terça-feira, 31 de outubro de 2006

Halloween

.

All the Saints Eve... ou que abóbora me saíste... ou, melhor ainda, vem aboborar no meu ombro!

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Mestre da Santa Verónica [Meister der hl. Veronika] (1395-1420 ?)

.

.
Sabe-se que esteve activo em Colónia entre 1400 e 1420 e supõe-se que aí tenha influenciado Stefan Lochner, já conhecido deste blog. O seu nome vem de um quadro de Santa Verónica, exibindo o lenço com que, segundo a narração milagrosa, enxugou e registou milagrosamente a face de Cristo, a caminho do Calvário - quadro esse que se encontra em Londres, na National Gallery. Para uma descrição do quadro:

domingo, 29 de outubro de 2006

Kartner Meister (Sec. XV)

.


.
Apresentado já como um Artista da Escola Alemã na Renascença Nórdica, Kartner Meister tem no seu "S.Miguel Pesando as Almas", pintado em ~1480, a sua obra mais representativa e representada. Ainda que me desvie um pouco dos propósitos desta "viagem", não quero deixar de render homenagens ao meu homónimo alado e, por isso, o trago aqui.

sábado, 28 de outubro de 2006

Mestre Beltram de Minden [Meister Beltram von Minden] (1340-1414)

.
.

.
À cabeça do tempo do Renascimento do Norte, a presente "Criação" procede a um relato sequencial da narrativa bíblica até que Adão e Eva, expulsos do Paraíso, são condenados ao "inferno na Terra", que assim se caracteriza a necessidade de trabalhar como componente essencial da existência. A disposição deste relato levou a um "criativo" da "net", que assina "Andy" a incluí-la numa interessante colecção das primeiras séries de "histórias em quadrinhos" (os "comics" anglo-saxões) e a figurá-lo assim no portal:

Esta forma sequencial de representação, em visões sucessivas, toma, noutras obras, uma modalidade diferente, assumindo uma visão "quase cinematográfica" em que, no mesmo quadro se pode ver representada, segundo um itinerário, uma sucessão temporal de actos.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Soneto genealógico (do abade de Jazente)

.
Qualquer homem,como eu,tem quatro avós,
Estes quatro por força dezesseis,
Sessenta e quatro a estes contareis
Em só três gerações que expomos nós.

Se o calculo procede,espreitai vós
Que pela proa vem cinquenta e seis
Sobre duzentos mais,que lhe dareis,
Qual chapeu de cardeal!Que espalha os nós

Se um homem só dá tanto cabedal
Dos ascendentes seus,que farão mil?
Uma província?Todo Portugal?

Por esta conta,amigo,ou nobre,ou vil,
Sempre és parente do marquês de tal,
E também do porteiro Affonso Gil.

Abade de Jazente

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Lamego

.
Não, não é o homónimo e "samideano" José. É Lamego mesmo, atingido sob furibunda tormenta na efemeridade de uma necessária e urgente visita. "Raid" este que foi devotamente compensado com uma excelente bacalhoada no "Torrão", em Valdigem, a ver a cheia (moderada ainda) do Douro, com o Peso em frente e o meu caçula (que prevê cá passar alguns dos seus próximos anos), a pôr em dúvida a identidade dos rojões à nortenha, numa tentativa de qualificação ainda fundada numa experiência barreirense. Da próxima vez conto ter o tempo que agora não houve nem poderia haver para admirar o Vasco Fernandes no que dele está no Museu local. Vale muito a pena, que não é pena alguma..., mesmo quando haja quem, numa interpretação restritiva, se interrogue sobre o que possa estar, aqui ou em Viseu, para além de um nome-marca de vinho engarrafado [1].
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
.
[1] Creio que é o Daniel Sampaio que se refere, numa das suas obras, à brusquidão com que as famílias grandes se distribuem e as casas cheias de gente se esvaziam. Tem razão.
.

O que sucede a uma gata que adormece sobre o vidro do scanner?



Não, não resulta daí uma foto indecorosa, "rated XXX" - capaz de excitar toda a gataria do bairro. É apenas a reacção da "Tora-Bora", que este é o nome da "casca de tartaruga" que se dignou habitar connosco, quando, por debaixo dela, a luz do scanner começou a percorrer o seu trajecto. A tranquilidade inicial foi perturbada e aquela mancha à direita das patas, de forma tão peculiar, nada mais é que a posição da cabeça no início de mais uma caçada ao movimento estranho, seguida da busca de uma nova posição para poder retomar o sono. Surpreende a aparente imobilidade da cauda em todas estas manobras.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Hans Multscher (~1400 - 1467)

Este pintor, gravador e escultor do Sul da Alemanha (terá nascido em Reichenhafen prox. de Leutkirch, e residido em Ulm, onde se fixou e trabalhou) deixou-nos o altar de Wurzach, amplamente descrito, entre outras fontes, em
cujas tábuas laterais (a peça central está perdida) estão consideradas no grupo das mais importantes obras pictóricas alemãs do sec. XV. A localização original do altar, de dimensões consideráveis, permanece também desconhecida e a designação "altar de Wurzach" decorre do facto de as peças existentes fazerem parte, no sec. XVIII, da colecção de arte do Conde de Waldburg Zeil, no castelo de Wurzach, na Alta Suábia.
.
Quando fechadas, as tábuas laterais mostram 4 cenas da vida da Virgem; quando abertas exibem 4 cenas da Paixão de Cristo, de um impressionante realismo. Buscando (sempre que possível) uma figura feminina e não santificada, voltei aqui à mulher de Pilatos, bem presente na cena "Cristo Levado à Presença de Pilatos", de que também se dá um pormenor.
.
.

Note-se o realismo dos rostos, quer no geral, quer no particular desse pormenor (a expressão de ira do eclesiástico mitrado à direita e em cima no pormenor é verdadeiramente impressionante).
.
- - - « « « «» » » » - - -
.
Com esta postagem concluí a primeira parte da minha visita pela Escola Alemã do Renascimento Nórdico quanto a pintores e gravadores (i.e. não considerando para já escultores e ourives) propostos para essa escola e período pela listagem da WGA (Web Gallery of Art, magnífica referência nética criada por Emil Kren and Daniel Marx) em


Parece-me porém que a listagem não está completa, pelo que me proponho "andar mais um pouco por aqui" como diria, noutras circunstâncias, um recente expoente do alto pensamento político lusitano.
.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Lukas Moser (1ª metade do sec. XV)

.
A gravura representa três das 10 virgens da parábola das 5 prudentes e 5 atoleimadas, como figuradas (entre muita outra temática da vida da Santa) no altar de Maria Madalena [1] na igreja paroquial de Tiefenbronn, ao sul de Pforzheim, assinado e datado em 1431 por Lukas Moser, que aí deixou também uma mensagem algo enigmática [2] - mensagem essa que representa o tudo e o pouco que se sabe do Autor e cuja originalidade, inclusive, foi já posta em causa e restabelecida. Cabe a Moser a novidade de assinar a sua obra, sem o que hoje dele ainda menos se saberia e seria talvez conhecido apenas como o "Mestre do Altar de Tiefenbronn".
Para uma análise mais completa da época, do Autor e desta obra (a única dele conhecida), indica-se, entre outros:



- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -


[1] Como assinala o texto referenciado, na apreciação da luneta superior do altar: O tema principal do altar exprime a confusão medieval entre Maria de Betânia (irmã de Lázaro) e Maria Madalena, popularizada na "Lenda Dourada" [ou "Legenda Dourada", como por vezes aparece referida entre nós, de Jacobus de Voragine. A cena aqui representada [na luneta] está descrita em Lucas VII:36-50 e João XII:1-5. A mesa está posta num nicho (eucarístico) de videiras. Marta espera junto à mesa enquanto Maria unge os pés de Cristo com perfume e enxuga-os com os seus longos cabelos loiros". Também quanto a "mistérios", nada de novo sobre a terra...

[2] "Schri kunst schri und klag dich se[h]rdein begert jetz[t] niemer mehrso o we 1431Lukas moser maler von wilmeister des werx bit got vir in." [Chora, Arte, chora e lamenta-te porque hoje já ninguém se preocupa contigo, Por isso, [um] grito de tristeza 1431. Lukas Moser, pintor de... [Rottweil? ou Weil-der-Stadt], o artista que fez esta obra.Peçam a Deus por ele), na versão dada na referência acima.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Hans Mielich (1516-1573)

.

Bávaro, essencialmente retratista, Hans Mielich (também conhecido por Muelich e Mülich) deixou uma obra vasta, bem representada em diversos museus europeus e norte-americanos. Este retrato feminino está em Detroit (Detroit Institute of Arts), como o retrato de Maria Kietscher, Senhora de Freiberg, está em Cleveland, e dois impressionantes retratos de "Mulher com a Idade de 57 anos", marcados pelos sinais de senioridade que ao tempo 57 anos já representavam, um no Museu de Catalunha e outro em Madrid, no Thyssen Bornemisza. Todas as reproduções de retratos que vi, de personagens femininos ou masculinos, transcendem um aspecto solene, pisando o soturno, "vestidamente correcto" e "quase ibérico", o que eventualmente poderá ter a ver com o carácter arreigadamente católico do Sul da Alemanha e os reflexos que a "contra-reforma" neste poderá ter tido. Hans Mielich é um dos mais destacados representantes da chamada "escola de Munique" e, como se pode ver pela janela temporal da sua vida, mais tardio que outros autores do Renascimento Alemão aqui mostrados.

domingo, 22 de outubro de 2006

Cansaço

.
Uma das características do meu cansaço é mal conseguir ler quinze minutos seguidos. E daí mal conseguir escrever. Refugio-me em pequenos "sketchs", com longos intervalos e baixa eficácia, o que é anedótico para quem passava noites quase sem dormir, lendo continuamente (e o "Quarteto de Alexandria" que o diga!). Abandonar de supetão o Policiário, mesmo precedendo um grave episódio de saúde, terá sido um sintoma prévio mais profundo. Depois veio a Post-Graduação, porque Mestrado (mesmo sem já ser à "bolonhesa") ainda não é, mas aí funcionou o princípio do "jogging" errado: esforçar-me demais para não ficar atrás de uma equipe jovem. A subida frustrada de Rio de Mouros combina-se, num outro plano, com não ter avançado além de um capítulo - o magríssimo primeiro - de uma obra ucrónica de SF, o "Roma Eterna" de Robert Silverberg, ontem comprada. E ajusta-se também ao mal-ler ou até mesmo falhar, com a acumulação incómoda de jornais dobrados num crescente monte de papeis, a companhia do JN, quase diária desde os dezasseis anos, o que traduz uma constância bem superior à das portadoras de sortidos nomes femininos. O Outono tem sempre o seu sentido, mesmo quando, quase em princípios de Novembro, se insiste em levar uma mota-de-água para Albufeira. Talvez seja exactamente isso que eu preciso: ir tomar um café a Albufeira, como fiz em tantos anos solitários. E, teimosamente, levar comigo um livro...

Mestre da Paixão do Tegernsee [Meister des Tegernsee Tabla Magna] (activo 1430-1450)

.

.
Não há dúvida: aqui a obra prima a mostrar é uma parte (tábua da direita) do conjunto da Paixão, tábua essa que se refere à Crucificação e que se encontra na Velha Pinacoteca de Munique. A questão dos artistas desconhecidos, denominados Mestres de X ou de Y, com referência às suas principais obras ou aos locais onde deixaram obra ou memória, foi já citada, mas convém referir um outro local da net em que o assunto adquire amplo desenvolvimento e que é

http://www.artnet.com/library/05/0550/T055065.asp

dedicado a "Masters, anonymous, and monogrammists" . Trata-se de uma fonte de informação bastante rica e desenvolvida: cada menção dá acesso a uma notícia histórico-biográfica bastante completa. A não perder, pois, pelos que pelo assunto se interessem.

sábado, 21 de outubro de 2006

Mestre do Altar de S.Bartolomeu [Meister des Bartholomäusaltares] (activo em Colónia entre 1470 e 1510)

.



Possívelmente membro de uma ordem monástica, pintou em Colónia e há quem o designe como "o melhor dos pintores de quem nada se sabe". As suas figuras são muito características. Dá-se acima o pormenor de Santa Inês do quadro com Santa Inês, S. Bartolomeu e Santa Cecília, figurando o dador entre os dois primeiros.


sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Ouvir falar de si

.
Na sala cheia ouvi falar de mim
Ouvi explicar-me
Ouvi interpretar o que eu pensaria
(se na verdade pensasse alguma coisa
naquela sala cheia
e eu cheio de cansaço)
Algumas coisas certas e outras meio certas
Outras ainda mais certas outras menos erradas
E para que não adisse as incertezas minhas,
Deixei-me ali calar, ouvindo de mim outros.

Africanos na origem de Itajaí (Santa Catarina, Brasil)… e a Senhora do Rosário - 2

Retomo o tema da postagem homónima, de 15 do corrente, agora enriquecido por um texto do Dr. Miguel de Sousa, Director do "Jornal do Barreiro", que assim responde ao desafio lançado, fazendo uma resenha dos seus trabalhos sobre matérias que ao assunto podem interessar- e nele também anuncia que estes, para vantagem nossa, vão ser colocados de forma acessível pela "rede". Pois aí vai esse interessante contributo!

"Uma resposta para Itajaí, com Lagos e Barreiro dentro
Miguel de Sousa

Este tema tem pano para muitas mangas. E pede respostas a níveis diferentes, que seguem:

Sobre S. Gonçalo de Lagos:

Acompanhei de perto a “ressureição” desse santo português. A principal obra foi do meu primo e padrinho Dr. José Fernandes Mascarenhas, de Moncarapacho – Olhão – Algarve, que promoveu as Comemorações Centenárias, que depois recuperaram o Santo para o culto, do qual andava esquecido e arredado.

Para evitar romarias, quer em excursão, quer em “netsearch”, informo que a Capela de S. Gonçalo de Azeitão é do Santo de Amarante e não de Lagos. Este era frade Agostinho e usava hábito preto, o outro era Dominicano, com hábito claro e correia de couro a fazer de cinto. Como se vê no azulejo desta capela, e já se via quando fui com o Prof. J. J. Rita Seixas, no meu carro, tirar as fotos que ele usou no livro.

É claro que informei disso o estimado Prof. Seixas, mas ele insistiu na sua. Aqui fica agora a rectificação, tanto mais que nunca existiram romarias a S. Gonçalo de Lagos, ao contrário do de Amarante, por ser Santo casamenteiro. A diferença é enorme, nessa área, no que toca a romarias, como bem se entende.

Sobre o culto do Rosário no Barreiro:

O culto do Rosário foi lançado pelos Dominicanos no sec. XIV. Cerca de 1490 constituiu-se em Lisboa, na Igreja de S. Domingos, ao Rossio, uma Irmandade do Rosário, de homens brancos e pretos, para facilitar a integração religiosa dos homens negros, escravos ou livres.

A Imagem da Senhora era de prata, e uma das mais milagreiras de Lisboa, e o culto do Rosário foi-se difundindo por vários lados. Em 1524 já existia na Igreja Matriz de Santa Cruz do Barreiro uma sua “imagem de vulto”, e em 1612 é legalizada a respectiva Confraria. De tudo isto se acha documentação no Cartório da Ordem de Santiago, que era aqui “senhora da terra, da água e do vento”.

Na margem sul do Tejo existem também outras implantações, como a Capela do Rosário no Gaio – Moita, que passou a ter romaria, em que parece terem aderido mais os homens brancos, e na Atalaia - Montijo, favorita dos negros.

As romarias, motivos de grande festa durante 2 a 3 dias, faziam-se por via fluvial, e chamavam-se Círios, porque os festeiros se faziam acompanhar por enormes velas, em pagamento da chamada “promessa antiga dos povos”, uma espécie de contrato perpétuo entre as comunidades humanas e a sua Protectora Divina, na perfeita continuidade do que já se fazia na pré-história em relação à Grande Mãe, mas modificada após a cristianização.

Em meados do sec. XVII o Círio do Rosário foi transferido do Gaio para o Barreiro, por razões que não são claras. Constituiu-se em 1736 uma nova confraria, a Real Irmandade dos Escravos de Nossa Senhora do Rosário do Barreiro [RIENSRB], que continua viva e actuante até hoje, a fazer as festividades anuais no Barreiro.

Foi reconstruída e ampliada a antiga Capela de S. Roque para instalar o novo culto, no que continua a ser hoje o Santuário de Nossa Senhora do Rosário do Barreiro, e cuja Irmandade foi a herdeira directa da Confraria do Rosário primitiva, da Igreja de S. Domingos, aliás, indiscutivelmente, a Irmandade do Rosário mais antiga do Mundo.

A Imagem da Senhora permanecia em Lisboa, onde continuava a sede da RINSRB, e fazia-se círio fluvial anual ao Barreiro, trazendo a imagem, que voltava de novo a Lisbao. Esta situação manteve-se até 1956, em que quer a imagem pequena – a mais antiga e de maior devoção – e a sede da Irmandade, se fixaram definitivamente no Barreiro.

O culto de Nossa Senhora do Rosário do Barreiro depressa se autonomizou parcialmente, com “registos da Santa” próprios e com altares com a sua imagem em certas igrejas, como a de S. José em Ponta Delgada, em que expressamente consta Nossa Senhora do Rosário do Barreiro na peanha.

Também no Brasil este culto se difundiu, havendo registo de várias localidades em que grupos de devotos enviavam anualmente vultuosos donativos ao Santuário.

As grandes aparições marianas do sec. XIX, as Virgens de La Sallete e de Lourdes, geraram grandes peregrinações de crentes, que do ponto de vista formal devem ser encaradas como Círios, não só pelos aspectos de peregrinação e concentração de caracter religioso que envolvem, como pela tremenda quantidade de velas de cera oferecidas.

Curiosamente, nos relatos de ambas as aparições se conta que as Virgens recomendaram vivamente a intensificação do culto do Rosário, em reacção contra o positivismo que alastrava como óleo por todo o mundo cristão. O clero teve o cuidado de seguir estas linhas, aparentemente com resultado benéfico para a Igreja Católica.

O mesmo se passou nas aparições de Fátima. Este local viria a tornar-se no Altar de Portugal e mais tarde de todo o mundo, sendo actualmente o mais importante Santuário Mariano da cristandade, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, pelo que o estudo das origens e evoluções desse culto em Portugal deviam merecer mais atenção.

Um texto muito mais detalhado sobre o culto do Rosário do Barreiro está a ser ultimado, para estar em breve disponível online, no Jornal do Barreiro.

Sobre a fundação de Itajaí :

Parecem-me da maior importância os levantamentos de arquivo que aí estão a ser feitos localmente. O conhecimento das “nações negras”, presentes em qualquer comunidade brasileira, permite desde logo identificar “grosso modo” as regiões de origem remota dessas populações.

Sobre este ponto de vista, os estudos genéticos são também de grande interesse, pois uma simples análise DNA de um cidadão de raiz africana pode permitir saber qual o porto da costa de África pelo qual saiu o seu antepassado, o tal que foi trazido para o Brasil.

Aí valeria a pena criar, portanto, uma segunda fase para um projecto de investigação deste tipo, que segue logicamente qualquer pesquisa de arquivo.

Uma nota final, sobre pequenos enviesados de perspectiva, que por vezes se insinuam nas pesquisas de arquivo. Estes apenas conservaram actos e notas que a lei impunha como de registo obrigatório, ou da conveniência e segurança das partes. Isso é consensual entre os povos, desde o Código Visigótico.

Assim, quem tinha poucas posses, ou era mesmo escravo, em geral só por razões menos boas aí figurava, e pelas boas razões só muito ocasionalmente.

Todavia, não significa isto que houvesse total e directa intenção de escamotear gente, ou a sua importância, por parte de quem produzia os arquivos. Apenas sucede que a finalidade era outra.

Com as melhores saudações para todos

Miguel de Sousa
Director do Jornal do Barreiro"

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Mestre dos Paineis de Polling [Meister des Polling Panels] (activo 1435-1450)

.


.
Da dificuldade de obter uma obra de carácter profano, saiu mesmo uma caçada ("O Prícipe Tassilo Vai à Caça"), datada provavelmente de 1444. Polling é uma localidade na ALta Baviera, onde existe um convento. Por vezes... e é caricato... encontram-se tentativas de tradução de "polling" como se de uma palavra em Inglês de tratasse, mas não tem mesmo nada a ver com eleições ou Eleitores!

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Noticiários da TSF e a "Culpa" segundo o Secretário de Estado da Indústria

De facto os noticiários da manhã da TSF começariam a ser divertidos - se o seu conteúdo se não referisse a coisas dramáticas!
.
Ontem, comentando o Orçamento, fazia-se confusão entre uma "elevação de Taxas do IRS de acordo com a inflacção", atribuída ao Ministro, e "elevação dos limites dos escalões do IRS de acordo com a inflacção", que foi de facto o anunciado pelo Ministro. Só essa pequena confusão, aqui imputável ao Noticiário...
.
Hoje, citando palavras do Secretário de Estado da Indústria Castro Guerra a propósito do desmesurado aumento de 15% nas tarifas de energia eléctrica para consumo doméstico no próximo ano, referia-se ter este atribuído aos consumidores a CULPA do facto porque, ao abrigo da legislação vigente que impedia o escalamento dessas tarifas, tinham vindo a consumir energia eléctrica abaixo dos custos e agravado durante anos o défice em termos de energia trocada naquilo que serve para comprar os melões! Francamente, Secretário de Estado: se disse isso venha pressuroso emendar a mão! CULPA? Por terem consumido ao abrigo de uma legislação existente? Essa agora!
.
Não fica mal a um Secretário de Estado, como aliás a ninguém, aprender sempre qualquer coisa: saiba pois primeiro o que significa CULPA, fale depois - e, se de facto falou antes, então corrija o que disse e escolha outro substantivo mais apropriado, está bem?. Sem o que a CULPA por usar conceitos errados e justificações enviezadas... essa ficará mesmo a ser sua!

Mestre das Cartas de Jogar [Meister der Spielkarten] (activo 1435-1450)

.

Artista renano que, segundo alguns Autores, terá sido dos primeiros artistas da arte da gravura a apresentar um corpo coerente de trabalhos, aqui relacionados com a feitura de cartas de jogar. A sua actividade está assinalada entre 1435 e 1450, embora se encontrem referências a períodos algo distintos que, no conjunto, vão de 1425 a 1460. As cartas de jogar, de origem islâmica, tinham sido introduzidas na Europa no sec. XIV, obtendo imediato sucesso. O sistema francês de 4 naipes, que ainda hoje conhecemos (Espadas, Ouros, Paus e Copas) foi introduzido à volta de 1480, pelo que, no período de actividade deste Mestre da gravura, quer os naipes, quer o número de cartas por cada naipe, careciam ainda de fixação. As suas 60 cartas conhecidas, todas com um estilo muito especial de gravação em chapa de cobre e que foram várias vezes reimpressas, correspondem a "Flores", "Homens-selvagens" (naipe a que pertence a "Dama" supra representada), "Aves", "Corças", "Leões" e "Ursos".

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Mestre do Altar de Pfullendorf [Meister des Pfullendorfer Altars] (início do sec.XV)

.

O nascimento da Virgem

Quando se desconhece o nome do Autor de uma obra de arte digna de relevo, denomina-se este como o "Mestre do Nome com que Essa Obra de Arte Ficou Conhecida" - o que sistematicamente satisfaz, enquadrando-a, mas incicia a longa polémica de saer quem era quem, de tentar descobrir se X (a habitual incógnita) era A ou B ou se X e Y (uma outra habitual incógnita) não eram uma e a mesma pessoa. Existem numerosos casos disso e a "net", sempre previdente e previsível fonte de ensinamentos, não obstante sempre a usar com prudência, estabeleceu desses "nominados anónimos", verdadeiros "soldados desconhecidos da Arte", pelo menos uma lista, que se pode encontrar em

http://www.kfki.hu/~/arthp/html/m/master/index.html .

Pela grande actividade artística e sua diversificação e pela agitação cultural, política e religiosa (mas haverá religião sem política e política sem religião, mesmo que esta seja a apregoada como uma ostensiva "ausência de religião"? [1]) dos tempos da Renascença Nórdica, seria de esperar que esse movimento tivesse numerosos "Mestres". E, de facto, teve. Já vimos alguns e outros vamos ver, aprendendo sempre.

- - - « « «» » » » - - -

O Mestre do Altar de Pfullendorf [Meister des Pfullendorfer Altars, Master of the Pfullendorf Altar] é um destes. O seu nome vem de um díptico alegadamente destinado á igreja paroquial de Pfullendorf, pequena cidade de Sigmaringen, estado de Baden Wurttenberg, no sul da Alemanha, outrora ducal e hoje, com uma população de cerca de 15000 pessoas, centro de turismo pela proximidade do lago Bodensee. O díptico terá sido pintado ca. de 1500 e dele sobreviveram oito paineis da "Vida da Virgem", distribuídos por diversos museus alemães e entre estes o "Nascimento da Virgem", acima mostrado, que está no Staatsgallerie de Stuttgart. O díptico terá sido parte de uma estrutura mais rica, de que existem algumas peças pintadas (Profetas), tendo-se perdido outras, hoje de natureza e posicionamento no conjunto meramente conjecturais.

Um dos interesses do "Nascimento da Virgem" reside precisamente no anacronismo da representaçao artística, de que aqui já se falou na postagem do dia 10 deste mês: procurando representar-se um acto historicamente localizado, usou-se (como aliás no "Nascimento da Virgem" referido numa outra postagem anterior) não uma conjecturação do passado mas uma representação quase fotográfica de um nascimento ao tempo do Artista, o que é um documento assaz importante para caracterizar este mesmo tempo.

Uma outra peculiaridade do Renascimento é a "democratização da dimensão pictórica da pessoa", tornando-a exactamente equivalente e só determinada pelo efeito de perspectiva. Desaparece assim uma diferenciação (deformação) intencional por vezes patente na pintura medieval em que o tamanho do figurado na obra era determinado pela sua importância. Um exemplo disso, aqui não representado, poderia ter sido mostrado na tábua "O castigo dos camponeses" da vida de Santa Bárbara, referida numa postagem anterior (dedicada a Mestre Francke). Nela, os camponeses (de pequena dimensão) denunciam a Santa, que está escondida num trigal (vê-se apenas a cabeça à distância), ao pai e perseguidor desta, Dioscuros, a cavalo e acompanhado de outros nobres (de grande dimensão) e por isso são castigados com uma praga de gafanhotos. Frequente é também que, em sinal de humildade e veneração, o dador, quando representado na peça, seja mostrado em posição devocional, num dos "cantos" desta e em dimensão muito mais pequena do que os aí principalmente figurados.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Mestre da Paixão de Lyversberg [Meister der Lyversberg-Passion] (Activo em Colónia de 1460 a 1490)

Voltando ao Renascimento Alemão...
.


Este Autor - que muitos confundiram com o Mestre da Vida da Virgem - foi um dos representantes da actividade pictórica intensa que, em fins do sec. XV - VXI, escolheu Colónia. A obra que deixou não é muito vasta: cinge-se essencialmente ao que se situa no retábulo referido. Para além das Mulheres que acompanham a Paixão de Cristo, destaca-se fugazmente nesta prancha uma outra: a mulher de Pilatos, que lhe transmite, sem obter convencimento, as suas apreensões e receios

domingo, 15 de outubro de 2006

Africanos na origem de Itajaí (Santa Catarina, Brasil)… e a Senhora do Rosário


Em 20 de Setembro ultimo, a escritora brasileira Urda Alice Krueger, de Blumenau, Estado de Santa Catarina, colocava em diversos endereços amigos da rede a seguinte mensagem por e-grama.

“Amigos:
Encaminho texto para possível publicação. Tenho comigo as autorizações para publicação, tanto do Prof. Bento quanto do Prof. Isaías. Para quem é de longe, explico que Itajaí é uma cidade portuária do Sul do Brasil, com cerca de 250.000 habitantes, no Estado de Santa Catarina.
Contactos com o pesquisador e o autor:
José Bento da Rosa:
bentons@terra.com.br
Isaías Venera: venera@itajai.sc.gov.br
Atenciosamente,
Urda Alice Klueger
Blumenau - SC- Brasil"

Vinha, depois, a transcrição do texto que se dá a seguir e que corresponde a uma reportagem de Isaías Venera sobre as investigações do Professor José Bento Rosa da Silva. E é aqui que se justifica, da minha parte, meter a colher e fazer uma chamada de atenção particularmente dirigida à cidade do Barreiro, em Portugal, situada a sul de Lisboa, do outro lado do estuário do Tejo.

É sabido que, no Barreiro, o culto da Senhora do Rosário tem tido especial relevo e uma devoção que ultrapassou os limites da cidade e que abrange toda a província estremenha. Todos os anos a procissão da Senhora do Rosário percorre as ruas desta terra e quer a Igreja, quer a respectiva confraria foram já motivo de um estudo pormenorizado, nas páginas do “Jornal do Barreiro”, pelo actual director deste semanário local, Dr. Miguel de Sousa. [1]

Ainda que sem conhecimento suficiente para poder ir mais longe, parece-me aperceber no texto do Professor José Bento da Rosa matéria que poderá interessar ao Barreiro, como retenho, do trabalho vasto e bem documentado do Dr. Miguel de Sousa, matéria que poderá interessar a Itajaí. Atendendo a que a transcrição que abaixo se faz é, de certa forma, um resumo do primeiro e que me não atrevo a resumir o segundo, ponho a ambos a seguinte questão [e avisá-los-ei disso por e-grama]: não seria de interesse que partilhassem, na sua actual extensão, as informações que de um e outro lado coligiram sobre a Senhora do Rosário e o seu culto? Fica o desafio e a indicação do portal na rede do “Jornal do Barreiro” para melhor conhecimento e mais facilidade de futuros contactos: http://www.jornaldobarreiro.com.pt .

Mas aí vai a já tão mencionada transcrição tal como recebida, em duas partes (a primeira parece ser anúncio da segunda) e apenas com pequenos ajustes para a grafia ainda usada em Portugal:

“Subject” [2] : Africanos na origem de Itajaí


Fundação Genésio Miranda Lins

Pesquisa revela uma outra história de Itajaí
Jornal Itajahy, da Fundação Genésio Miranda Lins, publica reportagem sobre a pesquisa do Prof. José Bento Rosa da Silva que amplia a historiografia da cidade


Confira a reportagem de capa da edição de Setembro/Outubro do jornal Itajahy, que traz uma pesquisa inédita. Documentos do Século 19, pesquisados pelo professor José Bento Rosa da Silva, revelam a participação de africanos desde a fundação da cidade. Até então, a historiografia catarinense mostrava que, na região de Itajaí, vieram somente descendentes de africanos. A pesquisa do professor Bento realizada nos processos crimes do século 19, que estavam até 2004 no arquivo morto do Fórum de Itajaí, e em documentos do acervo do Centro de Documentação e Memória Histórica, faz com que as páginas da história de Itajaí sejam alteradas. Leia a reportagem de José Isaías Venera.

Mais informação:
José Bento Rosa da Silva
Tm. 99426242 – e-mail:
bentons@terra.com.br / negrobento@bol.com.br



Africanos na origem de Itajaí
Documentos do Século 19 enriquecem a historiografia local e desvelam um passado desconhecido da génese de Itajaí


por José Isaías Venera

"O passado é cheio de vida e seu rosto irrita, revolta, fere, a ponto de querermos destruí-lo ou pintá-lo de novo." Milan Kundera, escritor checo e conterrâneo do literato Franz Kafka, cria suas histórias como se fossem espelhos de uma constante luta contra o poder no interior das relações sociais. Em “O Livro do Riso e do Esquecimento”, Kundera diz que "a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento". Luta imanente à função dos museus e arquivos históricos. Espaços de resistência ao esquecimento.
Obstinado na luta pela inclusão de novas memórias na história de Itajaí, José Bento Rosa da Silva, que coordenou o projecto "Memória dos Bairros" até Julho de 2006, pesquisa, nos acervos do Centro de Documentação e Memória Histórica, desde meados da década de 1990, pistas que o ajudam a interpretar o passado de afro-descendentes na região. Mas, além dos descendentes, o pesquisador identificou referências à presença de africanos, que cruzaram o Oceano Atlântico, desde a génese de Itajaí. A descoberta dá visibilidade a um passado que é ignorado em boa parte das narrativas históricas locais, mostrando que a preservação da memória pode ser exercida, também, pelos mais fracos, caracterizando-se como resistência a práticas selectivas de preservação de memórias que não levam em conta a diversidade étnica e cultural.

As primeiras descobertas


Em documentos do Cartório de Registro de Imóveis do Século 19, as primeiras descobertas: indicação da presença de africanos em Itajaí. Nessa época, os afro-descendentes e africanos eram considerados como imóveis que poderiam ser vendidos e comprados a qualquer momento. O Professor explica que, quando se vendia ou se trocava escravos, era feita, também, uma avaliação da "mercadoria". No caso de escravos, aparecem nos registros a idade, o estado civil, as qualidades, os defeitos (achaques) e a origem. Foi observando a indicação da origem que o historiador descobriu que "na nossa região tinham escravos vindos de países da África. Falava-se só em crioulos, mas os documentos nos mostram que havia, também, os escravos africanos".
Bento comenta que, na historiografia catarinense, há referências somente à existência, no passado, de africanos em Florianópolis, São Francisco do Sul e Laguna. Agora, com a sua pesquisa, há a presença de africanos na região de Itajaí.

Caminhos da pesquisa

Em 2002, Bento foi cavoucar documentos empoeirados no sótão do Fórum de Itajaí e que, em 2003, integraram os acervos do Centro de Documentação. São processos cíveis e criminais, dos Séculos 19 e 20, com referências a africanos que moravam em Itajaí.
A pesquisa altera o curso da historiografia catarinense. Segundo o professor, nos trabalhos de história de Santa Catarina, há um silêncio sobre a presença de africanos no Estado. A ênfase é dada sempre para os crioulos - descendentes de africanos nascidos no Brasil.
Na história regional, o problema se agrava. Enquanto o pesquisador vem dando visibilidade a esses documentos - publicando artigos científicos e livros -, boa parte dos trabalhos de valor histórico se resume a discorrer sobre os afro-descendentes na condição de escravos, propagando sua invisibilidade de uma participação construtiva na história e na cultura da Itajaí. Livros como "A Pequena Pátria", de Marcos Konder, "Pequena história de Itajaí", de Edison d´Ávila, e "Famílias de Itajaí: Mais de Um Século de História", de Marlene Rothbarth e Lindinalva Deólla, são exemplos de trabalhos que ignoram a participação de afro-descendentes e desconhecem a presença de africanos na origem histórica de Itajaí.
Para o Professor, a ênfase dada somente à condição de escravos aos afro-descendentes produz o esquecimento de peculiaridades culturais desses grupos étnicos. É nesse cenário de embate étnico e de classe que o trabalho do Professor ganha mais importância. Bento mora em Itajaí desde meados dos anos 80, quando deixou o seminário em Brusque e veio cursar graduação em História na Univali. Hoje, Doutor em História, Bento tem Itajaí como sua cidade.

Uma nova história da origem de Itajaí

Com as pesquisas do Professor Bento, desde a emancipação de Itajaí, em 1860, africanos e afro-descendentes estavam presentes no quotidiano da vila. Documentos jurídicos, religiosos e da câmara legislativa dão mais do que visibilidade à existência desses grupos étnicos: indicam sociabilidades oriundas do continente africano. O historiador comenta que, investigando esses documentos, alguns nomes de africanos foram identificados: Rafael, da nação africana; João e Manoel, de nação Congo; Antônio, Felipa, Joaquim e Manoel, de nação; Maria, de nação Benguela; Antônio, de nação Monjolo; Antônio, africano. A expressão "de nação" era uma forma de denominar os africanos no Brasil. [4]
Os registros indicam, além da forte presença de africanos já no surgimento de Itajaí, suas profissões, quando eles eram submetidos à condição de escravos. Eram marinheiros, pedreiros, carpinteiros e trabalhadores da lavoura. Para o Jesuíta Antonil, eles eram as mãos e os pés dos senhores. Um exemplo é o pedreiro Simeão, escravo de Agostinho Alves Ramos, que, em 1835, construiu a primeira igreja de pedra e cal de Itajaí. Hoje, algumas paredes da edificação, construídas pelas mãos do descendente de africanos que, provavelmente, herdou a profissão de seus antepassados, são parte da Igreja da Imaculada Conceição.

Festa de Nossa Senhora do Rosário

Bento é um homem em paz. Mas não há como ficar indiferente a trabalhos que ignoram a presença de afro-descendentes na cultura local. O professor cita o livro "Festas e Tradições Populares de Itajaí", de Edison d´Ávila e Márcia d´Ávila (1994), que não menciona a tradicional "Festa de Nossa Senhora do Rosário". Mesmo com a segunda edição ampliada do livro, em 1998, que incluiu a Farra do Boi como mais uma tradicional festa da cidade, não há referência à festa de tradição afro-descendente. Para o professor, livros desta natureza enfatizam aquilo que a história tradicional de Santa Catarina sempre fez: silenciam a presença de afro-descendentes e africanos no Estado. "Esse silêncio é uma exclusão histórica que reforça o mito de que Santa Catarina é uma Europa incrustada no Brasil", com semblante sereno, conclui Bento.
O livro "Festas e Tradições Populares de Itajaí" foi editado pela própria Fundação Genésio Miranda Lins, em 1993, num período em que, no próprio Centro de Documentação, havia e ainda há, em seus acervos, fotos e registros históricos sobre a "Festa de Nossa Senhora do Rosário". A festa existe desde o Século 19, quando a igreja Católica, no ímpeto de captar mais almas, criou santos que passaram a representar a cultura cristã de afro-descentendes. Foi neste contexto que os senhores de escravos e a Igreja Católica permitiram a organização de festas de matriz africana no dia dos novos Santos. Entre eles, Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e São Gonçalo.
Em 1992, a Festa Nossa Senhora do Rosário foi reinventada pelo Movimento Negro Tio Marco. Hoje, Núcleo Afro-descendente Manoel Martins dos Passos da Foz do Rio Itajaí-Açu.

O trabalho do preconceito

A história do Brasil, desde o período colonial, é marcada por práticas racistas e preconceituosas. Em Itajaí, políticos, comentaristas, memorialistas, jornalistas e historiadores produzem, muitas vezes, suas interpretações sobre o passado, inseridas na desqualificação e apagamento de traços da cultura africana.
Em correspondências expedidas à Câmara de Vereadores de Itajaí, em 22 de maio de 1882, o Secretário Francisco Vitorino da Silva encaminha ao Presidente da mesma, Guilherme Asseburg, a advertência: "Ilmo Sr. Participo Vossa Senhoria que hoje, chamei e repreendi ao escravo de nome Francisco (Preto) do senhor na actividade, por haver eu tido denúncia verbal, que o mesmo era (feiticeiro) e como o artigo 31 do código de postura da Câmara Municipal indica que deve-se observar; por isso fiz por ser empregado da referida câmara."
Mesmo depois da abolição da escravatura, as marcas de preconceito são registadas na história. Nos periódicos de Itajaí, conteúdos que expressam um ideário de povo brasileiro - que dependeria da exclusão de etnias de matriz africana -, eram propagados.
O mesmo, ainda, pode ser identificado quando trabalhadores e práticas culturais existentes em nossa cidade, antes mesmo de sua fundação, estiveram excluídos dos livros e artigos que pretendiam contar a história de Itajaí seleccionando famílias ou dando ênfase à política e à economia.

Práticas de resistência e acções afirmativas

A população afro-itajaiense encontrou formas de resistência aos locais de sociabilidade excludentes, como narra Aldo Mário Cunha, em depoimento à historiadora Marlene de Fáveri: "nem no Barroso, nem no Guarani, nem no Bloco dos XX, entrava gente de cor". Diante dessa realidade, descendentes afros criaram seus próprios espaços, como o Clube de Regatas Cruz e Sousa, de 1920, o Humaitá Futebol Clube, do mesmo ano, e a Sociedade Cultural Beneficente Sebastião Lucas, de 1952.
Em 1979, Adilson Pacheco tentou organizar, pela segunda vez, um movimento negro em Itajaí inspirado no Movimento Negro Unificado, de 1978, em São Paulo. Em 1984, no Colégio Salesiano, professores influenciados pela Teologia da Libertação produziram, em Novembro, uma edição do periódico "Ideia Força" discutindo a realidade dos afro-descendentes no Brasil. Os efeitos do periódico contribuíram para a organização do movimento negro de Itajaí. Em 1988, outro acontecimento contribuiu para a organização do movimento: a Campanha da Fraternidade, liderada em Itajaí pelo Padre Sérgio Jacomelli, da Paróquia do Bairro Fazenda, que resultou na criação da pastoral do negro.
No início da década de 1990, foi criado o Movimento Negro Tio Marco, organização sem filiação religiosa ou partidária, em defesa da memória afro-itajaiense e contra toda forma de preconceito. A principal acção do movimento foi a criação do projecto de Lei nº 025/93, que institui a inclusão do conteúdo "História afro-brasileira” nos currículos das escolas municipais de Itajaí. Acção que representa a primeira conquista, no Estado, da aprovação de uma política de acção afirmativa.”


Acabada a transcrição, reproduzo seguidamente as gravuras que vinham anexas ao referido e-grama da Dra. Urda:

A primeira é uma fotografia do Professor Bento Rosa da Silva, a segunda a notícia da proposta de uma medida legislativa verdadeiramente agressiva publicada no jornal brasileiro “O Pharol” de 13 de Julho de 1921 e a terceira um fragmento de escritura de compra e venda de escravo lavrada no cartório notarial de Itajaí aos 17 de Dezembro de 1868, documentos estes dois que suportam o acima referido texto.







Concluo esta longa postagem com a reprodução de uma pagela ou registo, vulgo “santinho”, relativa à Senhora do Rosário do Barreiro, Portugal, contida e descrita sob o número 03090 a pag. 223 do “Inventario da colecção de Registos de Santos”, organizado e prefaciado por Ernesto Soares e editado pela Biblioteca Nacional, em Lisboa e no ano de 1955 [4].



- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[1] Ficam de fora, mas que seria interessante relacionar com eventuais festejos brasileiros, as festas de S.Gonçalo. E não esqueçamos que aqui festejamos S.Gonçalo "a dois tons": um no Norte (com especial referência às celebrações festivas a, entreoutros locais, Amarante e a Vila Nova de Gaia, esta a pedir aprofundamento e recriação, porque – ao que me dizem, e admito que possa ser informação não actualmente correcta - é festejo em vias de extinção e até de desmemoria). Aliás, por falar em festas do concelho de Vila Nova de Gaia que vão caindo nos braços de betão da grande cidade: quem se lembra do Senhor da Pedra e das “rusgas” que para lá se dirigiam a pé, de Vila Nova e de Gaia, indo e vindo a Miramar ao som de tambores, gaitas e pandeiretas? E que eu ainda vi, uma delas com a Quitéria à frente, toda ufana, já quarentona pelo menos? E quem se lembra hoje da Quitéria? Outro S. Gonçalo no Sul, o S. Gonçalo de Lagos, com a sua capelinha de Azeitão e que foi estudado pelo Professor Joaquim Rita Seixas, que deixou obra sobre o assunto.
[2] Isto é “Assunto” em Português. Da mesma forma que eu defendo e proponho aqui à Urda que, tendo nós já termos como aerograma, telegrama, fonograma, etc., por que razão não poderemos dizer e escrever “e-grama” em lugar de “e-mail”.
[3] A expressão “de nação”, ao que eu julgo saber, foi também usada muitas vezes, em Portugal, para designar pertença à comunidade judaica.
[4] Outros registos que, na mesma obra, se referem à Senhora do Rosário e ao Barreiro: 03073, 03106, 03110, 03121, 03123 e 03138... pelo menos!


sábado, 14 de outubro de 2006

Um momento…


Por uma factura calamitosa e uma colagem desproporcionada à rede por quem, do meu “entourage”, já tinha idade para ter juízo, vi-me obrigado a interromper o acesso a este importante instrumento de trabalho que é a "net". Isto vai dificultar, entre outras coisas, a minha própria e razoável utilização, afectando certamente quer o exercício de algumas actividades, quer os pequenos intervalos lúdicos em que procurava aprender qualquer coisa.
Só posso lamentar e preparar-me para medidas ainda mais drásticas e não transitórias, se tal vier a ser preciso.
A “excursão” por estradas do Renascimento Alemão deste meu blogue “Sai-te daqui” prosseguirá certamente até ao fim do programa que me tinha imposto, até porque diversas postagens estavam já preparadas e posicionadas como "draft", sendo porém de prever que assuma um âmbito mais pobre e mais limitado - como com âmbito mais pobre e mais limitado passarão a ser as minhas restantes intervenções. A imagem cederá ao comentário escrito, preparado no computador fechado ao mundo e recolocado por “memória” a partir de outra origem. Os demais razoáveis utentes do sistema sentir-se-ão igualmente frustrados. Em compensação, talvez aumente(mos) o descanso nos entretantos, pondo assim termo ao “improdutivo e alienante turno da noite e com dormir de dia" em que, de uma forma ou de outra, estávamos todos a deixar-mo-nos cair.

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Mestre da Vida da Virgem [Meister des Marienlebens] (activo em Colónia, entre 1463 e 1480)

. Pormenor da tábua "O Nascimento da Virgem"
.
O Mestre da Vida da Virgem (Meister des Marienlebens, Master of the Life of the Virgin ou Master of the Life of Mary) foi um pintor alemão, assim chamado por ser Autor de uma série de oito paineis que ilustram a vida da Virgem e dos quais a "Apresentação no Templo" está em Londres, na National Gallery e os restantes sete na Alte Pinakothek, de Munique. No seu tempo, foi um dos mais notáveis pintores de Colónia e as suas afinidades com Dieric Bouts e Rogier van der Weyden sugerem que tenha aprendido a sua arte nos Países Baixos. Nenhuma das pinturas que lhe é atribuída está datada, mas uma "Crucificação" que se encontra na igreja do hospital de Cues, no Mosela, e que comunmente lhe é atribuída é, provavelmente, de 1465. O Mestre da Paixão de Lyversberg pode assemelhar-se-lhe, enquanto [as obras] do Mestre de Werden provavelmente não passarão de estudos seus.

(Apontamento biográfico retirado do local
/mastervirgin/mastervirgin.htm
e - mal - traduzido pelo bloguista).


- - - - - - - - - - -

Sobre um retábulo da "Vida da Virgem" em 8 tábuas, no Renascimento Português, veja-se o texto de Manuel Batoréo, da Faculdade de Letras de Lisboa e Instituto de História da Arte, "Pintura do Renascimento Português na antiga Colecção dos Duques de Palmela", (Conferência na Casa Museu Anastácio Gonçalves, em Maio de 2001), hoje acedido em


Desse texto retiraran-se as seguites considerações sobre a relação entre o Renascimento Português e o Renascimento Alemão:

"[...] Este pequeno mas notável conjunto de pinturas [colecção Palmela] serve, no entanto, como bom documento ilustrativo daquilo que o historiador da arte Adriano de Gusmão fizera notar sobre a arte portuguesa do tempo. Escreveu ele, e sintetizo, que tivemos um “certo realismo, repassado de poesia”, com um sentimento diferente da cor, uma monumentalidade das obras que nunca houve no Norte Europeu, mas assimilámos o estilo daquelas oficinas de pintura, estilo que nos foi grato até muito tarde, e onde, no entanto, foi introduzido um pouco do nosso temperamento e experiência quotidiana.
Esse “estilo que nos foi grato”, vindo da Flandres e da Alemanha, procurava - e utilizo as expressões de Erwin Panofsky -, o realismo e a identidade figurativa entre o objecto real e o representado. Tudo isto com reflexos não apenas nas representações, consideradas isoladamente, como no conceito de perspectiva e, consequentemente, na concepção espacial das composições.
Ainda segundo Panofsky, enquanto os italianos apresentam um renascimento do modelo clássico da antiguidade, o Norte produz um nascimento sem antiguidade ou mesmo contra a antiguidade. Em qualquer dos casos, tanto na Itália como no Norte da Europa o que os mestres propõem, cada um a seu modo, é um renascimento da pintura contra o modo gótico.
É, pois, esse fenómeno, na vertente portuguesa, de filiação prioritariamente flamenga, que vamos observar a partir de agora nas pinturas da antiga colecção Palmela. [...]"

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Mestre do Livro da Casa [Meister des Hausbuchs] (activo entre 1475-1490)


Um outro Autor de gravuras, de que pouco se sabe a menos do período em que foi activo (1475-1490). Também designado por "Mestre do Gabinete de Amsterdam" ("Master of the Amsterdam Cabinet") pela colecção de suas gravuras existente no Rejks, é geralmente conhecido por "Master of the Housebook" ("Hausbuchmeister", "Meister des Hausbuchs") pelo album com 91 esquissos, alguns profanos, mesmo satíricos, outros de fundo religioso, que deixou no Castelo ("Haus") da Família Wolfegg, próximo do Bödensee. Na controvérsia sobre a sua identidade há quem considere que o "Mestre do Livro da Casa" e o "Mestre do Gabinete de Amsterdam" não seriam uma e a mesma pessoa, bem como há quem considere que o procurado mestre não seria nem mais nem menos que Matthias Grünwald, na sua juventude; outros atribuem-lhe, como origem, a Suábia ou a região Renana, no seu troço intermédio. Entre as obras que se lhe referem há um fragmento de altar, polícromo, com três anjos. De resto, bastantes gravuras, com técnicas diversas e desenhos. Das primeiras, o casal de namorados que aqui se dá; há pelo menos um outro casal de namorados, de idêntica graciosidade, de pé mas vistos de costas, em que ele traz, pousado no ombro, um falcão. Ainda um outro desenho mostra, satiricamente, uma briga de camponeses, etc.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Mestre M.Z. [Meister M.Z.] (activo de 1500 a 1510)

.



MZ significa provavelmente Mattaus Zasinger e aponta-se, para a vida deste, o período 1465-1530. Mestre também na placa de cobre das gravuras, as duas primeiras imagens retomam os temas queridos da sempre periclitante "Fortuna" (1502-1503) e da "Vaidade" (1505), esta com o habitual "memento moris" também reflectido na imagem, que novamente relembra (desmancha prazeres...) que toda a beleza é perecível. Não é por isso que, uma e outra, muito embora trazendo ambas os avisos da transitoriedade, deixam de ser excelentes manifestações da beleza feminina na Arte.
.
A terceira gravura é aqui trazida para demonstrar o que se disse sobre o "Martírio de Santa Bárbara" numa postagem anterior. A degolação é evidente nesta gravura (1501), com a núvem de trovoada já a caminho e torre visível à esquerda! Por isso, continua a achar-se que a imagem da postagem anterior é mais adequada a Santa Ágata, ainda que seja presunção criticar um autor de há 500 anos e ainda por cima eclesiástico! Devem pois, antes de qualquer crítica, existir razões que eu desconheço!
.
Finalmente: entre as outras diversas gravuras que se conhecem deste A. e que se não repetem aqui, destaca-se "O grande baile", o regresso ao tema de "Aristóteles e Filis" (aqui com uma Filis bastante mais vestida que a que anteriormente se mostrou) e um intimista "O abraço" que está no Hermitage. Para quem vá a Petrogrado...

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Mestre Francke [Meister Francke] (início sec.XV)

.


.
Novamente, e como sinal de desculpado, me volto a encontrar com a Santa - isto é com uma das nove cenas da sua vida (e presumivelmente a derradeira) que Mestre Francke pintou no altar que se destinava provavelmente à catedral do porto báltico (hoje finlandês) de Abo e que, por isso, se pode ver em Helsínquia. Não se preocupem muito com o tétrico da cena, que demonstra como aqueles romanos eram uns estragadões: o pai desnaturado da Santa, Dioscuros, que a manda decapitar (não sei como aqui aparece uma cena que a tradição cristã confere a Santa Ágata, até porque a decapitação da Santa Bárbara conduz à espada como um dos seus atributos correntes), acaba fulminado por um raio e vai parar ao inferno, enquanto que a teimosa menina, relutante ao casamento em nome da Fé, sobe para o céu com a palma de mártir. Mas vamos ao artista: tudo dão dúvidas. A data do nascimento será entre 1380 e 1390, a da morte cerca de 1435 - muito disto deduzido das relações com as suas obras e em especial com a feitura de dois altares que deixou, o já referido "de Santa Bárbara" (1410?) e o "dos Viajantes Ingleses" ou "de S.Tomás Becket" (1424?) que se pode ver em Hamburgo. Assinaláveis também são os dois "Ecce Homo" que se encontram um em Hamburgo (cidade onde terá exercido grande parte da sua Arte), outro em Leipzig.

Estas visitas ao Renascimento Alemão tem-me servido para aprender muito. Daí uma das utilidades deste "jogo bloguístico". Agora, Mestre Francke tomou-me pela mão e levou-me pelas portas ínvias da "net" a um problema interessante: aos anacronismos na Arte. O assunto foi tratado num "Graduate Seminar" da Universidade de Chicago no Outono de 2004 e no The Art Bulletin de 1 de Setembro de 2005, particularmente voltado para a arte renascentista (e acessível na "net"). Parece-me um campo de grande potencial para um curioso aprofundamento - se eu tivesse tempo e vida para isso. Como em tantos outros, avisto terra... mas tenho de seguir viagem. "Memories (mesmo que do futuro inatingido e inatingível) are made of this".

Outro encontro, mas esse mais ao alcance do meu braço, é com as tradições ligadas a Santa Bárbara. Assim, no sul da França (Provença), onde também se fazem presépios, as festividades do ciclo de Natal começam mesmo, a 4 de Dezembro, festa da dita, com um acto divinatório e votivo à esta dedicado. Sempre pensei que a intensificação medieval do culto de Santa Bárbara tinha tido, para nós, origem na Flandres; esta relação com a Provença - e uma imediata associação a explorar desta com Aragão, lembre-se a representação frequente da Santa em quadros da escola catalã (vg. no MNAA) - começa a levantar-me algumas dúvidas se terá vindo apenas dali! Mas o tal costume provençal, que seria interessante indagar se deixou alguns vestígios pelas Espanhas ou mesmo por estas terras (as Espanhas são ali ao lado, recordemos), será motivo duma outra postagem. Para já coligi notas. E a isto ainda vou!

- - - - - - - - - - -

Uma nota utilitária, e em letra pequenina, para uso dos utentes do Blogger Beta: não tentem postar qualquer imagem cujo título de ficheiro contenha caracteres acentuados (à,á,â,ã,ä,è...etc.). Pelo menos para já. Modifiquem o título do ficheiro, removendo esses "acidentes" e só tentem a postagem a seguir. Bárbara, ao ter de passar a Barbara, ensinou-mo também. Ok?

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Mestre E.S. [Meister E.S.] (1420 - 1468)


Conhecem-se deste Artista as iniciais, sabe-se que esteve activo entre 1450 e 1467, que habitou Contança e Basileia e que deixou uma obra bastante de gravador. Nele, os personagens bíblicos, os Santos, a Virgem e os motivos religiosos voltam a ombrear com obras profanas que, uns e outros, e sempre que possível, exaltam a beleza feminina. Há alegria nas suas composições e até as alegorias tétricas, que as há como na série "Ars moriendi", adquirem uma expressão aparentemente menor na totalidade mostrada da sua obra.
.
Das gravuras dedicadas ao Antigo Testamento escolhi esta "Dalila Cortando os Cabelos de Sansão", Dalila essa que prima pela sua graciosidade:

e da série "Jardins de Amor", já que se não pode escolher tudo (ficaram-me os olhos no "Jardim de Amor com Tabuleiro de Xadrez") trouxe duas gravuras. A primeira é "O Cavaleiro e a Dama", tão compostinhos que eles estão:
.


