Inscrição
(nos lavabos de um café-restaurante em Lisboa)
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(nos lavabos de um café-restaurante em Lisboa)
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De Tarde
Naquele "pic-nic" de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima de uns penhascos,
Nós acampamos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão,damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda,
O ramalhete rubro de papoulas!
Cesário Verde (1855-1886)
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Mas o caso é... Santa Bárbara! Quando nela falei, na infância deste blog, a 21 de Agosto, creio, prometi voltar. Certamente que não o contava fazer assim... mas quando olhei para o rosto aureolado e florido da santa (também pouco mais dela se vê...), para o castelinho ou torre claramente evidente do lado esquerdo, pensei logo "temos Bárbara!". E temos Bárbara fora do (meu) inventário virtual, ou seja, do meu album de invejosa olhadela... sem mesmo saber se a imagem pertence aos senhores da Afinsa ou a algum muito feliz investidor ou a qualquer outro igualmente feliz possuidor. E a que escola pertence: catalã, mais como me parece, leigo que sou nestas coisas, valenciana, mas menos provavelmente flamenga? Pois bem, não resisti. Aqui está a Santa tal qual vem no anúncio. Valha-me ela, para que seja perdoado! E. quando penso que existe a sul uma Santa Bárbara de Padrões, que existe, ainda mais ao sul, uma Santa Bárbara de Nexe, por que razão não chamar, a esta, tão sita a sul duma página, Santa Bárbara... de Afinsa? E, dada a natureza e o título do suporte que a trouxe, por que razão não a invocár para que afaste as trovoadas económicas (e não só económicas!) que teimam em relampejar por aquí.
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Prelúdio
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"A prova provada de que existe vida inteligente no Universo é que ninguém tem tentado contactar-nos"
Não te esqueças nunca de Thasos nem de Egina
Não te esqueças nunca Treblinka e Hiroshima
O horror o terror a suprema ignomínia.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(transcrito em
“Amnistia Internacional - Informação”, 20/21, pag.28)
Parece-me útil registar algumas reflexões estritamente pessoais:
a) Do teor das comunicações e dos comunicantes: Não passará despercebido que a maioria dos comunicantes tem um perfil e uma actividade académica activas e isso repercute-se no teor das comunicações. A curiosidade (preocupante) com que foi referida a minha qualidade de engenheiro, quer na apresentação, quer no resumo (em que se disse qualquer coisa como “estivemos tão diversificados que até tivemos aqui um engenheiro”) traduz a lacuna de uma componente essencial. Em termos de realismo jurídico, diz-se com frequência que “quem faz a lei é quem a aplica” e, nesse sentido, o julgador compartilha com o legislador um terreno comum; o mesmo se poderá dizer para qualquer outra vertente de aplicação de conhecimentos, argumentando que é quem os aplica que efectivamente lhes traz valor – tendo porém a certeza que uma tal visão, levada ao extremo, vai de imediato levantar uma questão muito velha, que os livros de leitura da “primária” já referiam no famoso mas temido texto “os pés e as mãos acusaram o ventre”, etc., etc. Há pois que a constatar e que a referir “cum grano salis”, sem a negar mas sem dela injustamente fazer cavalo de batalha.
b) De facto, o que podemos tirar dessa constatação é que uma lacuna subsiste nas Sociedades Químicas nacionais e, no caso vertente, na SPQ (Sociedade Portuguesa de Química): a prática ausência “em campo” de uma secção de química industrial, em que se desenvolvesse o capítulo das aplicações e realizações químicas e a transposição destas do nível da bancada para o nível industrial Estou certo, até porque o conheço, que existem aí muitas histórias de interesse e de valor para contar. Ao que me dizem, a SPQ teve já uma activa secção ligada à Indústria Química – mas na realidade actual ou não tem, ou não se vê. Conheci um esforço recente em que se falava nisso com entusiasmo, mas que parece ter parado. É tempo de por fim a este divórcio, de "glosarmos o Fritz Haber e esquecermos o Carl Bosch". E há pois que procurar as condições para que isso não suceda: se se espera que seja a Indústria Química portuguesa a, por sua iniciativa, procurar ocupar um rincão da SPQ, sem que esta demonstre a utilidade dessa participação, em termos de diálogo interno e de representação externa, em termos de espaço de divulgação, em termos de publicação, então minhas boas encomendas! Uma accção conjunta com a APEQ (Associação), uma aproximação de ambas, será certamente útil. O mesmo com o Colégio de Engenharia Química da Ordem dos Engenheiros. Mas, ao levar a um lado e outro, um cabaz de perspectivas de colaboração, esse cabaz deve ir devidamente enriquecido com o que efectivamente de novidade se crê poder oferecer.
