teoria. extinguiam-se quatro distritos: Portalegre, Santarém, Leiria e Braga. Estabelecia-se um critério geral: não haveria municípios com menos de 3000 fogos (os pequenos ficavam caríssimos). O que implicava a supressão de 178 em 302. Suprimiam-se quase 1000 freguesias em cerca de 3000.
O Estado, como se disse, precisava de restabelecer o crédito financeiro. No orçamento de 1867-1868, Fontes resolveu ir às do cabo, partindo do razoável pressuposto de que esperar o equilíbrio da fazenda pública só da redução das despesas era "uma utopia", que nenhum "espírito prático" aceitava, avançou com uma reforma fiscal para aumentar as receitas. Já em Fevereiro prevenira: "Eu escrevi há muitos anos que o país podia e devia pagar mais. levantou-se quase todo o país em peso contra mim; por toda a parte se ouviram clamores contra a blasfémia que eu tinha proferido, mas o certo é que a coisa ficou." "O país podia e devia pagar mais, e pagou!" Agora tornava a avisar os portugueses e "com mais razão". Exigiria que eles pagassem mais, sabendo que não "agradava à maior parte" e que "desafiava" a "ira" universal. Mas não pensassem que o intimidavam.
Não o intimidaram. [...]"
.
Onde é que eu já vi isto?
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Um dos problemas do envelhecimento é a aparente compressão do tempo. Digo "aparente" porque ela resulta essencialmente da menor habilidade do artista, que demora bem mais a fazer coisas do que antes demorava. Mas acusa disso o tempo, para não reconhecer em si próprio uma tal
limitação gradualmente crescente .
[2] Na minha terra diz-se vermelho, como se diz maçã "Bravo de Esmolfe". Na cidade do estuário o vermelho passa a encarnado e a "Bravo de Esmolfe" passa a pero! Consta que a coisa nasceu do Benfica e da Guerra Civil de Espanha: dir-se-iam "encarnados" os primeiros para, nos relatos radiofónicos que então começavam (?), não ter de se dizer "os vermelhos". Não sei se este argumento terá algum suporte na realidade. Mas divirto-me sempre a perguntar, por aqui, se conhecem os "raios infra-encarnados". Respondem-me com Camões e a cor da fita da Leonor, mas isso é treta... pois na minha terra encarnado é encarnado e vermelho é vermelho, e verdade é que são cores distintas, que se não confundem. E "Bravo de Esmolfe" é maçã, e disse! Como uma vez tive de responder a um edil
para não destilar outra expressão mais vernácula em plena sessão pública de Câmara, eu vereador da mesma : "Sou assim e sou do Futebol Clube do Porto!". E é verdade verdadinha que quem não gosta tem sempre a opção de comer menos!
[3] Edição da "Gótica", Lisboa, 2002.
.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Mathias Zundt (1498-1572)

.
Escultor, ourives e gravador alemão, activo entre 1551 e 1572, deixou trabalhos em madeira, pedra, chapa de cobre e inclusive ferro. Além de ter o seu nome frequentemente grafado de formas diversas [1], é muitas vezes confundido com Mathias Zasinger pelas iniciais semelhantes com que ambos marcaram as respectivas obras. Das gravuras que lhe são atribuídas destaca-se a "Captura de Hyeronimus Paumgartner, Fidalgo de Nuremberg", frequentemente reproduzida na "net" [2]. Menos vulgar é a reprodução deste gomil, desenhado à pena, que está na base de dados de referência artística da Universidade de Cleveland [3]. Em www.bildindex.de encontram-se diversas gravuras designadas como de sua autoria e que, na sua maior parte, representam dignitários da época. Tem também obra cartográfica, aí reproduzida.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Entre outras: Mathes Zinck; Mathias Zinck; Mathis Zinck; Mathis Zintt; Math. Zundt; Mathias Zündt; Mathis Zündt; Mathis Zyndler; Mathis Zynndt; Mathis Zynnth
[2] Abrir em www.famsf.org e procurar em
Zundt
[3] Que a mesma fonte localiza no Museu de Arte da Universidade do Michigan, em Ann Arbor.
Não é, certamente, das mais expressivas obras do Artista.
.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Capacidades digestivas impressionantes!

[Ou: o risco de frases desinseridas do contexto... ou ainda: de como um período poderia encontrar melhor alojamento noutra parte da notícia!]

Leia-se o destaque de dois períodos sucessivos na notícia "Mãe e filha escondiam droga dentro de nozes", já de si uma originalidade "made-in-Barreiro", publicada no JN, edição Sul, de ontem, 10 de Abril, pag. 14:

"[...]
De acordo com o comandante da PSP do Barreiro, subintendente Francisco Fernandes, os estupefacientes eram também transportados n
o interior do corpo dos suspeitos , o que "obrigou à sua condução ao Hospital do Montijo, para remoção medicamente assistida da droga de dentro dos corpos". No decorrer desta intervenção, foram também apreendidos cerca de 600 euros em dinheiro, telemóveis, duas balanças electrónicas de precisão e uma viatura de grande cilindrada.
[...]"

Safa!
.

terça-feira, 10 de abril de 2007

E digam lá se o Português não é uma língua criativa:

.
Excerto de uma frase do dirigente político Dr. Ribeiro e Castro, escutada ontem (9 de Abril) em entrevista dada ao RCP:


"... uma grande [ou longa?] viagem pelas delícias do aparelhismo..." [1]

.
Mia, nem tu!
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
[1] A ausência de comutatividade é patente pela inteligível diferença relativamente aos "deliciosismos do aparelho"

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Jerg (ou Jörg) Ratgeb (~1480 - 1526) [1]

.

Nascido em Swäbisch Gmünd entre 1480 e 1485 e morto em Pforzheim, no ano de 1526, durante a "guerra camponesa", Jerg Ratgeb (por vezes tambem denominado Jörg Schürtz), que muitos consideram aproximar-se pela sua obra de Grunewald, baseou a sua actividade artística em Stuttgart. Curiosamente, embora a sua vida e obra tenham merecido especial atenção [2], as reproduções que se encontram nas diversas fontes e nomeadamente retomadas na "web" giram principalmente em torno do altar de Herrenberg, possivelmente pintado entre 1518 e 1519 e que está na Stattsgalerie de Stuttgart [3], e as pinturas murais do Convento dos Carmelitas de Frankfurt. O altar de Herrenberg, nas suas 2x2 = 4 tábuas representa a paixão e ressurreição de Cristo: (da esquerda para a direita do observador frente ao altar: a Última Ceia, a Flagelação, a Crucificação e a Ressurreição) [4]. É esta última tábua o que acima se reproduz. Nas pinturas murais do convento dos Carmelitas distinguem-se as cenas da vida do profeta Elias, o "Martírio dos Carmelitas", os "Carmelitas e o Rei S. Luís em 1248", e uma interessante "Fuga para o Egipto". Convém notar, como observação de carácter geral pelos caminhos que permite abrir à consideração de outras obras do Renascimento Alemão, que sobre estas pinturas murais existem detalhados levantamentos fotográficos no Farbdia Archiv (http://www.zi.fotothek.org) e no Bildarchiv der Kunst und Architectur (http://www.bildindex.de) [5].
Referida também a este Artista, mas sensivelmente menos documentado é o pequeno tríptico que lhe é atribuído e que se encontra na Igreja (Staatskirche) de Schweigern, reproduzido na Wikipedia Commons. Na tábua do centro (e com a escassa ampliação de que se dispõe) parece possível identificar o martírio de Santa Bárbara [6], na da esquerda presumivelmente Santa Maria Madalena [7], sem que na da direita do observador, "enevoada" como está, se consiga alguma identificação útil.
.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Notas:
[1] Esta postagem será a 66ª sobre artistas do Renascimento Alemão
[2] Ao ponto de lhe ter sido dedicado um filme ("Jörg Ratgeb - Maler" i.e. "Jörg Ratgeb - Pintor"), realizado na DDR por Bernhard Stephan e que recebeu uma nomeação para o Urso de Oiro d0 Festival de Berlim, em 1978. Para o poster respectivo a este filme, hoje raro, vd. e procur. em http//www.kinoart.net.
[3] A tradução automática em Inglês do texto original em Alemão proporcionado no local da Staatsgalerie é simplesmente desastrosa! Esta uma das razões por que não coloco traduções automáticas neste blog. Realça-se no entanto a primeira aparição, precisamente a Maria Madalena, junto da borda direita, a meia-altura.
[4] Bem apropriado à época!
[5] Dado o carácter "ligeiro" destas visitas, tenho negligenciado estas fontes, úteis certamente (e até incontornáveis) para um trabalho mais erudito. Recupera-se aqui esta sistemática omissão!
[6] Os atributos do cálice com a hóstia e mesmo da torre/castelo parecem estra presentes.
[7] Idem, o atributo do unguentário.

.

domingo, 8 de abril de 2007

Homenagem a S. Tomé...

.
Bernardo STROZZI (Génova, 1581/2-1644) - A Incredulidade de S.Tomé

. . . e à (antecipação do) rigor cartesiano no plano do cognoscível.

.

sábado, 7 de abril de 2007

A Renascença Alemã neste "blog": um ponto de situação

.
Pediram-me para listar os artistas da Renascença Alemã que tenho trazido a este "blog". Este simples pedido traz consigo uma responsabilidade e esta, por sua vez, acredita um esclarecimento.
.
As minhas visitas à Renascença Alemã têm consigo a única finalidade por mim pressentida de conhecer um pouco mais desse movimento artístico que, em permutas sucessivas com a Itália e com a Flandres, criou o seu próprio carácter, desenvolveu as suas escolas e deixou testemunhos impressionantes das lutas políticas e religiosas que tumultuaram o centro da Europa no sec. XVI. Constituindo gradualmente uma libertação da expressão humana, o peso da Igreja - ou das Igrejas - ainda fortemente se fez sentir, trazendo muitas das obras a expressões vinculadas e rigorosamente limitadas a objectos ou representações de devoção ou culto. É, no entanto, no seu carácter humanista e de valorização do "em si", que Durer soube extrair e trazer das suas viagens a Itália, o que neste movimento mais me atrai.
.
Fique desde já claro que, quanto a pintura ou gravura, sei do que gosto e nada mais. Extraí para cada Artista o que me pareceu interessante para meu conhecimento e formação, sem qualquer tentativa de erudição que, na matéria, não tenho. Longe pois de constituir referência, a própria sequência adoptada vem ao sabor de listagens encontradas e que não construí nem dediquei. Em alguns troços de apresentação poder-se-ão inclusive notar as estrutura alfabética ou cronológica originais. Em certos casos estive limitado pelo que havia; noutros pela restrição de escolhas a que me impus. Figurei obras que não colocaria num meu museu, se o pudesse ter (por muito excelentes que elas sejam julgadas), apenas porque para os respectivos autores não encontrei outras; noutros casos (e muitos casos) limitei não poder figurar mais.

As próprias orientações e critérios foram variando ao longo da série. Desta forma, tendo iniciado naturalmente com Dürer, o próprio Dürer foi injustiçado na importância que lhe dei, quando confrontado com o desenvolvimento que, ao longo do caminho, fui dando a outros - e este motivado pela própria curiosidade em derivar para assuntos que mais me atraíam. É pois um passeio algo errático, certamente, mas é o meu passeio.

Perguntar-se-me-á porque não abordei outros exemplos e casos de Renascença Nórdica, vg. o caso da Flandres e Holanda e o caso Francês, etc. Não o fiz porque me pareceu um alargamento de campo demasiadamente vasto relativamente ao que eu efectivamente pretendia e que era, agindo selectivamente, "matar a curiosidade" que me ficara duma visita apressada e pouco preparada ao Thyssen-Bornemisza em Madrid (ao contrário da cuidada preparação e demora feita para o Prado), onde se encontram significativos valores da Renascença Alemã... enquanto muitos outros vão atravessando o Atlântico, ao caminho das paredes dos museus americanos.

Feitas estes avisos, cuidado pois com os meus escritos e com os meus exemplos, que poderão inclusive conter indesejados erros. Eu teria o maior cuidado ao ler-me nestes assuntos, fique bem claro!

E assim aí vai a lista...

Setembro 2006:
Albrecht Dürer (12); Hans Holbein, o Novo (13); Lucas Cranach, o Velho (13); Matias Grünewald aka Mathis Gothard-Neithard (14); Hans Baldung, dito Grien (15), Hans Burgkmair, o Velho (16); Jörg Breu, o Velho (17); Albrecht Altdorfer (18); Israel van Meckenem, o Novo (19); Cristofer Amberger (23); Berthel Beham (24); Hans Sebald Beham (25); Berthel Bruyn (28); Lucas Cranach, o Novo (29); Augustin Hirschvogel (30) = 15 postagens.
Outubro 2006:
Ambrosius Holbein (1); Hans Holbein, o Velho (2); Wolf Huber (3); Konrad von Soest (4); Hans Suess von Kulmbach (6); Georg Lemberger (7); Stefan Lochner (8); Mestre E.S. (9); Mestre Francke (10); Mestre M.Z. (11); Mestre do Livro da Casa (12); Mestre da Vida da Virgem (13); Mestre da Paixão de Lyversberg (16); Mestre do Altar de Pfullendorf (17); Mestre das Cartas de Jogar (18); Mestre dos Paineis de Polling (19); Mestre do Altar de S.Bartolomeu (21); mestre da Paixão e Tegernsee (22); Hans Mielich (23); Lukas Moser (24); Hans Mutscher (25); Mestre Beltram de Minden (28); Kartner Meister (29); Mestre da Santa Verónica (30) = 24 postagens.
Novembro 2006:
Mestre do Altar dos Berswordt (3); Johann Kolebecke (4); Hans Pleydenwurff (5); Michael Wolgemut (6); Mestre da Paixão de Karlsruhe (7); Erasmus Grasser (8); Mair von Landshut (9); Martin Schongauer (10); Konrad Witz (11); Ulrich Apt (16); Max Reichlich (17); os Erhart, Michael (pai) e Gregor (filho) (18) = 12 postagens.
Dezembro 2006:
Os Frueauf (ambos Rueland: o Velho e o Novo) (5); Tilman Riemenschneider (6); Bernhard Striegel (7); Veit Hirschvogel, o Velho (8); Daniel Hopfer (9); Mestre dos Medalhões de Coburg (10); Mestre da Sagrada Família (11); Hans Wertinger (12) = 8 postagens
Março 2007:
Conrad Faber (von Kreuznach) (28); Mestre A.G. (29); Mestre I.K. (30); Leonhard Beck (31) = 4 postagens.
Abril 2007:
Hans Maler zu Schwaz (5); Mestre LCz (6)... = 2 postagens até ao momento.

... e, após 65 postagens no total, a "faina" continua!

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Mestre LCz (1480 - 1505)

.
Dado essencialmente com autor de gravuras, o que se exemplifica na "net" essencialmente com uma: "A Tentação de Cristo" (National Center of Art, Washington. D.C., é também atribuído a este monogramista o quadro a óleo, "Cristo perante Pilatos", exibido na Gemalderie, Berlim. As datas de nascimento e morte são controversas, preferindo diversos tratadistas indicar apenas a janela da sua actividade entre 1500 e 1505. Uma identificação como Lorenz Katzheimer é também problemática i.e. uma hipótese não confirmada.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Hans Maler zu Schwaz (n. Ulm ~1480 - m. Schwaz,1526- 29?)

.

Outro notável retratista, do Sul da Alemanha. Nascido em Ulm, terá sido discípulo de Bartolomeu Zeitblom em Innsbruck, fixando a sua actividade em Schwaz, próximo de Innsbruck, onde pintou dignitários da corte imperial e elementos da alta finança, como os membros da família Fugger que entroncava em Jacob Fugger. A obra acima representada mostra Anton Fugger, precisamente um neto de Jacob; um outro retrato representa Ulrich Fugger - de impressionante semelhança fisionómica com Anton.

Os retratos de Ulrich Fugger e de Simon Altdorfer (metalurgista e comerciante de metais preciosos em Schwaz/Innsbruck) estão no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque; de Anton Fugger, registam-se duas localizações: uma no Allentown Art Museum, de Allentown, Pensylvannia, e outra (a acima "transcrita" apud Wikipedia) no Museu de Pintura de Karlsruhe. Cerca da mesma época (1524-1526) Hans Maler pintou também um colaborador dos Fugger, Matthäus Schwartz, representante daqueles banqueiros no Tirol, obra que se encontra no Louvre.

Quanto a trabalhos para a corte, iniciados sob a égide de Maximiliano I e a encomenda de retratos de Maria de Borgonha, cite-se o retrato de Ana (Jagellon) da Hungria e Boémia, filha do Rei Ladislau da Hungria e Boémia e cunhada de Carlos V pelo seu casamento com o arquiduque Fernando da Austria (retrato que está "aqui ao lado", em Madrid, no Thyssen-Bornemisza), e o retrato do próprio Fernando, nos Uffizzi.[Ainda sobre a família de Maximiliano I / Carlos V ver a postagem de 7/12/2006 sobre Bernhard Striegel].

Essencialmente voltado para essa actividade retratista, é de notar que os seus modelos raramente fitam o pintor, são representados sem mostrarem as mãos, numa disposição transversal e o fundo é simples, sem motivos, mostrando apenas uma gradação (na vertical) de cores frias. Há, porém, um especial cuidado na representação dos trajos e das joias. Esta demonstada vocação do retrato não impede que outras obras lhe sejam atribuídas, como este "Cristo carregando a Cruz", que está no Instituro de Arte de Chicago e tão adequado é à presente época:

.


quarta-feira, 4 de abril de 2007

Numa noite de luar recorro a Safo...

.


Cenas da vida


A Lua Cheia erguia-se e as mulheres rodeavam o altar

*

Outrora, os cretenses dançavam em ritmo à volta de um altar deslimbrante e esmagavam com os pés delicadas flores tenras e frágeis pedaços de erva.

*

Os seus pés estavam calçados com sandálias bordadas, num belo trabalho de Lídia.

*

Diversas cores aí se combinavam.

*

Uma gentil rapariga colhia flores.

*

Mnassis enviou de Foceia alguns belos presentes: lenços, tecidos de púrpura...

*

Ela agasalhou-o com espessos e suaves cobertores.

*

Muito mais branco do que um ovo.


Safo
(~612-608 a.C.)

poema in SAFO, "O Desejo", Ed. Teorema, 2003, Lisboa, p. 77-79
(trad. de Serafim Ferreira)

terça-feira, 3 de abril de 2007

O "manuscrito Voynich"

.
Já é muito falado... mas quem gostar dos códigos e mistérios sortidos que andam por aí, na livraria ou no cinema, por que não dar uma voltinha pelo misterioso manuscrito Voynich e verificar, com os seus botões, que há ainda muitas portas por abrir, mesmo quando possam ser (isso não está excluído) habilidosas, laboriosas e artísticas chuchadeiras feitas vários séculos atrás? Mas também podem não ser...
.
Para começar a identificação com o problema, basta dar um saltinho à Wikipedia. O texto em português:


é muito pobre quando comparado com o texto em inglês:


e, por isso, vejam-se ambos[1]! Depois é navegar na net e fazer buscas em "Manuscrito Voynich", "Voynich Manuscript", "Voynich + Blog", etc, etc. Dá pano para mangas!

Alem disso, como assinalava recentemente um outro bloguista emérito, o Voynich, quando comparado com a história do "da Vinci", tem a vantagem de permitir descortinar algumas (se bem que incompreensíveis) colectivas impudícias: de facto,um dos livros ou partes [2] do Voynich está ilustrado com uma série de figuras femininas precursoramente descascadas, algumas delas ostentando coroas, que descem divertidas por estruturas tubulares que lembram parques aquáticos e que, no seu conjunto, sugerem também representações anatómicas... Aí estão elas, logo em cima...

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Notas:

[1] Ou a versão em castelhano, também bastante completa (bem mais que a nossa!):
http://es.wikipedia.org/wiki/Manuscrito_Voynich
[2] Outras partes, igualmente incompreendidas, revelam aspectos botânicos (um herbário), figurações cosmológicas, simbologias alquímicas ou de outra forma ocultistas, etc. Há, quanto a gostos, para todos e, quanto a entendimento, para nenhum!

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Santa Bárbara de Padrões (Castro Verde): Igreja matriz e altar de Santa Bárbara

Memória fotográfica (em más condições) reencontrada de uma visita há muito tempo realizada, certamente que a caminho das minas de Neves-Corvo (ainda não existia o troço de estrada ou o caminho de ferro mineiro privativos [1][1a]). Também ainda não existiam máquinas fotográficas digitais...



Altar de Santa Bárbara (à esquerda da Igrª. [2]):
a imagem da Santa entre as tábuas de S.Domingos (à esqª) e S. Brás (à dta.) [3];
em baixo, a tábua das Três Santas



A imagem de Santa Bárbara: imagem processionária ou
de andor e de vestir ("de armar").. Note-se, para além da palma do martírio,
a ausência de outros atributos correntes desta Santa.



A tábua das Três Santas, que (da esquerda para a direita) se identificam
pelos seus atributos:
a torre (Santa Bárbara),
a roda (Santa Catarina) e
o dragão (Santa Margarida)[4] [5]


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Onde, para recordação dos cinéfilos, foram filmadas importantes cenas da "Casa dos Espíritos", ao ponto de se construir para o efeito uma estação-apeadeiro em plena campina alentejana, como se fosse no Chile. Por isso um dos locais de estreia mundial desse filme foi em Castro-Verde.
[1a]Na visita a que esta memória se reporta, aliás bem comida e bem regada, (ou noutra antes ou depois, que também passasse por Santa Bárbara de Padrões) viajava eu com meu falecido compadre José Eduardo e com um amigo comum que, na imprensa regional, assina(va) como "Zé de Castro Verde" ou "Campaniço".
[2] Do altar do lado direito da Igreja, dedicado a Santa Luzia mas grosseiramente alterado e pintado, nem é bom falar. Basta ver... Tem, no entanto, uma tábua (martírio de Santa Bárbara?) que poderá ter sobrevivido às vicissitudes da desastrosa recuperação e de que se dão seguidamente alguns aspectos - esperando que, entretanto (e já lá vão uns bons anos), algo possa ter sido feito para que esta "obra" não acabe por ofender o conjunto:

O referido (e ofendido) altar da dta. Apenas de assinalar, nele,
a tábua do martítio da Santa e a imagem da Virgem
.
Tábua "do martírio da Santa"
(provavelmente Sta Bárbara), no altar da dta.

[3] Não parecendo existir dúvidas quanto a S. Domingos, quer pelo hábito, quer pelo cão, quanto a S.Brás (também comummente grafado S.Braz), referiram-me, numa primeira visita, poder tratar-se de Santo Alberto Magno. Tenho as maiores dúvidas que, de facto, seja o prelado de Colónia - e inclino-me para que, com as vestes episcopais que apresenta, seja mais provavelmente S.Brás - aliás de culto frequente em terras do Alentejo e não só.
[4] Santa Margarida é também designada freguentemente por Santa Marinha, Santa Marina, Santa Margarita ou até Santa Margareta; o dragão que é um seu mais constantes atributos não é um dragão qualquer: recebe até um nome peculiar, como p.ex. no Lavradio, mas que de momento me não ocorre (nem encontro nos apontamentos que certamente tenho). A seu tempo completarei esta nota de rodapé com o nome devido.
[5] Ainda na igreja de Santa Bárbara assinale-se a presença de uma outra imagem da Santa, no tecto. E também, no arco central, se encontra um símbolo brasonado que não consegui interpretar. Ver seguidamente estes dois aspectos. Aliás...


A Sta Bárbara no tecto...

O símbolo brasonado sobre o arco

... não só na igreja actual (que ainda tem outras imagens com possível interesse, como uma Sra. do Socorro, uma Sra. do Carmo - estas no altar-mor - e uma Santa Luzia) mas também na pequena colina onde ela se encontra, ao lado do cemitério, deveriam prosseguir investigações - correspondendo ao interesse arqueológico que o local desperta e que não passou despercebido, em 1896, a Leite de Vasconcelos. Mesmo ao lado da igreja, do lado norte, existem ruínas que parecem significar um anterior local de culto (cristão?), de reconhecida antiguidade. Aí, junto ao cemitério, quando em 1994 se reparava o muro de suporte, eclodiu o inesperado e surpreendente fenómeno da descoberta de uma verdadeira "vala" de lucernas romanas, constituindo um dos mais assinaláveis depósitos votivos de que há conhecimento. O achamento e o trabalho de "arqueologia de emergência" que teve de lhe imediatamente suceder foi ao tempo relatado na publicação "Lucernas de Santa Bárbara", da autoria de Maria Garcia Pereira Maia e de Manuel Maia, editado pelo Núcleo de Arqueologia do Cortiçol, Edição Cortiçol, Castro Verde, 1997 (ver abaixo). Com centenas de lucernas recuperadas foi realizado, em Castro Verde, um Museu da Lucerna. Porém, desde então, pouco mais tenho tido de notícias e, infelizmente, os factos da vida têm-me amarrado a outros itinerários, paragens e disponibilidades!
© zm

- - - « « « «» » » » - - -