O segundo é o "Par de Namorados Num Banco Corrido", que demonstra (como já obras anteriores mostravam) que os rapazes do Renascimento Alemão, em pleno sec. XV - XVI, tinham especiais afinidades manuais. Ou então tinham frio!


Ficou também a Santa Bárbara do Hermitage. Ela que me desculpe. Com "Dalilas" e "Jardins de Amor", que poderia eu fazer? ...

domingo, 8 de outubro de 2006

Stefan Lochner (~1400 - 1450)


Para mim, muito embora fuja (mais uma vez) ao objectivo inicialmente traçado de representar figurações femininas laicas, Stefan Lochner põe um difícil problema de escolha. Entre a "Madona no Roseiral", a "Madona do Ramo de Rosas", a "Santa Úrsula e Companheiras" do interior da tábua esquerda do "Retábulo dos Três Reis" seria muito difícil escolher. Mas porque a parcialidade, em arte (e não só), pode ser uma tradução discreta de gostar, não poderia eu deixar de reparar nesta Santa Bárbara-menina, entre dois evangelistas: São Marcos, à direita da Santa (e à esquerda do Observador) e S. Lucas, do outro lado. A escolha estava pois feita!

sábado, 7 de outubro de 2006

Georg Lemberger (1490/5 - 1540)


Gravador, ilustrador de Bíblias, não são muitas as obras pintadas deste A. que merecem especial divulgação. Salientam-se três, normalmente chamadas a trabalhos e locais sobre este artista: "S.Jorge libertando a Princesa","A queda e a redenção" e "Retrato de um homem de 30 anos" . A primeira, que está nos Uffizzi, é a que se reproduz acima. Como era costume da época, quem doa a obra faz-se nela representar, normalmente em atitude de adoração (neste caso, o doador está no canto inferior esquerdo). Tendo procurado, neste deambular pelo Renascimento Alemão, encontrar imagens femininas na obra de cada Artista representado, tive que me cingir aqui à princesa liberta por S.Jorge (santo aliás também "despromovido" entretanto pela Igreja).

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Hans Suess von Kulmbach (~1480 - 1522)


.


Jovem que faz uma grinalda... na companhia de um gato!

Um pequeno truque para Windows: Quando o cursor fica "sequestrado" numa tabela!

.
(Toda a gente saberá… mas é sempre bom lembrar!)

1. Admitamos que, em WORD, queremos construir uma tabela. Recorremos a “Tabela” --> Inserir --> Tabela --> Na janela que se abre colocamos os números de linhas e de colunas desejados --> Preenchemos o que possa interessar do restante desta janela --> Clicamos no OK final e … a tabela surge!

2. Descobrimos então, com natural estupor, que — por esquecimento nosso — não deixamos qualquer linha livre acima da tabela, que ficou encostada ao topo da pagina, e o nosso saltitante cursor está “sequestrado” dentro da mesma, quando precisamente nós o queríamos "fora" para poder desenvolver qualquer título ou texto exterior à dita. Poderá bastar colocá-lo na 1ª linha da tabela e clicar no "Enter" para ele sair. Mas... quando qualquer tentativa de subida e remoção só vai aumentar a altura da 1ª linha... e o cursor não sai, que fazer?

3.Uma solução simples e rápida, em dois andamentos, poderá ser a seguinte, que verificamos funcionar em alguns casos (mas não sabemos se em todos): a) colocar o cursor algures dentro da 1ª linha da tabela; b) proceder como segue: Tabela --> Dividir tabela --> Clicar … e o cursor, se for obediente, imediatamente segue o que nós queríamos e salta mesmo para fora da tabela, para uma linha superior que milagrosamente surge, fugindo à situação de triste clausura em que se encontrava! E, quando assim sucede, até passa a poder entrar e a sair da tabela, sem problemas! Vale a pena tentar!

Blogger Beta

.

"A velha bota"
em aviva.urz2.com/pages/boot.html


Passei o Blog a Beta / Mas não me sinto "betinho"! / Vamos ver s'isto dá "bota" / Ou se fica em sapatinho!

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

5 Outubro 1910 = 32 Janeiro 1891 - 2


...
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
...

Sophia Mello Breyner

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Excerto referido numa pagela distribuída no almoço comemorativo do 5 de Outubro, promovido hoje pelo PS-Barreiro na Quinta da Ramagem

5 Outubro 1910 = 32 Janeiro 1891 - 1 [1]

.

Posted by Picasa
No 96º aniversário da República Portuguesa, uma evocação do Hino Nacional "A Portuguesa", criado em 1890, no auge da emoção e revolta nacional criadas pelo afrontoso "ultimato inglês" [2], letra de Henrique Lopes de Mendonça, música de Alfredo Keil, proibido durante o estertor da monarquia, tornado hino com o advento da República em 1910 e reconhecido como símbolo da Pátria pela Assembleia Constituinte em 1911. [3][4]


- - - - - - - - - - - -
.
[1] 32 = 31 + 1
[2] Recordemos sempre uma verdade permanente: "Alianças o tanas, quando toca a meter pr'ó bolso!". A influência inglesa, formal e informal, pre- e pós- ultimatum, na História do Portugal contemporâneo ainda não estará totalmente estudada, deixando névoa em diversos recantos.
[3] A letra do Hino é composta por três partes, das quais só a primeira, acima reproduzida, é que é cantada, estando as outras duas quase totalmente esquecidas (só me recordo de as ter ouvido cantar uma vez, completas, era eu muito moço, numa assembleia de velhos republicanos); na versão da letra revista em 1957 [4]:

"I
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente e imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
II
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o teu solo jucundo
O oceano, a rugir de amor,
E o teu Braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
"

[4] De facto houve, ao longo dos seus 116 anos, pequenos ajustamentos quer na letra, quer na música de "A Portuguesa". Um deles, o mais notório, foi o da substituição do ultimo verso que, no original, era "Contra os bretões [os britânicos, claro!] marchar, marchar!". Esta reminiscência da revolta contra o ultimatum inglês, definitivamente removida, não escondeu uma outra, bem patente no início da terceira parte (mas que passa despercebida, porque se saber a letra da primeira parte - a oficial - do Hino já não é hoje "inquestionável", quanto mais conhecer as outras...). Facto é que, no Mundo de hoje, tem havido um movimento para a atenuação da parte belicista dos hinos nacionais, "maxime" dos hinos republicanos que, como este, radicam no espírito e inspiração de "A Marselhesa", salientando-se mesmo que a invocação artilheira dos canhões no fim do nosso hino vai ganhando um significado cada vez mais simbólico. Esse significado, no entanto, mantém-se e é compreensível.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Konrad von Soest (activo 1394 - 1422)

Santa Otília

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Wolf Huber (~1490 - 1553)

(escola do Danúbio)
.
O planeta Mercúrio

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Hans Holbein o Velho (1460/5 - 1524)


.

Posted by Picasa Retrato de Catarina Schwartz
com os atributos de Santa Catarina, Mártir

Este Holbein teve dois filhos, também famosos: Ambrosius e, alguns anos mais novo que Ambrosius, o outro Hans, o Novo, já recordado neste blogue. Ver postagens de, respectivamente, 1 de Outubro e 27 de Setembro. E até os desenhou, como se pode ver abaixo e, melhor ainda, no Hermitage:

.

domingo, 1 de outubro de 2006

Ambrosius Holbein (1495-1519)

.

.
A Dama e a Morte
Pintura mural no Convento Velho de S.Jorge, Stein-am-Rhein, 1516

A obsessão da Morte marca de facto o Renascimento Alemão. No local "www.totentanz-online.de /laender podem encontrar frequentes referências a esta posição intencional, com representações na arte que se estendem da época referida (ou mesmo anteriores) até aos nossos dias. É o "lembra-te que és pó e em pó te hás-de tornar" colocado como recordação permanente. E se algumas das obras representam a morte como "o grande (e inevitável) desastre" (cf. o "Triunfo da Morte" com Brueghel, aliás flamengo, no seu melhor), noutras a "dança da morte" toma formas grotescas e até, por vezes, quase com humor - se é que tal é lício dizer para sujeito tão tétrico e tão "dentro de nós", símbolo que nos aflige, esqueleto que nos sustenta.
.

Posted by Picasa

Outubro

Do missal antigo de Lorvão