c) Um outro aspecto, também reconhecido pela minha colega Isabel Cruz, é que, enquanto os estrangeiros realçam contributos pessoais no progresso do conhecimento e na sua realização prática, sem mesmo esquecer insucessos, citando nomes, expondo curricula, mostrando que há pessoas que permanecem por detrás das realizações, os portugueses – fora a menção dos “clássicos” que podiam vir todos incluídos já na Grande Enciclopédia de Maximiano Lemos – parece aceitarem que os mais recentes empreendimentos foram realizados por anjos ou se consubstanciaram, minguados ou vazios, no sexo destes. Há uma geral timidez em individualizar actuações, que – não sendo certamente uma manifestação de incompreensível pudor - até pode sugerir uma reduzida auto-estima ou um não menos inaceitável receio (de quê, raios e coriscos?). Lamenta-se que assim seja, e não apenas no Encontro. Ou será que a passagem pelos “media” dá uma consagração inegavelmente maior, entre nós, que qualquer outra merecedora presença?
d) Ainda aqui se volta a um problema de fundo na nossa História da Química: o verdadeiro “penchant” pela análise química, que vem já dos períodos “clássicos” e envolve muitos nomes sonantes destes. Foi isto que conduziu a uma indústria química tardiamente aberta à síntese e à catálise, ou é precisamente um resultado disso? Penso eu, hoje, que a questão é/foi mais simples e mais triste. Como já Aftalion sugeria, para o caso francês, temos de ir às escolas. Temos de verificar por que razões isso aí nasceu e durante décadas subsistiu e, evidentemente que em menor grau, continua a exibir manifestações esporádicas. A causa que eu defendo é bem mais corriqueira e mais próxima de uma economia pública cronicamente mixuruca, como a nossa: uma simples razão de orçamento. Para fazer face a dotações orçamentais sempre reduzidas, a análise pode ser olhada como uma prática barata (salvo quando começou a envolver equipamentos de crescente sofisticação), os laboratórios de análise são simples e a actividade analítica pode mesmo render dinheiro. Daí essa opção “salvadora”, mas que não cria novidade. Igualmente fundamentada no acesso ao "com que se compram os melões" e mais complicada é hoje, na carreira do Químico, incluindo o engenheiro, a tentação do que lhe vai ser oferecido para um “progresso na vida”: entre nós, frequentemente mas com honrosas excepções a ressalvar, o sucesso do químico começa quando ele deixa de o ser e é chamado a outras funções "pouco químicas" numa estrutura hierarquizada. Curioso é verificar que, malgrado situações paralelas noutros países, há também frequentes situações de sucesso em que o químico progride como químico até aos mais altos escalões da hierarquia. Exemplos destes foram apresentados no Encontro e até foram sublinhadas diferentes atitudes políticas quanto se pretende o desenvolvimento e a manutenção de uma actividade química eficaz. Sublinha-se a abordagem de aspectos económicos e políticos em algumas das comunicações, de forma em tudo coerente com o escopo do encontro, que era a História da Química.
e) Quanto á distribuição por nacionalidades dos participantes, notou-se certamente um predomínio europeu. Como seria de prever! Merece um breve reparo a formulação algo dispersa das intervenções da grande representação portuguesa. Não que se defenda limitar ou impor a forma de exprimir de cada um, mas certamente que algo poderíamos ter lucrado através de uma troca de impressões prévias sobre o que iria cada um fazer. Evitar-se-iam certamente algumas duplicações introdutórias e poderia inclusive defender-se uma melhor articulação, como se tornou perceptível em algumas outras representações nacionais. Ainda aqui o papel da SPQ seria essencial.
f) Em termos de trabalhos, as únicas notas negativas a registar foram (a) a limitação do tempo das exposições (mas esta crítica é recorrente, porque sempre feita, e portanto já não a discuto!) e (b) a ausência real de uma política de exposição dos “posters”. Esses substitutos pobres de comunicações foram atirados para uma simples exibição em salas vazias, enquanto noutras decorriam as sessões de apresentação de comunicações. Resultado: ou não foram vistos, ou foram vistos a correr, ou os seus autores não tiveram a oportunidade de os explicar. Tudo se passou como um Professor jocosamente me referiu: “Chegamos ali, penduramos a roupa na corda e vamo-nos embora!” O que foi pena.
g) No restante, um acontecimento de muito interesse que se repetirá em 2007, agora na Bélgica. Parabéns à organização, pela calendarização e organização das sessões de trabalho e pelo programa complementar muito variado que prodigalizou aos participantes.
Guerra Junqueiro: "O caçador Simão"[1]
A Fialho d'Almeida
Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente...
Corta a mudez sinistra o mar profundo...
Chora a rainha desgrenhadamente...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
- É o príncipe Simão que vai à caça.
Os sinos dobram pelo rei finado...
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d'amargura e dor...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
- É o príncipe Simão que vai à caça.
Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da Pátria a agonizar...
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
- É o príncipe Simão que vai à caça.
A Pátria é morta! a Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!
Papagaio real, diz-me, quem passa?
- É o príncipe Simão que vai à caça.
Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão...
Tocam clarins de guerra a Marselhesa...
Desaba um trono em súbita explosão!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
- É alguém, é alguém que foi à caça.
Do caçador Simão!...
Que as torres implodam...
Reflexão num "poster" da Conferência: